domingo, 8 de janeiro de 2023

WE DON'T SPEAK ENGLISH! Meus dias na terra da rainha

 Hoje é domingo, 08 de janeiro de 2023, e eu só não amanheci com vontade de não fazer nada porque estou com vontade de escrever. E, na procura de um tema interessante, me deparei pelo Instagram com o perfil de Beliza, uma colega de trabalho, com fotos de suas férias em Londres. Então quis compartilhar sobre minha experiência naquela cidade, não para me aparecer, mas para eu possa revisitar aqueles momentos e possa reviver momentos incríveis e que eu poderia ter aproveitado mais.


Era agosto de 2016 quando, Enoque e eu, embarcamos rumo à terra da rainha. Fomos a convite de nosso amigo, carnavalesco e comentarista de carnaval, Milton Cunha, que estaria sendo homenageado por uma escola de samba inglesa, a Paraiso School Of Samba, com o enredo  "Milton Cunha: Carnaval é Cultura", nome de seu livro recém lançado. O desfile seria, como todos os anos, no carnaval de Notting Hill, o maior festival de rua da Europa, que é um grande evento anual que acontece desde 1965. Aliás, o desfile foi uma coisa de louco! Parase ter uma noção a concentração começou às 9h da manhã em west kensington. De lá andamos por 1 hora sem parar, com  a escola mon-ta-da para então chegarmos ao local do início do desfile que durou nada mais e nada menos que 3 horas sob um solzinho considerável.





O desfile foi o epicentro da viagem, pois foi a razão da viagem em si. Mas eu, particularmente, pouco aproveitei do desfile e da viagem... Vamos aos fatos. Eu estava, antes da viagem, curtindo tudo cada momento e cada etapa das providências e tal, pois, a apesar de Enoque e eu, não falarmos patavina na língua inglesa nós teríamos as companhias de três amigos queridos – o próprio Milton, Dhu Costa (seu marido e passista de samba) e Thiago Avante (destaque de carnaval no RJ) – que falam muito bem aquela língua. Na ida eu tive uma leve preocupação de como seria nossa entrada no país dada nossa limitação com o idioma. Contudo, nosso amigo Thiago nos encontrou em Lisboa e fomos no mesmo voo ao nosso destino. Isso me tirou a preocupação. Daí tudo ia bem até eu ficar sabendo que, exceto Enoque e eu, os demais seguiriam para outros países encontrar outros amigos e curtirem mais alguns dias de férias.

A partir de então começou meu tormento... kkkkkkkkkkk Como seria que nós iríamos nos virar para pegar um taxi e chegar até o aeroporto Heathrow que é o maior aeroporto de Londres, um dos maiores do mundo e o mais movimentado da Europa, era minha preocupação e minha nova companhia na viagem inteira. Quem tem ansiedade sabe como uma situação como essa pode se tornar um monstro. Foi o que aconteceu!

O idioma inglês virou um monstro e a minha futura viagem do hotel, no centro de capital inglesa, até o aeroporto se tornou um pesadelo. E, para mim,  toda a viagem foi marcada por essa sombra de preocupação. Passeamos de routmasters  - os ônibus de dois andares vermelhos -  visitando diversos pontos turísticos, fomos ao Big Ben, Palácio de Buckingham e passamos pela abadia de Westminster -  onde casaram Rainha Elizabeth 2ª e o Príncipe Philip, Príncipe William e Kate Middleton e onde fora o funeral da Princesa Diana -  atravessamos a pé a Tower Bridge - que é a mais conhecida ponte de Londres -.





Por todos os caminhos que passamos e por cada lugar visitado a sombra do pavor vinha a minha mente e eu me perguntava “como vou me virar para que nada saia errado em nossa volta?” Geeeente.... A pior coisa da vida é ter ansiedade... Rsrsrrskkkkkkkkkkkk essa praga me fez aproveitar muito pouco da viagem.

Ainda assistimos ao musical Phantom of the Opera no Her Majesty's Theatre, visitamos a National Gallery para vermos as obras que só vemos em livro de artes e, para comemoramos o sucesso do desfile da escola de samba, jantamos no Oblix Restaurant - no The Shard, o edifício em forma de pirâmide, que é o mais alto da cidade -. Em nada ou lugar algum eu conseguia relaxar, nem tomando os prossecos incríveis todos os dias. Imaginem que no hotel a comunicação já rolava apenas pelo google tradutor, usando wi-fi, fora dali, sem essa ferramenta dos deuses, seria um desastre.



Chegou então o dia da volta. Para facilitar, uma vez que meu pacote de romming internacional tinha acabado e o google tradutor demora demais pra quem é ansioso, pedi ajuda para Milton para agendar um taxi – com taxista que falasse português -  na recepção do hotel. Ficou marcado então para as 04 da madrugada, pois nas condições que estávamos precisaríamos ter tempo para resolver qualquer imprevisto e ainda chegarmos ao aeroporto em tempo de pegarmos o voo para Lisboa, onde faríamos conexão novamente.

Enoque é precavido, por isso gosta de se antecipar nas viagens e eu sou daqueles ansiosos que liga o despertador e antes do horário deles despertar eu acordo para desligar. Assim sendo, às 03 horas da madruga já estávamos na recepção do hotel, quando chegou um taxi para deixar um hospede no hotel em frete ao que estávamos saindo. Pelo google tradutor perguntei se era o nosso e o recepcionista disse que sim. Acreditamos e fomos!

Ao entrarmos nos veículo me sentei no banco da frente e Enoque no banco de trás. Mostrei então a passagem como nome do aeroporto e o terminal que deveríamos ficar. Fomos os três calados até que o motorista pergunta:

- Where are you from?

-  Oi?! Respondi...

- Where are you from? Ele repetiu e eu lembrei da minha lição do livro de inglês eu decorei na época. Então respondi

- Brazil.

Ele arregalou os olhos e repetiu e fazendo uma nova pergunta que não entendi disse:

-Brazil?!...  how will they pay?

- I (EU) NO ENTENDÓ!... WE DON'T SPEAK ENGLISH! (não sei por qual razão que brasileiro que não fala inglês tem mania de falar alto).

Ele, depois de pensar um pouco  então mostrou um cartão de crédito e uma cédula de libra. Só aí entendemos que ele perguntava como iríamos fazer o seu pagamento pela viagem. Fiquei chateado pelo preconceito dele em associado Brazil ao pagamento... deve ter pensado que iríamos dar um golpe ou lhe roubar. Afinal sabemos que a fala de malandro do brasileiro corre o mundo e vai longe.

Respondido ao seu questionamento mostrando as cédulas de libras na porta-cédulas  decidi devolver a pergunta inicial:

- Where are you from?

Ele então respondeu:

- Pakistan.

- what???? (meu inglês de Greenville – pesquise no google sobre a novela A Indomada).

- Pakistan. Ele repetiu.

Foi aí que assimilei a resposta e virei para Enoque com minha pior cara de pavor e disse:

- Enoooque ele é do Paquistãããão... Homem boooomba!!!!

Dali então fiquei apavorado de um lado e o taxista de outro. Ninguém falava mais nada. Tudo que ouvia era as batidas do meu coração. E tudo que víamos era a escuridão da estrada àquela hora. A minha cabeça já estava a mil. O medo misturado com a ansiedade quase me tira dali e me faz sair correndo. Mas, eu não saberia o caminho correto. Passava pela minha cabeça apavorada que era melhor esperar até ele fazer conosco o que ele tinha planejado.

A distância entre o hotel e o aeroporto era como Centro de São Luís e a cidade de Santa Rita, interior do Maranhão. E naquele momento era como se eu estivesse atravessando o campo de Peris, sem nada pela frente... o caminho parecia que esticava e eu não via nem de o clarão que certamente as luzes do aeroporto fariam de longe. Eu tinha certeza que estava sendo vítima de um atentado terrorista.

Rodamos ainda por quase uma hora até começarmos a ver as placas indicativa de que estávamos no destino correto. Meu coração voltou a bater e minha respiração parecia que queria voltar. E eu percebia nitidamente que o pavor dantes estampado no rosto dele também estava se dissipando. Acho que ouvi o pensamento dele... dizia algo como: “Ufa! Vou chegar antes deles me roubarem e se eles não me pagarem eu chamo a polícia do aeroporto.” Kkkkkkkkkkkkkkkk

Quando finalmente chegamos ao terminal 2 do aeroporto Heathrow e todos vimos a polícia o alívio foi geral. Quando pagamos a viagem a bagatela de 90 libras – que estava equivalente a 450 reais – ele expôs seu sorriso mais cordial daquela longa viagem eu o sorriso mais grato e aliviado da vida inteira.  E ainda arrisquei todo o restante do meu vocabulário inglês decorado nas aulas do 1º CI:

- Thank you and sorry!!!

E ele só dizia:

- Thank you! Thank you! Thank you!... enquanto entrava correndinho no veículo e ia “aterrorizar” outros passageiros pela vida. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk

 

E nós seguimos passeando pelo aeroporto até o horário de nosso voo. Sem nem reclamar ´pelo valor pago por aquela viagem. Loucos para chegarmos em casa, o que já começamos a sentir quando chegamos ao aeroporto de Lisboa.

 

Apesar de hoje eu conseguir sorrir e saber que aquela foi  uma das viagens mais incríveis da minha vida, no decorrer dela eu não soube, aliás, eu não pude aproveitar mais da magia que tudo estava envolvido por causa da minha ansiedade. E isso é tão sério que passei a tratar em terapia após a chegada em São Luís. Melhorei um pouco, ou pelo menos, hoje, tralho com medicamentos. Mas, meu inglês... continua o mesmo e sem previsão de melhora. E a única certeza que tenho é que minha próxima viagem internacional será para algum país que fale português ou, quando muito, espanhol.