quarta-feira, 12 de outubro de 2022

TEMPOS DE CRIANÇA: LEMBRANCAS QUE SALVAM

Eu e meu primo Laade - 1984 


Estamos no 12º dia do mês de outubro de 2022. Além de ser dia de Nossa Senhora Aparecida – o que só passei a “reconhecer” depois de adulto – é dia das crianças, data nunca esquecida. E, estava aqui sentado olhando meu celular, assim como a maioria das pessoas deve estar, vendo fotos de tantos amigos crianças nas redes sociais. Vejo em cada foto um brilho no olhar, reflexo de uma vida de criança criança, não de crianças “miniadultos” que pensam ser crianças dos dias de hoje. Daí veio uma saudade dos meus tempos de criança...


Naquela época, toda a década de 80, eu morava no interior do Maranhão, uma pequena cidade que tinha o nome de Santa Teresa do Paruá. E lá.... Noooossa... como era bom!!! Diversão total!!! Tudo bem que nossos dias começavam às 05:30, 06h da manhã para pegar o leite na chácara, entregar os “lidileite” aos vizinhos que compravam da gente e depois voltava para abrir, espanar as mercadorias e varrer a farmácia que antes das 08 já estivesse pronta para o expediente, quando papai voltada do mercado onde diariamente ia comprar carne para o dia, os bolinhos de tapioca lisa e caroçuda e cuscuz de arroz feito na panela, moldado no pano. Esses bolos comíamos tomando o melhor café da vida todinha, feito por minha sempre amada mãe. Isso mesmo... lá em casa todos sempre tivemos uma atividade pela qual éramos responsáveis. Depois disso, quem estudava pela manha tinha que rumar à escola.

Xou da Xuxa, década de 1980

Eu particularmente sempre gostei de estudar mais pela manhã, minha capacidade de aprendizado sempre fora mais proveitosa. Pela tarde eu gostava de ficar em casa. Quando na cidade não tinha energia elétrica uma das coisas que eu gostava era acompanhar minha  irmã Rogenir nos seus trabalhos escolares com seus amigos de turma. Aprendi muito com eles. Depois da chegada da energia eu queria estudar a tarde para assistir tentar assistir o Xou da Xuxa com seu desenhos animados maravilhosos – Os Thundercats, He-man, She-ra, Os Smurfs, A Caverna do Dragão, Os Tartarugas Ninjas, Loucademia de Polícia e Cavalo de Fogo (este no SBT) sempre foram os meus preferidos -. Em tempos de menos restrições televisivas eu tinha como “babá eletrônica” uma loira vestida de minissaia, minishort ou ainda de maiô que se comportava como um criançona e que às vezes dava respostas atravessadas, sinceronas e nem sempre politicamente corretas às crianças da plateia. Loucura total!!!

Thundercats, desenho animado.


Fora dos horários de ficar vidrado na telinha preto e branca – sim... nem sempre tive TV colorida em casa - eu criança tinha muitas brincadeiras das quais gostava como desenhar – inclusive figurino -, fazer cartões de data comemorativa, fazer artesanato, pega-pega, trinta e um, guerriô, passar anel, cair dentro do poço, cabo de guerra, amarelinha pular corda, pular elástico, bang-bang, stop e tantas outras brincadeiras que eu adorava. Bom, mas, quem já passou dos 35 ou 40 anos  já deduziria quanto a essas minhas preferências “bricadeirísticas”.

O que pouca gente  deve saber que o meu lado “apresentado” teve origem também nas brincadeiras de criança, mais precisamente nas apresentações de comemorações dos dias das crianças de toda minha infância. Todos os anos tínhamos "shows de calouros" onde as crianças iam cantar... era lindo ver tanta criança cantando – mesmo que desafinados – absolutamente desavergonhadas do "graaande" púbico da cidade. Certa vez, minha irmã Rogênia (Gênia, Gêninha e outros apelidos que não posso revelar pela saúde do convício familiar) e eu, quando tínhamos por volta de  8 (eu) e 10 anos (ela) sonhávamos (ou seria delirávamos?) fazer parte do grupo infantil “Balão Mágico” – ela sempre se achava a Simony e eu, apesar de me ver no Jaizinho, me achava a cara do Mike por ele ser o mais novo (pode rir a vontade KKKKKKKKKKKK) – decidimos nos inscrever para uma das edições do show de calouros da escola. Para a ocasião escolhemos uma música que o famoso grupo cantava com o Fofão (um famoso e carismático personagem da TV da época). Eu faria a parte do Fofão...  fomos para o ensaio e foi um verdadeiro terror!!! Além de não sabermos cantar, ainda atrapalhamos o instrumentista, Professor João Lira. Ali desistimos da vida de cantores de sucesso. Mas, continuávamos com vontade de está nos palcos.

Contracapa do LP Xou da Xuxa 3


Eu tive outras oportunidades de subir ao palco do Centro Comunitário outras vezes, mas em dramatizações ou peças de nosso grupo de teatro. E ela, a Geninha, ainda pôde viver seu dia de fantasia sendo uma paquita juntamente com Nara, Eliane Fernandes e um outra menina que não me recordo. E a Xuxa? Aaaah!... A Rainha dos Baixinhos foi representada lindamente pela hoje Dra. Élia Holanda - ex-prefeita da cidade -, que apesar dos cabelo pretos entrou ao palco com uma réplica da roupa vestida pela apresentadora original no verso de um de seus discos (LP).

Todos nós sabíamos que era uma apresentação escolar, mas aquele dia pra mim também foi mágico. Eu tinha escrito uma cartinha que fora sorteada. Não recordo o que ganhei, mas nunca esqueci da emoção de ser sorteado pelo "Xou da Xuxa". Fui sorteado pela primeira vez na vida.

Por tudo isso costumo dizer que lúdico é importante na vida de uma criança... a ludicidade ameniza dores e salva vidas. Pouca gente sabe situações difíceis as quais fui submetido na minha infância sem perceber que dali muitos traumas e construções equivocadas comportamentais poderiam ter surgido de forma ainda mais graves do que apresentei ao logo dos meus 43 anos. E foram esses momentos lúdicos da infância que amenizaram e me fizeram amortizar os impactos de ações danosas cometidas por terceiros.

Relembrar esses momentos de criança feliz me faz fortalecer o adulto que sou hoje e ajudam a diminuir o tamanho dos monstros que fizeram eu criar em minha volta. Interessante que, nesse momento, parei por um instante a produção desse texto para passar a vista no celular e no instagram tinha um perfil que sigo onde o administrador tá em um vídeo simulando uma mágica com o filho e na legenda ele escreveu “Criança precisa de memórias boas, atenção e carinho”. E é isso... Boas memórias da infância, atenção e todo o carinho recebido tem me ajudado nas reconstruções que tenho feito e preciso continuar fazendo em mim.

Viva nossas crianças internas! Elas salvam os adultos que somos e seremos.