domingo, 26 de dezembro de 2021

PUREZA  UM FILME SOBRE A CRUELDADE HUMANA E A FORÇA DO AMOR DE UMA MÃE

 

Cartaz divulgação do Filme Pureza
 

A cidade que nasci, Santa Teresa do Paruá, interior do Maranhão era pequena, bem pequena. De forma que todos nós da cidade éramos próximos e nos conhecíamos bem uns aos outros. Tínhamos vizinhos extraordinários, de histórias de vida que de um certo tempo passaram a me chamar atenção pelo grau de dificuldade, de lutas e de vitórias ou superações para criarem suas promessas de vários filhos - não lembro de nenhuma família com filho único.

Obviamente que ainda criança eu não observava com esse olhar, pois era o comum, o normal o meu dia a dia. Contudo, a partir do momento em que meus irmãos mais velhos, já morando em São Luís, começaram a trabalhar com questões sociais - pondo em prática o "estude para ajudar seu povo - e começam a trazer para dentro de casa assuntos e discussões da realidade além da vizinhança meu olhar passou a ser mais observador e empático.

Produtos da Roça no Maranhão
(Fonte: Facebook "Enquanto isso no Maranhão)

Meus irmãos traziam assuntos sobre o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente -, seminários com professores pelos interiores do Estado, a vida dura do agricultores, das quebradeiras de coco, pescadores, garimpeiros, violência contra a mulher,  homofobia... enfim. A medida que ouvia as conversas  eu fazia a associação das profissões e das vidas dos personagens das histórias com os meus vizinhos. Assim comecei a entender as dificuldades reais e ter ainda mais respeito, consideração e admiração pela história das pessoas com quem convivia, minha gente.

Me refiro a fins dos anos 80 e início dos anos 90 do século XX. Nesse período minha irmã Rogenir, a quem chamo carinhosamente de Genir, em uma de suas passagens por Santa Teresa - não recordo se feriados, férias ou eleição, quando ia votar - então estudante do Curso de Direito da UFMA, já ativista de movimentos sociais e engajada em causas justas trouxe uma história parecida com tantas que já tinha ouvido falar, porém com um agravante extra que me deixou chocado e que, anos depois soubemos, teve um desfecho emocionante.

Dona Pureza, maranhense que denunciou o trabalho escravo e virou filme (Fonte: Internet)


A história dizia respeito à uma senhora da cidade de Bacabal, também interior do Maranhão, que com muito sacrifício criava o filho. A uma certa altura da vida o filho dessa senhora ver-se diante de um sentimento de buscar vida melhor e quem sabe de ajudar sua mãe. A solução encontrada seria viajar ao Pará em busca de trabalho em uma grande fazenda, que prometia emprego e boa remuneração.

Após chegar em Itaituba (PA), seu destino, o filho deixou de dar notícias deixando a mãe mais que preocupada, desesperada. Como uma mãe, ela vai em busca de notícias e, aos poucos, ela vai descobrindo que o filho estava sendo vítima de tráfico humano, estava sendo obrigado a trabalhos análogos a escravidão e vivendo em condições sub-humanas. Como um leoa em defesa da cria não se intimida e voa o Brasil e o mundo denunciando as crueldades dos fazendeiros, com apoio de políticos corruptos sobre pessoas pobres em busca de sobrevivência.


Ação policial libertando homens escravizados em fazendas no Pará nos anos 90 (Fonte: Internet).


A luta dessa mãe enfrenta criminosos, estremece Brasília, escandaliza o mundo, mas, criações ações federais, muda realidades, cria leis, liberta seres humanos, prende desumanos e vira filme, Pureza.

Apresentado em diversos Festivais pelo mundo, o filme Pureza, que também é o nome da mãe,  é um drama biográfico nascido a partir de ideia original de Hugo Santarém foi escrito por Renato Barbieri e Marcus Ligocki e dirigido por Renato Barbieri.

O filme tem Dira Paes como protagonista - dando um show como D. Pureza -  conta com Matheus Abreu - como Abel, filho de Pureza -, Marinana Nunes, Flávio Bauraqui, Cláudio Barros e Sérgio Sartorio no elenco, além da participação especial de vários homens que foram personagens reais da história de escravidão na época e de pessoas importantes na luta contra a escravidão, abolicionista no Brasil atual, uma delas minha irmã Genir.

Pureza já fora premiado como Melhor Filme júri popular Mercosul no FAM 2020 e o Grande Prêmio do Público no Rencontres du Cinema Sud-Américain na França. Além disso nos EUA no Inffinito Film Festival de Miami e NY, o filme levou a categoria técnica de fotografia e nossa Dira Paes conquistou a estatueta de Melhor Atriz, assim como no Seattle Latino Film Festival. Não é para menos, o filme tem um um primor de realidade e qualidade em todo o conjunto da obra, o enredo é emocionante, ainda mais por se tratar de história real tão perto da gente, tanto por se tratar de conterrâneos maranhenses quanto pela época que tudo ocorreu, 1993 - eu fazia q 7ª serie (8° ano de hoje) e para se ter uma noção, meu sobrinho mais velho, o Lucas nasceu em 1992.

Pela telinha do meu smartphone assisti ao filme por duas das vezes em que o longa-metragem esteve rodando em festivais e que, nesse período pandêmico, ficou livre na Internet. Nas duas vezes que assisti me emocionei muito... leia-se de chorar horrores. Me deixa sempre uma sensação de poderia ser eu ou um dos meus irmãos, um primo, um vizinho... contudo, não deixa de ser um pouco de cada um deles e inclusive de mim mesmo, pois é uma pessoa do meu tempo, maranhense de uma cidade que conheço e com uma vida igual a de tantos amigos, vizinhos e parentes. Impossível passar insensível ao Pureza.

Trailer oficial de Pureza, o filme

Além das conquistas da luta contra a escravidão iniciadas por D. Pureza, da história inspirar um lindo filme, dos prêmios recebidos mais boas notícias vão sempre chegando. E a mais nova é que o longa chega no início de 2022 aos cinemas de todo o pais. Eu estou esperando como se eu nunca tivesse assistido, pois vou sim assistir Pureza nas telonas.

E se eu fosse você, eu também iria!!!
Você vai ver do que o ser desumano é capaz e o que o poder do amor humano e materno faz.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

ASSOCIAÇÃO DE PASSISTAS DE SAMBAS DO BRASIL - SECCIONAL MARANHÃO

Por Rivanio Almeida Santos 

Logomarca da ABASP

Não são raras as histórias de brasileiros que viajam o mundo e em algum momento precisa falar sobre o Brasil. Para isso é comum usarem referências  como Pelé, Futebol, Samba e, óbvio, Carnaval. Isso pelo fato de serem fortes componentes que ajudam na formação de uma identidade nacional. E arrisco dizer o carnaval vai até além, é parte da alma brasileira e isso  é um consenso mundial.


Nesse contexto  há diversas personalidades e personagens que se tornaram ao longo da história símbolos, signos, ícones da festa e que compõe o imaginário de quem ver, curtindo ou não, esse nosso estado de espírito carnavalesco. Um berço e um campo vasto para  artistas de vários segmentos. Aliás, a classe artista de forma geral tem muita contribuição na construção da cultura de nossa gente. E, apesar da briga de egos que comumente existe - sejamos sinceros - entre os artistas, estes têm se organizado em associações ou sindicatos de suas categorias.

Cantores, atores, profissionais da dança, por exemplo, têm suas instituições de representação. Contudo, dentro das entidades da classe ligada às Danças haviam várias entidades voltadas às Danças de salão, balé, Danças modernas e várias outras, mas, não tinha nada voltada a algumas Danças do carnaval especificamente. E qual a importância disso? Reconhecimento como profissão, arte e cultura, além de garantias de incentivos através de editais públicos, por exemplo.

Fundadores da ABASP e homenageado na escolha do nome

Refletindo, questionando e, mais que isso, buscando uma solução para a situação de falta de uma organização oficial que lhes representasse como uma classe artística e profissional um grupo de passistas de samba do carnaval do Rio de Janeiro se juntaram para fundar uma associação. Uma vez que a arte de "riscar o chão" misturando beleza, leveza, elegância, sedução, malemolência e muito ziriguidum fazem dos passistas ícones importantes na construção da histórias do carnaval. Além de ser uma arte que transforma a vida de pessoas através do trabalho levando a dedicação e a beleza de sua arte. Grandes e lendários nomes de histórias consolidadas como Aldione Sena - grandiosa e eterna  passista do GRES Unidos de Vila Isabel -, e Nilce Fran - eterna passista da Portela e que dirige a Ala de Passista da agremiação -, Bruno Teté - duas vezes presidente da Ala de Passistas do Imperio Serrano - e Dhu Costa - um jovem Passista Internacional e ex-passista da Beija Flor de Nilópolis que idealizou essa união -, fundaram a APASB (Associação dos Passistas de aba do Brasil Ciro do Agogô). A associação visa priorizar as lutas que beneficiam a categoria, seus representados, portanto, no sentido coletivo.

Dentre tantos objetivos da instituição que vem se consolidando nesse primeiro seu primeiro ano de existência se pode destacar as apontadas pelos Fundadores ainda na carta de intenção de fundação: incentivar a documentação e sistematização do saber simbólico que o samba no pé; reverenciar a ancestralidade e contextualizar a experiência diaspórica da negritude, que propiciou o surgimento desta manifestação que é símbolo da Nação; o amparo fraterno aos que se dedicam a este segmento; divulgação desta arte de Samba no Pé, no Brasil e no globo, construindo um processo de valorização destes artistas no mercado de trabalho, e criando espaços de convivência, troca de informações e representatividade junto a esta união, que é sinônimo de força.

Fundada com representação de alguns estados do país - inclusive do Maranhão - com a figura de conselheiros , a APASB já aponta algumas conquistas como a fundação de seccionais em Minas Gerais, Amazonas e aqui no Maranhão.

Assim como esses profissionais do todo o país,  aqui no Estado a entidade também chega em boa hora para ajudar, principalmente, na profissionalização e nas conquistas de direitos. Afinal, em São Luís, que tem uma das escolas mais antigas do Brasil - A Turma da Mangueira foi fundada em 1928 - temos sim tradição de samba no gogó e de samba no pé. Embora o segmento carnavalesco não receba o reconhecimento merecido e, muito menos o incentivo financeiro  necessário é perceptível que cada vez mais algumas escolas estão tentando de organizar.

Reunião de fundação da Seccional Maranhão da APASB

A Seccional Maranhão fora fundada sob as bênçãos da chuva de meio-dia do dia 18 de dezembro de 2021, em uma reunião na Praça dos Poetas no centro de São Luís. Estiveram presentes: Dhu Costa (Fundador), Milton Cunha (carnavalesco e comentarista de Desfiles de carnaval da Rede Globo), Enoque Silva (Destaque Grande Rio e escolhido Embaixador da seccional), Rivanio Santos (conselheiro da Seccional). Estiveram presentes também as Coordenadoras de Alas Thatylla Belfort (Mangueira e Marambaia), Talyene Melonio (Favela do Samba), Brenda Costa (Favela do Samba). Estiveram ainda as passistas Lígia Sá Neves da Costa (Mangueira), Alícia Keys - Favela do Samba/ Império Serrano (menor), Letícia Kele Ribeiro Pires (mãe da menor Alícia) e o Passistas Nadilson Torres (Mangueira / Marambaia). As Rainhas Rayna Madeira (Império Serrano slz) e Millena Mendonça (Favela do Samba é Conselheira) também participaram do momento histórico.

Dentre as diversas pautas foram debatidas, das quais se destacam: Fortalecimento da autoestima das pessoas pretas; Editais de Cultura e as reivindicações para reconhecimento através do acesso à editais com verbas direcionadas a cultura; Tipos de Editais: Pessoa Física, MEI e Pessoa Jurídica (CNPJ); Necessidade de criação de MEI para entrar nos editais de cultura; O Fortalecimento da classe através da associação de Passistas; Importância do associativismo negro no Brasil (exemplo: escolas de samba e associação de passistas); Ensino arte educação da história afro; Passistas tem fala e lugar de fala; Importância da mulher no Mercado Negro; União entre profissionais Passistas, inclusive do Maranhão; A sexualidade do passista homem no Samba  e o cuidado com o machismo e descriminação; Os gêneros no samba nos séculos passados (masculino e feminino); Atualização dos gêneros no samba 3° Milênio (masculino, feminino e os vários outros) e Fortalecimento do Festival Passistas SLZ realizado há 2 anos.

Participantes da reunião de fundação da APASB MARANHÃO 


Ficou nítida a empolgação dos participantes com o momento, mas, principalmente com as possibilidades futuras de conquistas que possam lhes trazer mais respeito, valorização, reconhecimento, incentivo e futuro profissional. Com a Criação da Seccional Maranhão da ABASP o primeiro passo é dado para realização de sonhos de uma categoria tantas vezes desacreditada e discriminada, mas com veias fortes onde circulam sangue de resistência. Viva o samba!  Viva o associativismo! Viva a união dos eus  nas buscas e conquistas  em prol do coletivo.
Axé!




segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O DEBOCHE NEGACIONISTA


Por Rivanio Almeida Santos.



Vi esta imagem sendo postada por vários conhecidos meus no facebook. Como sou ligado a cultura, turismo e ao carnaval venho com toda licença e respeito aí amigo quero dizer que desconcordo com a proposta do card postado.

 O carnaval vai além da Folia a que todos querem taxar como o resumo de tudo. A atividade carnavalesca vai muito além isso. Temos muitas pessoas que tem nesse período um meio de seu sustento e de sua família. Além dos cantores têm os trabalhos formais gerados, com contratação de músicos, iluminadores, escultores, pintores, marceneiro, eletricista, produtores, montadores, malharias, empresas gráficas, seguranças, por exemplo. Além disso, tem uma cadeia ainda maior de empresas (hotéis, restaurantes, farmácias, lanchonetes, bares) e trabalhos informais q se beneficiam com o período como vendedores de água, cerveja, refrigerante, churrasquinho, caçadores de reciclados... e muito mais. 

Depois nos eventos de carnaval apontado na imagem como fundamento para essa campanha sem nexo, é preciso lembrar que no ápice da pandemia, quando tinhamos a necessidade de ficar em não se casa, não tinha vacina ainda e a doença desconhecida avançava. É absolutamente incomparável e injusto comparar com hoje que temos mais da metade da população vacinada, as mortes caindo e os novos casos diminuindo. Tudo isso apesar da campanha contra de muitos. Aliás, essa imagem tem bem o perfil e a cara dos que foram contra o isolamento social e a vacina.

Há no carnaval uma grande cadeia produtiva que ainda assim ficaram todos esse período todo arcando as consequências e sem trabalho. Quando TODOS param essa galera já estava parada, exceto os casos de serviços essenciais. Contudo, muitos setores já voltaram há muito tempo. Agora que as atividades voltadas ao turismo, lazer e geração de renda através do entretenimento estão voltando alguém começa essa campanha irônica, debochada, usando a memória das vítimas do negacionismo e da irresponsabilidade pública brasileira. Uma piada totalmente vil e sem graça. Uma desgraçada total.

domingo, 14 de novembro de 2021

GRATIDÃO E ADEUS AO FALAFINA


Por Rivanio Almeida Santos 

 Também no domingo pela manhã eu pequeno acordava cedo, chamado pelo pai para ir à chácara pegar leite enquanto ele ia ao mercado comprar carne e a mãe passava o café e preparava os acompanhamentos do café da manhã e já iniciar os preparativos do almoço. Ao sair pela porta do terraço já via, ouvia e cumprimentava Seu Santinho, Seu Antônio Carpinteiro (o Caripina) conversando enquanto Seu Sebastião Falafina, em pé na calçada com as barras das calças dobradas até o joelho, escovava os dentes com um copo de alumínio com água nas mãos. Findado a higiene bucal se acocarava e ficavam por ali comentando os noticiários da TV da noite anterior e puxando brincadeira com quem passava pela rua.



Foi a voz fina e estridente, que rendeu ao Seu Sebastião apelido de Falafina, era marcante, inconfundível e rendiam as melhores gargalhadas que pude ouvir a vida toda. A mesma gargalhada que soltou quando foi lá em casa pedir o "picinez" do meu pai e eu sem perguntar o que era peguei a navalha de por Gillette de raspar barba. Quando percebeu gargalhou da minha ingenuidade e explicou do que se tratava. O picinez, na verdade  pincenê, nada mais é que o nome antigo dado aos óculos. Essa história pra mim é inesquecível.

Seu Sebastião sempre foi nosso vizinho, dos mais chegados. Um dos melhores amigos do meu pai, da minha família. Aliás, um dos melhores amigos de toda aquela gente. Apesar de dono um dos gênios mais fortes que já conheci, era uma pessoa de coração gigante. São muitas histórias que poderia mencionar que estão ligadas a minha memória afetiva. É impossível falar de minha infância sem mencionar o Falafina ou alguém da família Guimarães.

Renderia alguns capítulos a sua participação na Construção do Colégio Santa Teresa quando, salvo melhor memória, ele era o Presidente da Associação de Moradores. Ele sempre foi presente nas causas e na vida pública e política da comunidade.




Eu poderia escrever sobre o fato de sua casa ficar o dia inteiro aberta, tanto as portas da frente quando dos fundos. Um sinal da paz que era nossa Santa Teresa do Paruá e da confiança que ele tinha na gente daquele lugar. Aliás, sua casa mereceria um filme de suspense, pois eu morria de medo de passar a noite na calçada. Lá fora local do velório de seu filho, alem de alguns parentes ou amigos. Situações que viraram folclore entre as crianças da rua.

Poderia falar do homem que tinha, apesar do  estudo não muito aprofundado, perfil de gestor e espírito de liderança. Criava gado, quando era possível vendeu madeira - recordo dos troncos gigantes de árvores que nós brincávamos correndo sobre, ali do lado de casa -, vendeu estacas, acredito que negociou ouro pois alguns dos seus filhos trabalharam em garimpo (mas não tenho certeza) e foi dono de usina. Fora justamente nesse prédio da usina que foi instalado o primeiro hospital de Santa Teresa, o Hospital Cristo Rei (do Dr. Humberto. Marido da Dra. Olívia).

Era muito bom quando seus netos - Hildegardia, Erick e Édipo - que hoje moram em São Luís, mas dantes residiam em Taguatinga, cidade satélite Brasília, iam passar férias. Éramos como primos, vivíamos uns na casa dos outros brincando de tudo que era possível.

Recordo de um de seus aniversários - não sei de 50 ou 60 anos - deixou a cidade empolvorosa com o churrasco feito, para o qual vieram seus parentes que moram longe. Foi a primeira vez que vi um evento gravado em fita de vídeo, em que pude ver as pessoas ali de perto na TV. E foi pela telinha que vi a festa... eu era pequeno e meus pais não permitiram minha ida. Contudo, a atmosfera era festiva e já me deixava feliz.

Lembro bem que mandou matar um barrão que criava e Dona Raimunda, que trabalhou na sua casa por anos, fritou o toucinho transformando em torresmo. Eu na gula adolescente fazia um cone de papel de embrulho e ia encher de torresmo nas bacias que ficaram sobre a mesa da sala de jantar da casa.

Seu Bartião era pai do Claudionor (Boiô), da Ana Joaquina, Elza, Cláudio, Guimarães e do Claudimar e mais tarde da Lorrane, do seu casamento com a sua querida companheira Rosa. Sempre os melhores amigos das pessoas lá de casa. Pessoas que temos todo carinho, consideração e respeito. Recordo de que era um pai carinhoso com as meninas, com os rapazes um carinho mais contido, mas loucos por todos. Contudo, com os netos era sem barreiras. Um amor sem medidas. Era apaixonado pelas crianças.

Seu espírito público o levou a ser o segundo prefeito de Santa Teresa do Paruá, quando emancipada e recebeu a alcunha de Presidente Médici. Ele que já era parte da história oral da cidade, entrou pra história oficial.

As duas últimas vezes que o encontrei (aniversário de 60 anos de seu genro Nonato e quando veio fazer uma cirurgia) em São Luís, ela já bem idoso. Foram reencontros que me emocionaram. Foram como se eu estivesse reencontrando um pouco meu pai.

Quando meu faleceu ele foi um dos que mais sentiram.  Recordo da tristeza que ele e os demais amigos ficaram quando Juruca foi para o andar de cima... eles eram confidentes, conselheiros, ombro amigo, irmãos.

Hoje, 14 de novembro de 2021, aqui em São Luís o dia amanheceu nublado, ventinho frio, tristonho e mais silencioso que o normal para um domingo. Abri o celular e me deparei com uma nota de pesar anunciando o falecimento de Sebastião Guimarães Filho, o nosso querido Sebastião Falafina.  O sentimento é que mais um pouco do meu pai que se encontrava por aqui se foi.

Queria aqui registrar esses momentos vividos. Queria registrar o tamanho da importância desse ser humano na formação da nossa população em agentes um pouco mais políticos. E jamais poderia deixar de falar da sua presença nas memórias afetivas mais fortes e carinhosas da minha vida e da minha família.

Nossos sentimentos a todos da Família Guimarães, a família formada por todos seus amigos que conquistou.

Cala-se a fala fina, perde-se o Falafina, mas ficamos uma robusta memória da história de um homem que fez história.

Missão cumprida, hora de se retirar e descansar. Fica nossa gratidão.


domingo, 24 de outubro de 2021

SAMBA E CHORO GÊNEROS DEMOCRÁTICOS

 Estou em casa nesse momento vendo Enoque bordar sua fantasia para o Carnaval 2022 - para quem não sabe ele é Destaque da Grande Rio no Rio de Janeiro-. Meu corpo está exausto de tanto trabalho da semana. Mas, completamente agradecido a Deus por isso. Eu estava com saudade desse movimento. Coração feliz pelo fato de em 2 anos essa ser uma semana quase normal, como antes. Teve viagem a trabalho pela Vivo com eventos e prospecção de parceiros. E teve RicoChoro ComVida na área aberta do Museu Histórico e Artístico do Maranhão.


Público do Sarau RicoChoro ComVida no Museu Histórico e Artístico do Maranhão 


A noite de ontem foi mágica, chorinho, sambinha, poesias, pessoas queridas circulando, sorrindo com os olhos pra causa das máscaras. Foi um encontro maravilhoso de pessoas que gostam de boa música, todos apaixonados pelo samba e pelo chorinho. Baixos, altos, magros, gordos, pretos, amarelo, brancos, rosados, cabelos crespos, cabelos lisos, doutores, estudantes, pessoas de baixa escolaridade, gente rica, gente pobre, moradores da Península, moradores da área Itaqui Bacanga... enfim, todos curtindo a noite, a música, os encontros e as conversas com os olhos brilhando.

Como o chorinho e o samba são democrático e acolhedores, né? Isso é fabuloso. Durante o eventos de ontem eu tava refletindo sobre isso e hoje, domingo, 24 de outubro de 2021, vendo meu companheiro Enoque, bordando peças que vão compor sua fantasia de destaque principal de uma alegoria da Grande Rio, lá no Rio de Janeiro, me dar um orgulho enorme perceber isso esse espaço, pois não é um planejamento arquitetônico. Isso é! Só é! E só é  porque as partes têm sentimentos genuidos de respeito e reciprocidade. O samba, em especial de enredos, homenageam cantores como Zezé de Camargo, Chico Buarque, Elza Soares, Elis Regina, Roberto Carlos, Tom João,  Maria Bethânia, Ivete Sangalo, além de outros grandes brasileiros como Apresentador Silvio Santos, o jogador Pelé, o jornalista Assis Chateaubriand e Maestro João Carlos Diniz por exemplo. No mundo do samba é assim é amor em cima de alegria, é acolhimento em cima de hospitalidade. A própria história do samba e das Escolas de Samba mostram isso e como é lindo de ver.

O chorinho, que oficialmente é tido como carioca, sabe-se que no mesmo período do seu surgimento diversas outras cidades cidades país, inclusive aqui no meu Maranhão, tocavam músicas do gênero com características próprias. Hoje é um dos principais generos musicais brasileiros, junto do samba. Aliás, o próprio samba surgiu dos batuques vindo da África e incorporou outros elementos no Rio de Janeiro com influência também de pretos idos da Bahia.

Com o passar dos anos temos esses gêneros crescendo, evoluindo, surgem as escolas de samba e tal. Contudo, nunca, jamais perdeu sua característica de agregar e acolher quem mostra por ele afeto, confiança, verdade e reciprocidade. Querem exemplos? Seguem uns bem próximos a mim.

Ricarte Almeida Santos


O choro, talvez o mais desconfiado dos gêneros, talvez por duas músicas na maioria das vezes falar de amores, desilusões amorosas, dores de amor, eles vão acolhendo com o pé atrás, até caírem de amores. Meu irmão Ricarte, que apesar de não tocar nenhum instrumento musical e nem cantar, é dos maiores incentivadores do gênero no país. Apresenta o programa Chorinhos & Chorões há aproximadamente 30 anos e criou vários projetos para apresentações do gênero ao longo dos anos, como o de ontem à noite. Os grandes Chorões locais e nacionais dão o valor e a importância que o trabalho de Ricarte merece por tudo que têm feito até aqui, pois é inegável sua significativa contribuição para o crescimento do Chorinho em solos maranhenses. E ontem, além de encontro de  gerações havia no espaço pequenos empreendedores como forma de ajudar-lhes  em oportunidades de negócios.


Biné Gomes, eu e Enoque Silva com Joãosinho Trinta 

Do samba, que é mais festivo e mais  esfuziante tenho mais exemplos. Estes ligados às escolas de samba. Primeiro falo de João Trinta, de quem fui colaborador compondo sua última equipe de trabalho. Ele era maranhense e, ainda jovem, foi ao Rio de Janeiro realizar o sonho de ser bailarino.  Acabou carnavalesco da Acadêmicos do Salgueiro, Beija-flor, Vila Isabel e Grande Rio. Revolucionou o fazer escola de samba e é considerado o Gênio do Carnaval Brasileiro, pois seus feitos inspiram agremiações por todo país. Joãosinho representou o Brasil, através do carnaval, pelo mundo todo. Foram festas para sheiks, reis e príncipes.  Foi reverenciado por quase todos os brasileiros, a começar pelas agremiações por onde passou.

Enoque Silva em desfile da Grande Rio, 2021.

Outro exemplo é de dentro de casa e tem toda minha admiração. Enoque, meu companheiro de vida é um artista visual e carnavalesco maranhense de características físicas indígenas, morador de São Luís, e que tem 42 anos de trabalhos ligados ao carnaval dos quais há 25 compõe o quadro fixo de Destaques de Luxo da Acadêmicos do Grande Rio, que o acolhe com todo respeito. Isso dado seu investimento Artístico, logístico, sua entrega dedicada e caprichada à cada desfile.

Eu, Milton Cunha e Enoque Silva na Cidade do Samba.

Posso citar ainda o meu amigo, irmão de alma, um querido por quem tenho muito respeito e admiração por sua história e por tudo que me ensina e inspira. Milton é um homem branco, olhos verdes, paraense, nasceu em Soure (Ilha do Marajó) e foi criado em Belém. Foi para o Rio de Janeiro em busca de alçar grande voos. Seus caminhos o levaram a se tornar carnavalesco da Beija-flor, União da Ilha, Leandro, Unidos da Tijuca, São Clemente, Porto da Pedra, Viradouro e Cubango. Sua dedicação pelo trabalho, seu comprometimento e respeito por todas as escolas lhe renderam prestígio. Tornou-se o principal comentarista de carnaval da transmissão da Globo. Ele usa sua voz para dar visibilidade aos que fazem a escola que não são vistos no dia a dia. Ele usa sua voz e sua imagem para dentre tantos assuntos para fortalecer não somente os movimentos escola de samba, mas, o cenário cultural brasileiro como um todo. Ele é das artes como um todo.

Apesar das competições que na Marquês de Sapucaí são levadas muito a sério. Vejo que há, acima de tudo isso, um respeito a quem tem amor ao universo escola de samba. Isso já é o suficiente para ter o respeito de todos. Entretanto, quando a percepção é sobre uma Escola em específico o retorno pode ser ainda mais carregado de acolhimento, consideração e reciprocidade daquela escola. São muitos os exemplos de Intérpretes (antigos puxadores de samba - perdão pelo uso do termo Seu Jamelão), Passistas, Mestres-Sala, Portas-Bandeira, Diretores de Harmonia,  Mestre de Baterias que já transitaram entre várias Escolas e receberam acolhimento e reconhecimento.


Quitéria Chagas 

Nessa perspectiva posso citar Quitéria Chagas que tem uma história linda com o samba. Nasceu na Tijuca, mas sua história a levou ao Império Serrano, ao Cordão do Bola Preta, à Vila Isabel. Retornou à comunidade do morro da Serrinha. De passista foi Rainha da Bateria. Sua ligação, sua dedicação, sua atenção e seu amor ao samba e à própria Império a renderam o título de Eterna Rainha da Escola. Título dado pela após anunciar sua aposentadoria do cargo de Rainha da Bateria. A mulher foi adotada pela escola e pela comunidade a ponto de receber essa homenagem pela qual talvez nunca esperasse. Hoje é inspiração para meninas e mulheres na valorização da sua cultura e de sua gente quer seja nos desfiles ou em suas redes sociais - ela é um rainha bem descolada como uma boa influencer.

O samba, as escolas de samba, o Chorinho... esse universo é muito acolhedor, apesar de sempre terem sido diminuindo, anulados ou embranquecido por quem tinha a função de escrever, documentar a história nacional. Não ha muito tempo esse universo passou a ser objeto de estudo. Com o chorinho e o samba foi assim, mas nunca deixou de ser um ambiente democrático, hospitaleiro, acolhedor e, acima de tudo, feliz. Ontem o retorno do sarau  RicoChoro ComVida foi tão lindo, tão festivo que me deixou reflexivo, me fez lembrar tantas coisas boas que o samba e o chorinho tem me proporcionado, em especial os amigos como os que encontrei ontem e os que citei acima. E isso me fez feliz pra caramba. Que venham o próximo!

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

ANIVERSÁRIO DO PAPAI!

 



Não posso deixar de postar sobre o aniversário do meu pai, pois, muito antes de eu me preparar para comemorar o aniversário da minha querida São Luís, era para comemorar o seu aniversário que eu me preparava todo mês se setembro.

 Enquanto morei com esse "véi" do sorriso lindo, da gargalhada fácil eu começava o dia pondo o LP do Palhaço Carequinha e ele adorova. Ele tinha um humor diferenciado para hoje. Porém, tinha a solidariedade a flor da pele, do coração gigante e absolutamente da paz. 

 Quando da sua passagem ele era evangélico, mas, não o foi na maior parte de sua vida, e foi quando me ensinou o que era genuíno seu, o respeitar e o acolhimento a todos sem distinção. 

A minha relação em vida com o pai chegou a fazer bodas de Prata... foi pouco!!! Sinto que tínhamos muito a viver e aprender um com outro. Todas as vezes que nos falávamos dizíamos "te amo" um ao outro... foi muuuito pouco!!! Pois, tenho somente 42 anos e muita vontade e razão de dizer muitas vezes "Eu te amo, pops!". 

 Pai, obrigado pela mão abençoada que me livra de muitos finos nas ruas dessa vida louca. Te sinto no coração. Quanta saudade tenho de sentir ao seu abraço, cheio e voz. Tenho muuuita saudade de jantar pela segunda vez com o que o senhor deixa pra nas travessas, embora agora eu só faria companhia (não estragaria minha bariátrica, por nada... rsrsrs). Já o doce...rs Sinto saudade sem medidas quando vejo um por do sol na estrada e não vejo sua sombra vindo na sua "monark barra circula" apertando a campainha. E qdo ouço Gonzaga? 

 Mas, ó... apesar Neném do pai aqui sentir muita saudade, de chorar... vamos combinar algo... Não estou com pressa de fazer a passagem ainda, não. Tá? Então, aproveite que o senhor já deve ser amigo de gatos e cachorros aí em cima e Cuide para que nosso encontro demore mais, né? Rsrsrs

A vida aqui tá difícil, mas, sabe como é... a gente vai se virando e é apegado nessa vida, né mesmo? O senhor me entende. Só peça para manerarem a mão um pouco, que o parafuso tá apertado demais. A galera aqui embaixo precisa de um alívio. Entendido?

 Fica Combinado. Te amo! Parabéns!  

domingo, 29 de agosto de 2021

REGINALDO PEREIRA: UM BOM FRUTO DA FLORESTA E DO BOM JARDIM


Por Rivanio Almeida Santos 

 


           Artista plástico Reginaldo Pereira 

Sempre tive uma ligação forte com meus primos, em especial os do lado materno. Contudo, sempre tem alguém da família que não conhecemos. Há alguns meses nosso grupo de WhatsApp da família materna - Albuquerque Almeida - tem aumentado juntando nossos entes maravilhosos do Brasil todo. Através do meu Tio Avô Custódio, uma pessoa incrível, conheci vários parentes e soube de um primo de minha mãe (filho da sua tia Zeu, irmã do seu pai Manoca) que mora em Minas Gerais que seria Artista Plástico. Como sou ligado às artes fiquei curioso. 


Em pesquisa de redes sociais localizei REGINALDO PEREIRA e, lógico, houve uma aproximação, mesmo que Virtual, com o restante da família pelo "zap". Com o passar dos dias e das conversas fui conhecendo, além que um primo de segundo grau, um grande artista plástico e, mais que isso, um ser humano dono de um coração bom, além do normal. Quem estiver lendo esse texto e gostar de arte, de quem a produz arte, de trabalho social ou pelo menos de boa história, siga o fluxo e continue a leitura.

Reginaldo nasceu no Maranhão, mais precisamente na cidade Bom Jardim, àsmargens da BR-316. Enquanto morou por ali viveu o seu mundo pé no chão, literalmente, comotoda criança. Brincando descalço, correndo entre árvores, olhando macacos, papagaios, araras, tucanos, nadando no Rio Pindaré e seus afluentes... Regis era um pequeno garoto criando também na floresta, na região de reserva indígena do alto turi. Na adolescência, final dos anos 80, foi morar em Imperatriz, no sul do Estado, para ser desenhista e pintor de telas por estímulo de uma grande amiga. Aprimorou assim a sua técnica. Em 1997 foi morar em Minas Gerais a convite da decorada Maria Alice Derenusson. Ministrou aulas na escola de Maria Alice e, pouco tempo depois, abriu um espaço na Associação Uberabense de Artesões e Artistas, na cidade Uberaba, onde realiza pesquisas, faz seus estudos e ensina pintura a óleo sobre tela.

 O artista executando uma obra.

Obra de Reginaldo em decoração de apartamento.

Suas obras têm grande procura de arquitetos do país todo e normalmente são grandes telas ou painéis feitos por encomenda para residências de alto padrão. Inclusive, dias desses reconheci, através de uma postagem no Instagram,  um de seus trabalhos no apartamento de um casal de empresários aqui de São Luís.

Um artista reconhecido, inclusive fora do país, com trabalhos expostos na Europa, busca em seus trabalhos retratar a natureza através da fauna e flora da infância do pequeno Regis. A floresta Pré-Amazônica onde cresceu é o tema principal de suas telas. Grandes árvores, bananeiras, bromélias, rios, riachos, macacos, tucanos, papagaios, araras vermelhas, araras azuis, onças e, como não poderia deixar de ser, os índigenas da região. É maravilhoso ver que mesmo morando há bastante tempo fora do Maranhão, e mais ainda de Bom Jardim, a sua essência está ali, naquele pedaço de chão lindo que era cheio de muito verde, onde infelizmente volta e meia os povos originários, nossos indígenas, têm que se manifestar para terem seus direitos sejam respeitados e garantidos.

Apesar de eu ter descrevido lá em cima a parte lúdica de sua infância, ela não fora em nada fácil. Aliás, que facilidade tem a vida de crianças pobres nesse Brasil? Lembro que o  Maranhão sempre esteve figurando como um protagonista entre as UFs mais pobres do país.



Crianças associadas à Biblioteca Reginaldo Pereira nas oficinas oferecidas.

Em atitude generosa de retribuição a tudo que o destino, seus esforços, as bênçãos, as oportunidades, a sorte e, em especial, seu suor lhe deram, mesmo à distância, desenvolve um projeto lindo voltado às crianças da cidade onde nasceu. Em Bom Jardim instalou a Biblioteca Reginaldo Pereira, que está de portas abertas às crianças da região. Lá o atendimento vai  além do empréstimo de livros para pesquisas ou leituras. A biblioteca realiza concursos de recitação de poesia -  com premiação como incentivo extra de participação - , oficina de pinturas, plantação de semente de árvores e aulas de iniciação musical em flauta doce, violão e violino. 

Acadêmico da Academia de Letras do Brasil, ALB - Seccional Uberaba - o artista recebeu o título honorífico de Dr. Honoris Causa em Artes Plásticas pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das ciências, Letras e Artes, FEBACLA - RJ. Além deste título Reginaldo Pereira recebeu ainda a Comenda Maria Quitéria - Heroína da Patrícia e a Moção Honra ao mérito e prêmio da Academia Alternativa de Artes da Albânia em parceria com a Academia de Letras do Brasil (ALB) Seccional Uberaba, que homenageou brasileiros que contribuíram no ano de 2019 para o desenvolvimento das Ciências, Letras e Artes no Brasil e no mundo.

Cerimônia em que recebeu  títukos entre eles 

a Comenda Maria.


Quem acompanha ou tem oportunidade de conhecer um pouco sua história se encanta em ver seu trabalho e todo o reconhecimento que tem tido até aqui. Afinal, além de ter um trabalho de qualidade, prima por mostrar um tema que cada vez mais merece de cuidado e atenção - basta dar um Google sobre o aumento das queimadas no Brasil -. Talvez seja ousadia minha, mesmo assim insisto em dizer que o seu trabalho é ativista na defesa do meio ambiente através da sutileza, beleza e nobreza da natureza amazônica. Dá gosto de ver sua obra, dá gosto ver a sua satisfação por cada conquista profissional, mas, principalmente por conseguir realizar seu trabalho social através da sua biblioteca e dos anjos que compõem sua equipe à frente das atividades da Biblioteca. Sua vibração a cada ação realizada às suas crianças é contagiante. Dá orgulho de ver que no mundo ainda tem gente de bom coração e que um deles é do Maranhão e que temos algo em comum.

Reginaldo Pereira é maranhense, artista plástico, ativista ambiental, ativista social e tá fazendo uma revolução junto às crianças de Bom Jardim. Tenho certeza certeza esta revolução vai reverberar lá, no Brasil e no mundo de alguma forma. Regis é uma inspiração.



domingo, 1 de agosto de 2021

SIMONE BILES E OS SALTOS SOBRE OS GATILHOS

 

Simone Biles executando um salto.
Fonte: Site CNN Brasil

Em uma das minhas sessões com minha Psicóloga Bruna eu disse que pretendia escrever sobre ansiedade e o destino que ela pode levar o passageiro que despercebidamente embarca na viagem perigosa que ela induz qualquer um a fazer. A pretensão não era, e não é, falar como um profissional estudioso do caso, mas como alguém que tem passado a vida pulando desse trem que volta e meia quis descarrilhar. Eu não sabia como começar, um medinho de escrever e reviver os sentimentos ruins que nossos gatilhos produzem me fez fugir da promessa ate agora. Contudo, alguns acontecimentos lá no Japão me acionaram um gatilho de coragem. Chegou a hora de parar essa  procrastinação e não fugir a promessa que fiz, não somente à Bruna, mas a mim  mesmo. Ter coragem para expulsar de dentro de mim alguns fantasmas. E falar algumas verdades e pedir para que você que está lendo reflita e faça a autoanálise nas situações. 

Se havia alguém no planeta que não conhecia a ginasta americana Simone Biles, creio que agora conheceu. A maior promessa de medalhas de ouro das Olimpíadas do Japão (2021) tem desistido de competir das finais de provas que poderiam fazer a maior de todos dos atletas de todos os tempos. Ela desistiu de competir as finais das provas como a individual geral, de salto, de barras assimétricas e trave para cuidar de sua saúde mental. Muitos nem se deram ao trabalho de fazer um “justo” julgamento, se é que é possível, se não teria levantado toda a história dela e todas as situações que têm enfrentado para chegar onde chegou e entender a importância de sua decisão. Embora tenha recebido bastante apoio, alguns já a condenaram por sua atitude, afinal... “já tava lá mesmo, né? Que que custava?”... "era medo de fracassar já que estava errando nas execuções das provas e não levar ouro"... "pura estratégia por causa de patrocinadores"... Que seja, se as consequências, mesmo que financeiras, poderiam lhe prejudicar ainda mais sua vida profissional e consequentemente sua saúdepsíquica, foi sua melhor decisão. Quem nunca ficou mal quando a situação mexeu no bolso Que? Que sua saúde não pague o preço pelas frustrações alheias.

Daiane dos Santos, Jade Barbosa e Daniele Hipólito.
Fonte: Globo Esporte 

Lembra do caso de ginastas vitimas de assédio sexual por parte de um ex-técnico da seleção de ginástica brasileira, o Fernando de Carvalho Lopes? O que esses jovens devem ter passado só quem já passou por algo semelhante pode imaginar. Recordo que em 2008 o canal ESPN veiculou uma  matéria no programa Histórias do Esporte que fez a ginástica brasileira dar muitos pinotes descompassados. No episódio as ginastas Jade Barbosa, Laís Souza e Daiane dos Santos, falaram que  foram várias obrigadas a treinar até a exaustão e chegaram a competir lesionadas. E, para culminar, eram obrigadas a terem uma dieta de apenas 800 calorias diárias. Nem vou detalhar os casos de racismo e das circunstâncias homofóbicas não combatidas pelos dirigentes de equipes.

Circunstâncias de pressões como estas não acontecem somente na ginástica ou no meio esportivo. Fora desse "Olimpo de deuses  e heróis" fantasiados e taxados por todos nós estamos rodeados de pessoa que vivem esses dramas. Vide a sociedade dos cancelamentos das redes e o crescente número de abusos nesse período pandêmico a que temos tido conhecimento pelos noticiários diários - sem falar os que não vêm à público. Situações na maioria das vezes causas por pessoas próximas. 

Muitas pessoas estão passando por situações semelhantes de violências tais que lhes causam, se não hematomas na pele, feridas na alma que são sentidas através de taquicardia, calafrios, desespero, sentimento de ser o problama do mundo, de que nada sua vida tem dado certo e uma vontade louca de sumir do mundo e com a única certeza que nada daquilo passará. Estes sentimentos ou sensações são estartados pelo que se chama "gatilhos". Eles podem ser situações, pessoas, falas, atitudes, cheiros, acontecimentos, uma simples música ou outras formas de lembranças da causa do sofrimento. Algumas podem acontecer na infância e prejudicar muitos aspectos da vida adulta. Eu descobri as razões de minha dificuldade em aprender a língua inglesa. Trago alguns exemplos de acontecimentos que se tornam gatilhos emocionais traumáticos perigosos:

- Quando se nasce sobre a sobra alguém é TEM que ser igual aos seus ou melhor que os outros.

- Quando se TEM o peso de TER que ser o que seus pais esperam, que seus vizinhos desejam, que sua esposa ou marido sonha ou tudo aquilo que seus filhos desejam.

- Quando você TEM que seguir o padrão que a sociedade impõe a cada temporada de modas e modinhas fúteis.

- Quando você TEM que se esconder no armário, atrás da parede, de uma imagem, dentro do seu coração ou da cabeça.

- Quando você TEM que vestir algo para agradar os outros ou quando você deixar de vestir o que deseja.

- Quando TEM que se comportar conforme a vontade alheia ou se calar sobre o que deseja falar.

- Quando TEM que ficar sério do que te faz sorrir e ou tem que sorrir do que te desagrada, entristece ou fere.

- Quando TEM que tirar somente notas altas e mostrar boletins e históricos escolares azuis por ser filho, irmão ou simplesmente pelo fato de ter que provar que você é diferentemente melhor e superior do que o estereótipo que pintaram sobre pessoas como você.

- Quando você TEM que se submeter a violências psicológicas, físicas e sexuais por ser você - mulher, gays, crianças, pretos - Mesmo que você mesmo ainda nem entenda quem e como você é ou não tenha formas de reagir às circunstâncias.

- Quando ainda assim você TEM que ficar calado, pois as falas de quem te violenta junto às circunstâncias do medo te fazem se sentir culpado pelas violências sofrida por você.

- Quando você TEM que sofrer em silêncio sem conseguir gritar para pedir socorro.

- Quando mesmo assim você TEM que ganhar todas as medalhas, taças, faixas, campeonatos, disputas, concursos...

- Quando você TEM que se mostrar bem, imbatível, sorridente, brincalhão, divertido, competente e que nada te abate.

- Quando você decide exorcizar seus fantasmas e TEM medo do julgamento dos outros, principalmente de quem você esperaria apoio.

- E, pior, quando você passa a acreditar em todas essas “obrigações” do verbo TER que as pessoas depositam em você para agradar a tão somente a eles.

Todos esses exemplos nós que passamos por uma situação ou várias delas temos que passar sozinhos e vamos debitando no banco de nossas emoções, do saldo de nosso psicológico e a conta não fecha. Isso tudo é tóxico. Isso tudo é venenoso. Tudo isso é um caminho minado, pois quando se carrega TODAS estas cobranças – sim, TO-DAS! Elas nunca vêm sozinhas, nem em duplas. Elas explodem em nossa vida de uma só vez, no máximo uma atrás da outra -  sem avisa.... PAH!!!  PEI!!! BOOOM!!! De surpresa! E como quase nunca se consegue atender todas as expectativas alheias o sentimento de frustração toma conta, os olhares e falas de julgamento e cobranças nos fazem afundar no sentimento de incompetência e fracasso.

Em um passe de mágica a pessoa se vê dentro de um poço fundo, escuro, gelado, sem roupa, sem cobertor, sem corda pra subir e sem mãos para puxar pra fora dessa prisão. Somente enxerga as mãos que apontam e as bocas que os condenam à “frescura”, ao “exagero”, a “falta de razão”, à “falta de Deus” e à “fraqueza da mente humana”. São cobranças terceiras que adoecem as vítimas crerem que devem se autocobrar para atendê-las. São cobranças de uma expectativa que querem ditar o ritmo e os caminhos de vidas dos outros..E quando se está no fim do poço... quando não se vê saída... quando se sente que está sendo peso morto, u. fracasso, uma escória... qual o sentido de viver?  Para que viver se a dor interna é dilacerante, se nunca vai ser feliz conforme as pessoas querem que sejam? Tiram dessas pessoas a capacidade de enxergar a própria essência, de sentir as próprias vontades, de querer ser o que quiser ser e de viver o que as fazem felizes. 

Muitos não têm como enxergar o contexto geral de fora e ver que precisa de ajuda profissional. Outros até percebem, mas não têm condição ou apoio para tal. Só lhes resta desistir... E ainda assim, após tudo será condenado ao inferno ou purgatório pelos “juízes terrenos dos pecados alheios”.  Tiram desses até o direito a um julgamento no juízo final diante o Único que tudo ver e pode julgar, perdoar ou condenar. Mais uma vez digo, só quem viveu sabe.

Simone Biles 
Fonte: Internet 

A decisão da Simone Biles não é sobre ser fraca, não é sobre nadar, nadar e morrer na praia. A decisão da Simone Biles é sobre cansar de carregar nas costas não o seu mundo real, mas o mundo fantasioso que os outros constroem e querem que você carregue. Afinal, não basta você bater o sino e acompanhar a procissão. Impõem que você tenha que ainda distribuir hóstia, passar a batina do padre, rezar o terço, fazer coreografia, receber confissão – mas, não pode confessar -, rezar a missa, carregar o andor, ser a imagem, dirigir o carro de som e ainda ter que cantar “segura na mão de Deus e vai”.

A decisão de Simone Biles é sobre mostrar pra todos nós que chega do peso do verbo TER. Não “temos que” nada para agradar ninguém. E tá tudo certo! 

É preciso dar uma basta. É preciso que cada um se pergunte como está agindo com quem tá do nosso lado. Como está agindo com o pai, a mãe, o irmãos, o marido, a esposa, os filhos, os colegas de trabalho, seus vizinhos, seu amigo. Como está falando com eles...  Será que estou cobrando algo que não é de minha conta?  Será que muitas decisões e ações do meu vizinho não tem a ver com o que ele aprendeu como certo? Será se meu colega já foi vítima de algum traumas ou alguma situação de violência que lhe causou danos interiores? O que me interessa se aquele casal de amigos casados há tanto tempo ainda não tem filhos? Será que falar do aumento ou diminuição do peso de alguém não fere a pessoa? Será que cobrar por uma vida de sucesso, dentro do  que eu julgo ser sucesso,  não é inconveniente? Porque o fato de fulano ser de alguma letra dentre os LGBTQIA+ me afeta tanto? Será que não estou querendo que as pessoas ao meu redor tenham a vida que eu queria ter - e não tive – para me agradar? Será que as pessoas não podem ter seus gostos e suas vontades? Será as pessoas não podem viver suas próprias vidas conforme elas queiram ou estejam dentro do seu possível? Será que se eu não sou o gatilho de ansiedade de alguém que digo gostar? E se tudo isso fosse comigo? 

Aos mais corajosos... eu diria pergunte a uma pessoa que você gosta se está sendo tóxico com ela em algum aspecto da vida. 

Se algum das respostas for positiva... é melhor parar!  Você pode tá adoecendo alguém.


sábado, 22 de maio de 2021

VOCÊ JÁ SABE O QUE É VELHICIDADES?

 

Eu sempre fui apaixonado pela mágica da fotografia e, como um autêntico leonino, pelas fotografias que tinham a minha imagem - hoje sigo bem menos narcisista. Depois passei a registrar os momentos em família, em especial dos meus sobrinhos. Segui assim até que passei a registrar em imagens as razões da minha paixão por pela capital maranhense - os patrimônios arquitetônico e culturais - nos ângulos que as esses patrimônios mesmos se lançam ao meu olhar "pedindo" um registro. 

Esse meu olhar de amor pela cidade, me fez cada vez mais tentar fazer algo por todo esse patrimônio. Pensando nisso, e após decidir largar o curso de Licenciatura em Educação Artística na Universidade Federal por falta de, dentre tantas coisas, identificação com o objetivo do curso - naquele momento não quis ser professor -, decidi fazer o Curso de Turismo na FACAM, uma faculdade particular local.

Era 2005, um ano supermarcante na minha vida, foi a faculdade que também me ajudou a superar a perda do meu pai, vítima de um infarto fulminante. Me entreguei e me apeguei ainda mais ao curso, aos trabalhos, pesquisas, colegas, a minha paixão pela fotografia e aos professores.  Estes, aliás, foram sempre incentivadores e inspiradores exemplos de comprometimento com o qualidade do processo educacional completo. TODOS foram incríveis!

Dentre os mestres que tive a honra de ser aluno, estava a Professora Doutora em Educação e Mestra em Gerontologia Terezinha de Jesus Campos de Lima, Turismóloga com experiências em lazer, hospitalidade, turismo, educação e que já atuava na área de Gerontologia na Universidade da Terceira Idade (UFMA) com temas tais como envelhecimento/velhice, velhice rural, lazer e turismo.  A Professora sempre foi admiradora e grande incentivadora das minhas capacidades ligadas às questões fotográficas. Vínhamos saiamos há bastante tempo conversas sobre algum projeto juntos ligado aos idosos. Anos depois ela tornou-se professora do Curso de Turismo do IFMA, mas nunca abandonou o tema da gerontologia. E dentre suas ocupações é hoje Líder do Grupo de Pesquisa Velhice, Cultura e Sociedade/GEVCS-IFMA-CNPq e com o qual faz um trabalho de extensão, chamado VELHICIDADES.

O tempo foi passando e ainda não tinha rolado o "nosso projeto". Em 2020, no alto crista da primeira onda desta tempestade que estamos passando, ela me liga com uma preocupação pertinente e uma proposta linda, necessaria e, portanto, irrecusável voltado ao Velhicidades. E qual era essa proposta? Bom, sabemos que esse último ano foi difícil para todos, e para os nossos velhinhos foi ainda pior, a ideia então era levar atividades a esse público assistido pelo Grupo de Pesquisa junto a Casa Happy, instituição de longa permanência de idosos,  atrás da arte-educação por meio das minhas fotografia de Patrimônios e Monumentos de São Luís. Topei na hora, escolhi e disponibilizei alguns registros para serem transformados em rascunhos, que seriam reimaginados, recriados, repintados... e foram então docemente revisitados pelos senhores e senhoras em questão. Era ou não uma proposta irresistível? Que ideia maravilhosa... contribuir com a diminuição da ociosidade, da solidão, do medo, das incertezas e da vulnerabilidade dos riscos à saúde - física e mental - de pessoas idosas.

Agora em 2021, há alguns dias, Professora Terezinha entra em contato comigo pelo "zap" me falando de uma parceria do Grupo de Pesquisa com o Marvore - Museu da Árvore, um pequeno museu de ideias (como  é descrito no perfil do Instagram) - que se inscreveu para participar da 19a Semana Nacional dos Museus, de 17 a 23 de maio - realizado virtualmente. E sendo o tema de ano "O Futuro do Museus: Reimaginar e Reconstruir", houve um casamento perfeito com o projeto realizado em junho do ano passado (2020), pois ele propunha isso... um reimaginar os patrimônios capturados naquelas fotos com a liberdade e criatividade dos idosos e seus sentimentos, experiências, conhecimentos e lembranças para reconstruir um novo hoje imaginário aos Monumentos de outrora e, sobretudo, gerar um novo sentimento nesses idosos diante o turbilhão de novidades distanciantes que desde então passaram a viver. E a partir dessa união - Pandemia, Grupo de Pesquisa, Marvore, Semana de Museus, os Idosos, eu, Patrimônio, Monumentos, Fotografia e Virtualidade - nasceu a "Exposição Velhicidades: A Velhice em tempo de Pandemia" no perfil do Instagram do Grupo de Pesquisa (@gerontologia.ifma), que já está disponível para apreciação de todos. Esta é a 4a Edição da Exposição Velhicidades, que vem sob o chamado "A VELHICE EM TEMPOS DE PANDEMIA" e objetiva dar visibilidade à situação da pessoa idosa nesse contexto pandêmico.


Você, leitor, não faz ideia do quanto eu fico cheio de orgulho dessa exposição virtual, e tudo e todos que estão envolvidos para sua realização, pois, ela retrata um trabalho que vai além do ambiente acadêmico. Reflete a grandiosidade e a responsabilidade do espírito humano, uma preocupação e ação que deveria ser de todos - preservar a saúde, física e mental, daqueles que já plantaram, contribuiram para sombra de muitos e mereciam agora colher os frutos -. Essa exposição ainda reflete a necessidade de  pararmos para pensar no hoje, quando - apesar das reclamações do Ministro - todos nós queremos viver muito um amanhã longo e diferente. Ademais precisamos respeitar, valorizar e proteger nosso passado e quem o fez.

Esse conjunto de trabalho me dá ainda mais motivação em continuar fazendo os meus registros e fortalecendo a vontade de contribuir às causas relevantes tal como essa e levar um olhar de carinho sobre nossa cidade ao público em geral. Sempre recebo comentários motivadores de pessoas que nem conheço e de amigos como Denyse Cardoso, que me disse em uma mensagem hoje: "Vendo suas fotos é que eu vou puxar pela memória a lembrança de que eu ja estive naquele lugar. Isso me faz pensar que eu devo abrir mais os olhos (...). Mas, abrir os olhos pra apreciar o que minha cidade tem. Tem gente que viaja até aqui em busca dessa história, de conhecimento, de fotos. Eu tô aqui e não estou aproveitando. Obrigada amigo". Mensagens como esta, trabalhos como o Velhicidades, a iniciativa do Marvore, a exposição, a dedicação de todos os profissionais e acadêmicos envolvidos e, acima de tudo, os resultados alcançados juntos a esses idosos fazem valer a pena cada registro que faço, edito, legendo e público. Até mesmo os  que me levam um pouco de sangue, literalmente falando.

Por hoje é só... mas, para entender direitinho do que tô falando, vai lá no perfil deles, vira seguidor para ficar por dentro de tudo e curte a exposição. Segue o link: 

https://instagram.com/gerontologia.ifma?utm_medium=copy_link


Fui!



domingo, 16 de maio de 2021

BRASIL IMPERIAL


Desde criança minha cabeça sempre trabalhou muito para entender as lições da escola. Foram anos estudando apenas através do que os professores escreviam na lousa verde da sala de aula, do que explicavam e dos resumos dos temas em textos datilografados que nos eram entregues em cópias mimiografadas com as letras roxas por causa do carbono utilizado e que, muitas vezes, ainda chegavam com cheiro do álcool da impressão. Os livros eram raros, até pelas condições da cidade onde vivia. Para ajudar na compreensão do que ouvia e lia eu usava minha imaginação - muito aguçada pelas novelas de época - principalmente nas aulas de história, que sempre me fascinaram. 

Quando visitei a capital pela primeira vez,  minha irmã Rogener foi a guia e a primeira saida que fizemos foi para o bairro da Praia Grande, que muitos chama de Reviver. Parece que eu pulei para dentro da minha mente, eu entrei em transe, viajei no tempo, entrei no mundo dos textos, das novelas "Escrava Isaura", "Direito de Amar" e até "Que Rei Sou Eu mudei?"... como as novelas me ajudaram a estimular a imaginação, embora não retratassem as histórias reais.

Quando mudei de fato para São Luís, as coisas mudaram um pouco em relação as ferramentas de ensino. Aqui as escolas tinham mais acesso a recursos que no interior não tínhamos. Meus professores de lá transmitiam tudo na didática possível, praticamente no gogó (minha gratidão a eles sempre). Já aqui tínhamos os recursos de vídeos de filmes, documentários, passeios nas ruas, visitas à museus, bibliotecas e centros culturais, por exemplo. E, por falar em filmes, vale lembrar Carlota Joaquina - a princesa do Brasil foi boa parte rodado em São Luís (vários amigos e professores atuaram nele). O filme de Carla Camurati, foi lançado em janeiro de 1995, mês e ano que cheguei, é marco na retomada do cinema nacional e fala da chegada e estada da família real no Brasil. Uma película me abriu ainda mais a mente  a compreensão e o orgulho de ver meu Maranhão na tela.

Estes dias procurando algo para assistir no fim de semana descobri na plataforma de streaming Amazon Prime Vídeo a série brasileira "Brasil Imperial", produzido pela Fundação Cesgranrio, escrita por  Antônio Ernesto Martins e dirigida por Alexandre Machafer. Após 25 anos do filme de Camurati a série, que ficará disponível ao público do Brasil, Portugal e Africa tem 1 temporada dividida em 10 episódios onde são mostradas desde as motivações da vinda da Família Real - fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte -, bem como a chegada, os conflitos em terras brasileiras até o retorno de D. Pedro I para Portugal. Sem esquecer suas aventuras, seus casamentos, o romance com Domitila de Castro (a Marquesa de Santos), o início dos movimentos abolicionista, os republicanos... Confesso que comecei assistindo como quem não quer nada... e me apaixonei pelo trabalho, que tem atores e atrizes talentosíssimos, um texto de fácil compreensão - eu diria até didática - que ajuda muito no entendimento dos contextos dos acontecimentos. E o que falar da fotografia, iluminação, figurino, locações e cenários? De cuidado e caprichoso primoroso.

Além do contexto geral, chamou-me atenção, o personagem Arrebita, primeiro protagonista do ator alagoano, Oscar Calixto. Ele entrega ao personagem até aquela verdade que só vemos no fundo do olho. Curiosamente o personagem é um dos únicos que são ficcionais na trama, mas foram criados com nuances de histórias reais e situações da época apontadas em pesquisas, textos e cartas. A outra ficcional presença é da forte Ana do Congo, sua esposa na trama, vivida por Jéssica Córes (a Camila de Cidade Invisível - Netflix). Vale ressaltar que essa mulher é também de um talento visceral, além de possuir beleza e elegância indiscutíveis. 

Arrebita e Ana do Congo


Funcionário da corte real, Arrebida, se apaixonou pela bela Ana do Congo, uma mulher escravizada. Enfrentaram juntos preconceitos raciais l até conseguir liberdade dela. Casaram-se e tevieram filhos. Associando o fato de ser um homem perspicaz, inteligente e que tinha leitura, uma situação específica na trama - não digo qual para que a curiosidade também seja razões pra você assistir - o tornou um homem ainda mais corajoso, um português ativo nas lutas pelos direitos do povo brasileiro. O enredo em torno desse casal me chamou atenção por algo pessoal, obviamente de época diferente. Meus pais enfrentaram situações de preconceitos quando decidiram casar, pelo fato dela ser branca (moça prendada da roça) e ele preto (trabalhador do comércio da cidade). Casaram tiveram filhos que, parte deles, trabalham para garantir aos maranhenses, aos brasileiros e até imigrantes direitos à respeito, educação, liberdade e  igualdade.

Estava refletindo com isso que quem decide enfrentar a vida para viver sua essência, seus amores e suas verdades é cobrado a pagar um alto preço, mesmo que não deva a ninguém. O que me chamou atenção no Arrebita, foi essa coragem de sair da "comodidade" de um homem branco da época para se tornar marido da preta escravizada, mesmo que forra, e enfrentar tudo que essa posição acarretava - e ainda acarreta -. É uma decisão de coragem, muita coragem. Pois o ser preto, já dava à pessoa a consciência do que vai encontrar no dia a dia e a consciência das dores que viriam. Agora se colocar assumidamente numa situação marital, de parceiro ou companheiro sem saber o grau das dores de ser alvo dos preconceitos de alguém é um ato de coragem, e, sobretudo, de amor. Isso sempre admirei na minha mãe, e que me inspira sempre e fundamenta muitas decisões minhas.

Oscar Calixto (Foto: Divulgação)


A escolha de Oscar Calixto para viver o personagem foi muito acertada. Um profissional com 22 anos de carreira com trabalhos no cinema, teatro e TV. Ele foi cirúrgico na composição do jovem que se torna um bravo homem.  O ator, além de talentoso é um cabra de uma generosidade incrível - após assistir aos 10 episódios passei a seguir seu perfil no Instagram, ele me deu boas vindas e conversamos um pouco, tempo suficiente para me contar que conhece o Maranhão e que seu pai mora em Olho D'água das Cunhãs, cidade do interior do Estado que ficam entre Santa Inês, Bacabal e Vitorino Freire. Fiquei ainda mais feliz em conhecer um pouquinho mais da história do artista. Viva o Nordeste!!!

É isso... deixo minha dica para pais, professores, escolas e quem quiser relembrar a história brasileira a usarem, em especial nesse momentos e distanciamento social, a série Brasil Imperial como uma fonte entretenimento e, sobretudo, de conhecimento. Até pelo fato de que quem busca conhecer a história não compactua com golpes, insanidades e nem com o que é considerado genocídio.