domingo, 20 de novembro de 2022

DEPRESSÃO É PAPO SÉRIO!



Muita gente taxa o quadro depressivo como frescura de quem não sabe como chamar atenção. Não... depressão não é frescura! E anda longe de ser. As características de uma pessoa depressiva são múltiplas e os sintomas são igualmente variadas. Logo não posso falar por todos. Mas, posso sobre meu caso. Sim, eu convivo e trato minha depressão há pelo menos 17 anos, às vezes mais forte e outras vezes mais fraca e outras controladas com medicações.


A depressão não se instaurou de uma hora para outra. Ela é uma construção feita de traumas, decepções e muitas frustrações nas mais diversas áreas de nossas vidas. Cada um desses “tijolinhos” vai sendo colocado e não vamos tratando de resolver aquela questão de imediato e eles vão se firmando. E nós? Vamos ficando calados, “dando tempo ao tempo” e não disseminando de fato as questões, não as dando solução de fato. Deixando nossas insatisfações caladas e dando prioridades às falas, opiniões, atitudes, ações, satisfações e razões a terceiros, que podem ser próximas ou não. E se passamos por situações de abusos e violências psíquicas, físicas e/ou sexuais, tudo piora ainda mais. Pois ficamos nos sentindo impotentes, vulneráveis e, pior, culpados.


Sabe aquela história que não quero ter razão, eu quero ser feliz? Um balela e de nada vale se de fato, lá no íntimo, temos de fato algum incômodo que situações chatas nos causam. Comigo sempre fui assim. Apesar da minha natureza questionadora fui criado para não discordar, não enfrentar, não bater boca e nem brigar na rua... isso me fez engolir muitos sapos na vida, os quais sempre tentei esconder atrás de uma figura debochada e divertida. Até que chegou o dia que não precisou de engolir um sapo, bastou apenas a última gota d’água. Lembro exatamente do dia quando tudo começou.


Era período natalino, eu vinha de uma série de sapos que vinha engolindo na vida, a empresa passando por profundas transformações, medo de perder o emprego, frustrações por sonhos não realizados, etc, etc, etc... tudo eu falava que nada disso me abalava, mas o coração e a cabeça a mil. Nesse mesmo período fui chamado  fazer decoração das lojas da empresa que trabalho – na época tinha outro nome -. Fiz uns anjos lindos e no dia que fui mostrar o protótipo à diretoria da empresa que amou. Quem estava lá na hora era minha concorrente para desenvolver esse trabalho – pessoa que eu tinha grande carinho –. Ela lançou um olhar de desdenho e desprezo tão escancarado que a decepção que senti me jogou num abismo de tristeza terrível. As pessoas não me reconheciam mais. Uma amiga de trabalho se obrigou a tirar meu desktop da sala em que eu trabalhava para que eu não ficasse sozinho. Foi quando eu melhorei de fato.


Mas vida, a vida é uma caixinha de surpresa, tinha me reservado algumas outras surpresas desagradáveis que precisava que está preparado para tal, o que não era o caso.  Para começar um diagnóstico errado fragilizou ainda mais a saúde minha sobrinha que nascera prematura. Depois meu pai faleceu de um infarto fulminante sem prévio aviso como é comum acontecer nesses casos. No ano seguinte minha sobrinha também falecera após um cirurgia que sua única esperança.


O sentimento era que eu estava diminuindo, ficando minúsculo e o mundo crescendo e se transformando em um monstro gigantesco daqueles que vemos nos filmes de ficção científica. A vida da gente vira um pesadelo  real. Nada na vida tem solução, muito pelo contrário, tudo parece que só piora. O boleto que atrasa, a faculdade que parou, o trabalho que não entrego no prazo, a ajuda que peço e não tive retorno, o risco de perder o emprego, o olhar atravessado, o sorriso que não veio, o abraço apertado que eu queria receber e não recebi, o obrigado que eu queria ouvir e não ouvi... tudo é problema, tudo é gigantesco, tudo é monstruoso e sem fim. Quero ter atitude, ter ação e solução... mas, as paredes construídas em nossa volta fazem o fundo do poço ser ainda mais escuro, frio, congelante e paralisante que os especialistas ouvem em seus consultórios. Tudo cresce tanto que a única solução é o fim. E não é o fim o problemas, mas o nosso próprio fim.


Teve uma noite que acordei, no meio de uma alta crise, com a única companhia que não me largava noite alguma, a insônia. Queria dormir, pois a única hora que eu não tinha monstros na vida era na quando estava dormindo. Nessa noite parecia que as paredes do quarto escuro estavam me apertando, me sufocando. Fui para janela do quarto pedir a Deus que me levasse, que me tirasse a vida ou me dessem a solução dos meus problemas e uma arma contra meus monstros. Foi quando veio a minha cabeça minha mãe e meus sobrinhos que já tinham perdido o marido, uma neta, o avô, a irmã, a prima... Olhei então meu companheiro deitado... Se eu me fosse eu estaria transferindo meus problemas para um ainda maior a todos eles. Senti algo no meu interior, pois de fato eu não queria acabar com minha vida. Eu queria acabar era com meus problemas, pois esse é o sentimento de quem busca esse recurso extremo.


Infelizmente nem todos tem tempo de ter ou perceber seus milésimos de segundo de sanidade metal antes do ato final. Eu percebi e senti que meu problema não era eu de fato, mas os problemas que precisar focar em cada um deles por vez e passar a não me calar diante das minhas insatisfações, doesse a quem doesse. Não poderia mais doer em mim – tadinho dos meus irmãos, colegas de trabalho e amigos conviveram com meu lado mais sombrio sem saberem as razões de tal KKKKKK. Perdão queridos! –. Sorte de todos, e principalmente a minha, que com o tempo aprendi que o que não pode doer em mim, não necessariamente precisa doer em alguém, salvo os casos que precisam ouvir algumas verdades. Mas, até isso acontecer perdi muitas oportunidades de amizades e experiências de vida excepcionais.


O fato é que posso ter perdido grandes oportunidades e experiências, mas as que eu tive me fizeram ser eu. E o meu eu hoje é um eu melhor que antes. Sou uma pessoa que ainda faz tratamento, tomo minhas medicações, mas sou consciente do que me causaram a base da depressão. Tenho gradativamente compartilhado com os meus mais próximos – isso me ajuda muito a enfrentar cada um desses problemas raízes  e achar o caminho melhor para as possíveis soluções dos mesmos -. Hoje estou bem, tenho noção de situações que me possam ser gatilhos graves e optar, se for inevitável, por encará-los de  forma mais forte e consciente.



Para muito isso pode ser motivo de vergonha, para mim não. Já foi!!! Contudo, não o é mais vergonhoso, porém, não chega a ser motivos de orgulho. Orgulho eu tenho de poder entre tantas turbulências internas conseguir ainda sorrir e tirar sorrisos dos meus amigos. Orgulho de poder expressar em falas o que sinto. Orgulho de poder buscar nas minhas fotografias uma forma de externar minha forma de ver a vida que às vezes não consigo por palavras. Orgulho eu tenho em, nas vezes que não tenho fotografias e falas para expressar meus sentimentos, eu tenho palavras para escrever e organizar meus pensamentos. Orgulho eu tenho de ser uma pessoa cada dia mais forte e consciente do meu quadro e de poder buscar os tratamentos possíveis para me manter são. Orgulho eu tenho ainda mais de poder acolher, abraçar, ouvir e dar forças a amigos que precisam desse apoio. Seja você também um apoio a quem precisa e de força para enfrentar seus monstros.

 

sábado, 19 de novembro de 2022

COM O AFETO DAS CANÇÕES


 "Com o Afeto das Canções" é uma composição de Joãozinho Ribeiro, interpretada por Rita Beneditto e Zeca Baleiro e tem o arranjo do incrível Zé Américo Bastos.

Esse clipe não é o oficial. Mas, poderia ter sido. Rsrsrrs. Hoje, mais de um ano, após ele ter sido produzido e do lançamento do clipe oficial, decidi publicar a minha versão.

Agradeço aos meus amigos queridos me cederam suas imagens de amor e afeto para compor esse material. E agradecer a Ricarte Almeida Santos, Daniele Assunção, Catarina e Cora que, juntos com outros jovens e crianças incríveis conseguiram formar uma família diversa e, acima de tudo, cheia de amor.