O Miss Maranhão Gay Oficial nos passos do certame nacional.
Passado uma semana do evento Miss Maranhão Gay 2024 preciso falar do que vivenciamos aquela semana e do que significa eventos como esse.
Aqui falo sobre as coisas que me tocam o coração e alma de alguma forma.
O Miss Maranhão Gay Oficial nos passos do certame nacional.
Passado uma semana do evento Miss Maranhão Gay 2024 preciso falar do que vivenciamos aquela semana e do que significa eventos como esse.
No dia 27 de abril, às 21h, no
Clube do BASA, acontecerá o concurso que elegerá a @miss.maranhao.gay.oficial
2024.
Os ingressos estão à venda na
Bilheteria Digital. No dia do evento estarão disponíveis também na bilheteria
do local a partir das 19h. A festa será transmitida para todo Brasil pelo seu
canal no youtube http://www.youtube.com/@miss.maranhao.gay.oficial
Na programação, além do desfile
haverá várias apresentações de transformistas performáticos vindo de várias
partes do Brasil.
Surama Wilker e Bia Maranhão, 1997.
Participação especial da atual
Miss Brasil Gay, Muriel Lorensoni, eleita em 2023, na cidade de Juiz de Fora. Um
transformista paranaense, doutor em Estudos de Cultura Contemporânea pela
Universidade Federal de Mato Grosso, que tem viajado o Brasil inteiro usando
esse lugar de fala para levar uma mensagem transformadora e estimulante à
comunidade LGBTQIAPN+ historicamente excluída e segregada no Brasil.
Muriel Lorensoni, Miss Brasil Gay 2023.
Presentes também a maranhense
Ariely Duailibe, atual miss Brasil Trans, eleita em novembro de 2023, na cidade
de São Paulo representando o Maranhão e Monique Skaranze atual Miss Brasil Gay
Versão Bahia, cearense que também venceu a edição nacional representando o
Maranhão em Salvador, em novembro de 2023.
Destaque ainda para os artistas
performáticos do eixo Rio/São Paulo, Alexandre Hakan, Marcinha do Corinto e
Lizandra Brunelli e dos artistas locais Bia Maranhão, Surama Wilker, Suzane
D’Castro, Luana Phaifer, Lunna Mitchel, Valeska Furtado, Yanna Biankini e Dalma
Calado.
Abrilhanta a festa ainda, a
pernambucana Antonia Gutierez, ex Miss Brasil Gay de 2019 e André Pavan, diretor
artístico e coordenador nacional do Miss Brasil Gay Oficial.
A festa tem o patrocínio da
Prefeitura Municipal do São Luís, por meio da SECULT e o apoio cultural do
vereador Astro de Ogum, parlamentar de São Luís que há mais de 20 anos apoia e
incentiva este evento, que é uma das maiores festas da comunidade LGBTQIAPN+ do
estado.
O Miss Maranhão Gay, concurso
realizado há 44 anos, se transformou em um dos maiores eventos de beleza do Maranhão.
Ao longo desses anos resistiu e enfrentou muitas dificuldades e truculências.
Suas primeiras edições, na época da ditadura militar, foram feitas em sítios
particulares, na região da ponta d’areia, somente para convidados. Após a
redemocratização, em 1985, a festa ganhou feições públicas, porém realizada nos
guetos. Somente em 2014, há exatos 10 anos, quando passou a ser feita na
Panetti Bufett, a festa chega às melhores casas de eventos da cidade, se
tornando um dos maiores espetáculos locais de arte e beleza transformista.
Coordenação: Itamilson Lima e
Wallen de Sousa
Organização: Itamilson Lima,
Enoque Silva, Rivanio Almeida e Bia Maranhão
O período Pascal cada dia mais está sendo imortalizado pelos comerciais ovos de chocolate, ovos de colher, caixas de bombons (cada vez mais vazias) e barras (cada vez menores)... e dá-lhe Garoto, Lacta, Nestlé, Cacau Show, Ferrero Rocher, Kopenhagen... têm sido Páscoas gostosas, mas vazias de significados. Têm valido mais os valores monetário dos ovos que os valores de Cristo.
Toda cidade tem seus moradores que entram para a história como personalidades ilustres, que ficam na memória das pessoas por anos a fio. Em Santa Teresa do Paruá, minha terrinha Natal (a 416,1 km de São Luís via BR315 e a 251,7 km via ferry-bout) não é diferente. Tem muita gente querida por ter contribuido significativamente com a construção socioeconômica da cidade, mas há ainda os que contribuíram, mesmo que involuntariamente, com a construção de uma história à parte ligada, digamos, mais ao imaginário popular e que não merecem ser esquecidas.
"Quando a sua identidade é forjada no mundo virtual e você se vê jogada no mundo real… esse desconhecido", postou em uma rede social a escritora Glória Perez acerca da desistência de Vanessa Lopes do Big Brother Brasil 24, programa da TV Globo.
Para que esse texto faça maior sentido para você que não acompanha o reality show eu preciso dizer quem é Vanessa Lopes. Trata-se de uma jovem pernambucana, influenciadora digital, dançarina e cantora brasileira, de 22 anos, com mais de 30 milhões de seguidores no TikTok, onde faz sucesso com suas coreografias. Em resumo, uma das famosas convidadas a participarem do programa. Acontece que na última semana a participante vinha mostrando indícios involuntários que algo sério estava acontecendo com seu psicológico. Vendo sinais na parede, sentimento de perseguição, que todos eram atores contratados para lhe tapear, que todos estavam dando sinais de que os acontecimentos eram ligados a sua estadia no reality, acreditar que os artistas que fazem shows na casa estavam dando mensagens secretas para ela ou falar que recebe sinais dos quadros de decoração do local e outros.
Sendo dessa geração, e sendo ela uma "personagem" que cresceu pessoal e profissionalmente ligada ao mundo da Internet e acabou por desenvolver uma personalidade virtual. A Vanessa Lopes que as pessoas conhecem é uma menina segura, confiante, vibrante alegre, feliz, que canta e dança... enfim, as pessoas conhecem só uma "imagem idealizada" que a Vanessa real quer mostrar, que gera engajamento.
A geração TikTok vive nesse mundo em que as amizades vêm através de likes, o bem-querer se mede pela quantidade de seguidores e o conhecimento íntimo mais profundo do outro está nas nos feeds, reels e storys de cada um. Ora, se para as pessoas de gerações anteriores, assim como eu, que teve criação em um mundo real e pé no chão, que ainda tem a conversa olho no olho, que visita casa de um e de outro (embora com moderação), de experiências de infâncias raiz é difícil se encontrar nesse mundo virtual. Imagina para os que vive com a cabeça em outro mundo, como se fosse de fato um ser vivente no famoso metaverso.a
Só para se ter uma noção, em 2023, eu passei por alguns problemas psicológicos e psiquiátricos dadas às minhas experiências de vida que não me foram positivas em diversas fases de minha vida. Se antes me sentia sufocado por ser de uma família muito querida, tida como referência na cidade em que morava, vivia a comparação com os irmão mais velhos, inteligentes e estudiosos associado ao medo que tinha da reação das pessoas quanto a revelação da minha sexualidade. Agora, mesmo eu sendo um bom e belo exemplar de um autêntico leonino, eu não conseguia avançar em alguns aspectos da minha vida. Uma coisa que estava me prejudicando bastante era a possibilidade de ser pautas negativas das conversas das pessoas, o comportamento, olhar torto, as mudanças de assunto quando eu chegou perto delas... o medo do julgamento passou a me incomodar mais que antes. E eu tendo sido criado a base olhar percebo os mais sutis movimentos dos olhos durante as conversas, por exemplo.
Com o tempo fui querendo eu ser um cara mais educado, mais cortês e racional nas minhas reações e respostas às situações da vida passei a tentar ignorar. Mas, depois ficava me consumindo e criando ranços, raivas, rancores, ódios, tristeza, ansiedade, depressão e pensamentos negativos. Tudo isso vindo crescendo de forma discreta e que só foi possível perceber quando já estava muito sufocante. Tudo isso crescendo como um avalanche e levando em consideração que eu não estava em um confinamento cercado e vigiado 24 horas por dia, apesar de postar muitos momentos "felizes" nas redes sociais. Para avançar esses pontos eu procurei ajuda psicológica e psiquiátrica que me acompanham até hoje e me farão companhia por tempo indeterminado.
Se para para mim que já tenho 44 anos, fui criado em um mundo real e não tenho a vida tão expostas tem sido um processo seguindo passo a passo, imagina esses jovens de vida virtual e superficial.
Voltando à pobre menina rica, Vanessa Lopes, que estava no confinamento global, ela disse por vezes que estava com medo do cancelamento na internet, estava com medo do julgamento paternos - ela disse que eles são frios e acham que chorar é coisa de gente fraca - e apresentou sintomas de nomofobia, transtorno causado pela abstinência do uso de celular. Em vários momentos apresentou picos de confusão mental... tudo isso foi gerando um sentimento de preocupação tanto nos colegas da casa mais vigiada do país quanto nos telespectadores do programa. A jovem, em meio a uma conversa e fazendo uma fala com sentido questionável, desistiu desse projeto que poderia lhe render uma premiação milionária. Levantou e apertou o botão que sinalizou sua desistência.
Houveram até muitos casos de pessoas que reagiaram com preocupação, alívio e acolhimento, em especial alguns famosos. No entanto, após sua saída muitas brincadeiras sem graça foram postadas nas redes sociais. Muitas chacotas foram feitas... muitos deboches, muitos sarros foram tirados. Pois bem, em se tratando de uma pessoa com visíveis problemas psicológicos ou psiquiátricos é salutar essa postura ou pode pode agravar a situação? Fica aqui para a reflexão ao leitor. Contudo, na minha mais que humilde opinião, que já está formada, pelo meu histórico é que já vemos tantos casos de bullings cibernéticos e julgamento no tribunal da internet que terminam em morte que a reação das pessoas aqui fora deveria ser outra. Independente de gostar ou não da passagem da pessoa pelo programa, independente de cor, raça, religião e/ou posição política. Só pra citar o caso mais recente, as pessoas esqueceram o que aconteceu com a jovem Jéssica Canedo que foi julgada depoia viralização da fase news que dizer que ela tava de romance com o humorista Whindersson Nunes?
Precisamos ter mais responsabilidades com o que vamos postar nas redes sociais, em especial as pessoas que têm muitos seguidores e que acabam por ter, por isso, mais peso nas opiniões lanacadas nas redes, pois acabam por influenciar outras pessoas a compartilharem de suas opiniões equivocadas.
Em 2023, com ajuda dos profissionais que me acompanharam e dos que me acompanham atualmente eu consegui perceber muitos dos meus gatilhos que startam em mim muitos sentimentos negativos. Aprendi que preciso me acolher mais, não me julgando quanto a estes sentimentos por serem reações a situações vivenciadas de forma equivocadas e que não foram resolvidas da forma adequadaou se quer nem foram resolvidas. Além disso, houveram tantas outras situações que jamais poderiam ter sido vivenciadas por mim - e nem por ninguém, em especial enquanto criança -, mas, que por razões de terceiros fui vítima.
Para 2024 minha principal meta é tirar do coração e da mente a questão de ainda ser vítima dessas situações passadas e de todos os sentimentos negativos que isso me causa ainda nos dias de hoje. Isso inclui acreditar mais em mim mesmo e julgar-me bem menos. Preciso ser muito mais #TeamRivas.
Para chegar até esse meu estágio tenho o suporte profissional há um certo tempo. E quem não tem percepção de que precisa buscar ajuda? Ou não tempo hábil dessa busca durante uma crise? E quem não tem condições ou possibilidades de buscar a ajuda necessária? Ou pior ainda... e quem está em crise e é pego de repente, de surpresa por algum gatilho? Nem precisa ser um gatilho graaande e crueeel, pode ser uma "brincadeira" para quem faz, pode ser uma frase, um comentário... ninguém nunca sabe o nível do problema de saúde mental de outra pessoa. Quem tem ansiedade, depressão ou sindrome do pânico, por exemplo, entra num desespero gigante em que tudo é drastica e monstruosamente maior do que na real pode ser para quem tá de fora. Entretanto, é um sentimento de que a vida da pessoa é só problema sem fins. É tanta confusão mental que para parar tanto sofrimento só tem um fim... sair desse mundo. No mundo real não tem um botão do BBB pra pedir socorro. Só quem tá doente sabe o tamanho dos fantasmas que lhe afligem. E quem desejar isso a outra pessoa a não é mais humano. Quem não souber o que dizer, que não diga nada, mas que acolha nos gestos, ações ou simplesmente ouvindo. Sem julgamentos!
Por: Rivanio Almeida Santos
Ícone na moda maranhense, o ludovicense Alberto Silva de Oliveira Filho, nosso querido Betinho, está comemorando em 2023 mais um ano de carreira repleto de história e muito sucesso. Quem olha sua alegria e sua disposição pode achar que tem pouco tempo nessa trajetória dada sua empolgação em tudo que faz. Ledo engano de quem pensa que foi rápido e fácil construir uma marca forte e referência à moda maranhense e à alta costura regional.
Em janeiro de 2024 completará 61 anos de vida e também que respira os ares desse universo mágico da costura de transformar tecidos em peças que abrilhantam os grandes salões e as melhores passarelas da cidade. Sua primeira inspiração foi Dona Maria José, sua mãe (in memorian), que sustentou a ele e a seus irmãos como costureira. Vendo a satisfação das clientes e, principalmente, a satisfação pessoal da matriarca da família, aos 15 anos Betinho decidiu entrar no mundo dos tecidos, tesouras, linhas e alfinetes. Ele quis aprender, e ela lhe ensinou com afinco suas técnicas da arte de costurar. Depois que aprendeu o ofício, passou a desenhar seus próprios figurinos para entregar um serviço ainda mais completo e com sua personalidade. De lá para cá aplicou todas as técnicas aprendidas da mãe e desenvolveu as suas próprias que lhe deram ainda mais know-how para chegar hoje a 45 anos de carreira a frente do ateliê Betus Silva. E nesses 45 anos mais que uma simples assinatura, deu seu nome a toda uma vida como estilista, costureiro e aderecista. Além do Maranhão o seu ateliê fez história em terras cearenses e cariocas. Betinho levou sua arte para Fortaleza e Rio de Janeiro, onde teve, mas também levou, oportunidade de mostrar seu talento para escolas de samba e para os salões e eventos festivos através de grandes nomes das artes e da sociedade brasileira.
Tamanha dedicação e entrega lhe renderam ser conhecido aqui na ilha como “O Estilista das Estrelas”. Isso porque seu trabalho e seu carisma seduziram as mais diversas clientes. Entre elas importantes jornalistas, colunistas sociais, apresentadoras, empresárias, socialites e, principalmente, artistas, misses e noivas. Todas realizando o sonho de vestirem-se com muito carinho, capricho, brilhos, bordados, bom gosto e muito, muito glamour que são suas marcas registradas. Aliás, bom gosto e glamour sempre estiveram presentes desde o início de sua carreira quando, ainda nos anos 80, fez seu primeiro modelito que foi uma Blusa Cacharrel preta de renda, toda rebordada de canutilho e strass, e saia godê em forma na cor verde de cós preto. Sorte inicial de Raphaella Kennya, Artista Drag Transformation, sua primeira cliente, e para quem faz produções deslumbrantes até os dias atuais.
E falando em Arte Drag, se faz necessários pontuar a importância suprema da pessoa Betinho e do Ateliê Betus Silva à história do cenário LGBTQIAPN+ maranhense, tanto para shows, espetáculos, desfiles ou, simplesmente, para um “’close na nigth”... o movimento sempre contou com sua presença, apoio, incentivo e patrocínio. Vale ressaltar ainda que seu tempo de trabalho à moda, digamos, tradicional se confunde com seu tempo de dedicação à arte direcionada a esta comunidade que prima sempre por apresentar, apreciar e vestir o melhor que há em extravagância, adornos, brilho, plumas e paetês sem perder – jamais! - o estilo, a elegância e o glamour. Importantes nomes já levaram às passarelas, às festas e a programas de televisão locais, nacionais e para diversas partes do mundo - sempre com destaques primorosos - as produções inconfundíveis e irretocáveis desse criador exímio. Aliás, se é para falar de história vale deixar registrado que suas criações nunca passaram incógnitas quando os temas também são Misses e Noivas para os quais sempre foi muito procurado, inclusive, chegando a fazer desfiles exclusivos com temática Noivas.
Sabedor que, além dos trabalhos brilhantes do dia a dia, é importante para um criador festejar sua arte mostrando suas criações ao seu público em potencial, Betinho passou a produzir grandes e esperados desfiles. Já foram 08 realizados nos lugares mais diversos da cidade. Começou na Boate Tucanus e passou pelo Convento das Mercês, Sesc Deodoro, Galeria Trapiche, Centro de Criatividade Odyllo Costa Filho e Hotel Panorama. Isso se referindo a desfiles com modelos vivas, desfilando de com suas próprias pernas... Pois, quando o assunto é “desfile estático”, ou melhor, exposições o artista tem uma história linda, e fofa, na moda para bonecas. Sua coleção de bonecas Barbies vestidas de noivas e roupas de gala já foram expostas em outros tantos lugares e ocasiões especiais sempre prestigiadas por quem gosta de moda e, em especial, da arte do artista que é sempre extraordinário.
Por conta dessa história profissional muito inspiradora e para comemorar 45 anos dedicados à moda e ao bom gosto o artista e sua produção prepararam tudo de lindo que se viu no Desfile Show A Luz da Moda Por Bettus Silva, realizado na noite do últimodia 13 de dezembro na GaleriaTrapiche. Aliás, assim como sempre faz em seus desfiles - e que faz parte de sua assinatura - para esse momento Betinho exibiu em sua coleção um casting escolhido a dedo. Estiveram na passarela modelos profissionais, personagens e personalidade locais como convidadas especiais para apresentarem aqui criações feitas exclusivas para este momento, mas também peças importantes na sua história e que foram gentilmente emprestadas por algumas de suas clientes.
O que se viu definitivamente não foi um desfile comum. Os expectadores que foram prestigiar este, que foi um verdadeiro acontecimento na cidade, tiveram de presente um Desfile Show es-pe-ta-cu-lar, como jamais se viu na cidade. Para ilustrar ainda mais a ocasião houveram shows de fiéis amigas, parceiras e clientes. Três das Drags mais Poderooosas do cenário maranhense, Raphaella Kennia, Luana Pfeifer e Adrianne Bombom. Além disso, os presentes tiveram a oportunidade de ver dentre as desfilantes, vestindo o que também é uma marca registrada de Betinho, uma grande personalidade LGBTQIAPN+ do Maranhããão, Bia Maranhão, que fora ovacionado pelo público.
Os que estiveram presentes foram surpreendidos com a arte, a criatividade, o bom gosto e o glamour de Betus Silva no evento que entrou para história da moda maranhense.
Com produção da Sítio Produções, Patrícia Medeiros e Inaldo Aguiar. Apoio da Prefeitura de São Luís por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Galeria Trapiche, Armarinho Só Linhas, Carlos Garcia, Enézio Ramos, Enoque Silva, Folhagem Decor, Ilmar Júnior, Jaqueline Montelo, Ellen Karen, Magazine Folia, Marcos Duailibi, Natty Santana, Osvaldo Rodrigues e Rivanio Almeida.
Todos se deleitaram com o Desfile-Show Luz da Moda por Bettus Silva!
Ashira Morais
Já escrevi e falei tantas vezes que quando criança eu não via em minha cidade muitas referências LGBTQIA+. Alguns que tinham - recordo de 03 deles, um era estudante e atualmente é professor, um era motorista de caminhão e um amansador de garrote e touros - hoje vejo que eram pessoas muito trabalhadores, contudo, apesar desse perfil comum a eles eram pautas de conversas das más línguas. Crescer ouvindo os comentários maliciosos e debochados a despeito deles me davam a certeza de que no futuro não muito distante eu seria o alvo. Se é que já não era...
Por um lado não havia uma geração, uma comunidade que batesse no peito com orgulho de ser quem era e exigisse o respeito a qual eles também tinham direito de forma a se tornarem referências para nós pré-adolescentes em autodescobertas em busca de inspiração e representatividade. Mas, por outro era possível perceber na minha geração - eu nasci em 1979 - e, por volta dos anos 1990, quando eu já sabia mais de mim passei a identificar características minhas comuns em vários outros. Foi um sentimento de não ser sozinho.
Eu poderia citar aqui pelo menos seis nomes de meninos que naquela época eu já sabia eram iguais a mim. E que, para além do jeito de andar e de falar, tínhamos comum o fato de sempre sermos vítimas de "brincadeiras" que hoje identificamos como atos de intimidações, humilhações e violências psicológica, o famoso bullings pelo simples fatos de sermos crianças afeminadas. Mas, não cita-los em respeito a individualidade de cada um. Contudo quero falar de uma pessoa em especial, que no ápice da pandemia do covid-19 reencontrei pelas redes sociais.
O fato é que naqueles tempos tenebrosos a vida se tornou ainda mais virtual. Assim sendo, eis que certo dia me deparo com uma indicação de amizade do Facebook. Quando vi a foto do perfil achei o rosto muito familiar, aquele olhar eu ja tinha visto, mas não o nome eu nunca tinha visto ou ouvido. Analisei com calma, fui nas amizades em comum... identifiquei que éramos conterrâneos e voltei a foto de perfil. Me concentrei no olhar e vi a criança que eu conhecia muito bem. Estou falando de Ashira Morais.
Quando criança, ainda conhecida pelo nome de primeiro registro, ela já era diferente. Vestida de menino, mas sempre foi muito delicada e educada como a menina que era. Não me refiro aqui só aos seus trejeitos. Também. Mas, falo de postura e coragem diante da vida, mais precisamente do enfrentamento aos ataques dos "coleguinhas". Enquanto alguns reagiam jogando pedra, correndo, chorando (eu), xingando ou mostrando o dedo médio, ela já respondia com palavras, tinha vocabulário, usava argumentos de gente além da sua idade. Ela respondia, dava as costas e saia de cabeça erguida. Certa de que usando palavras ninguém seria superior a ela ali. Todos eles sempre perderiam. Ela já tinha a coragem que eu queria ter e que bem mais tarde adquiri.
O tempo passou, mudei para São Luís, e a última notícia que tinha dela era de que também tinha ido embora de nossa Santa Teresa do Paruá. Nunca mais tinha tido notícias dessa figura tão marcante até o dia em que a rede social do Mark Zuckerberg me sugerir como nova amizade. Na ocasiao quando identifiquei de quem se tratava mandei um convite de amizade ao qual prontamente fora aceito. Fiquei muito contente em ter constatado que Ashila, morando em Imperatriz (MA), tinha se firmado como uma mulher trans e mais ainda quando descobri que sua inteligência e determinação a tinham levado rumo à um futuro pautado na educação. Ela agora era Teóloga, Pedagoga, Mestre em educação com ênfase em Políticas públicas e fazia o curso de Direito. Descobrir isso, não despertava em mim um sentimento necessariamente de surpresa, mas de orgulho, pois eu sabia que se ela focasse no estudo poderia ir longe. E a danada, estava (está) indo, pois soube buscar seu caminho.
Link do debate "O Paradigma Bíblico e as Homossexualidades"
Alguns dias após essa retomada de amizade, agora virtual, me deparei com um vídeo dela, na mesma rede social, fazendo um convite para um debate que tinha como titulo "O Paradigma Bíblico e as Homossexualidades", que seria transmitido pelo canal "Arena Apologética" no YouTube (a quem despertar vontade de assistir ainda está disponível:). Na ocasião ela debateria com o Professor Dr. Mateus Rangel, apresentado por ela como um excelente pensador Cristão. Mas, porque uma mulher trans aceitaria participar de um debate com esse tema? Ela mesma disse que seria uma oportunidade para "provar que não há nenhuma incongruência bíblica em a pessoa ser gay, homossexual e professar a sua fé na pessoal de Jesus Cristo". Eu assisti ao debate. Seu opositor, de fato um professor muito estudado, mas Ashira deu uma aula de postura, educação, paciência, cordialidade, conhecimento, argumentação, fundamentação... Enfim, parece que durante a live eu assistia seu crescimento e desenvolvimento diante dos meus olhos. E constatei que seu curso de teologia não fora feito por fazer. Ela estudou a fundo. E suas falas ricas de embasamento formam uma aula de conhecimento cristão de quem de fato entendeu os ensinamentos das palavras de amor ao próximo que Cristo trouxe ao mundo. Aliás, seu nome é hebraico e significa rica, abastada.
Ashira Morais no dia do juramento na OAB Maranhão,contando com a presença do Dr Rakley Bueno, da comissão de diversidade da OAB.
De lá pra cá, essa jovem terminou seu curso de Direito e, nesta última semana, saiu o resultado das provas da ordem e qual resultado seria se não a aprovação dessa mulher incrível no exame da OAB? Confesso, que mais uma vez não fui supreendido por sua aprovação, pois sempre tive ciência de sua inteligência e já sabia de competência e qualificação. Novamente o sentimento que tive foi de orgulho, pois cada degrau que um de nós da comunidade LGBTQIA+ some, não é apenas um simples passo dado. É sim uma grande conquista. É a vitória de uma luta diária de toda uma gente que tem diariamente seus direitos negados. É a resposta a todos aqueles que riam, aprontavam, maldavam, praguejavam e nos vitimavam. É mostrar que cada pedra jogada no caminho foi usada para pavimentar este caminho, usado para nos levar aonde nós quisermos ir. A conquista de Ashira não é somente uma vitória pessoal, é também - até pelo fato dela ter se dedicado muito em busca desse sonho, mesmo com sua vida corrida diária - mas, é, principalmente, uma conquista nossa - LGBTQIA+ conterrâneos seus - e de todos aqueles e aquelas que olham para sua história e se veem representados por ela, que olham para sua trajetória e veem que sim, é possível um caminho e um destino diferentes daqueles "profetizados" pelos que nos condenam.
Viva Ashira!