sexta-feira, 7 de abril de 2023

MÃO DE PRETA E SEUS SABORES

 


Quando se diz que o Maranhão é rico culturalmente refere-se obviamente a toda a forma de expressão que nossa gente construiu através da história e da mistura vinda dos colonizadores europeus, dos povos originários indígenas e dos pretos africanos escravizados. Resultando o que hoje expressa através de celebrações ou rituais e festas.  E dentro desse movimento estão incluídos os principais elementos que são importantes a estas expressões de felicidade e de fé tais como dança, música e a gastronomia.

Sendo assim, ao se falar das riquezas culturais maranhenses é mais que obrigatório falar-se também de sua gastronomia cada vez mais vasta em influências nacionais e internacionais. Mas, que nunca esquece ou deixa de lado os sabores de seus comeres e beberes regionais oriundos especialmente das influências indígenas e africanas. Fortemente baseadas em frutos do mar, nossa cozinha é consumida em datas especiais como agora na Páscoa, no festejos juninos, em qualquer outra festa religiosa ou comemoração familiar.

Há alguns meses inaugurou no bairro da Jordoa, na região do João Paulo em São Luís um minishopping encantador. Trata-se do Food Park São Luís, que surgiu trazendo algo que faziam muita falta para nós moradores do bairro, um bom local onde pudesse ter uma certa variedade gastronômica e sentimento de segurança. A vila tem uma pegada bem interessante pois junta no seu complexo sorveterias, pizzarias, bares, docerias, parquinho infantil e restaurante. Oferecendo ainda qualidade e praticidade.

            Quem já teve oportunidade de provar os serviços de algum dos vários empreendimentos instalado no empreendimento, sabe a que me refiro. Lá um dos meus prediletos sempre foi o Mão de Preta Studio Gastronômico, do nosso querido amigo Itamilson Lima, que além da amizade que temos prima pela qualidade em tudo que faz. O que antes um espaço pequeno para o tamanho da qualidade e do sabor da comida oferecida, mas que atendia com bastante dignidade quem não se importava em degustar sentado nas mesas dos espaços comuns da vila. Passou por um processo de mudança e agora reinaugurou em formato bistrô, mais amplo, com ambientes aberto e climatizado proporcionando aos seus clientes mais conforto, comodidade, privacidade e zelando, como sempre, pela excelência.

Com empresário e Itamilson Lima e o turismólogo e artista visual  Enoque Silva

            O ambiente é novo, lindo, moderno e muito acolhedor, mas a atração é mesmo o cardápio, pois além de ter bebidas que todos gostam e petiscos deliciosos, os pratos principais levam nomes de mulheres pretas importantes à nossa história buscando valorizar e enaltecer nossa ancestralidade africana através da culinária regional, que, como já disse, é um dos pontos mais fortes do nosso Estado – eita que me encho de orgulho em falar isso -. Tereza de Benguela, Catarina Mina, Dandara, Maria Firmina dos Reis e Nan Agotimê são homenageadas em pratos que levam carne de sol, camarão fresco, camarão seco, carne e patinha de caranguejo, banana frita, vatapá, queijo e muito mais ingredientes de nossa cozinha servidos em apresentação impecável.

Uma das Delícias do Mão de Preta

            E como se não bastasse fazer nossas noites ainda mais deliciosas a partir de agora também funciona para almoço, atendendo mais uma demanda da região, e para quem procura um espaço para fazer alguma comemoração faz pacotes para grupos a partir de 10 pessoas.

            É bom saber e ver que ainda existem pessoas que veem em nossa cultura oportunidades de investir recursos e competências na criação de um negócio local que gere um movimento importante capaz de alavancar um negócio, proporcionar mudança na vida de pessoas através da geração de empregos sem reinventar ou descaracterizar nossa ancestralidade. Mantendo nossos sabores sempre gostosos pelos sabores das combinações gustativas e pelo gosto da história de mulheres incríveis.

           

 

sábado, 1 de abril de 2023

TEMPOS DE CHUVA, BOAS MEMÓRIAS E TEMPOS DIFÍCEIS




Enfim chegou abril e ele começa com muita chuva me deixando apreensivo com as cidades do Maranhão que já tem sofrido com os temporais que chegaram com 2023. Cidades como Pedreiras, Trizidela do Vale, Bacabal, Imperatriz, Esperantinópolis e Buriticupu têm passado maus bocados por contas da quantidade de água que tem caído e alagado suas ruas. E não são apenas elas, já são mais de 40 cidades em emergência que precisam de mais atenção dos poderes públicos e sinalizam, mais uma vez, nossa necessidade de revermos nossa relação com a natureza enquanto talvez tenhamos tempo.


Vendo tantas notícias sobre a situação de enchentes, alagamento, crateras, falésias e assoreamento em cidades maranhenses recordo que nem sempre fora assim. Os anos vão passando, vamos degradando a natureza ao nosso redor e sofrendo as consequências de nosso vandalismo. Recordo que lá em 1992, houve no Rio de Janeiro a Eco 92, que foi a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Trocando em miúdos foi um encontro de líderes mundiais para discutirem e definirem um novo caminho e o que seria feito para mudarem o rumo que as coisas estavam tomando no que dizia respeito as questões ecológica do planeta. Trouxe à tona debates importantes sobre um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável.


O que naquele momento poderia ser um tema distante para muitos, principalmente para quem já vivia nos grandes centros, para nós, aluno do Colégio Santa Teresa da pequena Santa Teresa do Paruá já era um assunto de máxima importância e urgência. Pois, durante os dias que os líderes debatiam no Rio de Janeiro, nós alunos das então 4ª a 8ª série também debatíamos sobre os temas, através de pensamentos dos próprios alunos sobre os temas relacionados a questões ambientais. Cada dia um pensamento novo e um novo debate. Discussões que despertou na gente preocupação com o meio ambiente que retrazemos até hoje.

               

Ruas de Santa Teresa do Paruá nos anos 1980


     Vejamos, Santa Teresa do Paruá, hoje oficializada como Presidente Médici, é uma cidade localizado a oeste do Estado do Maranhão, na macrorregião do Alto Turi e Gurupi e microrregião do Pindaré, na chamada Amazônia Maranhense. Com estas informações já dá para imaginar como era a Santa Teresa, e as cidades adjacentes,  da minha infância nos anos 1980. Éramos rodeados de matas que mesclavam grandes árvores amazônicas e palmeiras de babaçu , que davam sustento de muitas quebradeiras de cocos.


Minhas lembranças dessa época são muitas e quero compartilhar algumas que foram ficando cada vez mais raras de acontecer. Recordo, por exemplo, do amanhecer recoberto de neblina. As vezes era tanta que não conseguíamos enxergar quem estava na calçada da casa vizinha, quer da casa defronte ou das casas laterais. A quantidade de neblina por vezes tornava ainda mais perigosa atividades então simples – a necessidade faz com que algumas afazeres não pareçam perigosos - como ir, aos meus 10 ou 11 anos, beirando a BR-316 pedalando minha pequena monareta cinza prateada  à chácara pegar o leite das poucas vacas que tínhamos, mas que ajudaram muito na nossa criação.

Eu na mata de Presidente Médici em 1992.


Recordo também do período de chuva... de enchente só lembro de uma que inundou a casa do meu vizinho Domingos Araújo. Não recordo de outra. Lembro sim que o então povoado ainda não tinha ruas asfaltadas e quando as chuvas estavam chegando faziam subir um cheiro de terra molhada ma-ra-vi-lhooo-so!!!!! Eu corria sobre a areia quente sendo molhada pelos primeiros pingos das chuvas para sentir aquele cheiro que muito me agravada. Outra coisa memória que qualquer chuva me traz é a correnteza que se formava no meio da rua, onde eu brincava com o meninos – Orisfran, Clayrerison, Sanclay, Santídio, Rosivano, Rosimano, dentre outros... (detalhe para os nomes diferentérrimos, que são uma atração a aparte rsrsrs) -.  Costumávamos brincar de corridas, durante a chuva nós mesmos corríamos no meio da água e quando a chuva passava fazíamos barquinhos de papel que soltávamos nas ondulações das águas pluviais.

Minha Casa nos anos 1990


Lembro ainda que próximo à minha casa,  na Rua São José, ou Rua do Gogó - esquina com a casa de Seu Mariano Branco (depois vendida ao Seu Domingos Brígida) - tinha uma parte  baixa a qual a cada chuva enxia com muita água vinda dos quintas das casas vizinhas. Lá muitas crianças brincavam antes e depois das chuvas, mas lá eu era proibido de brincar por cauda das condições de sujeira que as águas traziam dos referidos quintais vizinhos. Eu então pegava a monareta e ia pedalar sobre uma estreita ponte de madeira para ver as outras crianças de divertido e eu pelo menos interagir de alguma forma. Assim eu também me divertia.


As chuvas desse ano deixam-me saudosista pelas minhas boas lembranças e por saber que muitas pessoas, de outras cidades, também têm em suas memórias boas recordações desse fenômeno natural tão fundamental à vida. Mas, essas chuvas têm me deixado cada mais preocupado com o destino da humanidade, em especial daquelas pessoas que estão sofrendo com o hoje por conta das enchentes e, no caso de Buriticupu, com o risco de a cidade sumir do mapa por conta das falésias que estão engolindo casas e até ruas.


Estamos vivendo dias preocupantes para uns, desesperadores para outros, mas difíceis para todos. Vivemos dias que carecem de ação urgente de forma geral. Precisamos de ação imediatas dos poderes públicos e órgãos governamentais, mas, sobretudo, de mudanças de atitudes e estilo de  vida por parte de nós, seres humanos, os únicos responsáveis por tudo isso que vem nos maltratando e nos matando.