domingo, 29 de agosto de 2021

REGINALDO PEREIRA: UM BOM FRUTO DA FLORESTA E DO BOM JARDIM


Por Rivanio Almeida Santos 

 


           Artista plástico Reginaldo Pereira 

Sempre tive uma ligação forte com meus primos, em especial os do lado materno. Contudo, sempre tem alguém da família que não conhecemos. Há alguns meses nosso grupo de WhatsApp da família materna - Albuquerque Almeida - tem aumentado juntando nossos entes maravilhosos do Brasil todo. Através do meu Tio Avô Custódio, uma pessoa incrível, conheci vários parentes e soube de um primo de minha mãe (filho da sua tia Zeu, irmã do seu pai Manoca) que mora em Minas Gerais que seria Artista Plástico. Como sou ligado às artes fiquei curioso. 


Em pesquisa de redes sociais localizei REGINALDO PEREIRA e, lógico, houve uma aproximação, mesmo que Virtual, com o restante da família pelo "zap". Com o passar dos dias e das conversas fui conhecendo, além que um primo de segundo grau, um grande artista plástico e, mais que isso, um ser humano dono de um coração bom, além do normal. Quem estiver lendo esse texto e gostar de arte, de quem a produz arte, de trabalho social ou pelo menos de boa história, siga o fluxo e continue a leitura.

Reginaldo nasceu no Maranhão, mais precisamente na cidade Bom Jardim, àsmargens da BR-316. Enquanto morou por ali viveu o seu mundo pé no chão, literalmente, comotoda criança. Brincando descalço, correndo entre árvores, olhando macacos, papagaios, araras, tucanos, nadando no Rio Pindaré e seus afluentes... Regis era um pequeno garoto criando também na floresta, na região de reserva indígena do alto turi. Na adolescência, final dos anos 80, foi morar em Imperatriz, no sul do Estado, para ser desenhista e pintor de telas por estímulo de uma grande amiga. Aprimorou assim a sua técnica. Em 1997 foi morar em Minas Gerais a convite da decorada Maria Alice Derenusson. Ministrou aulas na escola de Maria Alice e, pouco tempo depois, abriu um espaço na Associação Uberabense de Artesões e Artistas, na cidade Uberaba, onde realiza pesquisas, faz seus estudos e ensina pintura a óleo sobre tela.

 O artista executando uma obra.

Obra de Reginaldo em decoração de apartamento.

Suas obras têm grande procura de arquitetos do país todo e normalmente são grandes telas ou painéis feitos por encomenda para residências de alto padrão. Inclusive, dias desses reconheci, através de uma postagem no Instagram,  um de seus trabalhos no apartamento de um casal de empresários aqui de São Luís.

Um artista reconhecido, inclusive fora do país, com trabalhos expostos na Europa, busca em seus trabalhos retratar a natureza através da fauna e flora da infância do pequeno Regis. A floresta Pré-Amazônica onde cresceu é o tema principal de suas telas. Grandes árvores, bananeiras, bromélias, rios, riachos, macacos, tucanos, papagaios, araras vermelhas, araras azuis, onças e, como não poderia deixar de ser, os índigenas da região. É maravilhoso ver que mesmo morando há bastante tempo fora do Maranhão, e mais ainda de Bom Jardim, a sua essência está ali, naquele pedaço de chão lindo que era cheio de muito verde, onde infelizmente volta e meia os povos originários, nossos indígenas, têm que se manifestar para terem seus direitos sejam respeitados e garantidos.

Apesar de eu ter descrevido lá em cima a parte lúdica de sua infância, ela não fora em nada fácil. Aliás, que facilidade tem a vida de crianças pobres nesse Brasil? Lembro que o  Maranhão sempre esteve figurando como um protagonista entre as UFs mais pobres do país.



Crianças associadas à Biblioteca Reginaldo Pereira nas oficinas oferecidas.

Em atitude generosa de retribuição a tudo que o destino, seus esforços, as bênçãos, as oportunidades, a sorte e, em especial, seu suor lhe deram, mesmo à distância, desenvolve um projeto lindo voltado às crianças da cidade onde nasceu. Em Bom Jardim instalou a Biblioteca Reginaldo Pereira, que está de portas abertas às crianças da região. Lá o atendimento vai  além do empréstimo de livros para pesquisas ou leituras. A biblioteca realiza concursos de recitação de poesia -  com premiação como incentivo extra de participação - , oficina de pinturas, plantação de semente de árvores e aulas de iniciação musical em flauta doce, violão e violino. 

Acadêmico da Academia de Letras do Brasil, ALB - Seccional Uberaba - o artista recebeu o título honorífico de Dr. Honoris Causa em Artes Plásticas pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das ciências, Letras e Artes, FEBACLA - RJ. Além deste título Reginaldo Pereira recebeu ainda a Comenda Maria Quitéria - Heroína da Patrícia e a Moção Honra ao mérito e prêmio da Academia Alternativa de Artes da Albânia em parceria com a Academia de Letras do Brasil (ALB) Seccional Uberaba, que homenageou brasileiros que contribuíram no ano de 2019 para o desenvolvimento das Ciências, Letras e Artes no Brasil e no mundo.

Cerimônia em que recebeu  títukos entre eles 

a Comenda Maria.


Quem acompanha ou tem oportunidade de conhecer um pouco sua história se encanta em ver seu trabalho e todo o reconhecimento que tem tido até aqui. Afinal, além de ter um trabalho de qualidade, prima por mostrar um tema que cada vez mais merece de cuidado e atenção - basta dar um Google sobre o aumento das queimadas no Brasil -. Talvez seja ousadia minha, mesmo assim insisto em dizer que o seu trabalho é ativista na defesa do meio ambiente através da sutileza, beleza e nobreza da natureza amazônica. Dá gosto de ver sua obra, dá gosto ver a sua satisfação por cada conquista profissional, mas, principalmente por conseguir realizar seu trabalho social através da sua biblioteca e dos anjos que compõem sua equipe à frente das atividades da Biblioteca. Sua vibração a cada ação realizada às suas crianças é contagiante. Dá orgulho de ver que no mundo ainda tem gente de bom coração e que um deles é do Maranhão e que temos algo em comum.

Reginaldo Pereira é maranhense, artista plástico, ativista ambiental, ativista social e tá fazendo uma revolução junto às crianças de Bom Jardim. Tenho certeza certeza esta revolução vai reverberar lá, no Brasil e no mundo de alguma forma. Regis é uma inspiração.



domingo, 1 de agosto de 2021

SIMONE BILES E OS SALTOS SOBRE OS GATILHOS

 

Simone Biles executando um salto.
Fonte: Site CNN Brasil

Em uma das minhas sessões com minha Psicóloga Bruna eu disse que pretendia escrever sobre ansiedade e o destino que ela pode levar o passageiro que despercebidamente embarca na viagem perigosa que ela induz qualquer um a fazer. A pretensão não era, e não é, falar como um profissional estudioso do caso, mas como alguém que tem passado a vida pulando desse trem que volta e meia quis descarrilhar. Eu não sabia como começar, um medinho de escrever e reviver os sentimentos ruins que nossos gatilhos produzem me fez fugir da promessa ate agora. Contudo, alguns acontecimentos lá no Japão me acionaram um gatilho de coragem. Chegou a hora de parar essa  procrastinação e não fugir a promessa que fiz, não somente à Bruna, mas a mim  mesmo. Ter coragem para expulsar de dentro de mim alguns fantasmas. E falar algumas verdades e pedir para que você que está lendo reflita e faça a autoanálise nas situações. 

Se havia alguém no planeta que não conhecia a ginasta americana Simone Biles, creio que agora conheceu. A maior promessa de medalhas de ouro das Olimpíadas do Japão (2021) tem desistido de competir das finais de provas que poderiam fazer a maior de todos dos atletas de todos os tempos. Ela desistiu de competir as finais das provas como a individual geral, de salto, de barras assimétricas e trave para cuidar de sua saúde mental. Muitos nem se deram ao trabalho de fazer um “justo” julgamento, se é que é possível, se não teria levantado toda a história dela e todas as situações que têm enfrentado para chegar onde chegou e entender a importância de sua decisão. Embora tenha recebido bastante apoio, alguns já a condenaram por sua atitude, afinal... “já tava lá mesmo, né? Que que custava?”... "era medo de fracassar já que estava errando nas execuções das provas e não levar ouro"... "pura estratégia por causa de patrocinadores"... Que seja, se as consequências, mesmo que financeiras, poderiam lhe prejudicar ainda mais sua vida profissional e consequentemente sua saúdepsíquica, foi sua melhor decisão. Quem nunca ficou mal quando a situação mexeu no bolso Que? Que sua saúde não pague o preço pelas frustrações alheias.

Daiane dos Santos, Jade Barbosa e Daniele Hipólito.
Fonte: Globo Esporte 

Lembra do caso de ginastas vitimas de assédio sexual por parte de um ex-técnico da seleção de ginástica brasileira, o Fernando de Carvalho Lopes? O que esses jovens devem ter passado só quem já passou por algo semelhante pode imaginar. Recordo que em 2008 o canal ESPN veiculou uma  matéria no programa Histórias do Esporte que fez a ginástica brasileira dar muitos pinotes descompassados. No episódio as ginastas Jade Barbosa, Laís Souza e Daiane dos Santos, falaram que  foram várias obrigadas a treinar até a exaustão e chegaram a competir lesionadas. E, para culminar, eram obrigadas a terem uma dieta de apenas 800 calorias diárias. Nem vou detalhar os casos de racismo e das circunstâncias homofóbicas não combatidas pelos dirigentes de equipes.

Circunstâncias de pressões como estas não acontecem somente na ginástica ou no meio esportivo. Fora desse "Olimpo de deuses  e heróis" fantasiados e taxados por todos nós estamos rodeados de pessoa que vivem esses dramas. Vide a sociedade dos cancelamentos das redes e o crescente número de abusos nesse período pandêmico a que temos tido conhecimento pelos noticiários diários - sem falar os que não vêm à público. Situações na maioria das vezes causas por pessoas próximas. 

Muitas pessoas estão passando por situações semelhantes de violências tais que lhes causam, se não hematomas na pele, feridas na alma que são sentidas através de taquicardia, calafrios, desespero, sentimento de ser o problama do mundo, de que nada sua vida tem dado certo e uma vontade louca de sumir do mundo e com a única certeza que nada daquilo passará. Estes sentimentos ou sensações são estartados pelo que se chama "gatilhos". Eles podem ser situações, pessoas, falas, atitudes, cheiros, acontecimentos, uma simples música ou outras formas de lembranças da causa do sofrimento. Algumas podem acontecer na infância e prejudicar muitos aspectos da vida adulta. Eu descobri as razões de minha dificuldade em aprender a língua inglesa. Trago alguns exemplos de acontecimentos que se tornam gatilhos emocionais traumáticos perigosos:

- Quando se nasce sobre a sobra alguém é TEM que ser igual aos seus ou melhor que os outros.

- Quando se TEM o peso de TER que ser o que seus pais esperam, que seus vizinhos desejam, que sua esposa ou marido sonha ou tudo aquilo que seus filhos desejam.

- Quando você TEM que seguir o padrão que a sociedade impõe a cada temporada de modas e modinhas fúteis.

- Quando você TEM que se esconder no armário, atrás da parede, de uma imagem, dentro do seu coração ou da cabeça.

- Quando você TEM que vestir algo para agradar os outros ou quando você deixar de vestir o que deseja.

- Quando TEM que se comportar conforme a vontade alheia ou se calar sobre o que deseja falar.

- Quando TEM que ficar sério do que te faz sorrir e ou tem que sorrir do que te desagrada, entristece ou fere.

- Quando TEM que tirar somente notas altas e mostrar boletins e históricos escolares azuis por ser filho, irmão ou simplesmente pelo fato de ter que provar que você é diferentemente melhor e superior do que o estereótipo que pintaram sobre pessoas como você.

- Quando você TEM que se submeter a violências psicológicas, físicas e sexuais por ser você - mulher, gays, crianças, pretos - Mesmo que você mesmo ainda nem entenda quem e como você é ou não tenha formas de reagir às circunstâncias.

- Quando ainda assim você TEM que ficar calado, pois as falas de quem te violenta junto às circunstâncias do medo te fazem se sentir culpado pelas violências sofrida por você.

- Quando você TEM que sofrer em silêncio sem conseguir gritar para pedir socorro.

- Quando mesmo assim você TEM que ganhar todas as medalhas, taças, faixas, campeonatos, disputas, concursos...

- Quando você TEM que se mostrar bem, imbatível, sorridente, brincalhão, divertido, competente e que nada te abate.

- Quando você decide exorcizar seus fantasmas e TEM medo do julgamento dos outros, principalmente de quem você esperaria apoio.

- E, pior, quando você passa a acreditar em todas essas “obrigações” do verbo TER que as pessoas depositam em você para agradar a tão somente a eles.

Todos esses exemplos nós que passamos por uma situação ou várias delas temos que passar sozinhos e vamos debitando no banco de nossas emoções, do saldo de nosso psicológico e a conta não fecha. Isso tudo é tóxico. Isso tudo é venenoso. Tudo isso é um caminho minado, pois quando se carrega TODAS estas cobranças – sim, TO-DAS! Elas nunca vêm sozinhas, nem em duplas. Elas explodem em nossa vida de uma só vez, no máximo uma atrás da outra -  sem avisa.... PAH!!!  PEI!!! BOOOM!!! De surpresa! E como quase nunca se consegue atender todas as expectativas alheias o sentimento de frustração toma conta, os olhares e falas de julgamento e cobranças nos fazem afundar no sentimento de incompetência e fracasso.

Em um passe de mágica a pessoa se vê dentro de um poço fundo, escuro, gelado, sem roupa, sem cobertor, sem corda pra subir e sem mãos para puxar pra fora dessa prisão. Somente enxerga as mãos que apontam e as bocas que os condenam à “frescura”, ao “exagero”, a “falta de razão”, à “falta de Deus” e à “fraqueza da mente humana”. São cobranças terceiras que adoecem as vítimas crerem que devem se autocobrar para atendê-las. São cobranças de uma expectativa que querem ditar o ritmo e os caminhos de vidas dos outros..E quando se está no fim do poço... quando não se vê saída... quando se sente que está sendo peso morto, u. fracasso, uma escória... qual o sentido de viver?  Para que viver se a dor interna é dilacerante, se nunca vai ser feliz conforme as pessoas querem que sejam? Tiram dessas pessoas a capacidade de enxergar a própria essência, de sentir as próprias vontades, de querer ser o que quiser ser e de viver o que as fazem felizes. 

Muitos não têm como enxergar o contexto geral de fora e ver que precisa de ajuda profissional. Outros até percebem, mas não têm condição ou apoio para tal. Só lhes resta desistir... E ainda assim, após tudo será condenado ao inferno ou purgatório pelos “juízes terrenos dos pecados alheios”.  Tiram desses até o direito a um julgamento no juízo final diante o Único que tudo ver e pode julgar, perdoar ou condenar. Mais uma vez digo, só quem viveu sabe.

Simone Biles 
Fonte: Internet 

A decisão da Simone Biles não é sobre ser fraca, não é sobre nadar, nadar e morrer na praia. A decisão da Simone Biles é sobre cansar de carregar nas costas não o seu mundo real, mas o mundo fantasioso que os outros constroem e querem que você carregue. Afinal, não basta você bater o sino e acompanhar a procissão. Impõem que você tenha que ainda distribuir hóstia, passar a batina do padre, rezar o terço, fazer coreografia, receber confissão – mas, não pode confessar -, rezar a missa, carregar o andor, ser a imagem, dirigir o carro de som e ainda ter que cantar “segura na mão de Deus e vai”.

A decisão de Simone Biles é sobre mostrar pra todos nós que chega do peso do verbo TER. Não “temos que” nada para agradar ninguém. E tá tudo certo! 

É preciso dar uma basta. É preciso que cada um se pergunte como está agindo com quem tá do nosso lado. Como está agindo com o pai, a mãe, o irmãos, o marido, a esposa, os filhos, os colegas de trabalho, seus vizinhos, seu amigo. Como está falando com eles...  Será que estou cobrando algo que não é de minha conta?  Será que muitas decisões e ações do meu vizinho não tem a ver com o que ele aprendeu como certo? Será se meu colega já foi vítima de algum traumas ou alguma situação de violência que lhe causou danos interiores? O que me interessa se aquele casal de amigos casados há tanto tempo ainda não tem filhos? Será que falar do aumento ou diminuição do peso de alguém não fere a pessoa? Será que cobrar por uma vida de sucesso, dentro do  que eu julgo ser sucesso,  não é inconveniente? Porque o fato de fulano ser de alguma letra dentre os LGBTQIA+ me afeta tanto? Será que não estou querendo que as pessoas ao meu redor tenham a vida que eu queria ter - e não tive – para me agradar? Será que as pessoas não podem ter seus gostos e suas vontades? Será as pessoas não podem viver suas próprias vidas conforme elas queiram ou estejam dentro do seu possível? Será que se eu não sou o gatilho de ansiedade de alguém que digo gostar? E se tudo isso fosse comigo? 

Aos mais corajosos... eu diria pergunte a uma pessoa que você gosta se está sendo tóxico com ela em algum aspecto da vida. 

Se algum das respostas for positiva... é melhor parar!  Você pode tá adoecendo alguém.