domingo, 14 de março de 2021

GREENLEAF

 


Acabada a maratona da exposição BONECAS EM DESTAQUE, de Enoque Silva (@enoqueosilva), para a qual eu fiz pesquisa e escrevi os textos para 50 homenageados, voltei ao blog. Bom, quem acompanha minhas redes sociais sabe que nesse momento difícil que vivemos tenho aproveitado também para ver séries e comento-as por aqui.  Sempre priorizando falar sobre o que vejo, o que sinto, o que aprendo. E a bola da vez é uma série disponível no Netflix pra lá de interessante, GREENLEAF. Trata-se de uma série originalmente da TV americana criada para o OWN, canal da apresentadora Oprah Winfrey, que, aliás, faz parte do  elenco.

Na série, que tem 60 episódios divididos em 05 temporadas, Greenleaf é também o sobrenome de uma família que administra (na verdade é dona) de uma megaigreja em Memphis - segunda cidade mais populosa do Estado de Tennessee, EUA - . A família, que aos olhos de todos é predestinada por Deus com o dom da Palavra, é muito bem quista e respeitada por todos. Contudo, suas histórias escondem um passado na vida de cada um dos membros da família que revelam ao longo da trama ganância, adultério e muitos outros pecados muito bem escondidos pela cortina religiosa, digamos.

Os chefes da Igreja, James e Mae Greenleaf - Bispo e Primeira Dama, respectivamente - tiveram 4 filhos. A vida de todos são afetadas por graves crimes cometidos pelo irmão de Mae, advogado da família. A série começa com Grace, filha de Mae, voltando para casa, para o velório de uma das irmãs, depois de duas décadas e, aconselhada pela tia - personagem de Oprah Winfrey -, resolve ficar para combater o pedófilo causador do mal que resultou no suicídio da irmã, seu próprio tio. 


Para não estragar o gosto pelo ineditismo não vou detalhar tanto, mas pra aguçar a vontade de assistir vou resumir parte da situação dos Greenleaf:
- A filha que se matou sofria por conta dos abusos sexuais causados pelo tio, advogado da igreja;
- Grace, a mais Velha, era vista como possuidora do dom da pregação, tinha ido embora porque alertou aos pais sobre os abusos sofridos pela irmã, mas eles não lhe deram crédito.
- Seu irmão, Jacob, queria ser pastor, era casado e amante da secretária dos pais;
- A irmã, Charity, mais nova, linda e excelente cantora. Sente-se preterida pela família. Sofre por isso ao ponto de  despertar uma grande raiva pela irmã mais velha, além de desenvolver um vício em remédios.
- O marido de Charity enfrenta a barra de se descobrir gay e não se aceitar, fazendo até "tratamentos" para deixar de sê-lo - óbvio que não deu certo -. A situação foi a causa do divórcio e ele acabou se relacionando e assumindo compromisso com o novo advogado da familia. Aliás, a igreja demitiu regente do coro musical porque era casado com um outro homem e os dois iam juntos à igreja.
- A Primeira Dama, Mae Greenleaf, quando jovem, soube que o marido teve um caso amoroso com a irmã dela e, ressentida, o traiu com o melhor amigo dele, de quem engravidou.
- O Bispo... além do caso com a cunhada, fez muitas coisas influenciado pelo cunhado criminoso, como sonegação de imposto e desvio de dinheiro da igreja... Qualquer semelhança é mera coincidência.

Ali todos vivem vida de Luxo. O fato é que todo o Luxo em que a família vive é fruto da ganância, que ganhou mais espaço em suas vidas que a missão de evangelizar e a fé em transformar vidas através da oração. É inegável que eles tenham fé e creem em Deus. Mas, fica muito nítido que estão com esse sentimento enfraquecido. E como percebemos isso? Quando abrem mão da coerência, da ética e da união. Fazem uso de crimes, da mentira, do egoísmo e do preconceito. E selam tudo isso palavraziando passagens bíblicas para justificar tantos pecados. Tudo vai indo "bem"... até as contas de tudo começarem a chegar - mais cedo ou mais tarde a conta seeeempre chega - . Todos os podres, as mentiras mais escondidas, os crimes, as trapaças... TUDO! A conta chegou e foi alta, sem condições de crédito para parcelamento. Aliás, crédito??? Eles perderam quase tudo. Só deram a volta por cima quando, já embaixo, caíram em si, tiraram todos os farelos de sujeira que ainda estavam debaixo do tapete. Só quando, desapegados dos sentimentos ruins e negativos e apelaram de fato à verdade, ao certo, ao arrependimento e ao amor ao próximo, que tudo foi restaurado.

A história é cheia de situações que nos fazem refletir bastante - isso quem tem o hábito de fazer autoavaliação, do contrário vai direto analisar a vida alheia rsrsrs (quem nunca, né?) - sobre nossas posturas, opiniões, falas e atitudes. O enredo é lindo. A mensagem é necessária. O elenco é formidável - quase a totalidade do elenco é de profissionais pretos -. Cenários e locações lindos, com o glamour dos milionários americanos. O tempo em que tudo se passa é absolutamente atual - os Greenleaf usam Apple, carros automáticos pra cima e pra baixo - o que ajuda deixar uma linguagem contemporânea e trás o público de todas as idades.

Enfim... GREENLEAF foi uma série que me pegou de jeito. Foram várias maratonas de fim de semana, almoço, aproveitamento da insônia e engarrafamentos. Pela primeira vez tenho vontade de assistir pela segunda vez uma produto do gênero - isso pode até ser coisa da idade, mas garanto que 90% é por conta do conjunto da obra. Se você ainda não viu... não sabe o que tá perdendo. Sendo evangélico ou não, assim como eu, você vai aprender bastante. No fim vai entender a frase que os membros da congregação sempre se despedem, "Deus é bom...", e o outro completa, "o tempo todo!"



domingo, 17 de janeiro de 2021

 A FALTA DE OXIGÊNIO NO AMAZONAS SUFOCA O BRASIL




(Por Rivanio Almeida Santos)

(Desculpe os possíveis erros de digitação, a pressa não me permite corrigir. Preciso por pra fora o que me ya atravessado na garganta)

Vi no perfil de um querido amigo uma postagem que dizia algo como "somente quem votou no atual presidente - desculpem não consigo escrever esse nome - pode cobrar algo do representante da nação".

Esse amigo é daqueles eu gosto muito e tenho grande estima por sua pessoa e pela história da sua família - apesar de saber que ele votou no inominável (eu respeito o direito de todo mundo errar na vida, mas sempre espero que saibam reconhecer quando suas escolhas deram M). 1, precisei discordar dele com minha mais completa e plena convicção com referência a esta afirmação. 

EU  NÃO VOTEI (e jamais votarei)  nesse senhor, em ninguém da sua prole ou em algum elo de sua corrente de apoiaDORES. Mas, pago os mesmos impostos de quem votou. NÃO FUI ISENTADO DE NENHUM IMPOSTO!!! ENTÃO TENHO CERTEZA QUE POSSO E DEVO COBRAR RESPEITO, RESPONSABILIDADE E TUDO QUE ESTES IMPOSTOS DEVEM AMPARAR POR LEI 
todo o povo brasileiro. E, nesse momento, o que eu espero é RESPONSABILIZAÇÃO por tudo que foi deixado de fazer pelo Povo Amazonense que, além de ser brasileiro como todo restante do país, é guardião da Amazônia, tem uma cultura linda e leva essa riqueza para o mundo todo, representando muito bem, e com louvor, a cultura popular.

O Maranhão, apesar de ser geograficamente do Nordeste, tem aspectos amazônicos por fazer parte da região Pré Amazônica. Eu sou nascido e criado da Amazônia Maranhense. Trabalho diariamente, mesmo que on-line, com pessoas do Pará, Amazonas e Roraima. Acompanho tudo que essa minha gente tem passado. É preocupante e triste demais... Amigos que estão perdendo parentes e estão sendo reinfectados, isso mesmo, RE-IN-FEC-TA-DOS e com sintomas N vezes pior que a primeira. Dói em mim ver esse povo, que é brasileiro e antes disso é ser vivo, sofrendo tanto. 

T
Todos viram que em São Luís chegaram várias pessoas do Amazonas que foram trazidas para serem socorridas em nossos hospitais. E eu fico extremamente feliz por meu Estado está podendo estender a mãos aos nossos irmãos amazônicos. O meu Estado não está no melhor dos cenários, as pessoas continuam desobedecendo as recomendações sanitárias, os números de ocupação de leitos continuam subindo. Contudo, se  estamos "menos pior" e temos como ajudar, não vejo problema. Fico satisfeito! 

Há muito venho tentado não falar sobre questões políticas, em especial sobre o cenário nacional por uma série de questões. Estou sufocado de tanta coisa ruim e, apesar da minha satisfação em poder ajudar não me sinto confortável - até pela minha origem e em solidariedade aos irmãos amazonenses e amigos de trabalho - não posso mais engolir como se não tivesse vendo a calamidade que a gente brasileira vem sofrendo com o descaso e o show de negacionismo por parte de quem tem o dever de zelar e garantir pela segurança, educação e saúde da nossa população.  

Chegou-se em um nível que a população do Brasil precisa organizar campanhas de doação, artistas doarem e fretarem aviões para levar oxigênio a Manaus. Chegou-se em um nível de situação que quem se cala não está só em cima do muro e quem defende não é apenas apoiador.  São cúmplices! TÁ ERRADOS! TÁ ERRADO! TÁ TUDO ERRADO!! Eu me recuso a compactuar com tudo isso. É inacreditável e, principalmente, inadmissível que no pulmão do mundo falte oxigênio ao seu povo de origem ribeirinha. Estamos em uma canoa furada que insiste em remar contra a maré...

#SOSamazônia
#SOSBrasil

Fotos: Internet 






quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

COMO PASSAR O CARNAVAL SEM TER CARNAVAL PRA PASSAR EM LUGAR NENHUM? EXPOSIÇÃO VIRTUAL BONECAS EM DESTAQUE!

 


(Por Rivanio Almeida Santos)

Quando vim para São Luís, 1995, tive mais oportunidades de assistir os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro pela TV. Embora desde sempre eu ficava encantado com tudo que via e ouvia na Revista Manchete e nas vinhetas da Globo: sambas, fantasias, alegorias, baianas, comissões de frente, baterias, rainhas de baterias e os destaques, que pela telinha mais pareciam bonecas sobre bolos confeitados.

Passados alguns anos, final de 1997, conheci Enoque, que se tornou meu companheiro desde então. Com o passar dos dias fui descobrindo que ele era artista visual, funcionário público e carnavalesco. Na época estava à frente do carnaval da Escola de Samba Unidos de Fátima, aqui de São Luís, e, depois de ter passado por várias agremiações do Rio de Janeiro, estava indo pela primeira vez desfilar como destaque principal na Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 98. 

O tempo passando, a convivência foi aumentando, fui descobrindo que mais que gostar de desfilar, ele era apaixonado - e ainda o é - pelo posto que ocupa. Em 1999 pude acompanhá-lo  na realização desse que passou a ser meu sonho inacreditável e inesperado. Eu estava na Marquês de Sapucaí acompanhando Enoque e Biné Gomes, um amigo nosso também maranhense que igualmente estava Destaque de Carnaval na Grande Rio. Eu me beliscava por não acreditar no que vivia. Na concentração tudo acontecia em câmara lenta - slow-mo, para ser mais atual -. As pessoas chegando, alas se formando, baianas se aprontando, tanta gente famosa que eu só conhecia pela TV e os destaques se montando sobre aquelas obras de artes gigantes que eram as alegorias. Então ali na minha frente os "bonecos e as bonecas" que eu via sobre os "bolos"  se transformavam em grandes personagens de luxo, brilhos, penas e plumas sobre gigantescos e belos carros alegóricos. E eu fui arrebatado de vez a esta arte que é ser Destaque de Carnaval, virei apoio de destaque. Aliás, virei Apoio Oficial do Destaque Enoque Silva.

E lá se vão 22 anos de desfiles nos quais acompanhei as chegadas dos desenhos - antes pelo Sedex, depois email e agora até WhatsApp -, produção das fantasias, quer dizer... construção arquitetônica de cada fantasia - até pelo fato que elas precisam de um planejamento arrojado pois são levadas  desmontadas de São Luís até o RJ -. Acompanhei  fase de criação de fantasias para vários Blocos Tradicionais de São Luís - quem não conhece precisa conhecer esses grupos que só existem no Maranhão -, as produções das fantasias para o Rio entre elas:  Riquezas da Cultura Nordestina, O Baile de Máscara, O Imperador de Roma Pagã, O Sol da Terra da Encataria, Anjo Barroco, Progresso para o Alto, Tradição Folclórica da Ilha, Feirante Nordestino, Superação de Mandela e Terra Dourada.  Esses são alguns temas que ele vestiu e desfilou na agremiação de Duque de Caxias.
 
Em 2016, fomos nos comunicados ele seria homenageado pela Escola de Samba Turma da Mangueira, aqui de São Luís com o enredo "Enoque Silva: O Cisne Dourado do lago Joãopaulino", que o fez, após mais de 20 anos, repetir o gosto de desfilar na capital maranhense. Nosso amigo Itamilson Lima, presidente e carnavalesco da escola fez um dos desfiles mais lindos da nossa Mangueira, que esse ano completa 92 anos e vai comemorar em uma live dia 16 as 22h no canal da escola no YouTube (se liguem). 


Chegamos em 2021, esse ano que seria o meu 23° carnaval o acompanhando na Marquês de Sapucaí não terá desfile, ao menos no período oficial. Daí comecei a me perguntar "qual será sensação de passar o Carnaval sem ter Carnaval pra passar em lugar nenhum?"... não por mim somente, mas, principalmente, por Enoque que já vive há 40 anos nesse mundo e é quando o vejo mais feliz e realizado. Ele com a sagacidade que lhe é peculiar, me surpreendeu com uma ideia. Enoque sempre usou a arte como instrumento de trabalho, laser, relaxamento, meditação e terapia, se dedicou ainda mais a um trabalho que vem desenvolvendo há mais de 5 anos, produzir em bonecas, miniaturas de destaques de Carnaval - super detalhadas, riquíssimas, delicadas, com penas, plumas, brilhos e partes - com temas diversos para fazer homenagens. Chegou ao número de 50 bonecas, todas para sua coleção particular, nunca mostrada a um público maior. Poucas pessoas - 2 ou 3 - viram e quem viu, não viu mais que 2.

Bom, com a  pandemia do Corona Vírus e com o cancelamento dos desfiles em fevereiro veio a ideia de fazer uma exposição virtual  para, ao mesmo tempo manter vivo o espírito carnavalesco nos apaixonados pela festa, prestar homenagens a grandes personalidades do carnaval, pessoas queridas e ilustres que nesse universo contribuiram na formação e na consolidação desse item da identidade cultural maranhense e brasileira. 

Na Exposição Virtual BONECAS EM DESTAQUE serão expostas 50 bonecas, com 50 temas diferentes e que renderão 50 homenagens a nomes como  D. Zelinda Lima, Chico Coimbra, Joãozinho Trinta e Milton Cunha através de temas como Floresta dos Guarás, Teatro Artur Azevedo, Imperatriz do Divino e Deusa Indiana.

É óbvio que eu sei e já vi tudo que será exposto e quem serão os homenageados. Assim também como é evidente que não vou contar nada além disso e de que a exposição começa nesse 15 de novembro, postando uma homenagem por dia no seu perfil do Instagram.

Se não teremos os tradicionais cinco dias de folia, nem os três de desfiles - dois oficiais e um das campeãs - vamos fazer esse carnaval ser ainda maior para valer à pena a falta que sentiremos dos fogos de abertura, das batidas das baterias com suas caixas,  repique, surdo e ganzá. Esse ano o samba terá a percussão das batidas dos nossos corações e os desfiles, podem até não ter grandes destaques, afinal terão destaques miniaturizados, mas, teremos arte, história, beleza, delijcadeza, brilho, muito luxo e grandes nomes desfilaram em uma avenida virtual.


(Aproveita pra seguir o perfil dele  @enoqueosilva para não perder nada).


sábado, 9 de janeiro de 2021

A CATEGORIA É... NÃO SE PODE PERDER A POSE

 



          Imagem divulgação - Personagem Angel

(Por Rivanio Almeida Santos)

A história começa em 1987 e já de cara vemos um roubo a um museu. Eram mãe e filhos da Casa Abundance buscando figurinos para ganhar um baile gay de apresentações temáticas. A cena termina com todos sendo presos após o desfile. Não sem antes receberem o troféu de campeões para a casa que representam. As casas são locais chefiadas por mães, mulheres trans, que acolhiam jovens em situação de rua para lhes darem segurança, acolhimento, apoio, orientação e uma vida artísticas na defesa de suas casas nos famosos bailes.

         Elektra desfilando no Baile.

Assim começa o enredo de Pose, uma das grandes séries do aplicativo de streaming, Netflix, onde temos a satisfação de ver vários acontecimentos nas vidas de
Blanca, Electra, Angel, Lulu, Candy, Pray Tell, Damon, Esteban  e Ricky que nos fazem entender o universo que envolve a vida da comunidade LGBTQIA+ Afro-americana e Latino-americana.

Na primeira temporada - que rendeu
indicações a prêmios variados, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática e o Globo de Ouro de Melhor Ator em Série Dramática - vemos que, não apenas a não aceitação, como também a expulsão e a violência física, tão comuns (desde sempre e ainda hoje) fazem muitos gays irem parar nas ruas e se sujeitarem a práticas de atividades como a venda de drogas e a prostituição por sobrevivência. Vê-se o surgimento e a proliferação do HIV, as contaminações, o preconceito, as vítimas fatais e o início dos tratamentos. Vemos, entendemos e relembramos muitos e tantos talentos perdidos por causa da falta de informações, acesso a tratamentos e consequências dos preconceitos, mas, também por falta de suportes emocionais. Impossível não se emocionar, com o amor dos filhos pelas mães biológicas, apesar dos abandonos - a maioria refém do machismo dos maridos - . Impossível não se emocionar com a obstinação e resiliência de Blanca Evangelista, apesar de tudo que passa na vida. Impossível não se emocionar, principalmente quem viveu os anos 80, com tudo que "revive", agora com os olhos de espectadores mais maduros e atentos para entendermos melhor aquela época e os contextos de então. 

          Blanca Evangelista quando acolhe Damon das ruas.

Interessante ver como os gays, que viviam em guetos por necessidade de identificação, mas, com clima de desunião por causa de disputas de egos e senso de autodefesa - próprio de quem cansa de apanhar da vida e vive armado a qualquer armadilha que vier -, conseguiu se juntar para criar uma cultura incrível, a cultura dos bailes - na definição de Blanca, uma das protagonistas, que eram "reuniões com pessoas que não são bem vindas em outros lugares. Uma celebração à vida". E nos bailes, assim como nas ruas, esta celebração envolvia, beleza, arte, música e dança. A dança era o vogue - assim como o break - um estilo de dança, só que do universo o LGBTQIA+, - "O nome do estilo (que também pode ser chamado de "voguing") foi inspirado na revista de moda "Vogue", já que dançarinos brincavam de imitar as poses das modelos mostradas na publicação e faziam movimentos corporais marcados por linhas e poses, como em uma sessão de fotos. O movimento, que desde o início surgiu como um ato de empoderamento de minorias, se tornou uma revolução...", segundo Luana Dornelas e Evandro Pimentel do site redbull.com -. E que deu muito o que falar pelo mundo.

E quando digo que deu o que falar,  já estou me refiro a segunda temporada desse roteiro que mistura ficção com acontecimentos reais e importantes. Este segundo momento já se passa no início dos anos 1990, ano em que Madonna lança a música "Vogue" e vira "mãe" de todos os LGBTQIA+ por dar maior visibilidade à comunidade, o que ajudou bastante na reafirmação da cultura e identidade da classe e ajudou vencer alguns obstáculos como o respeito e reconhecimento aos talentos na arte, de desfilar, de dublagem musical e de dançar, por exemplo.

Apesar das barreiras que começaram a ser vencidas, ali, finais do século XX - não que não exista mais - , ainda se vê muito preconceito da sociedade que dificultava a vida das pessoas LGBTQIA+, tipo: alugar algum espaço para morar ou abrir um negócio próprio, trabalhar como modelo e, como sempre, no meio familiar. Juntando a isso continuamos a ver intrigas entre os próprios componentes da comunidade, que têm - dentre vários - seus p
reconceitos com novas tendências dentro do próprio meio artístico, a exemplo das apresentações de dublagem de músicas que acabam de surgir como manifestação artística. Nesse mesmo período aumentam as quantidades de mortes em decorrência do HIV/AIDS, pela violência física e também por assassinatos. Contudo, como um família que discute, e até briga, vemos as personagens aprendendo a se unir para proteção uma das outras - mesmo no que não é correto, que são consequências das pressões e castigos recebidos - mas, também em busca e proteção dos direitos da comunidade a qual estão inseridas.

Na segunda temporada voltamos a questões recorrentes - que na realidade ainda hoje são -. Então eu provoco você que tá lendo esse texto: o que você acha que ocorre quando a família nega  e expulsam de casa seus filhos LGBTQIA+ renegando suas existência e os obrigado a qualquer sorte? Eu te respondo... Eles precisam acionar e usar seus instintos de sobrevivência. Quando um LGBTQIA+ se abafa (ou se esconde, camufla tentando ser o que não é) para agradar a família, ele pode tá tentando mostrar que a ama, mas está se matando. E se a família aceita que seu filho viva infeliz é porque não o ama. Quando ele, mesmo triste, se recusa a não viver o que está sendo imposto e sai pelo mundo - na maioria das vezes são obrigados a isso - , está praticando o amor próprio e instintivamente está lutando pra seguir o seu destino de apenas ser o que que é, como a natureza divinamente lhe fez. Vale lembrar que a maioria usa o Divino como desculpa para matar os seus (emocional e fisicamente) e torná-los aquilo que não são por puro machismo, egoísmo, por pura maldade, vergonha ou por inveja por enxergar neles a coragem de serem o que são. O que será que falam e pedem nas orações
em silêncio quando põem seus joelhos no chão? Conseguem dormir sabendo da infelicidade de alguém que os ama? Isso sim é uma aberração humana. Amar pela metade. Amar apenas o que lhe convém. Amar apenas o que julga perfeito. Isso não é amor. Esquecem o "amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado" e o "atire a primeira pedra aqueles que não têm pecados". Deixa lá... tô fugindo ao tema.

Voltando... Nessa temporada um ponto alto de emoção está no episódio 4 - "nunca conheci um amor assim"-, no velório de Candy, uma transsexual que ainda precisava se prostituir, para se manter e aos filhos que tinha acolhido, é assassinada por um cliente. Na cena do velório vemos cada um dos presentes conversar com o espírito da morta - é como se a consciência de cada um pesasse e buscasse se justificar com a finada e buscasse o seu perdão - .  A realidade da maioria de nós LGBTQIA+ passa ali, na tela, a cada conversa. Contudo, os perdões pedidos e os desejos de convivência chegam tarde demais.



Outros pontos altos são o convite para os dançarinos (Damon e Ricky) fazerem teste para turnê de Vogue da Madonna e as conquistas seguintes, como o início da carreira de modelo de Angel em uma grande agência. Contudo, como nada vem fácil,  acompanhamos altos e baixos, grandes e doloridos tombos, mas, como um dos personagens - esqueci quem - diz em uma cena: "artistas de verdade usam a dor para ter força". 

São divertidas as falas do Pray Tell nas apresentações dos bailes. É legal ver que a perversa Elektra tem esse jeito como uma casca de proteção, mas, vemos sinais de que ela também tem um coração. É gratificante ver representada a gratidão que temos por quem nos apoia, acolhe e não julga, mesmo que não aprove ou concorde. Impossível não ficar feliz com a descoberta do amor verdadeiro de Angel e Estaban e ver o apoio e o crescimento profissional dos dois juntos. 

Assistir essa série, justamente sobre a fase dos anos 90 me emociona, muito. Ali consigo ver tudo que algumas gerações anteriores a minha tiveram que passar para que eu fosse me chegando, com muito medo (fato!), mas, com força para ser eu mesmo. Enfretando tudo e todos que enfrentei e enfrento, em comunidade ou sozinho, para que meus sobrinhos, de sangue ou não, não passem ou, se passarem, sejam mais fortes e resilientes que eu.



A gente cansou de  "viver em guetos e servir de chacota pro mundo", diz Angel, por isso as mães das casas seguiram - acreditem, na vida real elas existem e ainda seguem - fazendo aquilo que sempre esperamos das mães, dos pais, das tias, dos tios... do sangue: não julgamento, respeito, reconhecimento, aconchego, segurança  e perspectivas. Enfim, Amor e Acolhimento!

Que venha a terceira temporada.






















 



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

BRIDGERTON: O Diamante da Temporada


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Semana passada minha filha Jessica - conhecedora do meu gosto por documentários, novelas, filmes e séries de épocas - indicou-me a nova sensação do momento, BRIDGERTON, uma produção inspirada na série de livros que leva o mesmo nome, da escritora Julia Quinn, e que se passa na alta sociedade londrina do século XIX. 

Comecei assistir na mesma semana e de cara fui pego de paixão pelos figurinos, pelos cenários, fotografia, enredo e por identificar uma musica de balada tocadas por alguma orquestra - diga-se de passagem, uma senhora orquestra - depois descobri se tratar de música de Ariana Grande e Taylor Swift. Simplesmente genial! Faz uma conversa do visual do passado com o a memória afetiva atual sem fugir ao tema e ao contexto proposto e atraindo um público diverso.


Outro ponto que chama atenção e vai  dando uma sensação boa é a representatividade de gente preta. E não falo de pretos escravizados - aliás, não há escravos na série e sim empregados - como acontecem normalmente nas produções de época, que, embora saibamos sejam quase sempre "baseados em fatos reais", nesse aspecto esquecem a liberdade poética usada em todo o restante das narrativas. Não que eu defenda que se esconda esse aspecto da história, muito pelo contrário! Mas, também vale tentar ver como seria, como poderia ter sido, mesmo em uma ficção. Na série da Netflix vemos senhores, senhoras, senhoritas, duques e até uma rainha preta. Tudo contextualizado no fato do rei da Inglaterra de então ter se apaixonado e casado com essa mulher. Isso tirou, como diz uma das personagens o preto da posição de "sujeitos exóticos a pessoas da corte". Uma situação muito mais próximas do sonhado do que do real. Descansa o coração um pouco em não ver preto sofrendo e sendo açoitado. 

Pelo menos nessa primeira temporada da série a história se passa na chamada "temporada dos debuts" quando as jovens debutantes - não necessariamente que estejam completando seus 15 anos, mas por questão de "preparo" - são apresentadas a sociedade para conseguirem "bons" casamentos. Os vários bailes estão mais para rodadas de negociação entre as famílias das moças que desejam casar suas filhas, evitando a temida solteirice, mas, que sejam "bon$" partidos e da garantia de bons dotes  às famílias dos jovens rapazes, senhores solteirões ou viúvos. 

Nesse ambiente machista, patriarcal e sexista as garotas ainda passam pela avaliação da rainha, que aponta a que seria a "Diamante da temporada" e sofrem com os comentários de uma escritora de tabloide anônima (Lady Whistledown) com suas crônicas e comentários sobre todas elas e personalidades londrinas envolvidos na trama. 

Nesses primeiros episódios  vemos a  história da jovem Daphne Bridgerton - ela é o "Diamante da Temporada" - e acaba envolvida em um acordo com um dos mais cobiçados partidos de então, Simon Basset, o Duque de Hastings, que não quer casar, e muito menos ter filhos, para não seguir a sua própria linhagem (fez promessa ao pai em seu leito de morte por ele lhe ter sido o pior possível, dispensando ao filho reclamações, humilhações e renegações). A mocinha e o duque fingiram comprometimento para fugirem dos comentários maldosos da "haiter" de então e das mães abutres, que caiam em cima dos bonitões tentando fisgar "os melhores" (leia-se mais ricos) nas suas concepções para genros. Vemos nesse casal em específico um cara experiente e uma jovem ainda desabrochando que não sabe quase nada da vida - em especial ao que se refere às questões conjugais -. Contudo, ambos têm personalidade fortes demais para de início assumirem que a proximidade despertou o amor entre os dois. 

Nessa temporada de casamentos, além de noivados negociados, vemos jovens sofrendo por amor, duelos por desonra, fracassos por falta de sorte nos jogos... ingredientes de conteúdo bem batidos em filmes melosos e chatos. No entanto, que são sempre essenciais no que se trata de romances e que todo mundo reclama e, no fundo, gosta de ver. Porém, tem mais... somos brindados por outros instigantes temas, que quem conhece os livros de Julia Quinn já esperaria. A série toca em tabus que talvez tenham sido os grandes trunfos da escritora para se tornar o grande sucesso que foram suas  publicações. Tabus como a  descoberta do prazer dos toques íntimos femininos, sexo, bissexualidade, gravidez antes do casamento e amores proibidos, além de trazer uma cena -  que tem no livro - e provocou um pouco de polêmica tendo sido interpretada por muitos como sendo um estupro da duquesa ao duque quando descobriu que não era sobre ele não "poder" e sim de não "querer" ter filhos. Situação que gera conflito entre os dois - como já disse, ela têm personalidades fortes para aceitarem as razões e as imperfeições de cada um -. Até entenderem que para qualquer  casamento dar certo é preciso de fato amor... é decidir amar todos os dias. E isso anda longe de só amar a perfeição que projetamos e esperamos do outro. Ela inexiste. Ninguém é perfeito. 

As cenas são lindas, até mesmos as cenas mais ousadas que podem gerar rubor aos mais puritanos (cá pra nós... os filmes brasileiros dos anos 80 eram muito mais pesados). É uma série linda! Temas relevantes por, em vários casos, serem tabus até hoje. Vale muito a pena assistir, por tudo!  

sábado, 2 de janeiro de 2021

FOCA NESSA JOIA: Silvetty Montilla 30 anos brilhando

 


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Há dois anos Enoque, meu companheiro, e eu fomos convidados a ir encontrar nossos queridos amigos - irmãos - Dhu Costa e Milton Cunha, que seria homenageado, dentre vários eventos, com o título de Cidadão Piauiense, em Teresina. Outro evento era um super show produzido e dirigido pela Divina Safira Benguell, que nos recebeu com muita atenção, respeito e carinho, tanto que virou nossa amiga.

Na ocasião fomos apresentados a outras grandes artistas, nomes relevantes e conhecidos do público LGBT.   Naquele ano conhecemos  pessoalmente, já que as conhecíamos através dos seus trabalhos, Michelly Summer, Miss Bia, Rosana Star - todas incríveis - e uma outra figura ímpar, que também já acompanhávamos seus trabalhos e admirávamos pela capacidade de improviso e humor inconfundível no YouTube e como repórter especial do TV Fama (Rede TV) em especial nas coberturas do Carnaval. Pois bem, fomos a apresentados a esfuziante e brilhante Silvetty Montilla.

Dessa viagem - em maio de 2018 - até aqui vimos crescer, de forma recíproca, uma amizade super leve, respeitosa e carinhosa -  com ela vieram várias outras amizades queridas -. Nesse meio tempo já nos encontramos no Rio de Janeiro, aqui em São Luís e duas ou três vezes em São Paulo. Na capital paulista após um show na boate Blue Space, onde trabalha a mais de 25 anos, adquirimos seu livro, sua biografia lançado em comemoração ao seu tempo de trabalho na noite: "Silvetty Montilla - 30 Anos: É o que tem pra hoje: A trajetória do maior transformista do Brasil" do escritor  Ricardo Gamba (roteirista, dramaturgo, produtor de elenco, autor e diretor teatral. Dentre seus trabalhos está a produção artística do musical "Cartola: O Mundo É Um Moinho"). 


Mas, permita que eu volte a quando nos conhecemos lá em Teresina... bom, de cara, no ensaio do show no Teatro 04 de Setembro algo nos chamou à atenção. Existe a Silvetty e o Silvio, nitidamente! Entretanto, eles nunca se separam totalmente. Embora tenham personalidades distintas eles sempre estão fazendo companhia um para o outros. Ela preenche o espaço, piadista, sagaz, não deixa passar nada, tem voz mais alta, fala também com os braços e, como não poderia deixar de ser, com as joias! Ele é contido, observador, calado, a voz muda sem esforço, fala baixo e, muitas vezes com as mãos nos bolsos. Víamos isso como se fosse ligado um botão de liga/desliga. Contudo, quando o botão da Silvetty é ligado, percebemos no fundo do olho a presença do Silvio, em especial quando está interagindo com alguém da público, da plateia. Um olhar de cumplicidade, de "com licença, fica tranquilo é só uma brincadeira e obrigado pela participação". Ao passo que o botão de Sílvio liga ele não a deixa ir totalmente tem sempre aceitando e atendendo sempre ser chamado e tratado como queira, no masculino ou no feminino. São duas personagens diferentes, mas que têm a educação e o respeito ao próximo como ponto comum, além do corpo. Um dá apoio ao outro quando necessário. Muito instigante e curioso. Essas foram as minhas percepções.

Voltando ao livro, com a vida corrida que tenho tido só agora consegui ler seu livro - vinha até em tão acompanhando sua vida pelas redes sociais e pelas conversas de WhatsApp que Enoque e ela mantêm quase diariamente -  Agora tenho aproveitado para por alguns títulos em dia com mais atenção e curtindo o prazer de viajar nas histórias durante esse período pandêmico. E qual não foi a minha surpresa?... minhas impressões se confirmaram através dos depoimentos das pessoas mais próximas. Pudemos conhecer mais da vida do Silvio, do surgimento, do sucesso e da representatividade que é a Silvetty.

Sua história é interessante. Aliás, é muito mais que interessante, INSPIRADORA, eu diria! Vemos passar diante dos nossos olhos e projetada na mente - quando leio faço sempre esse exercício - a história de um menino calado, silencioso, companheiro da mãe, querido pelos irmãos e amigos, quieto, mas que não leva a desaforo pra casa, principalmente para defender os seus.

Antes de continuar vale ressaltar que a linguagem da escrita é de fácil entendimento e compreensão (e quem gosta de figuras no livro têm um algum de fotos rsrsrs). Continuando... durante a leitura vemos como Silvio se faz Silvetty, descobrimos quando se fez Montilla. Sua relação com a família, amores, amigos, que, inclusive, falam de outras características facilmente perceptível, sua generosidade e sua humildade.

Não vemos apenas a sua história - o que já é bastante envolvente e diz muito - temos oportunidade de conhecermos (através de sua participação) um pouco da essência da história da Parada Gay de São Paulo e tudo que ela envolve,  a importância para a militância e os números que justificam a importância à economia Paulistana - embora não seja esse o objetivo do livro e não fale especificamente sobre o tema - ainda explica varios temas e nomes ligados ao universo LGBTQIA+.

É interessante saber que apesar de ter sido candidata a cargos políticos duas vezes, a convite de amigos, sem ser eleita -  embora fosse ser a representante que precisávamos naqueles momentos e não tínhamos. Silvetty percebeu posteriormente que a sua condição de Gay, transformista, negro e de periferia, enfim... a sua existência, seu trabalho e seu alcance já é um ato de ativismo e uma bandeira política astiada que inspira dignidade, representatividade e resistência.

A pessoa que conhecemos não faz objeção da forma a ser tratado ou tratada, se de Silvio ou de Silvetty, conhecemos através da publicação mais do ser humano que habita aquele corpo esbelto e comprimido. Conhecemos pela leitura mais do ator - de cinema e peças teatrais capaz de viver outros personagens - humorista, da destaque de carnaval (uma grande paixão sua), da miss, da transformista, do cantor, cantora, instrumentista de banda marcial, do artista múltiplo que permeia em várias linguagens das artes com a naturalidade de quem tem talento e jogo de cintura para encarar o trabalho que aparecer.

É uma delícia ler sobre o brilho de Silvetty Montilla, mas é mais gostoso ir além e conhecer o Silvio. Ver a força interna de quem não quer e não precisa bater em ponta de faca para ser quem é, como é e quando quer (me identifiquei nesse aspecto também). Sua relação de união baseada na compreensão e respeito com seus familiares foram bases importantes para que consiga levar - ou trazer - ao seu público diversão durante tanto tempo, se reinventando especialmente nos tempos mais duros e difíceis como o atual. O bacana de finalizar a leitura desse livro é  que, como quem tomar uma dose de montilla (apesar se eu não beber nada alcoólico), posso dizer, sem parecer conversa de bêbado, que agora eu tenho "condiçõexxxx" de dizer que conheço Silvetty  Montilla desde pequena. E isso é o que tenho pra hoje.



sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

1° DE JANEIRO DE 2021 - UM MARCO PARA OS PASSISTAS DE SAMBA


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)


Apesar de ter crescido ligado a uma igreja evangélica, tenho orgulho de dizer que aprendi com meu pai - antes dele entrar pra igreja - o amor por musica brasileira de verdade e de qualidade, entre tais as musicas Carnavalescas. Sou hoje uma pessoa que ama o Carnaval, em especial Escola de Samba.

Vou além... acho que mais que isso, eu amo o batuque dos tambores, o som do repique, do surdo, dos tamborins, EU AMO O SAMBA. Eu amo os passos, os breques e o gingado dos PASSISTAS DE SAMBA NO PÉ.

Sempre fui apaixonado por suar dançando um bom samba, de braços abertos, mãos nas cadeiras, um cacuete aqui e outro ali nos meus passos miudinhos e tímidos. E cada vez mais, pois fui ficando mais contido - a medida que fui conhecendo o que é ser sambista de fato, com samba no pé de fato -. Apesar da democracia que é o universo do samba tenho passando de um brincante a um admirador, expectador, respeitador e "aplaudidor" da arte dos artistas do samba no pé que são os passistas do samba. Eles não apenas dão show, eles são sim "O SHOW". MERECEDORES de todos os NOSSOS APLAUSOS, RESPEITO, RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO. Os aplausos até têm, mas respeito, reconhecimento e valorização... esses precisam melhorar para personagens de vidal REPRESENTATIVIDADE DA ALMA DO SAMBA. Isso é fato!

Outro fato é que hoje é um dia especial para o samba brasileiro. Um grande marco para os os passistas de samba do Brasil. Com os OBJETIVOS de:

- Preservar, difundir e fortalecer a arte da dança do Passista do samba (em suas Representações tradicionais e/ou modernas);
- Defender os direitos dos passistas enquanto artistas que representam um valor simbólico cultural do Brasil, e lutar pelo respeito e valorização desta Arte;
- Ser elo de unidade em todo o Brasil e no exterior, dos Passistas. 




HOJE, 1 de janeiro de 2021, Nilce Fran, Aldione Senna, Bruno Tete e Dhu Costa lançaram a ASSOCIAÇÃO DOS PASSISTAS DO BRASIL “CIRO DO AGOGÔ*”, entidade sem fins lucrativos (Pessoa Juridica) para organizar as demandas desta classe artística de sambistas. 




Neste vídeo lindo, com texto maravilhoso - criado e dirigido pelo grande e eterno Carnavalesco e Comentarista de Carnaval Milton Cunha - vejo uma representatividade enorme do que é ser e de quem são os passistas de samba. Há nele pessoas de várias gerações. Os que fizeram história, os que estão fazendo a história presente e representantes da arte passista futura (Parabens, irmão!!!) Arrepiante! Outrossim o vídeo comemora a Fundação da Associação, que já conta com 42 passistas de todos os tipos, pela democracia da dança do Samba no Pé.

Gostou? Ficou interessado ou tem alguma dúvida? Entre em contato através do e-mail da associação (vide abaixo). De uma coisa eu tenho certeza... DE SAMBA NO PÉ, ELEGANCIA E ALTO-ASTRAL ELES ENTENDEM! 




E-mail de contato: associacaopassistasbrasileiros@gmail.com

*Ciro do Agogô (1945-2016) foi o passista de duas bandeiras. Ele representava e defendia as bandeiras da Vila Isabel e da Estação Primeira de Mangueira. Foi criador, em 1997, da Primeira Associação dos Passistas do Rio de Janeiro.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

NASCE UMA RAINHA: ALEXIA TWISTER, GLÓRIA GROOVE e o BASTA dos NÃO RECOMENDADOS

 


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Quando vou fazer um trabalho artístico gosto de ouvir músicas ou assistir filmes ou séries que me ajudem a viajar na criação, a refletir enquanto vou executando meu trabalho. Este dias com uma encomenda de camiseta a entregar decidir assistir NASCE UMA RAINHA, um reality show do Netflix (sim, tenho mergulhado no streaming).

O programa, apresentado pelas magníficas artistas ALEXIA TWISTER e GLÓRIA GROOVE, trás algo que vai além da frescura tão estereotipada ao universo de nós LGBTQIA+, mais a frente, quem ler esse texto, vai ter uma noção porque digo isso. Aliás, o que menos se tem ali é frescura, e as que aparecem são temperos, toques de humor para deixar o clima ainda mais leve. E olha, eu diria, é beeeem temperado, mas tem cheiro de afeto, carinho e sabor forte de resistência. É bem especial.

O programa propõe "ajudar drags a realizarem seus sonhos e arrasarem nos shows", como diz a própria descrição no aplicativo. Mas, vemos que não é apenas isso. Eles vão além dessa proposta... ajudam EMPODERAR ARTISTAS em AUTOCONHECIMENTO, ajudam artistas em PROCESSOS DE CONSTRUÇÕES, além de ajudar pessoas próximas a eles a entrarem nesses universos para verem suas condições e opções por outras perspectivas, em sua maioria, pelo lado da importância desse universo - complexo para muitos - para a felicidade do artista participante e assim fortalecer suas relações de afeto.

Na temporada, no ar desde novembro, ajudam cinco drag queens e um drag king (adorei esse, inclusive). Nesses seis episódios é incrível ver o quão o aspecto artístico e do apoio das pessoas queridas são fundamentais no fortalecimento psicológico dos participantes e os ajudam a vencer muitas barreiras.

A cada episódio uma abordagem diferente, com convidados diferentes, para desmistificar e quebrarem paradigmas. Sempre levando em consideração as barreiras que as pessoas apontadas como importantes na vida dos personagens indicam como suas principais "preocupações" para a não aceitação da escolha artística, mas que sabemos não passar da desinformação e preconceito em conflitos com o amor que dizem sentir - tenho sempre um pé atrás com esses "amores" e no fundo acho que é vergonha da pessoa mostrar ser o que e uma gogantesca  vontade de controlar a vida do outro.

Cada episódio daria para escrever várias páginas, pois tocam em nuances super delicadas para quem é do meio. Contudo, quero me ater ao último da temporada que mostra a evolução de Marcos, um jovem pobre de periferia que estudou e se formou arquiteto, um defensor de suas raízes e de sua condição afetiva. Ver-se em sua face, e no seu corpo, a resistência que a vida lhe obrigou a desenvolver, contudo é notório no seu olhar que algo lhe falta para ser completo, ele precisa aliar toda sua vida, criação, suas falas, argumentações, lutas e trabalhos. Ele precisa expressar tudo isso artisticamente através do seu corpo. Incorporar e extravasar. Confesso que de início não estava acreditando nesse participante dada a sua quase inflexibilidade corporal, mas me deixei levar... assim como ele se deixou e ali nasceu uma rainha. Nasceu nele, no palco e entãona tela, ADLA DAVIS. Na sua apresentação final de participação do programa performa a música "NÃO RECOMENDADO" de CAIO PRADO (só conheci agora e do que já ouvi sobre suas músicas e letras eu diria... UAU!). Uma excelente escolha para mensagem final da temporada.  Me emocionei com sua entrega, com a sua performance, a verdade de todo o contexto e a letra da música que diz tanta coisa que nós,  LGBTQIA+, estamos exaustos de ouvir. Um trecho  da canção diz:

"Pervertido, mal amado
Menino malvado, cuidado
Má influência, péssima aparência
Menino indecente, viado

A placa de censura no meu rosto diz:
Não recomendado à sociedade"

Ali soou como UM BASTA. Como um grito que diz "para de me falar estas barbaridades e vem conhecer esse meu mundo que me completa e faz feliz". E eu que já sabia que a arte drag pode ir além da frescura entendi que ela vai muito além desse "além da frescura". Ela pode ser uma ferramenta de luta, de transformação, de empoderamento e de resistência.





FESTA PARA UM CORAÇÃO INDISCIPLINADO 


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Quase todo mundo já passou por conflito com o mundo ao seu redor ou com a família por amar alguém que eles não entendiam ou simples não queriam. Sorte daqueles que nunca precisaram enfrentar ninguém por amar outro alguém. Mas, ainda estes seriam capazes de controlar o seu pobre e indisciplinado coração? 


Pois bem, vamos para Broadway e não se preocupam com a conta. Não vamos gastar nada além da assinaturas da Netflix para assistir "The Prom" ou simplesmente " Afesta de Formatura", como nominado no Brasil. Pelo que pude apurar bem rapidamente o filme é inspirado em um musical da Broadway. 


Imagine você que um grupo de teatro formado por artistas que já foram muito famosos e então em decadência recebe uma crítica pesada ao ponto de fazer a peça ser cancelada. Altamente egoistas, egocentristas (e divertidos) decidem então que precisam fazer algo relevante para usar como publicidade e então voltarem por cima. Decidem por fim virarem ativista de causas importantes. Depois de procurarem por uma causa encontram a de uma jovem finalizando o ensino médio, Emma, que quer levar a namorada ao baile de formatura. Mas, para evitar o que poderia ser um escândalo o grupo de pais da escola decide cancelar a realização do evento. 


O famigerado grupo de artista decide ir de carona com outro grupo, de coral gospel, para Indiana, onde tudo ocorre. Lá o enredo transcorre e, além da história de Emma - que foi abandonada pelos pais quando assumiu-se lésbica - podemos conhecer sobre cada um dos personagens e o os levou as se tornarem pessoas fracassadas e individualistas. Histórias de frustrações profissionais, humilhações por ser gay, vítimas de aproveitadores amorosos, abandondo pelo marido e pessoas que apesar de pregarem o amor de Deus, praticam e cultivam não apenas o desamor e desunião. Elas incentivam o ódio, que é vencido com o diálogo e argumentos sobre a hipocrisia que há na defesa das escolhas "escolhidas" para serem taxadas como certas e no ataques àquelas que devem ser consideradas erradas. "Ame o seu próximo, ame o seu próximo, ame o seu próximo acima de tudo" diz uma das canções. 


Apesar de ser o que alguns possam considerar meloso o filme como um bom musical tem uma linguagem divertida, leve, alegre, emocionante e, diria, até didática para mostrar mais uma vez o que a comunidade LGBTQIA+ tem que enfrentar na vida. Muitas vezes tendo que não ficar com a pessoa amada. Outra canção diz algo como "não poder está com você foi a gota d'água e tive que dissimular meu pobre coraçãozinho indisciplinado". Porque na real é isso, ninguém manda o coração amar quem queremos, ou quem querem, que ele ame. Indisciplinado que é ele ama quem ele quer. 


E nesse filme que adoraria ter visto na sessão da tarde na minha época de adolescente podemos contar com as interpretações maravilhosas de Meryl Streep , James Corden, Nicole Kidman, Kerry Washington, Keegan-Michael Key, Andrew Rannells e Ariana DeBose. 


Outro spoiler que posso adiantar, se é que já não falei tudo, é que o amor... é bom vê-lo vencer, acolhendo e transformando pessoas. E em tempos tão amargos um pouco desse mel aquece o coração de quem ama e sonha com dias melhores.

COISA MAIS LINDA É A COISA MAIS LINDA 

 

Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Nesse recesso de fim de ano estava eu procurando algo no Netflix para passar o tempo e relaxar quando encontrei a série brasileira "Coisa mais linda" (referência a música Garota de Ipanema)

, que, nos leva aos tempos do surgimento da Bossa Nova, no final dos anos 1950 e início dos 60. Inclusive, com personagens q nos fazem lembrar os grandes artistas nacionais da época como Chico e Marieta, Roberto Menescal, Elza Soares e Garrincha, Eliete Cardoso dentre outros. São treze episódios distribuídos em duas temporadas até agora - uma terceira ainda não foi confirmada pelo aplicativo - em que o enredo gira em torno da vida de 04 mulheres incríveis interpretadas por Maria Casadevall (Malu), Pathy Dejesus (Adélia), Fernanda Vasconcellos (Lígia) e Mel Lisboa (Teresa). 


De início a trama mostra as duas primeiras protagonistas que se conhecem em situações super chatas e se mostram completamente diferentes. Malu é branca, paulista, rica, filha de fazendeiro e que quer trabalhar após ter sido abandonada pelo marido, que lhe roubou tudo. Enquanto Adélia é preta, carioca, moradora de um morro, trabalha desde os 08 anos, mãe solteira - se envolveu com o filho dos patrões - e precisa sustentar a filha e da irmã mais nova. 


A terceira protagonista, interpretada por Mel Lisboa - a eterna Anita - é a jornalista feminista Theresa. Ela trabalha em uma revista direcionada ao público feminino e que é escrita quase em sua totalidade por homens - ela é a única mulher da equipe até um determinado momento da trama - e precisa enfrentar o preconceito "das companheiras" de trabalho (sim... eles assinavam as matérias com pseudônimos femininos). Apesar de ser uma mulher à frente de seu tempo, independente, mente aberta - e que, não apenas sonha, tenta fazer as pessoas compreenderem um mundo mais livre - ela sonha formar família com o marido, com quem perdeu um filho ainda pequeno. 


Ligia, a quarta protagonista, é interpretada por Fernanda Vasconcelos. É cantora, sonhadora, casada com um político de uma falida família tradicional da cidade que sonha ser prefeito da Guanabara - atual cidade do Rio de Janeiro - e não só não a apoiava na carreira de cantora da esposa como a impedia e destruía sua autoestima. Como toda vítima de marido machista ela era apaixonada por ele, que impunha suas vontades em jogos de pressões afetivas e psicológicas. Ela, sem perceber que precisava reagir por ser vítima dessa violência, era submetida às suas recorrentes e convenientes sugestões como roupa a vestir, corte de cabelo, parar de cantar e ainda era violentada física e sexualmente. Como não suficiente Lígia se culpava por ser sonhadora e assim dava razões a tudo que passava. 


No desenrolar da série podemos ver histórias de amores, amizades, traições, golpes, misoginia, machismo e feminicídio. Um alerta para o fato de que não conhecemos ninguém a fundo a não ser aquilo que querem que conheçamos. Todo mundo tem sua vida, sua individualidade, conflitos, segredos, histórias, traumas e monstros. 


Na história é inspirador ver estas quatro mulheres que juntas tentam fazer um novo futuro, ainda que enfrentem tantos percalços comuns naqueles anos (e ainda hoje). Quer exemplos? O Pai da Malu querer casá-la novamente para evitar um escândalo na sociedade Paulista. Adélia tinha uma patroa das antigas que a tratava com humilhações através de "privilégios" de dar 1 dia de folga, "permitir" que leve suas roupas para serem lavadas em casa, desconta dia não trabalhado e faz subir de escada nove andares com sacolas de compras para não subir do elevador social. Além de, por ser preta, sempre ser confundida com empregada mesmo quando já estava em melhores condições. 


Se ainda hoje as mulheres, apesar dos avanços, ainda sofrem com preconceitos e desigualdades, imaginem naquele tempo quando, por exemplo, por lei mulher não trabalhava sem a permissão do marido sob alegação de que isso era para lhes proteger. 


Percebe-se no decorrer dos episódios, quem tem o mínimo de sensibilidade e empatia, que apesar de alguns avanços ainda não está tudo bem (e anda longe de ficar) e por isso todas as conquistas das mulheres devem servir como motivação para continuarmos nas lutas por respeito e igualdade de diretos. E quando falo em continuarmos a luta quero dizer que não é preciso ser mulher pra lutar pelos direitos delas, assim como não é preciso ser preto para combater o racismo e nem ser LGBTQIA+ para defender os direitos dos LGBTQIA+. E mais... é preciso mais que isso, é preciso ser antimisoginia, antirracismo e anti-homofobia. Como diz o rapper Emicida no documentário AmarElo, a luta é uma só. 


As histórias retratadas facilmente nos soam familiares por diversos fatores, mas, principalmente, por se passarem em um passado recente (anos 1950 e 1960), tempos vividos por nossos pais e avós e sobre os quais já ouvimos em conversas caseiras. Estas mesmas histórias nos emocionam por vermos que ser mulher nunca foi fácil, mas que muitas enfrentaram e pagaram os altos preços cobrados para serem independentes, donas de si e iniciarem as lutas que tantas outras hoje seguem no fronte. 


A série, com classificação para 16 anos (mais por cenas mais picants que as ousadas intimidades das novelas dos anos 80 - que por uso de álcool e drogas), nos encanta pela linguagem brasileira, fotografia cinematográfica, cenários e caracterizações detalhadas, preparadas com capricho. Além disso, merece uma referência exclusiva à trilha sonora, como já era de se esperar. Somos brindados por regravações - e interpretação dos personagens - de músicas como "É luxo só" ( de João Gilberto), "É preciso dizer adeus" (de Tom Jobim), "Adeus batucada" (de Synval Silva que já fora sucesso de Carmem Miranda). Além disso, somos premiados com músicas como "Para ver você" e "Ver o mar" ambas do, até então desconhecido por mim, João Erbetta. Aliás, é dele ainda "Noite sem luar" que dramaturgicamente é uma composição de Lígia, a sonhadora cantora que tinha decidido refazer sua vida e sua carreira fora do país e - alerta spoille - é assassinada em pleno réveillon pelo violento ex-marido político com quem não quer ter mais nenhuma ligação. A letra traduz o sonho de muitas Lígias da vida real: "Eu vou sair pra ver o sol / No meu caminho eu sou o meu farol / Das nuvens eu vejo o cais / Sinto o vento a me guiar / Eu sei que vou sair da escuridão".

Era uma vez... CUIDADO, TÓXICO! 

 



A série The Crown da Netflix é um sucesso desde a primeira temporada, por mostrar nas telas parte da história mundial. Até agora foram quatro temporadas. Eu mesmo assisti à todas as temporadas. Sempre esperando a temporada seguinte. E mais aguardada, quarta, pode ser um choque para quem pensou que conhecia a história de Charles e Diana. Embora não se aprofunde na história do casal em si, uma vez que a série busca mostrar tudo que envolve a "coroa". É possível perceber que o casamento de Charles e Diana foi uma sucessão de erros. 


Quem quiser aprofundar mais na vida de Charles e Di convido a também assistir o documentário "Lady Di: suas últimas palavras", produção da Nacional Geographic disponível também no Netflix. São trechos de várias entrevistas e de uma entrevista secreta que a Princesa de Gales deu a Andrew Morton, jornalista que escreveu o livro "Diana, sua verdadeira história". É forte, trágico, triste e até revoltante. Porém, nos faz entender muitas coisas sobre o universo real inglês e sobre temas como patriarcado, machismo e relações tóxicas, que é o tema que destaco aqui. 


Charles que era amante de Camilla Parker Bowles (ela era casada) já passava dos 30 anos e sofria pressão para um casamento, que deveria ser com uma virgem de linhagem aristocrática. Diana Spencer, uma jovem de 19, professora primária que preenchia todos os requisitos e fora aprovada pela família. Ela só não imaginava que estava entrando numa boca quente (como dizem por aqui). Desde que aceitou o pedido de casamento meio que fora atirada na jaula dos leões sozinha. Colocada num apartamento real, o noivo viajou e só voltaria na semana do casamento. Nem com a sogra tinha consentimento para falar. Num "lar" tão cheio de gente, começara ali sua vida de solidão, tristeza e frustrações. E, conforme declarou em entrevistas, mostradas no documentário, no dia do casamento sentiu-se indo para o abate, o que de certa forma era um fato. 


É de chatear ver que Diana passou por situações de humilhações inaceitáveis, como sair almoço (ou era jantar?... não importa) com a amante do noivo, recebeu então muitas dicas da tal de como agradar ao príncipe, não conseguia falar com o noivo viajante enquanto ele falava todos os dias com sua "camarada" (como falavam antigamente no Maranhão), ouviu dele - um dia antes do casório - que não a amava, viu a amante entre os convidados enquanto era conduzida pelo pai ao altar e viu o já marido levar na viagem de lua de mel presentes e fotos da outra. Ah, desistência do casamento e divórcio não era uma opção. 


Assistindo à série e o documentário vê-se que Lady Di não tinha suas vontades acolhidas, nem ao menos eram ouvidas. Sofreu de bulimia, teve depressão e tentou suicídio algumas vezes - chegou a se jogar de uma escada quando estava grávida do Príncipe William -. O distúrbio alimentar, ela disse, foi gerado pelo fato da pressão sentida quando na semana do noivado o então noivo pegou em sua cintura e disse que ela tava cheinha. Mas, todo esse combo indesejável porque não era amada por quem ainda amava. Entristece ver que se anulava principalmente porque se sentia fraca, impotente diante de toda a situação. Algumas vezes, já na fase mais crítica das relações, a família real reagia dizendo que ela era louca, que era mimada, se vitimava, que provocava confusões... a culpa era dela. Ignoravam a ela, seus sentimentos e sua doença. 


Outro fato que chama atenção era que seu carisma e sua beleza faziam-lhe roubar a cena onde chegasse. Para onde ela fosse, mesmo que tivesse alguém da família do marido, as pessoas iam para vê-la e não vê-los. Isso causou despeito, ciúmes, inveja e ainda mais incômodo e distanciamento. Di sofria por ser vítima dessa relação tóxica que tinha não apenas em relação ao marido, mas com a coroa.  


Como toda vítima de relacionamentos tóxicos Diana sempre fez o que os outros esperavam da Princesa. Mas, nunca pode ser a Diana e isso era visível a olhos nus. Quanto decidiu ser ela mesma já era tarde. Tinha sido condenada a ter vida devastada, vigiada, exposta para o mundo através das lentes de paparazzis que faziam tudo agora imagens que lhes rendem muitas cifras. Foi assim até quando morreu, embora sua existência já fosse sem vida havia muito tempo. 


Essa história deve servir de reflexão a todos. Como estamos nos posicionando em nossas relações? Qual papel estamos assumindo, Diana ou Charles? O que estamos fazendo de nossas vidas? A troco de quê? Vale a pena? Não nos permitamos ser nem um e nem outro. Mudemos.


Casar com o príncipe encantado e ter uma vida envenenada por tanta toxidade não é o sonho de contos de fadas nem das pessoas mais gananciosas. Posso não estar conseguindo ver algum ângulo diferente. Pode até ser... Quer tirar as suas próprias conclusões? Assista aos dois trabalhos e me passa a sua visão. Enquanto isso eu sigo pensando que nada justifica a toxidade em uma relação.

veja AmarElo



Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Ontem recebi uma mensagem de minha irmã Rogenir Almeida Santos Costa sinalizando que queria falar comigo. Quando conseguimos efetuar a vídeo chamada pomos os papos em dia, rimos um bocado e tal. Até me falar do real motivo da chamada. Conhecedora do meu gosto, meu sentimento de justiça, de identificação com as causas raciais, em especial contra o racismo. Ela queria me indicar o documentário AmarElo, do repper brasileiro Emicida. 


Rap nunca foi minha música preferida, não pelo conteúdo, que normalmente são sobre lutas do povo preto, mas pela rapidez que emitem as palavras. Eu sou um tanto quanto lento para acompanhar. Contudo, sempre gostei do Emicida por sua história, sua postura, discurso e suas ações. 


Acordei na madrugada e para me distrair decidi ver o filme, que tá no Netflix. Gente... o que é isso? Ela me avisou da emoção que era o filme, mas não pensei que fosse tão forte para quem é preto ou se identifica com as questões de lutas contra os preconceitos. 


Emicida trás músicas de letras incríveis com mensagens mais que necessárias. Além disso, ele volta no tempo em uma narrativa que conta a nossa história de lutas nos trazendo a contextualização de temas muito relevantes (escravidão, trabalho, imigração, periferia, hip-hop entre outros) e trás importantes participações especiais de grandes representações do cenário cultural brasileiro, como Zeca Pagodinho (cantor), Fernanda Montenegro (atriz), Marcos Valle (compositor, cantor, instrumentista e arranjador), personagens importantes no surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), Abdias do Nascimento (criador do Teatro Experimental do Negro - TEN) e ainda nos brinda com citações sobre Lélia González (filósofa), Ruth de Souza (atriz), Os 8 Batutas (grupo de samba), Leci Brandão (Compositora e Cantora) e vários outros. 


Para fechar o show no Teatro Municipal de São Paulo que vem recortando todo o desenrolar do documentário e é um marco na história do movimento, por ser a primeira vez que uma ocupação/apresentação do gênero (e de vários pessoas que trabalharam no show) em um espaço sempre tão elitista, Emicida recebe as cantoras Pabllo Vittar e Majur para uma versão arrepiante de "Sujeito de Sorte", de Belchior, que dentre um conteúdo forte diz algo que fala muito sobre as lutas das minorias "tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri, mas esse ano não morro". Dando essa ideia reflexiva de que chega de apanharmos, que nossas lutas e resistências têm engrossado nosso couro e nosso coro, que seguiremos resistindo. Emicida deixa, com essas participações, essa mensagem de união das lutas, pois no fim das contas a luta é a mesma, contra o preconceito. Como ele mesmo diz: "E tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós".