Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)
Semana passada minha filha Jessica - conhecedora do meu gosto por documentários, novelas, filmes e séries de épocas - indicou-me a nova sensação do momento, BRIDGERTON, uma produção inspirada na série de livros que leva o mesmo nome, da escritora Julia Quinn, e que se passa na alta sociedade londrina do século XIX.
Comecei assistir na mesma semana e de cara fui pego de paixão pelos figurinos, pelos cenários, fotografia, enredo e por identificar uma musica de balada tocadas por alguma orquestra - diga-se de passagem, uma senhora orquestra - depois descobri se tratar de música de Ariana Grande e Taylor Swift. Simplesmente genial! Faz uma conversa do visual do passado com o a memória afetiva atual sem fugir ao tema e ao contexto proposto e atraindo um público diverso.
Outro ponto que chama atenção e vai dando uma sensação boa é a representatividade de gente preta. E não falo de pretos escravizados - aliás, não há escravos na série e sim empregados - como acontecem normalmente nas produções de época, que, embora saibamos sejam quase sempre "baseados em fatos reais", nesse aspecto esquecem a liberdade poética usada em todo o restante das narrativas. Não que eu defenda que se esconda esse aspecto da história, muito pelo contrário! Mas, também vale tentar ver como seria, como poderia ter sido, mesmo em uma ficção. Na série da Netflix vemos senhores, senhoras, senhoritas, duques e até uma rainha preta. Tudo contextualizado no fato do rei da Inglaterra de então ter se apaixonado e casado com essa mulher. Isso tirou, como diz uma das personagens o preto da posição de "sujeitos exóticos a pessoas da corte". Uma situação muito mais próximas do sonhado do que do real. Descansa o coração um pouco em não ver preto sofrendo e sendo açoitado.
Pelo menos nessa primeira temporada da série a história se passa na chamada "temporada dos debuts" quando as jovens debutantes - não necessariamente que estejam completando seus 15 anos, mas por questão de "preparo" - são apresentadas a sociedade para conseguirem "bons" casamentos. Os vários bailes estão mais para rodadas de negociação entre as famílias das moças que desejam casar suas filhas, evitando a temida solteirice, mas, que sejam "bon$" partidos e da garantia de bons dotes às famílias dos jovens rapazes, senhores solteirões ou viúvos.
Nesse ambiente machista, patriarcal e sexista as garotas ainda passam pela avaliação da rainha, que aponta a que seria a "Diamante da temporada" e sofrem com os comentários de uma escritora de tabloide anônima (Lady Whistledown) com suas crônicas e comentários sobre todas elas e personalidades londrinas envolvidos na trama.
Nesses primeiros episódios vemos a história da jovem Daphne Bridgerton - ela é o "Diamante da Temporada" - e acaba envolvida em um acordo com um dos mais cobiçados partidos de então, Simon Basset, o Duque de Hastings, que não quer casar, e muito menos ter filhos, para não seguir a sua própria linhagem (fez promessa ao pai em seu leito de morte por ele lhe ter sido o pior possível, dispensando ao filho reclamações, humilhações e renegações). A mocinha e o duque fingiram comprometimento para fugirem dos comentários maldosos da "haiter" de então e das mães abutres, que caiam em cima dos bonitões tentando fisgar "os melhores" (leia-se mais ricos) nas suas concepções para genros. Vemos nesse casal em específico um cara experiente e uma jovem ainda desabrochando que não sabe quase nada da vida - em especial ao que se refere às questões conjugais -. Contudo, ambos têm personalidade fortes demais para de início assumirem que a proximidade despertou o amor entre os dois.
Nessa temporada de casamentos, além de noivados negociados, vemos jovens sofrendo por amor, duelos por desonra, fracassos por falta de sorte nos jogos... ingredientes de conteúdo bem batidos em filmes melosos e chatos. No entanto, que são sempre essenciais no que se trata de romances e que todo mundo reclama e, no fundo, gosta de ver. Porém, tem mais... somos brindados por outros instigantes temas, que quem conhece os livros de Julia Quinn já esperaria. A série toca em tabus que talvez tenham sido os grandes trunfos da escritora para se tornar o grande sucesso que foram suas publicações. Tabus como a descoberta do prazer dos toques íntimos femininos, sexo, bissexualidade, gravidez antes do casamento e amores proibidos, além de trazer uma cena - que tem no livro - e provocou um pouco de polêmica tendo sido interpretada por muitos como sendo um estupro da duquesa ao duque quando descobriu que não era sobre ele não "poder" e sim de não "querer" ter filhos. Situação que gera conflito entre os dois - como já disse, ela têm personalidades fortes para aceitarem as razões e as imperfeições de cada um -. Até entenderem que para qualquer casamento dar certo é preciso de fato amor... é decidir amar todos os dias. E isso anda longe de só amar a perfeição que projetamos e esperamos do outro. Ela inexiste. Ninguém é perfeito.
As cenas são lindas, até mesmos as cenas mais ousadas que podem gerar rubor aos mais puritanos (cá pra nós... os filmes brasileiros dos anos 80 eram muito mais pesados). É uma série linda! Temas relevantes por, em vários casos, serem tabus até hoje. Vale muito a pena assistir, por tudo!
2 comentários:
Muito bom!
Excelente!!!!!! Fiquei curiosa para conhecer a série.
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