segunda-feira, 23 de junho de 2014

A SAUDADE QUE GONZAGÃO ME DÁ

Quando chega o período junino uma musica em especial me faz viajar. Fecho os olhos e vejo as primeiras reuniões em turma para tratarmos do arraial do Colégio Santa Teresa, lá em Santa Teresa do Paruá. À frente de tudo, na maioria das vezes, estava o mais maranhense de todos os baianos, Professor Reinaldo. Sempre muito animado e detalhista em tudo cuidava da construção do arraial, decoração e programação. Além de cuidar pessoalmente da quadrilha da 8ª série (hoje 9º ano) da qual sempre participava. Lembro dele sendo o pai da noiva em um dos anos. Ele era e é hilário. 


Bom, continuando a viagem... Quando estava tudo bem encaminhado íamos, nós alunos mesmo, a partir da 4ª série, buscar olho de palha de babaçu no morro por trás do alto do congresso, onde está localizada a escola. Na volta íamos destacar as palhas que serviriam para fazermos as barracas e alguns acessórios de decoração. 

A distribuição das barracas dependia se o arraial fosse apenas da escola ou se seria em comunhão com as demais escolas. Se fosse todas escolas juntas daí tinha uma divisão de barracas e se fosse apenas da escola cada turma teria uma barraca e seria responsável pela construção e funcionamento das mesmas. Vale lembrar que os lugares para construção dos arraiais eram a área ao lado do mercado ou o largo da igreja católica, na frente do colégio.

Enquanto isso, todos os alunos se voluntariavam a fazer ornamentos para decoração. E dá-lhe bonecas de pano, balaios e abanos de palhas com cara de boneca, bandeirinhas e correntes, estes dois últimos feitos com papeis de revista, jornais e papel de seda. 

Durante os dias de arraiá cada um levava um prato para ser comercializado – o resultado das vendas era para ser usado na escola ou para formatura da 8ª série -. Tinha umas brincadeiras que sempre me deixa encantado a Nega Fulô, a Pescaria e a Barba do Velho. Eu adorava aquela atmosfera junina. 

Sonhava em dançar uma quadrilha, mas não me inscrevia pelo fato de na época ser evangélico. À medida que fui crescendo eu, que era integrante de um grupo de alunos e ex-alunos da minha escola, o Grupo Chama, passei a fazer parte de oficinas de dança e bordados de roupas de bumba meu boi, ministradas por Antônio Carlos Tote e Gersinho, do Boi Barrica, que foram lá a convite desse grupo do qual fazia parte. Isso acabou criando o boi Estrela do Amor, que tinha como cantador o pequeno Edinaldo Costa – um grande poeta. Eu era caboclo de fita e ali começou minha paixão por cultura popular. Para falar a verdade tudo que tinha som de tambor sempre me despertou interesse, me fazendo balançar. Não nego meu pé na senzala, na África. Gosto disso!

Toda a programação me atraia. Quadrilhas, bois, pau de fita, desfiles das rainhas caipiras e as demais apresentações preparadas pelos alunos da escola. 

E como comecei falando em casa durante o ano inteiro era comum ouvirmos Luiz Gonzaga, dentre grandes nomes do cenário musical brasileiro. Intensificando no período junino. No arraia, durante todo o período, volta e meia tocava na radiola e amplificava nos alto-falantes a música “Quero Chá”. Naquela época quando ao longe ouvia seus primeiros acordes já sentia frio na barriga de tanta ansiedade. 

Hoje ao lembrar vejo que essa não é apenas uma música. É sim uma passagem gratuita no tempo da qual me dá muita saudade, aperta o peito e turva minhas vistas, tal e qual como agora. Uma saudade que sinto de meu falecido pai, da minha mãe, que vi ontem, dos meus irmãos em suas férias, dos meus vizinhos e amigos de infância, da minha escola, do mingau de milho – minha paixão – cocada de coco, bolo de fubá – feito pela minha irmã Rogênia – do Refrigerante Geneve em garrafa, pão cheio, bolo de tapioca e do cheiro de churrasquinho de carne no espeto... 

Enfim, boa e salutar saudade de minha casa (leia-se cidade) de um tempo que, mesmo com recursos escassos, éramos felizes e está intrínseco em nossa personalidade. Pois ali aprendemos a importância da comunhão, do respeito mútuo, da coletividade, trabalho em equipe, amizade, fraternidade e do amor ao próximo e à nossa cultura. 

Viva São João!
Viva a cultura brasileira!
Viva a Luiz Gonzaga!
Viva meu pai!
Viva a amizade!
Viva Santa Teresa do Paruá!
E vida a Saudade!

QUERO CHÁ
Compositor: Luíz Gonzaga

Morena eu quero chá, eu quero
Chá, eu quero chá morena bela
Eu quero chá. (bis)

Já, já, já, já morena bela eu
Quero chá. (bis)

Morena eu quero chá, eu quero
Chá, eu quero chá morena velha
Eu quero chá. (bis)

Já, já, já, já morena velha eu
Quero chá. (bis)

Pula, pula moreninha não deixa
O samba esfriar catuca zeca do fole
Para o compasso agitar

Nas tantas da madrugada antes
Da barra quebrar vai depressa
Na cozinha e traz cházim pra
Nós tomar.

Já, já, já, já morena bela eu
Quero chá.