domingo, 19 de maio de 2024

TEM COISA QUE SÓ PERDOANDO...

 A psicóloga que me acompanha nos últimos meses, sabendo que escrevendo eu consigo coordenar meus pensamentos, pediu para eu escrever um texto sobre o PERDÃO.  Sim, sou um tanto quanto difícil de rancoroso. Bom... não é que eu não tenha capacidade de perdoar, a questão é que o meu tempo para isso é demorado e, enquanto não ocorre, eu fico afetado psicologicamente, o que por vezes tem consequências no meu organismo e até na minha vida social. Então, dada a tarefa, passei a semana pensado sobre o tema e alguns aspectos de minha vida.

Eu, Rivanio, aos 8 anos de idade.

Cresci com o exemplo de minha mãe que sempre foi de perdoar. Ela sempre falou da passagem bíblica (Mateus 18,21-35) em que o Apóstolo Pedro perguntou a Jesus quantas vezes devo perdoar uma pessoa que me ofend, se até sete vezes. Jesus então  responde a Pedro: “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete!”. Minha mãe pratica isso e sempre nos ensinou isso. Porém, viver é difícil e acaba quase sendo um "minhas dores, minhas regras".


Para começar, como já disse em outros textos, desde muito cedo me percebi diferente de todos os meus irmãos e amigos da vizinhança. Comecei a me entender como uma criança veada, como me chamavam na época durante os bullyings que eram direcionados a mim. Por conta do que ouvia isso sempre esteve na minha cabeça de uma forma intimidadora que dizia que o meu jeito de ser era razão de vergonha para todos da minha família e que por isso todos iriam me distanciar de suas vidas. Então eu, para sofrer menos, comecei a ficar atento a todas as ações dos meus pais e irmãos. Eu teria que ter uma reação que me fizesse sofrer menos no futuro, caso eu fosse expulso de casa. As formas com as quais eu era agredido através de apelidos e piadinhas me faziam crer que o meu verdadeiro eu era a razão para desgostos da minha família e tantas tristezas que eu viveria no futuro.

Aos 10 anos

             Paralelo a isso, ainda quando criança, por um longo período eu vivia dividido entre o amor eu sentia por minha mãe e o rancor de me sentir deixado de lado ou com menos importância que minha irmã mais nova (mais nova por ser a última irmã do sexo feminino, tá?... pois, ela é mais velha que eu...). Durante muito tempo eu fui o caçula da família e, como todos dizem que o caçula é sempre o mais mimado, eu sentia falta do meu mimo. Era como se estivessem me anulando, tirando meu lugar por direito e dando a outra pessoa. Eu queria me sentir amado, mimado, querido... Todas as férias, por exemplo, minha mãe prometia de me trazer para conhecer São Luís, onde meus irmãos mais velhos já moravam. Quando chegava o período das férias minha irmã adoecia e minha viagem era cancelada para que ela pudesse vir à capital tratar da saúde. Na minha cabeça eu era preterido por minha mãe e minha irmã era a usurpadora do amor que minha mãe teria por mim. Sofri por isso por muito tempo achando que tudo era por vergonha de que as pessoas descobrissem que eu não era "normal". Com o passar dos tempos e alguns outros acontecimentos em nossas vidas, fui crescendo, amadurecendo, fui refletindo e percebendo de fato que não se tratava disso. Era questões de saúde frágil que ela tinha e, por isso, uma questão de prioridade e urgência. Não se tratava de deixar de gostar de uma em detrimento de outro. Mas, ninguém nunca se sentou e conversou sobre isso para que pudesse ter entendido mais cedo e sofrido menos. Não se tinha este tempo. Assim com o passar dos anos eu fui sozinho - e internamente - perdoando as duas e nossas relações foram se aproximando.

Eu e minha irmã Rogenia

                Dito isso, vejo que apesar de que a minha homossexualidade não tenha sido propriamente dita a causa para eu me sentir preterido por minha mãe, eu sei que todos percebiam-me diferente e que tinham medo de como eu seria, qual seria minha postura, como eu levaria minha vida, como eu enfrentaria o mundo. Até então eu era o único gay da família. Era tudo estranho para mim e hoje eu percebo que para meus pais também. Aliás, acho que meu pai foi um dos últimos perceber-me gay, apesar de ter sido um menino afeminado e, por vezes, confundido por menina. Muitas vezes fui impedido de ir a eventos que gostaria de ter ido, de brincar com as brincadeiras que todas as demais crianças brincavam, onde brincavam, com quem brincavam... Com meu amadurecimento, minhas terapias e minhas análises da vida fui percebendo que, para tantas mães e pais que vejo destratando e maltratando seus filhos, eu fui até um sortudo. Pois, sempre fui levado para um caminho que me fizesse continuar estudando, buscar um trabalho para ser visto e respeitado. Percebo que direcionaram a este caminho apesar de entender que o fato de ser gay não era - nem de longe - o que eles queriam para minha vida e para nenhum dos meu irmãos. Nem imaginam eles que, nem eu queria. Optar, escolher nunca foi opção... mas, fazer o quê? É o que temos para hoje, ou melhor, para esta vida. Depois fui descobrindo que um tio de minha mãe – irmão da minha avó materna - era homossexual, ficou cego por causa da diabetes, e morou com minha avó muito tempo, até seu falecimento. 

Eu e minha mãe 

Mais à frente, em um tempo bem recente, fui me perguntando por que minha mãe me tratava diferente de pais intolerantes. Com cuidado e tentando me manter por perto, acho que até pensando que eu nunca sairia de casa. Analisando minha condição afetiva e sexual e minha postura diante da vida me questionava de onde vinha minha determinação para eu ser eu, apesar dos pesares. A resposta estava na história de vida de dona Terezinha, minha mãe. Sua história me mostrou que ela foi determinada e à frente de seu tempo desde sempre. O amor direcionou sua vida, e a de todos nós.  Com apenas 16 anos ela, uma menina branca, aceitou casar-se com meu pai, que era totalmente fora do que seu pais tinham como referência positiva para casar com sua filha mais velha. Raimundinho era um rapaz que trabalhava em uma farmácia na cidade e, pior de tudo, era preto! Ela enfrentou todo o preconceito de seu pai e por isso ele ficou sem falar com ela quase um ano. Depois, meus avós e meu pai se tornaram grandes e queridos amigos, papai foi tomado como padrinho de uma de minhas tias mais novas. Mais à frente os pais sendo católicos – o pai frequentador de festas em terreiros de “terecô”, como ela diz – ela optou por ser evangélica e a exigir respeito por isso quando ele a repreendeu por isso. 


          Eu comecei a ver muito de minha mãe em mim, coisas que vão muito além de nossos corpos acinturados e do quadril largo. Comecei a ter mais orgulho dela e de mim. Tínhamos muito mais em comum... nossa determinação fez eu me enxergar nesse espelho. Tudo isso, fez eu fortalecer ainda mais meu perdão a seu jeito de me criar, como se precisasse. Ela, apesar do pouco estudo e baixo acesso às informações fez seu melhor deixando seu instinto materno, seu senso de justiça e seu amor lhe guiar.


             Cresci em uma casa onde tudo era levado muito sério, mas que sempre tinha tempo para levar a vida com brincadeiras. Papai tinha umas tiradas engraçadas - pelo menos naquela época- com seus amigos mais próximos. Hoje seriam brincadeiras taxadas como  de racismo recreativo e homofóbicas. As relativas ao racismo, sim, hoje são consideradas racistas. Contudo, ele sendo homem preto, brincando com seus amigos pretos, nos soava - e eram - como um grande deboche aos racistas. Do tipo... "sou preto e daí?! Isso não é nenhum peso". E vejam que racismo já lhe tinham criado situações em família. Isso me fez crescer com esse sentimento de desdém aos racistas. Do tipo não me ofender por ser chamado de preto, moreninho, neguinho... até a cidade era formada por pessoas pardas como nós. Nunca tomei isso como ofensa, por mais que essa fosse a intenção. Eu sempre tive muito orgulho da minha cor e origem.  E cada vez tenho mais.

Com meus irmãos mais novos, Otair e Isandro.

         Quanto as brincadeiras homofóbicas eu desde muito cedo entendia como sendo brincadeiras que levavam a uma diminuição da pessoa gay por ser gay. Eram brincadeiras mais pesadas e que me feriam muito. Não me chateavam com papai por isso. Até pelo fato de que ele não dirigia as brincadeiras a minha pessoa. Mas, me machucavam pelo fato de que brincadeiras semelhantes me eram usadas na rua ou na escola para me atingir e me ofender gratuita e brutalmente. Aliás, outras brincadeiras que me feriam com a força de um soco no estômago eram as brincadeiras, xingamentos ou deboches gordofóbicos... sofri muito e muitas vezes com isso. Hoje posso dizer que eu perdoei todos aqueles meninos e meninas das tantas vezes que me feriram e me deixaram cicatrizes gigantes na minha alma e no meu psíquico. E esse perdão vem também pelo fato de que até aquele tempo, eles não tinham as informações dos significados de bullying, racismo, homofobia e gordofobia e todas as bagagens negativas que estas atitudes trazem agregadas. Perdoo-os apesar de saber que o sofrimento de alguém nunca deva ser recreação para ninguém. Agora os tempos são outros e as informações brotam em todo e qualquer lugar. As informações estao ao alcance das mãos de qualquer um. Hoje é mais difícil dissuadirmos nossos corações e nossas mentes de perdoarmos verdadeiramente, em especial quando somos vítimas de algo assim.. nao à toa estou escrevendo este texto em caráter reflexivo.

                Se por um lado eu não tinha rancor do meu pai pelas brincadeiras racistas e homofóbicas de seu repertório. Eu lhe tive muita mágoa entre os meus 15 e 30 anos por conta de ter descoberto, aos 15, que ele tinha um filho mais novo que eu fora do casamento. Ele sim tinha me tirado o posto de SEU caçula (que eu tinha tanto orgulho) e dado a honraria a outro menino. E, para piorar, o pequeno seria a nossa cara... isso me distanciou de meu pai, apesar do amor que nunca acabou. Mesmo sabendo que a criança morava em um povoado vizinho a nossa cidade, nunca fui o conhecer, e quando mudei para São Luís – ainda com 15 anos -, ficou ainda mais cômodo para mim  e meu ciúme rancoroso. Quando papai faleceu eu já tinha 25 ano e apesar de nos falarmos e dizermos um ao outro que nos amávamos eu sempre ainda tinha lá no fundo do coração um rancor não curado. Meus irmãos e minha mãe já o tinham perdoado e foram atrás o meu irmão mais novo. Eu não quis aproximação. Sempre argumentava que se ele não tinha culpa de nada, muito menos tinha eu. Assim seguir até meus 30 anos, quando a vida o fez vir a São Luís resolcer algo e eu, já um pouquinho mais maduro, nos permitir uma aproximação. Isso foi interessante, pois um pouco mais a frente - uns 2 anos depois - descobri um outro irmão, não mais novo, pois este na verdade nasceu entre eu e o caçula de fato. Aí já era tarde... eu já tinha perdoado quase todo mundo e o acolhi com muito amor. Hoje todos vivemos em harmonia.


              Se por um lado não perdoar os outros nos faz mal, apesar de podermos evitar as pessoas, imagine quando o não perdoar é voltado a você próprio, com nosso eu? É muito mais difícil, principalmente quando o mundo externo nos faz acreditar que muitas coisas nós mesmos somos culpados, em especial quando somos abusados sexualmente. Sim, passei por isso e acreditei na minha culpa por muitos anos. Não apenas me julguei, como me condenei internamente por isso. Este dias vazou um vídeo de um pastor falando justamente sobre isso. Para mim foi mais um abuso que eu sofri. Foi como se eu estivesse sendo acusado pelos estupros aos quais sofri. Com o tempo, com as leituras, pesquisas sobre trabalhos de especialistas no assunto e as terapias que faço há anos sei que não tenho culpa. Eu fui colocado nesse local por uma pessoa mais velhas de fato, que se aproveitara. da minha inocência, infantilidade, carência, afetividade e da confiança que a família lhes tinham para cometerem seus atos libidinosos e criminosos. Apesar da violência sexual física ainda houve sobre mim a plantação de culpa na minha (in)consciência pelos abusos que sofri. Tudo isso me causaram muitos transtornos comportamentais, psicológicos e psiquiátricos bem sérios tratados em terapias e com acompanhamento médicos e medicamentosos. Apesar dos meus sorrisos e gargalhadas. Vide este texto...


         Hoje apesar de ter me perdoado por ter me culpado por muito tempo carrego ainda marcas profundas desse filme terrível que vivi sozinho durante a maior parte dos meus quase 45 anos de vida. Tenho consciência plena, plena e plena que não tenho culpa de ser gay – até por isso nunca foi fator de culpa - e menos culpa ainda de ter sido abusado. Já houve quem insinuasse diretamente a mim que o fato de ter me "desenvolvido a homossexualidade" tenha tido relação com o fato de eu ter sido abusado por homens, o que teria me deixado confuso. E não foi isso... eu me percebi com minhas paixões platônicas por amigos dos meus irmãos bem antes do primeiro abuso. Eu achava homens mais bonitos e interessantes que mulheres - e ganhei cascudos por isso - aos 6 anos de idade. Os abusos que recordo começaram aos 8 anos... Não me "tornei gay" por ter sido abusado. Tenho consciência absoluta que só fui abusado por perceberem que em mim uma criança gay e afeminada. Ser assim é involuntário, em especial na infância isso não é opção. Aliás, na fase adulta a única opção que temos é se aceitar e se assumir.


              Este dias pensado sobre o tal perdão, vi um vídeo no Instagram de um padre dizendo que o perdoar não é sobre o outro, o culpado... é sobre nós mesmo. É um benefício que damos à nós mesmos. É sobre a nossa própria libertação do peso de tá "amarrado" a quem nos ofendeu, machucou ou feriu. O ato de não perdoar é, segundo demonstração do padre, como se nós andássemos - para cima e para baixo - sempre de braços dados àqueles que nos causaram os males até então imperdoáveis. Didaticamente vemos no vídeo que o fantasma dos nossos algozes fica conosco para onde vamos. Enquanto não perdoamos eles seguem nos causando tantos outros males e tirando nossa paz. 


            Analisando e organizando meus pensamentos enquanto faço este texto concordo sim que o perdoar nos tira os pesos das costas e as amarras dos pés. Nos dar mais liberdade e mais paz de espíritos. Isso é fato! Mas, me pergunto: quando entendemos que os males causados são grandes e graves o suficiente ter nos causados feridas à vida toda? Que tais males causaram danos que nos expuseram a outros riscos sérios... é possível perdoar? Como perdoar? 


         Pondo na balança eu perdoei todos os que eu julgava e condenava como se não me quesessem bem. Até o sentimento ruim estava em mim. Estes eu acabei entendendo seus contextos e suas intenções. Acho que tudo passa pela intenção. Tenho segurança de que eles não me quiseram causar mal algum. Não foi intencional e muito menos pessoal. Por outro lado, vejo que é preciso ter mais segurança, mais maturidade e mais força para vermos o momento que podemos dar o indulto do perdão aqueles que só pensaram em si, nas suas satisfações pessoais, que não pensam nas consequências graves de suas violências disfarçadas de carinho e de suas palavras ditas de forma a induzir culpas e ameaças veladas. De fato não sei... não sei se é possível perdoar, e tampouco sei se posso e nem se quero dar este perdão. Já me tiraram tanta coisa... dar esse perdão seria para mim como se eu mesmo estivesse traindo os meus eus crianças de 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 anos. Ainda sinto como se meu eu adulto estivesse sendo conivente e passando pano com tudo que esses meus eus passaram e trouxeram como bagagem pesada até agora.

Aos 44 anos

            Vou trabalhando a minha mente e o meu coração para perdoar, ou pelo menos superar, os pequenos atos que, porventura, forem acontecendo em meu caminho. Sigo esperando não demorar muito seguindo a vida levando comigo os fantasmas dos meus abusadores. Não obstante espero mais ainda que nenhuma criança ou adolescente tenham sido ou não venham ser  vítimas destes - e de nenhum outro - abusadores. 


                 Por enquanto, por todo esse tempo culpando quem não me quis fazer mal e, principalmente, por me culpar por situações que trago marcas sérias, profundas e ainda doídas eu já tenho a minha compreensão, meu acolhimento e meu perdão. 


                Nos perdoar já é um grande passo... vejamos quais serão os próximos passos. Enquanto isso, vamos de mais terapia. Que veja a próxima segunda-feira.

domingo, 12 de maio de 2024

O MELHOR SORRISO DO MUNDO

 Quando eu nasci, em 1979  ela tinha apenas 35 anos e já tinha tido 9 filhos e ajudado na criação de 01 irmã e 07 sobrinhos do meu pai. E isso eu só me refiro aos que moraram na casa dela depois de casada. Não me refiro aos tempos em que, ainda menor de idade, ajudava a própria mãe na roça para criação dos irmãos.


Ao longo da minha vida sempre houve presença de alguém na nossa casa. Sobrinhos e/ou filhos de amigos que confiavam no seu método de criação. E a todos ela tratava como se fossem seus. Brincava e ralhava igualmente com quem precisasse, pois mãe educa e ensina quando no momento certo.


Não teve tempo de sonhar com a maternidade. Ela cresceu mãe. Ela sempre foi mãe. Dos seus e dos outros.  Talvez por conta disso não tivesse tanto tempo para sorrir.

Suas responsabilidades sempre foram grandes. Não era apenas puramente criar por criar... não era apenas dar comida a tanta gente. Para isso acordava as 5h da madrugada, para preparar café, organizar a produção na padaria, arrumação da farmácia, preparar o café, por o leite pra ferver, separar leite para quem comprava, por alguém para fazer as entregas, por meninos e meninas para se arrumar pra escola, não sem antes ensinar a arrumar a cama ou enrolar a rede... distribuir as tarefas da casa entre escolher quem iria limpar móveis, quem iria varrer, quem passaria pano na casa e quem passaria óleo de peroba nas folhas das plantas da sala (não julguem... era moda da época).... enquanto isso chamava os livres das atividades para pegar 2 galinhas das criadas no quintal para fazer o almoço já feito jantarado.

A tarde uma soneca pra descansar - enquanto eu esfarofava seu cabelo cacheado a la Maria Betânia - e depois a limpeza do quintal, descascar coco para nós e preparação para esquentar o jantar e por os "bunitos" que estudavam no turno nortuno. Já à noite, um pouco de conversa na calçada, onde às vezes - qdo o caminhão que vendia laranja passava -, ela já sentava com uma bacia no colo para descascar laranja para nós que vibrávamos com isso. E quando papai chegava de alguma viagem com uma tarrafinha com maçã??? Uma festa rara àquela época, ela dividia todas em partes iguais. Fosse uma!!! Ela dividia igualmente a todos os presentes. Fossem 8!!! Todos provaram igualmente.


Quando os filhos já estavam em São Luís estudando as preocupações com a segurança, com o estudo, alimentação e as confusões dentro de uma casa cheia de adolescentes na busca de futuro melhor.

Para ajudar nas despesas extras que os que moravam na capital sempre tinham  ela vendia leite (de litro em litro), aproveitava os 20 coqueiros do quintal e vendia coco seco a quem procurava e coco verde quando apareceram caminhões comprando e nos incentiva-nos a vender vidrinhos de injeções aos parques que apareciam pela região (eles usavam na barraca de tiro ao alvo).

Ela não tinha muito tempo para sorrir. Suas preocupações eram sempre grandes. Hoje, certa que fez o seu melhor - sem ter a noção que fez muito além do que poderia - ela consegue rir, sorrir  gargalhar e até chorar de tanto sorrir. Ela tem a segurança que entregou ao mundo pessoas honestas, sérias, batalhadoras, justas, solidárias e de coração que são morada de um Deus Soberano, apesar de nem todos terem a sua mesma religião.


Ela que já foi Terezinha de Jesus Albuquerque de Almeida, passou a ser Terezinha Almeida dos Santos, virou Terezinha do Juruca, Dona Terezinha, Terezinha, Teca, se transformou em mãe - nossa Terólas, Terolás - e foi alçada a Vovó.. e vó é mãe duas vezes. É nossa força inspiradora, nosso centro e, nos dias que as marcas e consequências da idade manda sinal, tudo vira nossa criptonita.

Hoje, como os filhos bem encaminhados na sequência de tudo que ela nos ensinou, nossa maior missão é fazê-la sorrir. O sorriso de Terezinha é o maior abraço que nossas almas e nossos corações poderiam desejar e realizar.

Minha mãe é a melhor mãe que Deua poderia ter nos dado. Ele acertou mais uma vez em cheio!! E, se em outras vidas que Deus tenha nos reservado no futuro nós pudéssemos escolher, escolheríamos tê-la como mãe novamente, sempre!!! Só com uma pedido especial, que ela sempre tenha mais tempo para sorrir e ser feliz.










sábado, 4 de maio de 2024

BELEZA ALÉM DA ESTÉTICA

O Miss Maranhão Gay Oficial nos passos do certame nacional.


Passado uma semana do evento Miss Maranhão Gay 2024 preciso falar do que vivenciamos aquela semana e do que significa eventos como esse.

As finalistas do Miss Maranhão Gay 2024.

 melhor forma que era possível. O evento sempre foi palco para o brilho de grandes artistas que vislumbraram a faixa de Miss Maranhão Gay. Nos últimos 12 anos  aproximadamente,  o certame ganhou o  reforço do multiprofissional - empresário, matemático, bacharel em direito e carnavalesco - Itamilson Lima e leva a maravilhosa Bia Maranhão e depois convida Enoque Silva e a mim para compor sua equipe. Com Itamilson e sua equipe a história de resistência que vinha sendo construída pelo Wallen foi reforçada e foi possível, gradativamente, trazer a festa dos excluídos redutos gays para os salões da avenida que corta as áreas tidas como mais nobres da cidade, a Avenida dos Holandeses. Isso ajudou em uma quebra de paradigma atraindo novos olhares e públicos diverso, inclusive de fora do nosso meio. Com sua perspicácia, dedicação, bom gosto e refinamento Itamilson foi escolhido para coordenar as escolhas das representantes do Maranhão nas franquias nacionais Miss Brasil Gay Oficial - através de votos dos jurados do evento Miss Maranhão Gay Oficial - e Miss Brasil Gay versão Bahia, através de aclamação de uma artista com grande potencial.

Rivanio Almeida, Enoque Silva, André Pavan, Murillo Lorensoni e Itamilson Lima.

Nesse contexto de mudanças de Miss Maranhão Gay para Miss Maranhão Gay Oficial (observe o importante acréscimo do termo "Oficial") a ideia passou a ser caminhar junto com o regulamento do Miss Brasil Oficial, que é a grande referência nacional e que tem uma grande responsabilidade diante da nossa bandeira de combate aos preconceitos contra a coletividade LGBTQIAPN+. Vale ressaltar que, devido as barreiras dos preconceitos que enfrentam diariamente, em muitos casos estes momentos são os únicos momentos para os jovens artistas desfrutarem das experiências de exercício de autocuidado, autoestima e realização de sonhos.  Além do cultivo da esperançade dias melhores.

Adentrando nesta conjuntura, assim como no Miss Brasil de mulheres,  o Miss Brasil Gay Oficial tem mudado e ido mais a fundo nas questões intelectuais deixando a dita superficialidade do uso exclusivo da beleza física para eleger uma representante de toda uma comunidade.  Aliás, quem vive sabe que para se manter em algum lugar, nem falo ter destaque,  nossa comunidade precisa ir mais além nas entregas que os heterossexuais. E, com raríssimas exceções, sempre estamos a frente mesmo. Nossa inteligência, capacidade e competência - e utilidade - são nossas chaves para, se não vencer, pelo menos driblar o preconceito. Pois bem... assim como o certame nacional oficial o evento maranhense passa a oficializar o hasteamento da bandeira de "Beleza com Conteúdo" como requisito para ser Miss.

Muriel Lorensoni, Miss Brasil Gay Oficial 2024

Contrariando algumas mentes negativas esse critério de escolha não veio para inibir a participação de Candidatas ao concurso. Muito pelo contrário... foi acrescentado para estimular aos artistas transformistas que continuem ou voltem aos estudos. É de conhecimento público que gays quando não acolhidos pelas famílias são expulsos de casa e, uma vez na rua, sua prioridade passa a ser a sobrevivência. O abandono escolar é uma das primeiras ações. Quebrar esta corrente se faz necessário, precisamos estimular cada componente da comunidade mudar a própria realidade através do estudo, da capacitação, da educação. A nível nacional as Misses nunca fizeram feio, todas são grandes nomes de artistas, personalidades, profissionais e sabem se comunicar de forma sublime. São todas grandes representantes, dentre outras, Lizandra Brunelli, Antônia Gutierrez, Michelle X, Sheila Veríssimo, Marília Córdova. Seguindo o fluxo da história e das mudanças, em 2023 o Miss Brasil Gay Oficial elegeu Muriel Lorensoni, que é DOUTORA em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso. Isso não é pouco!! Isso tem um peso enorme no item representatividade! A busca por desenvolvimento intelectual das artistas através da educação precisa ser estimulado e copiado, muito embora saibamos que a nível acadêmico os casos como de Muriel são exceções no Brasil todo. Esse é um momento em que o concurso de beleza mais importante à comunidade LGBTQIAPN+ estimula a resistência atraves do empoderamento de nossa gente.

Gisele Garcia, Miss São Luís Oficial desfilando traje de gala no Miss Brasil Oficial 2023.

Gisele Garcia, Miss São Luís Oficial desfilando traje típico no Miss Brasil Oficial 2023.

Fazendo uma retrospectiva as Misses Maranheses Gays, guardadas as devidas proporções, não tem feito feio nesse item, embora tenhamos a consciência que podemos melhorar muito mais esse cenário.  E, por isso, não se pode parar, muito pelo contrário, é preciso continuar e estimular ainda mais o desenvolvimento dos artistas para serem eles mesmo, e suas personagens, fortes Candidatas diante das demais 26 concorrentes. A nivel estadual tivemos como Misses nomes que tem se tornado grandes referências profissionais.  Nomes como Marília Córdova (estilista e costureira), Valeska Furtado (influencer, humorista, apresentadora de TV e rádio), Dominica (apresentadora de TV), Lunna Mitchel (cabeleireira e maquiadora), Jade Hwskaier (estilista e costureira), Bia Maranhão (Cabeleireira e empresária) e Surama Wilker (cabeleireira e maquiadora)... e tantas outras representantes. Vale inclusive lembrar que, apesar de então representante do Ceará, a maranhense Marília Lutia (hoje Cordova) foi eleita Miss Brasil Gay Oficial 1990. Ressalto que, nos últimos anos, o nome do Maranhão têm conseguido grande visibilidade através de misses como Jade Hwskaier que em 2022 ficou no top 6, Lunna Mitchel maranhanse que representando o Piauí em 2023 ficou no Top 3, Gisele Garcia - Miss São Luís 2023 que representou o Maranhão pela impossibilidade da Miss eleita poder fazê-lo por infringir um dos regulamentos nacionais, pois ela já tinha um título Miss Brasil Gay (das América ) - ficou em 11⁰ lugar sendo muito elogiada e procurada por outros coordenadores de Estados. Além disso, a cearense Monick Skaranze, representando o Maranhão, venceu o Miss Brasil Gay versão Bahia e Ariely Duailibe, Miss Maranhão Trans, venceu o Miss Brasil Trans 2023. É o Maranhão dando nome e sobrenome na arte do transformismo brasileiro.

Raielly Campos, Miss Maranhão Gay Oficial 2024.

Sábado passado, apesar da forte chuva que atrapalhou o deslocamento das pessoas, e com as presenças ilustres de André Pavan (Diretor Artístico do Miss Brasil Gay Oficial), Muriel Lorensoni, Antônia Gutierez, LizandraBrunelli (detentoras do título Miss Brasil Oficial 2023, 2019 e 2008, respectivamente), Monick Skaranze (Miss Brasil Gay versão Bahia 2023) e Ariely Duailibe (Miss Brasil Trans 2023) foi realizado no Basa Clube, no Calhau, o concurso que - analisando beleza, passarela e oratória -, escolheu a mais preparada da noite para levar a faixa do Maranhão para Juiz de Fora - MG. Foi eleita a Miss Maranhão Gay Oficial 2024 a representante de Timon, Raielly Campos. Em 2⁰ lugar, ficando com o título de Miss São Luís, Scarleth Souza, representante do município de Barreirinhas. No mesmo evento Kyara Gomes foi aclamada para a faixa Miss Maranhão Gay versão Bahia 2024 e irá concorrer ao certame de Salvador.

Se nossas Misses vão trazer as faixas e as coroas ainda não sabemos, uma vez que em ambos os concursos nacionais a concorrência é muito forte e a dimensão dos eventos é enorme - em Salvador acontece em um grande teatro e em Juiz de Fora esse voltará a ser realizado em um ginásio com capacidade para quase 5 mil pessoas, o que deixa tudo muito maior e até intimidador para quem vai participar -. Em todo caso, e independente dos resultados, temos a consciência da nossa responsabilidade como componente da equipe de produção do evento local e da produção das nossas Misses para fazerem tudo lindo e perfeito nos eventos nacionais. Além disso, temos a certeza que, no que depender da gente, da produção, o nível dos trabalhos apresentados pelo nosso Maranhão não vai cair. Aliás a ideia é subir. Sempre!

Que nossas estrelas, tanto em Minas quanto na Bahia, brilhem muito!