Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)
Na ocasião fomos apresentados a outras grandes artistas, nomes relevantes e conhecidos do público LGBT. Naquele ano conhecemos pessoalmente, já que as conhecíamos através dos seus trabalhos, Michelly Summer, Miss Bia, Rosana Star - todas incríveis - e uma outra figura ímpar, que também já acompanhávamos seus trabalhos e admirávamos pela capacidade de improviso e humor inconfundível no YouTube e como repórter especial do TV Fama (Rede TV) em especial nas coberturas do Carnaval. Pois bem, fomos a apresentados a esfuziante e brilhante Silvetty Montilla.
Dessa viagem - em maio de 2018 - até aqui vimos crescer, de forma recíproca, uma amizade super leve, respeitosa e carinhosa - com ela vieram várias outras amizades queridas -. Nesse meio tempo já nos encontramos no Rio de Janeiro, aqui em São Luís e duas ou três vezes em São Paulo. Na capital paulista após um show na boate Blue Space, onde trabalha a mais de 25 anos, adquirimos seu livro, sua biografia lançado em comemoração ao seu tempo de trabalho na noite: "Silvetty Montilla - 30 Anos: É o que tem pra hoje: A trajetória do maior transformista do Brasil" do escritor Ricardo Gamba (roteirista, dramaturgo, produtor de elenco, autor e diretor teatral. Dentre seus trabalhos está a produção artística do musical "Cartola: O Mundo É Um Moinho").
Mas, permita que eu volte a quando nos conhecemos lá em Teresina... bom, de cara, no ensaio do show no Teatro 04 de Setembro algo nos chamou à atenção. Existe a Silvetty e o Silvio, nitidamente! Entretanto, eles nunca se separam totalmente. Embora tenham personalidades distintas eles sempre estão fazendo companhia um para o outros. Ela preenche o espaço, piadista, sagaz, não deixa passar nada, tem voz mais alta, fala também com os braços e, como não poderia deixar de ser, com as joias! Ele é contido, observador, calado, a voz muda sem esforço, fala baixo e, muitas vezes com as mãos nos bolsos. Víamos isso como se fosse ligado um botão de liga/desliga. Contudo, quando o botão da Silvetty é ligado, percebemos no fundo do olho a presença do Silvio, em especial quando está interagindo com alguém da público, da plateia. Um olhar de cumplicidade, de "com licença, fica tranquilo é só uma brincadeira e obrigado pela participação". Ao passo que o botão de Sílvio liga ele não a deixa ir totalmente tem sempre aceitando e atendendo sempre ser chamado e tratado como queira, no masculino ou no feminino. São duas personagens diferentes, mas que têm a educação e o respeito ao próximo como ponto comum, além do corpo. Um dá apoio ao outro quando necessário. Muito instigante e curioso. Essas foram as minhas percepções.
Voltando ao livro, com a vida corrida que tenho tido só agora consegui ler seu livro - vinha até em tão acompanhando sua vida pelas redes sociais e pelas conversas de WhatsApp que Enoque e ela mantêm quase diariamente - Agora tenho aproveitado para por alguns títulos em dia com mais atenção e curtindo o prazer de viajar nas histórias durante esse período pandêmico. E qual não foi a minha surpresa?... minhas impressões se confirmaram através dos depoimentos das pessoas mais próximas. Pudemos conhecer mais da vida do Silvio, do surgimento, do sucesso e da representatividade que é a Silvetty.
Sua história é interessante. Aliás, é muito mais que interessante, INSPIRADORA, eu diria! Vemos passar diante dos nossos olhos e projetada na mente - quando leio faço sempre esse exercício - a história de um menino calado, silencioso, companheiro da mãe, querido pelos irmãos e amigos, quieto, mas que não leva a desaforo pra casa, principalmente para defender os seus.
Antes de continuar vale ressaltar que a linguagem da escrita é de fácil entendimento e compreensão (e quem gosta de figuras no livro têm um algum de fotos rsrsrs). Continuando... durante a leitura vemos como Silvio se faz Silvetty, descobrimos quando se fez Montilla. Sua relação com a família, amores, amigos, que, inclusive, falam de outras características facilmente perceptível, sua generosidade e sua humildade.
Não vemos apenas a sua história - o que já é bastante envolvente e diz muito - temos oportunidade de conhecermos (através de sua participação) um pouco da essência da história da Parada Gay de São Paulo e tudo que ela envolve, a importância para a militância e os números que justificam a importância à economia Paulistana - embora não seja esse o objetivo do livro e não fale especificamente sobre o tema - ainda explica varios temas e nomes ligados ao universo LGBTQIA+.
É interessante saber que apesar de ter sido candidata a cargos políticos duas vezes, a convite de amigos, sem ser eleita - embora fosse ser a representante que precisávamos naqueles momentos e não tínhamos. Silvetty percebeu posteriormente que a sua condição de Gay, transformista, negro e de periferia, enfim... a sua existência, seu trabalho e seu alcance já é um ato de ativismo e uma bandeira política astiada que inspira dignidade, representatividade e resistência.
A pessoa que conhecemos não faz objeção da forma a ser tratado ou tratada, se de Silvio ou de Silvetty, conhecemos através da publicação mais do ser humano que habita aquele corpo esbelto e comprimido. Conhecemos pela leitura mais do ator - de cinema e peças teatrais capaz de viver outros personagens - humorista, da destaque de carnaval (uma grande paixão sua), da miss, da transformista, do cantor, cantora, instrumentista de banda marcial, do artista múltiplo que permeia em várias linguagens das artes com a naturalidade de quem tem talento e jogo de cintura para encarar o trabalho que aparecer.
É uma delícia ler sobre o brilho de Silvetty Montilla, mas é mais gostoso ir além e conhecer o Silvio. Ver a força interna de quem não quer e não precisa bater em ponta de faca para ser quem é, como é e quando quer (me identifiquei nesse aspecto também). Sua relação de união baseada na compreensão e respeito com seus familiares foram bases importantes para que consiga levar - ou trazer - ao seu público diversão durante tanto tempo, se reinventando especialmente nos tempos mais duros e difíceis como o atual. O bacana de finalizar a leitura desse livro é que, como quem tomar uma dose de montilla (apesar se eu não beber nada alcoólico), posso dizer, sem parecer conversa de bêbado, que agora eu tenho "condiçõexxxx" de dizer que conheço Silvetty Montilla desde pequena. E isso é o que tenho pra hoje.
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