quarta-feira, 24 de março de 2021

CARTA ABERTA À CIDADE DE SANTA TERESA DO PARUÁ - II 

 São Luís, 24 de março de 2021.


Olá, meu povo da cidade onde nasci e me criei. Tudo bem? Espero que, na medida do possível, todos estejam bem. E que todos estejam seguindo os protocolos de proteção conta essa pandemia. Protegidos. Nesse momento estou com convid, mas, estou bem com relação a possíveis sintomas Graças a Nosso Bom Deus.


Bom, cresci meio que averso a futebol. Não por falta de incentivo em casa, mas por falta de aptidão a jogos de bola, também não sou do vôlei e nem do basquete. Contudo, sempre estive nesse universo de jogos por falta de opção de diversão. Morei até meus 15 anos nessa cidade chamada de Santa Teresa do Paruá, que em 1995 foi emancipada sob o nome de Presidente Médici - desculpem, mas nunca esqueci o primeiro nome -. Quanta lembrança boa tenho desse lugar localizado na Pré-Amazônia maranhense, às margens BR-316, entre as cidades de Santa Luzia do Paruá e Maranhãozinho.

Nossa cidade perdeu cedo o pouco que teve de atração turística e eram poucas as outras opções de diversão. Contudo, nossa população sempre soube aproveitar o que tinha de possibilidades para entretenimento. Concursos de Calouros, piqueniques, festas, brincadeiras de ruas, bicicletas, desfiles de partidos de bonecas, banhos em rios e uma dessas possibilidades era - e é - justamente o futebol, que sempre foi presente na região. Aconteciam vários torneios - alguns eu acompanhava com meus irmãos -. Todas as gerações de "jogadores" de Presidente Médici teve algum - ou vários - destaque na arte futebolística (Bernardo do Ambrósio magarefe, Ricarte e Rivaldo do Juruca - meus irmãos - , Hilmar da Marcy, Jailton Coelho, Carlos irmão do Dão, Damasceno, Hildebrando do Omar, Wilson do Bié, Ednaldo Teodoro, Cláudio e Guimarães do Fala FINA, Edmilson pedreiro e o Ilson que morava na frente da casa do Edmilson são alguns dos que lembro). Mas, não só os rapazes, a meninas também davam muito show (Maria do Domingos Araújo, Edineia, Vitória, Eliete, Maria Moreno, Sandra Olivio e acredito que Vanalda são algumas delas). Não era qualquer time que enfrentava esse batalhão de mulheres. Era maravilhoso o clima... me lembro da visão que tinha sentado a beira do campo, que fica justamente atrás do Colégio Santa Teresa - onde eu estudava à maioria. 

Há 26 anos sai daí, muita coisa mudou, outras nem tanto e outras ainda não mudaram nada, Graça a Deus, como o gosto da nossa juventude pelo esporte, em especial o futebol.

Fui surpreendido esse ano com a notícia que foi criada o time Liga Presidente Médici e que tinha ganhado o Campeonato Maranhense Sub20 - Nunca na nossa história isso tinha acontecido -. Soube que com essa vitória eles tiveriam (e tiveram) oportunidade de participar do campeonato nacional, em São Paulo - Jamais se sonhou tão alto aí em Santa Teresa do Paruá - O jogo seria contra a equipe do Palmeiras. Como assim, Brasil?! É um sonho grande, quase inacreditável.

Foi lindo saber que pessoas da cidade, moradores e ex-moradores, se juntaram, tiveram ajuda de empresas locais e da prefeitura para realização desse sonho que deixou de ser apenas de um time e passou a ser de todos. Os meninos foram. Jogaram. Não ganharam o jogo e foram eliminados. Isso pouco importa!!! A experiência de vida vale e ensina mais. Quem conhece a realidade de nossa cidade e desses pequenos, tinha ideia que no fim das contas eles, mesmo não saindo vitoriosos do jogo, já tinham ganhado muito. Só que eu, agora falo por mim, não fazia ideia do quanto. Só ontem a fixa caiu. Eu estava com minha filha na fila da Farmácia para exame de covid, vejo pelo celular, em um perfil maranhense do Instagram um trecho da matéria que originalmente passou no Globo Esporte Nacional - depois vi reexibição completa em programação da TV Mirante (afiliada local da TV Globo) - . Ouvir esses garotos falando de suas experiências, a emoção de Caçula Coelho, atual Prefeito, falando dos sonhos desses garotos - ele já foi um deles e sabe o significado daquilo tudo e não mediu esforços para ajudar em tão pouco tempo de mandato -. Vi ainda imagens, vídeos e áudios do que viveram ali, vi amigos de outras gerações ali revivendo através dessa geração algo "insonhável" há alguns anos. Foi muito emocionante, não aguentei e cai no choro ali onde estava, na frente de todo mundo.


Matéria completa em:
https://globoplay.globo.com/v/9371143/

Passou um filme na minha cabeça. Sei exatamente como são suas vidas. Jovens que vivem no interior, alguns em interiores ainda mais distantes da sede do município, que ajudam pais nas roças, que jogam sem chuteiras por falta de condições para comprá-las, que jogam em campos simples - sem estrutura de estádio -, não são profissionais, não treinam efetivamente, sem acompanhamento médico adequado a atletas. Esse meninos venceram no Estado e foram a SP jogar, contra uma equipe da estrutura do Palmeiras, no campo daquele time. Lindo ver que eles receberam dos anfitriões a elegância do bem receber, que usando o mais puro espírito Fair Play, receberam em doações as chuteiras de cada jogador do verde e branco como presente de reconhecimento do grande esforça de cada um ali e como incentivo para seguirem seus sonhos. Foi arrepiante. O Palmeiras agora ganhou um espaço especial no meu coração. Não estou romantizando as dificuldades das vidas desses garotos e nem da minha cidade. Estou valorizando a escrita de um capítulo importante do esporte de Santa Teresa através do esforço coletivo de uma uma comunidade.


Não digo que tenham jogado em mesmas condições e nem com oportunidades iguais, dadas as realidades tão distintas de cada time, embora entenda que muitos dos garotos do Palmeiras tenham passado por situações semelhantes às dos nossos meninos. Contudo, eu posso afirmar que foi uma oportunidade de Ouro. Apesar dos 8x0 voltaram de lá campeões. Não voltaram com a medalha no peito, mas voltaram com sensação de vitória no coração. Voltaram com mais visão de mundo através do esporte, que poucos ali conheciam de perto - talvez o Junior da Conceição que saiu dali para ser Campeão Internacional de Ginástica e hoje é o Secretário de Esporte da cidade -. Voltaram com a cabeça e os sonhos nas nuvens, mas, com os pés no chão e a certeza que se conseguiram chegar até ali, eles podem muito mais, que não é fácil e nem impossível.

Aumentou ainda mais o orgulho que tenho de nossa terra. Deu um orgulho danado desses meninos, filhos de amigos meus, netos de amigos dos meus irmãos, talvez filhos, sobrinhos ou netos daquelas meninas que bateram um bolão nos anos 1980 e 1990. Independente do resultado, esses garotos fizeram toda nossa cidade feliz, como nunca foi. Emoção de partida final de copa do mundo, do nosso pequeno mundo chamado Santa Tereza do Paruá. E pra todos nós também eles são campeões.

Parabéns a todos!

Rivanio Almeida Santos
Filho da Irmã Terezinha e do Raimundo Juruca






domingo, 14 de março de 2021

GREENLEAF

 


Acabada a maratona da exposição BONECAS EM DESTAQUE, de Enoque Silva (@enoqueosilva), para a qual eu fiz pesquisa e escrevi os textos para 50 homenageados, voltei ao blog. Bom, quem acompanha minhas redes sociais sabe que nesse momento difícil que vivemos tenho aproveitado também para ver séries e comento-as por aqui.  Sempre priorizando falar sobre o que vejo, o que sinto, o que aprendo. E a bola da vez é uma série disponível no Netflix pra lá de interessante, GREENLEAF. Trata-se de uma série originalmente da TV americana criada para o OWN, canal da apresentadora Oprah Winfrey, que, aliás, faz parte do  elenco.

Na série, que tem 60 episódios divididos em 05 temporadas, Greenleaf é também o sobrenome de uma família que administra (na verdade é dona) de uma megaigreja em Memphis - segunda cidade mais populosa do Estado de Tennessee, EUA - . A família, que aos olhos de todos é predestinada por Deus com o dom da Palavra, é muito bem quista e respeitada por todos. Contudo, suas histórias escondem um passado na vida de cada um dos membros da família que revelam ao longo da trama ganância, adultério e muitos outros pecados muito bem escondidos pela cortina religiosa, digamos.

Os chefes da Igreja, James e Mae Greenleaf - Bispo e Primeira Dama, respectivamente - tiveram 4 filhos. A vida de todos são afetadas por graves crimes cometidos pelo irmão de Mae, advogado da família. A série começa com Grace, filha de Mae, voltando para casa, para o velório de uma das irmãs, depois de duas décadas e, aconselhada pela tia - personagem de Oprah Winfrey -, resolve ficar para combater o pedófilo causador do mal que resultou no suicídio da irmã, seu próprio tio. 


Para não estragar o gosto pelo ineditismo não vou detalhar tanto, mas pra aguçar a vontade de assistir vou resumir parte da situação dos Greenleaf:
- A filha que se matou sofria por conta dos abusos sexuais causados pelo tio, advogado da igreja;
- Grace, a mais Velha, era vista como possuidora do dom da pregação, tinha ido embora porque alertou aos pais sobre os abusos sofridos pela irmã, mas eles não lhe deram crédito.
- Seu irmão, Jacob, queria ser pastor, era casado e amante da secretária dos pais;
- A irmã, Charity, mais nova, linda e excelente cantora. Sente-se preterida pela família. Sofre por isso ao ponto de  despertar uma grande raiva pela irmã mais velha, além de desenvolver um vício em remédios.
- O marido de Charity enfrenta a barra de se descobrir gay e não se aceitar, fazendo até "tratamentos" para deixar de sê-lo - óbvio que não deu certo -. A situação foi a causa do divórcio e ele acabou se relacionando e assumindo compromisso com o novo advogado da familia. Aliás, a igreja demitiu regente do coro musical porque era casado com um outro homem e os dois iam juntos à igreja.
- A Primeira Dama, Mae Greenleaf, quando jovem, soube que o marido teve um caso amoroso com a irmã dela e, ressentida, o traiu com o melhor amigo dele, de quem engravidou.
- O Bispo... além do caso com a cunhada, fez muitas coisas influenciado pelo cunhado criminoso, como sonegação de imposto e desvio de dinheiro da igreja... Qualquer semelhança é mera coincidência.

Ali todos vivem vida de Luxo. O fato é que todo o Luxo em que a família vive é fruto da ganância, que ganhou mais espaço em suas vidas que a missão de evangelizar e a fé em transformar vidas através da oração. É inegável que eles tenham fé e creem em Deus. Mas, fica muito nítido que estão com esse sentimento enfraquecido. E como percebemos isso? Quando abrem mão da coerência, da ética e da união. Fazem uso de crimes, da mentira, do egoísmo e do preconceito. E selam tudo isso palavraziando passagens bíblicas para justificar tantos pecados. Tudo vai indo "bem"... até as contas de tudo começarem a chegar - mais cedo ou mais tarde a conta seeeempre chega - . Todos os podres, as mentiras mais escondidas, os crimes, as trapaças... TUDO! A conta chegou e foi alta, sem condições de crédito para parcelamento. Aliás, crédito??? Eles perderam quase tudo. Só deram a volta por cima quando, já embaixo, caíram em si, tiraram todos os farelos de sujeira que ainda estavam debaixo do tapete. Só quando, desapegados dos sentimentos ruins e negativos e apelaram de fato à verdade, ao certo, ao arrependimento e ao amor ao próximo, que tudo foi restaurado.

A história é cheia de situações que nos fazem refletir bastante - isso quem tem o hábito de fazer autoavaliação, do contrário vai direto analisar a vida alheia rsrsrs (quem nunca, né?) - sobre nossas posturas, opiniões, falas e atitudes. O enredo é lindo. A mensagem é necessária. O elenco é formidável - quase a totalidade do elenco é de profissionais pretos -. Cenários e locações lindos, com o glamour dos milionários americanos. O tempo em que tudo se passa é absolutamente atual - os Greenleaf usam Apple, carros automáticos pra cima e pra baixo - o que ajuda deixar uma linguagem contemporânea e trás o público de todas as idades.

Enfim... GREENLEAF foi uma série que me pegou de jeito. Foram várias maratonas de fim de semana, almoço, aproveitamento da insônia e engarrafamentos. Pela primeira vez tenho vontade de assistir pela segunda vez uma produto do gênero - isso pode até ser coisa da idade, mas garanto que 90% é por conta do conjunto da obra. Se você ainda não viu... não sabe o que tá perdendo. Sendo evangélico ou não, assim como eu, você vai aprender bastante. No fim vai entender a frase que os membros da congregação sempre se despedem, "Deus é bom...", e o outro completa, "o tempo todo!"