quinta-feira, 26 de maio de 2016

Põe teu preconceito no armário que quero passar com meu amor



Estava nesses dias do final de semana às voltas com o tema “o enfrentamento ao tráfico de pessoas nas fronteiras Panamazônicas”, na cidade de Quito, Equador. A despeito do boicote proposto pela cantora gospel Ana Paula Valadão. Fiquei refletindo como o preconceito nosso, de cada dia, leva à cegueira e inverte a capacidade de mobilização de uma figura pública que, como essa, tem grande alcance nacional e que poderia usar esse potencial, por exemplo, para combater o abuso e a exploração sexual contra mulheres, crianças e adolescentes no país. Fiquei me perguntando qual foi a sua manifestação pública a respeito do artigo de Eliane Trindade , que desnuda a prostituição no Centro Político do país, envolvendo deputados e outras figuras da República.

Pelo visto para muitos, incluindo essa jovem cantora, a questão da orientação sexual está relacionada à “promiscuidade” e a uma vida desregrada e “despudorada”, especialmente quando se trata de homossexuais e transgêneros. Em minha vida tenho a oportunidade de conviver continuamente com pessoas homossexuais. Tenho irmão, cunhado, sobrinho, amigas, amigos que têm essa orientação sexual. Eu, meu esposo e nossas filhas (adolescentes) compartilhamos muitos momentos com essas pessoas, encontros celebrativos, passeios, partilhas, etc. Em nossas convivências essas pessoas refletem uma conduta de valores, respeito e têm uma etiqueta social invejável. São pessoas dignas, honestas, justas, comprometidas e lutadoras.

Enquanto isso outras crianças e adolescentes estão sendo exploradas sexualmente, nas mais variadas situações (prostituição infantil, pornografia infantil, turismo sexual e tráfico), por muitos senhores heterossexuais, que, em grande parte, são autoridades locais, estaduais etc.; vistos pela sociedade com respeito e reconhecimento, pelas pessoas públicas que são, em todos os estados do Brasil. Para confirmar esse perfil basta acessar o Relatório Final da CPI destinada a apurar denúncias de turismo sexual e exploração sexual de crianças e adolescentes, publicada em junho de 2014.

Será que as lentes com as quais estamos olhando o tema da orientação sexual e identidade de gênero, estão manchadas por juízos equivocados, falsos valores e modelos mentais desatualizados? Será que não conseguimos perceber onde estão as vulnerabilidades à exploração sexual das crianças e adolescentes? Quando iremos perceber que o preconceito e a falta de acolhida das famílias aos jovens LGBT é, que na maioria das vezes, os joga na vala da vulnerabilidade, fazendo muitos deles vítimas das redes de exploração sexual?

Penso que esse tema necessita ser visto com as lentes do amor, da empatia e do respeito. Independente da nossa condição e orientação necessitamos saber acolher os diferentes. Amar apenas aqueles que são iguais a nós pode ser mero egoísmo: Afinal, “ Narciso acha feio o que não é espelho. ” Amar e acolher os diferentes imagino que seja amor genuíno, que nos faz mais gente, que nos permite repensar e reaprender a viver rumo a uma sociedade mais plural e pautada numa cultura de paz, de respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente.

Esse texto expressa uma opinião estritamente pessoal. Trata-se de uma declaração de amor para dizer a essas pessoas que são estigmatizadas e discriminadas por suas orientações, que podem contar com o meu amor e com o meu respeito.

Rogenir Almeida Santos Costa, simplesmente uma cidadã.

domingo, 22 de maio de 2016

MINHAS LEMBRANÇAS JUNINAS EM SANTA TERESA DO PARUÁ


Maio já começa a se despedir para junho chegar cheio de alegria, de cores, de fogos, fogueiras e muitas músicas. Forró (de verdade), baião, toadas, quadrilhas juninas, tambor de crioulas, cacuriá, coco, lelê e tantas outras manifestações deliciosas que fazem deste período o mais gostoso do ano, até por conta das delícias da culinária do período: mingau de milho, canjica, pamonha, pé de moleque, cocadas, bolos de milho, de puba e de macaxeira. Embora, os que mais gosto é os espetinhos de carne.
Hoje, impulsionado por está colaborando em um trabalho de arraial, amanheci saudosista de meus tempos de crianças. Amanheci, neste domingo, ouvindo através de um aplicativo “Vivo Música” no meu celular o LP “Quadrilhas e Marchinhas Juninas” do Mestre Luiz Gonzaga. Quantas lembranças maravilhosas!
A primeira lembrança, na escolha do que ouvir hoje, foi meu querido pai, Raimundo Natividade dos Santos, vulgo Raimundo Juruca (como ele mesmo sempre se apresentava).  Seus domingos pela manhã eram para ouvir Gonzagão e Chorinhos. Outros gêneros ele gostava, mas estes eram suas predileções. A outra lembrança, na verdade, as demais lembranças me vieram ao ouvir as musicas “Fim de Festa”, “Polca Fogueteira”, “Olha pro Céu” (estas instrumentalizadas e a atuação perfeita de sua sanfona, que só faltava falar), “São João na Roça”, “Quero Chá” e, principalmente, “Boi Bumbá” (ê boi, ê boi, ê boi do Ceará. Muié segura os menino que agora vô dançar...). Parece que viajo no tempo, volto às décadas de 1980 e 1990 e estou vendo tudo na minha frente:
O arraial na área ao lado do Mercado ou na área entre a Escola e a Igreja Católica de Santa Terezinha. A quadrilha dos alunos do Colégio Santa Teresa está se apresentando no meio do arraial ao som das músicas acima do velho LP e tocadas no toca discos do sistema de som e alto-falantes (chamávamos de “Voz da Comunidade Católica de Santa Teresa do Paruá”), que eram emprestados para a ocasião. Responsabilidade de montagem, discotecagem e locução eram sempre do Professor Coimbra (meu professor de matemática). A frente da quadrilha estava o nosso querido e animado professor Ir. Reinaldo. Todos vestidos com roubas de matutos, improvisando com outras antigas de suas casas (os orçamentos domésticos não permitiam produções novas como se vê hoje em dia e como as quadrilhas juninas ficaram conhecidas). Bom, Reinaldo normalmente era o padre ou o pai da noiva e “gritava” a principal quadrilha. “BALANCÊ”, “CUMPRIMENTO ÀS DAMAS”, “CUMPRIMENTO AOS CAVALHEIROS”, “GRANDE PASSEIO”, “TÚNEL”, “ANAVAN TUR”, “CAMINHO DA ROÇA”, “OLHA A COBRA”, “É MENTIRA”, “CARACOL”, “DESVIAR”, “GRANDE RODA”, “COROAR DAMAS”, “COROAR CAVALHEIROS”, “DAMAS AO CENTRO”, “GRANDE RODA” e “DESPEDIDA”. Estes eram os 17 passos da quadrilha. Eu criança ficava entretido e emocionado com tudo aquilo. Doidinho para participar. Para aproveitar mais destes momentos eu, algumas vezes, assistia aos ensaios, que sempre eram muito divertidos. As encenas eram um show a parte. De bolar de rir.

Aliás, o pré-festejo era sempre muito divertido e envolvente. A cercadura da arena onde se dançavam já feitas de cercas e arame (não farpados, né? Por favor... rsrsrs) e com o passar dos anos fizeram estruturas de ripas e ano após ano eram montadas na ocasião.
Para decorar o arraial inteiro (leia-se arena) todas as turmas do colégio eram convocadas e seus trabalhos de artes do final de maio e inicio de junho eram para produção de cordão de balões, bandeirinhas e correntes (estes de papel de seda, recortes de revistas antigas ou plásticos – brindes do fumo coringa). As turmas mais avançadas faziam artesanatos de palha como focos, esteiras e abanos, que eles customizavam e transformavam em bois, bonecas de tranças e bonecos.
A divisão das barracas era entres as turmas do colégio a partir da 4ª até a 8ª série (hoje 5º e 9º ano – esta última para arrecadar alguns trocados para ajudar na formatura), Club de Mães, professores e, não tenho bem certeza, mas, algo me diz que o sindicato dos trabalhadores rurais também era contemplado. A construção e decoração eram de responsabilidade dos contemplados com barracas. Sendo assim, lá íamos nós nos reunirmos na escola para discussão das nossas barracas. Cada um levava uma estaca para estruturação da casa e quanto uns tratavam dessa parte, outra parte da galera seguia para o morro, que fica atrás do Alto do Congresso, onde fica ainda hoje a Escola e Igreja Católica, para apanhar olho de palha das palmeiras. Era uma algazarra sem fim sob aquele sol sem fim. Contudo, era gostoso, divertido fazermos algo que a maioria dos pais faziam em seu dia a dia, alguns alunos também, para manter sua família com máximo de dignidade que tudo isso poder proporcionar a quem quer uma vida honesta.
Consigo visualizar as barracas ficando prontas e todos partindo para os trabalhos de decoração, desde então minha hora predileta. Deixar nosso ponto de trabalho bem bonito para receber nossos clientes. Para chegar nesse ponto já passamos pela escolha dos nomes, “Barraca Flor do Sertão” sempre foi presente em tooooodos os arraiais, (pausa para uma gargalhada pela nossa criatividade... KKKKKKKK). Já tínhamos passado também pela divisão dos pratos, ou melhor, pela divisão, de quem iria fornecer o quê para formação do cardápio. Os lá de casa sempre ficávamos com espetinhos de carne (o espeto eram tirados dos gravetos das estacas da cerca do quintal e praticamente esculpíamos na faca) ou com salgadinhos de trigo. Entretanto, o que mais gostava mesmo era de comprar e comer! Ser cliente, para comer mingau de milho, espetinho de carne com refrigerante Geneve, era minha melhor e mais prazerosa contribuição.
Fora as vendas de bebidas de comidas as barracas sempre inventavam outras atrações para atrair clientes e assim melhorar seus faturamentos. Lembro perfeitamente das pescarias da turma da minha irmã Rogenir, da Barba do Velho e da Nega Fulô da turma do meu irmão Rivaldo (desenhados por ele).
Quando arraial e barracas estavam montados e decorados, som montado e testado, Professor Coimbra a postos, público chegando, espetinhos assando, bebidas ainda gelando o festejo mais esperado por mim estava só começando. Não tardaria Gonzagão, Elba, Fagner e até Chiclete com Banana (sim, eles já cantaram músicas junina) animavam nossas noites. Depois viriam as apresentações do Pau de Fita da 2ª Série, das quadrilhas de todas as turmas das escolas da cidade e algumas de cidades vizinhas, resultados de concurso de Rainha Caipira, Grupos de Bumba-meu-boi e apresentações de grupos de danças em geral (inclusive já peguei alguns micos... kkkkkkkk). E quando chegava a hora da quadrilha da 8ª Série o festejo, pra mim, chegava ao ápice.
Foram tempos incríveis, marcantes e inesquecíveis. Época onde, mais que conheci, vivi a cultura de minha terra. Aprendi mais que gostar, ser parte dessa gente que faz a cultura. Dessa forma fui criado e educado. Não há eu (Rivânio, RivAS, Vanico, Vanoco ou Neném) sem festejo junino, sem Gonzaga, sem baião, sem xote, sem xaxado, sem bumba-meu-boi, sem minha gente, sem minha cultura.  E assim, o festejo junino, para mim, tem três representantes básicos e que são responsáveis por parte do que sou hoje: Gonzagão, meu pai e meu professor e amigo Ir. Reinaldo.  

Vejam:
FIM DE FESTA - Popurri Luiz Gonzaga e sua sanfona (Instrumental): https://www.youtube.com/watch?v=QrLg99IeoIE

BOI BUMBÁ – Luiz Gonzaga: https://www.youtube.com/watch?v=tVqFnQ1FCm0

                                                                         
Chiclete com Banana - músicas juninas: https://www.youtube.com/watch?v=ShgloD6YEJI