sábado, 1 de abril de 2023

TEMPOS DE CHUVA, BOAS MEMÓRIAS E TEMPOS DIFÍCEIS




Enfim chegou abril e ele começa com muita chuva me deixando apreensivo com as cidades do Maranhão que já tem sofrido com os temporais que chegaram com 2023. Cidades como Pedreiras, Trizidela do Vale, Bacabal, Imperatriz, Esperantinópolis e Buriticupu têm passado maus bocados por contas da quantidade de água que tem caído e alagado suas ruas. E não são apenas elas, já são mais de 40 cidades em emergência que precisam de mais atenção dos poderes públicos e sinalizam, mais uma vez, nossa necessidade de revermos nossa relação com a natureza enquanto talvez tenhamos tempo.


Vendo tantas notícias sobre a situação de enchentes, alagamento, crateras, falésias e assoreamento em cidades maranhenses recordo que nem sempre fora assim. Os anos vão passando, vamos degradando a natureza ao nosso redor e sofrendo as consequências de nosso vandalismo. Recordo que lá em 1992, houve no Rio de Janeiro a Eco 92, que foi a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Trocando em miúdos foi um encontro de líderes mundiais para discutirem e definirem um novo caminho e o que seria feito para mudarem o rumo que as coisas estavam tomando no que dizia respeito as questões ecológica do planeta. Trouxe à tona debates importantes sobre um modelo de desenvolvimento ambientalmente sustentável.


O que naquele momento poderia ser um tema distante para muitos, principalmente para quem já vivia nos grandes centros, para nós, aluno do Colégio Santa Teresa da pequena Santa Teresa do Paruá já era um assunto de máxima importância e urgência. Pois, durante os dias que os líderes debatiam no Rio de Janeiro, nós alunos das então 4ª a 8ª série também debatíamos sobre os temas, através de pensamentos dos próprios alunos sobre os temas relacionados a questões ambientais. Cada dia um pensamento novo e um novo debate. Discussões que despertou na gente preocupação com o meio ambiente que retrazemos até hoje.

               

Ruas de Santa Teresa do Paruá nos anos 1980


     Vejamos, Santa Teresa do Paruá, hoje oficializada como Presidente Médici, é uma cidade localizado a oeste do Estado do Maranhão, na macrorregião do Alto Turi e Gurupi e microrregião do Pindaré, na chamada Amazônia Maranhense. Com estas informações já dá para imaginar como era a Santa Teresa, e as cidades adjacentes,  da minha infância nos anos 1980. Éramos rodeados de matas que mesclavam grandes árvores amazônicas e palmeiras de babaçu , que davam sustento de muitas quebradeiras de cocos.


Minhas lembranças dessa época são muitas e quero compartilhar algumas que foram ficando cada vez mais raras de acontecer. Recordo, por exemplo, do amanhecer recoberto de neblina. As vezes era tanta que não conseguíamos enxergar quem estava na calçada da casa vizinha, quer da casa defronte ou das casas laterais. A quantidade de neblina por vezes tornava ainda mais perigosa atividades então simples – a necessidade faz com que algumas afazeres não pareçam perigosos - como ir, aos meus 10 ou 11 anos, beirando a BR-316 pedalando minha pequena monareta cinza prateada  à chácara pegar o leite das poucas vacas que tínhamos, mas que ajudaram muito na nossa criação.

Eu na mata de Presidente Médici em 1992.


Recordo também do período de chuva... de enchente só lembro de uma que inundou a casa do meu vizinho Domingos Araújo. Não recordo de outra. Lembro sim que o então povoado ainda não tinha ruas asfaltadas e quando as chuvas estavam chegando faziam subir um cheiro de terra molhada ma-ra-vi-lhooo-so!!!!! Eu corria sobre a areia quente sendo molhada pelos primeiros pingos das chuvas para sentir aquele cheiro que muito me agravada. Outra coisa memória que qualquer chuva me traz é a correnteza que se formava no meio da rua, onde eu brincava com o meninos – Orisfran, Clayrerison, Sanclay, Santídio, Rosivano, Rosimano, dentre outros... (detalhe para os nomes diferentérrimos, que são uma atração a aparte rsrsrs) -.  Costumávamos brincar de corridas, durante a chuva nós mesmos corríamos no meio da água e quando a chuva passava fazíamos barquinhos de papel que soltávamos nas ondulações das águas pluviais.

Minha Casa nos anos 1990


Lembro ainda que próximo à minha casa,  na Rua São José, ou Rua do Gogó - esquina com a casa de Seu Mariano Branco (depois vendida ao Seu Domingos Brígida) - tinha uma parte  baixa a qual a cada chuva enxia com muita água vinda dos quintas das casas vizinhas. Lá muitas crianças brincavam antes e depois das chuvas, mas lá eu era proibido de brincar por cauda das condições de sujeira que as águas traziam dos referidos quintais vizinhos. Eu então pegava a monareta e ia pedalar sobre uma estreita ponte de madeira para ver as outras crianças de divertido e eu pelo menos interagir de alguma forma. Assim eu também me divertia.


As chuvas desse ano deixam-me saudosista pelas minhas boas lembranças e por saber que muitas pessoas, de outras cidades, também têm em suas memórias boas recordações desse fenômeno natural tão fundamental à vida. Mas, essas chuvas têm me deixado cada mais preocupado com o destino da humanidade, em especial daquelas pessoas que estão sofrendo com o hoje por conta das enchentes e, no caso de Buriticupu, com o risco de a cidade sumir do mapa por conta das falésias que estão engolindo casas e até ruas.


Estamos vivendo dias preocupantes para uns, desesperadores para outros, mas difíceis para todos. Vivemos dias que carecem de ação urgente de forma geral. Precisamos de ação imediatas dos poderes públicos e órgãos governamentais, mas, sobretudo, de mudanças de atitudes e estilo de  vida por parte de nós, seres humanos, os únicos responsáveis por tudo isso que vem nos maltratando e nos matando.

 

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Em mais uma matéria vc me surpreende. Muitos detalhes. Sutileza e comprometimento envolvido. Não bse se entende o que digo . Mas, Você é muuuuuuuito bom.

Anônimo disse...

Você me emociona