terça-feira, 29 de dezembro de 2020

veja AmarElo



Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Ontem recebi uma mensagem de minha irmã Rogenir Almeida Santos Costa sinalizando que queria falar comigo. Quando conseguimos efetuar a vídeo chamada pomos os papos em dia, rimos um bocado e tal. Até me falar do real motivo da chamada. Conhecedora do meu gosto, meu sentimento de justiça, de identificação com as causas raciais, em especial contra o racismo. Ela queria me indicar o documentário AmarElo, do repper brasileiro Emicida. 


Rap nunca foi minha música preferida, não pelo conteúdo, que normalmente são sobre lutas do povo preto, mas pela rapidez que emitem as palavras. Eu sou um tanto quanto lento para acompanhar. Contudo, sempre gostei do Emicida por sua história, sua postura, discurso e suas ações. 


Acordei na madrugada e para me distrair decidi ver o filme, que tá no Netflix. Gente... o que é isso? Ela me avisou da emoção que era o filme, mas não pensei que fosse tão forte para quem é preto ou se identifica com as questões de lutas contra os preconceitos. 


Emicida trás músicas de letras incríveis com mensagens mais que necessárias. Além disso, ele volta no tempo em uma narrativa que conta a nossa história de lutas nos trazendo a contextualização de temas muito relevantes (escravidão, trabalho, imigração, periferia, hip-hop entre outros) e trás importantes participações especiais de grandes representações do cenário cultural brasileiro, como Zeca Pagodinho (cantor), Fernanda Montenegro (atriz), Marcos Valle (compositor, cantor, instrumentista e arranjador), personagens importantes no surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), Abdias do Nascimento (criador do Teatro Experimental do Negro - TEN) e ainda nos brinda com citações sobre Lélia González (filósofa), Ruth de Souza (atriz), Os 8 Batutas (grupo de samba), Leci Brandão (Compositora e Cantora) e vários outros. 


Para fechar o show no Teatro Municipal de São Paulo que vem recortando todo o desenrolar do documentário e é um marco na história do movimento, por ser a primeira vez que uma ocupação/apresentação do gênero (e de vários pessoas que trabalharam no show) em um espaço sempre tão elitista, Emicida recebe as cantoras Pabllo Vittar e Majur para uma versão arrepiante de "Sujeito de Sorte", de Belchior, que dentre um conteúdo forte diz algo que fala muito sobre as lutas das minorias "tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri, mas esse ano não morro". Dando essa ideia reflexiva de que chega de apanharmos, que nossas lutas e resistências têm engrossado nosso couro e nosso coro, que seguiremos resistindo. Emicida deixa, com essas participações, essa mensagem de união das lutas, pois no fim das contas a luta é a mesma, contra o preconceito. Como ele mesmo diz: "E tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós".

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