Maio
já começa a se despedir para junho chegar cheio de alegria, de cores, de fogos,
fogueiras e muitas músicas. Forró (de verdade), baião, toadas, quadrilhas juninas,
tambor de crioulas, cacuriá, coco, lelê e tantas outras manifestações
deliciosas que fazem deste período o mais gostoso do ano, até por conta das
delícias da culinária do período: mingau de milho, canjica, pamonha, pé de moleque,
cocadas, bolos de milho, de puba e de macaxeira. Embora, os que mais gosto é os
espetinhos de carne.
Hoje,
impulsionado por está colaborando em um trabalho de arraial, amanheci saudosista
de meus tempos de crianças. Amanheci, neste domingo, ouvindo através de um aplicativo
“Vivo Música” no meu celular o LP “Quadrilhas e Marchinhas Juninas” do Mestre
Luiz Gonzaga. Quantas lembranças maravilhosas!
A
primeira lembrança, na escolha do que ouvir hoje, foi meu querido pai, Raimundo
Natividade dos Santos, vulgo Raimundo Juruca (como ele mesmo sempre se apresentava). Seus domingos pela manhã eram para ouvir
Gonzagão e Chorinhos. Outros gêneros ele gostava, mas estes eram suas
predileções. A outra lembrança, na verdade, as demais lembranças me vieram ao
ouvir as musicas “Fim de Festa”, “Polca Fogueteira”, “Olha pro Céu” (estas
instrumentalizadas e a atuação perfeita de sua sanfona, que só faltava falar), “São
João na Roça”, “Quero Chá” e, principalmente, “Boi Bumbá” (ê boi, ê boi, ê boi
do Ceará. Muié segura os menino que agora vô dançar...). Parece que viajo no
tempo, volto às décadas de 1980 e 1990 e estou vendo tudo na minha frente:
O arraial na área ao lado do
Mercado ou na área entre a Escola e a Igreja Católica de Santa Terezinha. A
quadrilha dos alunos do Colégio Santa Teresa está se apresentando no meio do
arraial ao som das músicas acima do velho LP e tocadas no toca discos do
sistema de som e alto-falantes (chamávamos de “Voz da Comunidade Católica de
Santa Teresa do Paruá”), que eram emprestados para a ocasião. Responsabilidade
de montagem, discotecagem e locução eram sempre do Professor Coimbra (meu professor
de matemática). A frente da quadrilha estava o nosso querido e animado professor
Ir. Reinaldo. Todos vestidos com roubas de matutos, improvisando com outras
antigas de suas casas (os orçamentos domésticos não permitiam produções novas
como se vê hoje em dia e como as quadrilhas juninas ficaram conhecidas). Bom,
Reinaldo normalmente era o padre ou o pai da noiva e “gritava” a principal quadrilha.
“BALANCÊ”, “CUMPRIMENTO ÀS DAMAS”, “CUMPRIMENTO AOS
CAVALHEIROS”, “GRANDE PASSEIO”, “TÚNEL”, “ANAVAN TUR”, “CAMINHO DA ROÇA”, “OLHA
A COBRA”, “É MENTIRA”, “CARACOL”, “DESVIAR”, “GRANDE RODA”, “COROAR DAMAS”, “COROAR
CAVALHEIROS”, “DAMAS AO CENTRO”, “GRANDE RODA” e “DESPEDIDA”. Estes eram os 17
passos da quadrilha. Eu criança ficava entretido e emocionado com tudo aquilo. Doidinho
para participar. Para aproveitar mais destes momentos eu, algumas vezes,
assistia aos ensaios, que sempre eram muito divertidos. As encenas eram um show
a parte. De bolar de rir.
Aliás, o pré-festejo
era sempre muito divertido e envolvente. A cercadura da arena onde se dançavam
já feitas de cercas e arame (não farpados, né? Por favor... rsrsrs) e com o passar
dos anos fizeram estruturas de ripas e ano após ano eram montadas na ocasião.
Para decorar o
arraial inteiro (leia-se arena) todas as turmas do colégio eram convocadas e
seus trabalhos de artes do final de maio e inicio de junho eram para produção
de cordão de balões, bandeirinhas e correntes (estes de papel de seda, recortes
de revistas antigas ou plásticos – brindes do fumo coringa). As turmas mais
avançadas faziam artesanatos de palha como focos, esteiras e abanos, que eles
customizavam e transformavam em bois, bonecas de tranças e bonecos.
A divisão das
barracas era entres as turmas do colégio a partir da 4ª até a 8ª série (hoje 5º
e 9º ano – esta última para arrecadar alguns trocados para ajudar na formatura),
Club de Mães, professores e, não tenho bem certeza, mas, algo me diz que o
sindicato dos trabalhadores rurais também era contemplado. A construção e decoração
eram de responsabilidade dos contemplados com barracas. Sendo assim, lá íamos
nós nos reunirmos na escola para discussão das nossas barracas. Cada um levava
uma estaca para estruturação da casa e quanto uns tratavam dessa parte, outra
parte da galera seguia para o morro, que fica atrás do Alto do Congresso, onde
fica ainda hoje a Escola e Igreja Católica, para apanhar olho de palha das
palmeiras. Era uma algazarra sem fim sob aquele sol sem fim. Contudo, era
gostoso, divertido fazermos algo que a maioria dos pais faziam em seu dia a dia,
alguns alunos também, para manter sua família com máximo de dignidade que tudo
isso poder proporcionar a quem quer uma vida honesta.
Consigo visualizar as
barracas ficando prontas e todos partindo para os trabalhos de decoração, desde
então minha hora predileta. Deixar nosso ponto de trabalho bem bonito para
receber nossos clientes. Para chegar nesse ponto já passamos pela escolha dos
nomes, “Barraca Flor do Sertão” sempre foi presente em tooooodos os arraiais,
(pausa para uma gargalhada pela nossa criatividade... KKKKKKKK). Já tínhamos passado
também pela divisão dos pratos, ou melhor, pela divisão, de quem iria fornecer
o quê para formação do cardápio. Os lá de casa sempre ficávamos com espetinhos
de carne (o espeto eram tirados dos gravetos das estacas da cerca do quintal e praticamente
esculpíamos na faca) ou com salgadinhos de trigo. Entretanto, o que mais
gostava mesmo era de comprar e comer! Ser cliente, para comer mingau de milho, espetinho
de carne com refrigerante Geneve, era minha melhor e mais prazerosa
contribuição.
Fora as vendas de
bebidas de comidas as barracas sempre inventavam outras atrações para atrair clientes
e assim melhorar seus faturamentos. Lembro perfeitamente das pescarias da turma
da minha irmã Rogenir, da Barba do Velho e da Nega Fulô da turma do meu irmão
Rivaldo (desenhados por ele).
Quando arraial e barracas
estavam montados e decorados, som montado e testado, Professor Coimbra a
postos, público chegando, espetinhos assando, bebidas ainda gelando o festejo
mais esperado por mim estava só começando. Não tardaria Gonzagão, Elba, Fagner
e até Chiclete com Banana (sim, eles já cantaram músicas junina) animavam
nossas noites. Depois viriam as apresentações do Pau de Fita da 2ª Série, das
quadrilhas de todas as turmas das escolas da cidade e algumas de cidades
vizinhas, resultados de concurso de Rainha Caipira, Grupos de Bumba-meu-boi e apresentações
de grupos de danças em geral (inclusive já peguei alguns micos... kkkkkkkk). E
quando chegava a hora da quadrilha da 8ª Série o festejo, pra mim, chegava ao ápice.
Foram tempos
incríveis, marcantes e inesquecíveis. Época onde, mais que conheci, vivi a
cultura de minha terra. Aprendi mais que gostar, ser parte dessa gente que faz
a cultura. Dessa forma fui criado e educado. Não há eu (Rivânio, RivAS, Vanico,
Vanoco ou Neném) sem festejo junino, sem Gonzaga, sem baião, sem xote, sem
xaxado, sem bumba-meu-boi, sem minha gente, sem minha cultura. E assim, o festejo junino, para mim, tem três
representantes básicos e que são responsáveis por parte do que sou hoje:
Gonzagão, meu pai e meu professor e amigo Ir. Reinaldo.
Vejam:
FIM DE FESTA - Popurri Luiz Gonzaga e sua sanfona
(Instrumental): https://www.youtube.com/watch?v=QrLg99IeoIE
BOI BUMBÁ – Luiz Gonzaga: https://www.youtube.com/watch?v=tVqFnQ1FCm0
Chiclete com Banana
- músicas juninas: https://www.youtube.com/watch?v=ShgloD6YEJI
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