sexta-feira, 24 de junho de 2011

POSTAGEM




"Não quero lhe falar meu grande amor da coisas que aprendi nos discos. Quero lhe mostrar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo..." ah!... Saudosa Elis. Mas, estou hoje aqui pra falar de coisas que aconteceram comigo, de coisas que vivenciei. Quero falar de outros tempos... De uma época que a nossa juventude não deve recordar muito bem. Quero falar das correios, aliás, do objeto de origem dos serviços de correios, as cartas.

Quando eu era criança, não faz muito tempo, estou hoje com apenas 31anos, era muito comum o uso das cartas. Em especial no interior onde morávamos minha família e eu. Até uns quinze anos atrás em Presidente Médice ainda não tinha nem computador, muito menos internet, email, rede sociais... Nem o Amâncio, o homem mais rico da cidade, quem dirá mas casas das demais pessoas. Lan houses? Nunca tinha ouvido falar.

Hoje, quem nasce e se comunica através de celulares, orkut, Facebook, email, twitter e todos os meios de rede sociais não imagina como era gostoso escrever uma carta, ir aos correios, selar a correspondência (lambendo o selo), postá-la, esperar resposta e enfim receber o retorno... Não tinha nada mais gostoso que receber uma carta de um conhecido.

Lembro perfeitamente das regras de se escrever uma carta com o ne da cidade e a data em que ela estava sendo escrita bem acima. E um fato curioso é que quase todas as cartas que eu lia começavam quase sempre da mesma forma:

"São Luís, 01 de Janeiro de 1995

Saudações!
Querida amiga, olá, tudo bem? Espero que sim. Estou lhe escrevendo estas poucas linhas para dar-lhe as minhas notícias e depois saber das suas."

Depois desta introdução a "conversa" se desenrolaria. Li muuuuitas cartas assim. Na cidade não dispúnhamos de agència dos correios propriamente dita. O que tínhamos era um posto de coleta e distribuição de correspondências. Semanalmente a mulher que era responsável ia ate a cidade vizinha fazer a postagem efetivamente falando. E, apesar do pequeno número, as cartas eram levadas em um saco de postagem, tipo malote. E minha mente, que produzia muuuitas imaginações, tio o Bob do desenho animado, "visualizava" as cartas sendo entregue em uma espécie de tubo, partindo direto do saco de postagem... Kkkkk.

Na minha casa era comum recebermos cartas de outras pessoas. Amigos, parentes e clientes que miravam muito distante e que não tinham dias e horários para irem a cidade. Daí guardavamos na prateleira, de frente para a frequesia, que volta e meia alguém procurava se havia chegado alguma carta pra si ou pra vizinhança de seus povoados. Ou sabendo da viagem de algum tropeiro aproveitãvamos pra enviar a encomenda.

Que (me) ver hoje teclando comentários diários no facebook, não imagina que já escrevi carta para programa de TV como o Globo Rural e Pequenas Empresas Grandes Negócios só pra ter que receber cartas. Não imagina que fiz curso de pintura por correspondência pelo IUB (Instituto Universal Brasileiro -lembra?). Não imagina que mandava revelar fotos da máquina love e as recebia em casa, fotos maiores que as 10x15 de hoje e que vinham com duas cópias miniaturizadas... Ainda tenho foto destas.

Tudo isso era muito gostoso. E nos dias onde tudo é instantâneo e quase efêmero não se tem tempo para lembrar que a pouco menos de duas décadas quem queria ter mais perspectiva de trabalho ou queria fazer bonito, fazia curso para escrever pelo menos uma carta na máquina de datilografa Olivetti normal. E quem podia já tinha, o que era ultra moderno, umaáquina de datilografar eletrica, como o Seu Amâncio.