terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Era uma vez... CUIDADO, TÓXICO! 

 



A série The Crown da Netflix é um sucesso desde a primeira temporada, por mostrar nas telas parte da história mundial. Até agora foram quatro temporadas. Eu mesmo assisti à todas as temporadas. Sempre esperando a temporada seguinte. E mais aguardada, quarta, pode ser um choque para quem pensou que conhecia a história de Charles e Diana. Embora não se aprofunde na história do casal em si, uma vez que a série busca mostrar tudo que envolve a "coroa". É possível perceber que o casamento de Charles e Diana foi uma sucessão de erros. 


Quem quiser aprofundar mais na vida de Charles e Di convido a também assistir o documentário "Lady Di: suas últimas palavras", produção da Nacional Geographic disponível também no Netflix. São trechos de várias entrevistas e de uma entrevista secreta que a Princesa de Gales deu a Andrew Morton, jornalista que escreveu o livro "Diana, sua verdadeira história". É forte, trágico, triste e até revoltante. Porém, nos faz entender muitas coisas sobre o universo real inglês e sobre temas como patriarcado, machismo e relações tóxicas, que é o tema que destaco aqui. 


Charles que era amante de Camilla Parker Bowles (ela era casada) já passava dos 30 anos e sofria pressão para um casamento, que deveria ser com uma virgem de linhagem aristocrática. Diana Spencer, uma jovem de 19, professora primária que preenchia todos os requisitos e fora aprovada pela família. Ela só não imaginava que estava entrando numa boca quente (como dizem por aqui). Desde que aceitou o pedido de casamento meio que fora atirada na jaula dos leões sozinha. Colocada num apartamento real, o noivo viajou e só voltaria na semana do casamento. Nem com a sogra tinha consentimento para falar. Num "lar" tão cheio de gente, começara ali sua vida de solidão, tristeza e frustrações. E, conforme declarou em entrevistas, mostradas no documentário, no dia do casamento sentiu-se indo para o abate, o que de certa forma era um fato. 


É de chatear ver que Diana passou por situações de humilhações inaceitáveis, como sair almoço (ou era jantar?... não importa) com a amante do noivo, recebeu então muitas dicas da tal de como agradar ao príncipe, não conseguia falar com o noivo viajante enquanto ele falava todos os dias com sua "camarada" (como falavam antigamente no Maranhão), ouviu dele - um dia antes do casório - que não a amava, viu a amante entre os convidados enquanto era conduzida pelo pai ao altar e viu o já marido levar na viagem de lua de mel presentes e fotos da outra. Ah, desistência do casamento e divórcio não era uma opção. 


Assistindo à série e o documentário vê-se que Lady Di não tinha suas vontades acolhidas, nem ao menos eram ouvidas. Sofreu de bulimia, teve depressão e tentou suicídio algumas vezes - chegou a se jogar de uma escada quando estava grávida do Príncipe William -. O distúrbio alimentar, ela disse, foi gerado pelo fato da pressão sentida quando na semana do noivado o então noivo pegou em sua cintura e disse que ela tava cheinha. Mas, todo esse combo indesejável porque não era amada por quem ainda amava. Entristece ver que se anulava principalmente porque se sentia fraca, impotente diante de toda a situação. Algumas vezes, já na fase mais crítica das relações, a família real reagia dizendo que ela era louca, que era mimada, se vitimava, que provocava confusões... a culpa era dela. Ignoravam a ela, seus sentimentos e sua doença. 


Outro fato que chama atenção era que seu carisma e sua beleza faziam-lhe roubar a cena onde chegasse. Para onde ela fosse, mesmo que tivesse alguém da família do marido, as pessoas iam para vê-la e não vê-los. Isso causou despeito, ciúmes, inveja e ainda mais incômodo e distanciamento. Di sofria por ser vítima dessa relação tóxica que tinha não apenas em relação ao marido, mas com a coroa.  


Como toda vítima de relacionamentos tóxicos Diana sempre fez o que os outros esperavam da Princesa. Mas, nunca pode ser a Diana e isso era visível a olhos nus. Quanto decidiu ser ela mesma já era tarde. Tinha sido condenada a ter vida devastada, vigiada, exposta para o mundo através das lentes de paparazzis que faziam tudo agora imagens que lhes rendem muitas cifras. Foi assim até quando morreu, embora sua existência já fosse sem vida havia muito tempo. 


Essa história deve servir de reflexão a todos. Como estamos nos posicionando em nossas relações? Qual papel estamos assumindo, Diana ou Charles? O que estamos fazendo de nossas vidas? A troco de quê? Vale a pena? Não nos permitamos ser nem um e nem outro. Mudemos.


Casar com o príncipe encantado e ter uma vida envenenada por tanta toxidade não é o sonho de contos de fadas nem das pessoas mais gananciosas. Posso não estar conseguindo ver algum ângulo diferente. Pode até ser... Quer tirar as suas próprias conclusões? Assista aos dois trabalhos e me passa a sua visão. Enquanto isso eu sigo pensando que nada justifica a toxidade em uma relação.

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