segunda-feira, 3 de maio de 2021

ANA LULA: não lhe faltavam temperos e ingredientes... o gás acabou. 

 

Os turismólogos Rivas e Enoque Silva ladeando e beijando a culinarista Ana Lula.

Primeiro eu conheci a fama da dona do Antigamente - principal bar e restaurante do bairro da Praia Grande, entre as décadas dos anos 1980 e 1990, no centro de São Luís -. O que chegava até mim, não era das melhores famas. Ela era taxada como uma mulher muito dura, que queria mandar no Reviver e que brigava até com a polícia. Quando passei a frequentar seu empreendimento comecei a entender que ela era, na verdade, um alvo de pensamentos e práticas machistas. Afinal, ver mulher comandando um negócio. e de sucesso, não todo mundo que aceita.

Ana era uma mulher, mãe de 03 filhos - que eu saiba -, avó, que, conhecedora de seu grande talento na culinária, empreendeu e tornou-se dona do mais famoso bar e restaurante do centro histórico da cidade. Seu espaço era conhecido por todos os turistas que vinham à Capital maranhense. 

O Antigamente dava mais vida ao Praia Grande, conhecido popularmente como Projeto Reviver. Era ponto de encontro de turistas, amigos, casais... todos aqueciam o estômago com pratos deliciosos, gelava a garganta com bebidas geladas e aquecia o coração com músicas ao vivo. Grandes nomes do cenário musical de São Luís passaram por lá. Quase todos os quarentões - ou mais - que passaram por São Luís nas décadas acima tem alguma história ligada ao Antigamente.

Se ela brigava com a polícia? Sim, é não era para brigar?! Com todos seus documentos e impostos em dia, ela brigava  para que fizesse o papel de dar segurança aos estabelecimentos e frequentadores da área. Ela brigava com clientes para impedir comércio de drogas e casos de assédio sexual infantil nas dependência do restaurante - isso eu mesmo vi -. Para ela isso era intolerável.

Tempos mais tarde entrei no universo do turismo local e fui conhecendo-a mais de perto, até me tornar - como Enoque - amigo dela, embora nossas ocupações não nos permitissem nos vermos com tanta frequência. Entretanto, essa aproximação me fez perceber que Ana não brigava exatamente, ela exigia e cobrava o que era correto, o que lhe era de direito como cidadã, empreendedora em dias com suas obrigações e exigia o que era de obrigação dos poderes públicos para proporcionar segurança a todos na região. Ela que primava em oferecer o melhor aos clientes,  mesmo que para isso precisasse alterar a voz e sua pressão arterial. 

Enoque Silva e Ana Lula

Falando em pressão arterial, certa vez o Trade de São Luís estava em Belém para uma rodada de negócios com o Trade de lá - eu acompanhei muito, por minha conta, a Secretaria de Turismo de São Luís nesses trabalhos de divulgação, mas nesse eu não estava -. Pois bem, trabalharam os dias necessários na cidade e na hora do embarque, todos já entrando no avião, ela teve uma crise de pressão alta e não poderia embarcar. Foi então que o turismólogo Enoque Silva e a jornalista Léa Zaqueu, que participavam da comitiva, se dispuseram à acompanhá-la o tempo que fosse necessário. Medicada, e assistida por médicos do aeroporto, foi liberada para viajar. Ao adentrar no avião entrou falando alto, comemorando e fazendo piada com a situação: "Gente, eu não morri! Eu não morri!!". Todos riam num mix de comemoração e alívio. 

Quando cansou dessa luta, da qual concluiu que apenas dava murro em ponta de faca, Ana decidiu fechar o Antigamente - foi então uma grande perda à região da Praia Grande - e decidiu instalar na sua residência, no bairro do Vinhais, um atelier gastronômico, o Casa de Juja. Com sua garra, não tinha medo de recomeçar e s ua nova marca não tardou a ganhar fama e se consolidou como um dos principais points para se ter uma experiência de sabores inesquecíveis em terras do Maranhão. Sua mais famosa criação, o Arroz do Mar, é um dos pratos mais irresistíveis já feitos nessa cidade e copiado em muitos lugares. 

Arroz do Mar, mais famoso prato criado por Ana Lula


Chega ontem e soubemos que faleceu mais essa querida amiga, mais que isso, faleceu um grande ícone da cultura gastronômica e do turismo maranhense, vítima do covid. Faleceu ANA LULA, do Antigamente e do Casa de Juja. Nosso 02 de maio de 2021 se fez noite sem estrela ou luar e sem música alguma em pleno início de  tarde de domingo. Esse vírus, que insiste em não querer sumir e que, em nosso país, parece ter aliados importantes, a levou embora sem chance de um "até logo". Ana partiu e deixou-nos com o corações tristes, apertados e nossos dias futuros sem o olfato e o paladar da alquimia que tinha domínio como poucos. Nesse tacho que era sua vida, não faltavam temperos e ingredientes... o gás acabou.

Beijos, querida! Você já faz muita falta.

sábado, 1 de maio de 2021

HISTÓRIA DOS ANOS 80: TEMPO DAS PASSARELAS DOS PARTIDOS 

Rozeane Pereira 

Há um bom tempo eu quero escrever sobre vários acontecimentos, eventos, coisas que vi, experiências que vivi e como interpretei. Fatos que me foram marcantes quando criança na minha cidade Natal, Santa Teresa do Paruá. Um desses temas é o que nós chamávamos de "Partidos". Ainda não o tinha feito porque gosto de ilustrar com imagens e não tenho nenhuma imagem desses eventos. Entretanto, um acontecimento triste, e completamente inesperado, esta semana me faz antecipar esse texto, mesmo sem imagem específica dos Partidos.

Perguntas devem está borbulhando na sua cabeça, querido leitor, eu sei... Partidos? Que acontecimento inesperado? Eu já explico.

Bom, Partidos na minha infância não era tinha nada com questões políticas. Nossos partidos eram desfiles, às vezes bonecas e outras vezes meninas vestidas de bonecas numa espécie de concursos de beleza Kids. Normalmente grupos de meninas - crianças, adolescentes e jovens - se uniam e decidiam como seriam as disputas. Entre estas escolhas estavam a definição das candidatas, as cores que elas usariam - vermelho, azul, amarelo, rosa - , os locais dos desfiles e as regras para apuração dos resultados do certame mirim.

Após estas definições cada grupo cuidaria da produção de sua candidata. Entre os figurinos tinham maiôs, biquínis e roupas de papel de seda e todas eram adornadas com muitas joias e bijuterias emprestadas pelos familiares e vizinhos - pulseiras, colares, anéis e brincos, quanto mais, melhor -. Todas as candidatas eram impecável e extravagantemente maquiadas - estou falando dos anos 1980, dentro do pouco conhecimento e da quase inexistente experiência na área por parte das "maquiadoras" -. Aliás, as maquiagens não se resumiam aos rostos angelicais das meninas. Algumas delas tinham batons ou brilhos (aqueles dos potinhos em formato de morango) passados nos braços, pernas e barriga, que em alguns casos eram finalizadas com pitadas de areia brilhante - glítter, mas já cheguei a ver produtora quebrar no pilão até virar pó as bolas de árvore de natal, quando eram de vidro -. É bem como dizem hoje, "Quem vê close, não vê corre".

Os desfiles quase sempre eram nas calçadas mais altas das ruas ou se colocavam mesas enfileiradas no terreiro na frente da casa escolhida, afinal as "modelos" precisavam de passarela. A música eram por conta dos toca-fitas ou dos toca-discos - incontáveis vezes desfilaram ao som de "Maria Magdalena", Canção de Sandra Cretu -. Era tudo tão ingênuo, divertido e pitoresco, que algumas candidatas no meio da passarela, para o delírio das torcidas, ainda declaravam versinhos como o famoso: 

"Batatinha quando nasce 'esparrama' (espalha a rama) pelo chão.
Menininha quando dorme põe a mão no coração.
Sou pequenininha do tamanho de um botão,
Carrego papai no bolso e mamãe no coração
O bolso furou e o papai caiu no chão.
Mamãe que é mais querida ficou no coração."

A definição da ganhadora, era como tinha sido acordado no início de tudo, poderia ser quantidade de joias, torcida, batalha de versinho, melhor desfile... enfim. Fato é que a ganhadora recebia faixa em papel crepom e coroa em cartolina, ambas decoradas com papel laminados e a felicidade de ser... quase uma Miss Mirim. Elas saiam carregadas nos colos das organizadoras, que eram maiores, comemorando as vitórias.

Várias foram as meninas - hoje mulheres - da vizinhança, ou melhor, da cidade toda, que desfilaram. Quase todas as ruas tinham disputas. Algumas colecionavam campeonatos. Minha memória falha de um quarentão "bariatricado" recorda de alguns nomes da minha rua como a Lila (hoje advogada), Élia (Advogada e ex-prefeita, embora não certeza se concorreu em algum desses Partidos específicamente, mas participou de vários desfiles), a Pepita (filha do Seu Daíca, hoje mora em SP), a Suelene (filha do Seu Zé Lino, não sei onde mora), Nenezinha filha da Chica (mora na cidade), Nalvinha filha do Santinho (Professora na região), Claudinéia filha de D. Delina (mora no Pará), Rosário da D. Hilda (não sei onde mora), Lídia (irmã da Maria do Nelton e não sei onde mora).

Clipe oficial da principal música utilizada nos desfiles dos Partidos.

Moravam ainda em nossa rua, a  Rua do Comércio, na primeira casa do lado direito, a família do Seu Nonato da Usina e de D. Irene - curiosamente a maioria dos filhos deles têm nome que começam com a letras R, igual lá em casa... - Pois bem, voltemos ao foco, os filhos desses casal sempre foram lindos. Todos! Mas, as duas meninas mais novas... Jesus Amado! Eram duas bonecas. Regiane e Rozeane, a primeira de cabelos longos cacheados e a segunda com cabelos lisos na altura dos ombros, ambas morenas como índias.  Elas eram trunfos dos grupos da rua que, eu acho, era compostos pelas irmãs Maria, Ruda, Nilza e Lila - filhas do Seu Domingos Araújo - , Eliene - filha do Chico Agulha - e das filhas do Seu Daíca (Lêda, Elda e Pepita) e, acho que, algum envolvimento da Leninha, Diana e Denise (respectivamente filhas e nora do Seu Nhozinho).

As filhas de Dona Irene, Regiane e Rozeane, eram a cara deses desfiles (me desculpem as demais candidatas, que eram lindas, mas estas eram as minha preferidas) e algumas vezes chegaram a competir entre si. Cada uma representando um grupo. E as disputas eram acirradas. Não sei qual das duas ganhou mais. Porém, podemos dizer que pr'aquela casa foram a maioria dos campeonatos. 

Muitas de nossas tardes de  domingos eram movimentadas por delícias de produções, expectativas, adrenalinas e diversões. Hoje pouca gente lembra e menos pessoas comentam de forma espontânea tais momentos. Mas, em mim ficou, não apenas na cabeça, mas, no coração. Ali comecei a me interessar por desfiles de moda e por esse universo artístico e talvez por isso também eu adore tanto a série "Pose" (Netflix,  já escrevi sobre aqui no blog).

E com o tempo crescemos, o tempos foi mudando, as diversões idem e ninguém continuou as tradicionais competições dos Partidos de Meninas. Cada um foi tomando seu rumo na vida, seguindo seu caminho. Alguns reencontros anos depois pela rodoviária, centro de São Luís, contatos por Facebook, Instagram, WhatsApp... outros nunca mais tive notícias. Com Regiane e Rozeane os reencontros eram muito esporádicos, já passaram de 10 anos do nosso último encontro, na casa da minha mãe, aqui em São Luís, w não fora combinado. E na quinta-feira passada - dia 27 de abril de 2021 - soube que, aos 46 anos, Rozeane nos deixou. Estava com uma leve gripe e faleceu vítima de uma uma morte súbita, rápida.  Mas, mesmo sem laudo conclusivo ainda precisou ser sepultada seguindo protocolo de covid, pela incerteza do momento. Sem tempo para um último reencontro e para uma despedida com os amigos ou mesmo com a familia. Sem tempo ao menos para que todos entendessem o que ocorreu e para a ficha cair. A vida se foi como um sopro em uma vela acesa.

Rozeane Pereira


Minha cabeça dividiu-se em dois pensamentos. Primeiro em como a família foi pega de surpresa e o quanto D. Irene (a mãe) deve tá arrasada - meu coração foi para onde ela e as demais filhas -. Depois, na minha cabeça, passou um filme desses momentos incríveis que permeiam minha memória afetiva desde sempre. 

E a ficha vai caindo fazendo um barulho que ecoa no coração dizendo que nos deixou  uma das "modelos", ícone dos desfiles de Partidos de Meninas da minha infância. A dona de um dos sorrisos mais lindos e meigos que já conheci.  Rozeane, que há muitos anos era evangélica, foi para a Casa do Pai.


quarta-feira, 24 de março de 2021

CARTA ABERTA À CIDADE DE SANTA TERESA DO PARUÁ - II 

 São Luís, 24 de março de 2021.


Olá, meu povo da cidade onde nasci e me criei. Tudo bem? Espero que, na medida do possível, todos estejam bem. E que todos estejam seguindo os protocolos de proteção conta essa pandemia. Protegidos. Nesse momento estou com convid, mas, estou bem com relação a possíveis sintomas Graças a Nosso Bom Deus.


Bom, cresci meio que averso a futebol. Não por falta de incentivo em casa, mas por falta de aptidão a jogos de bola, também não sou do vôlei e nem do basquete. Contudo, sempre estive nesse universo de jogos por falta de opção de diversão. Morei até meus 15 anos nessa cidade chamada de Santa Teresa do Paruá, que em 1995 foi emancipada sob o nome de Presidente Médici - desculpem, mas nunca esqueci o primeiro nome -. Quanta lembrança boa tenho desse lugar localizado na Pré-Amazônia maranhense, às margens BR-316, entre as cidades de Santa Luzia do Paruá e Maranhãozinho.

Nossa cidade perdeu cedo o pouco que teve de atração turística e eram poucas as outras opções de diversão. Contudo, nossa população sempre soube aproveitar o que tinha de possibilidades para entretenimento. Concursos de Calouros, piqueniques, festas, brincadeiras de ruas, bicicletas, desfiles de partidos de bonecas, banhos em rios e uma dessas possibilidades era - e é - justamente o futebol, que sempre foi presente na região. Aconteciam vários torneios - alguns eu acompanhava com meus irmãos -. Todas as gerações de "jogadores" de Presidente Médici teve algum - ou vários - destaque na arte futebolística (Bernardo do Ambrósio magarefe, Ricarte e Rivaldo do Juruca - meus irmãos - , Hilmar da Marcy, Jailton Coelho, Carlos irmão do Dão, Damasceno, Hildebrando do Omar, Wilson do Bié, Ednaldo Teodoro, Cláudio e Guimarães do Fala FINA, Edmilson pedreiro e o Ilson que morava na frente da casa do Edmilson são alguns dos que lembro). Mas, não só os rapazes, a meninas também davam muito show (Maria do Domingos Araújo, Edineia, Vitória, Eliete, Maria Moreno, Sandra Olivio e acredito que Vanalda são algumas delas). Não era qualquer time que enfrentava esse batalhão de mulheres. Era maravilhoso o clima... me lembro da visão que tinha sentado a beira do campo, que fica justamente atrás do Colégio Santa Teresa - onde eu estudava à maioria. 

Há 26 anos sai daí, muita coisa mudou, outras nem tanto e outras ainda não mudaram nada, Graça a Deus, como o gosto da nossa juventude pelo esporte, em especial o futebol.

Fui surpreendido esse ano com a notícia que foi criada o time Liga Presidente Médici e que tinha ganhado o Campeonato Maranhense Sub20 - Nunca na nossa história isso tinha acontecido -. Soube que com essa vitória eles tiveriam (e tiveram) oportunidade de participar do campeonato nacional, em São Paulo - Jamais se sonhou tão alto aí em Santa Teresa do Paruá - O jogo seria contra a equipe do Palmeiras. Como assim, Brasil?! É um sonho grande, quase inacreditável.

Foi lindo saber que pessoas da cidade, moradores e ex-moradores, se juntaram, tiveram ajuda de empresas locais e da prefeitura para realização desse sonho que deixou de ser apenas de um time e passou a ser de todos. Os meninos foram. Jogaram. Não ganharam o jogo e foram eliminados. Isso pouco importa!!! A experiência de vida vale e ensina mais. Quem conhece a realidade de nossa cidade e desses pequenos, tinha ideia que no fim das contas eles, mesmo não saindo vitoriosos do jogo, já tinham ganhado muito. Só que eu, agora falo por mim, não fazia ideia do quanto. Só ontem a fixa caiu. Eu estava com minha filha na fila da Farmácia para exame de covid, vejo pelo celular, em um perfil maranhense do Instagram um trecho da matéria que originalmente passou no Globo Esporte Nacional - depois vi reexibição completa em programação da TV Mirante (afiliada local da TV Globo) - . Ouvir esses garotos falando de suas experiências, a emoção de Caçula Coelho, atual Prefeito, falando dos sonhos desses garotos - ele já foi um deles e sabe o significado daquilo tudo e não mediu esforços para ajudar em tão pouco tempo de mandato -. Vi ainda imagens, vídeos e áudios do que viveram ali, vi amigos de outras gerações ali revivendo através dessa geração algo "insonhável" há alguns anos. Foi muito emocionante, não aguentei e cai no choro ali onde estava, na frente de todo mundo.


Matéria completa em:
https://globoplay.globo.com/v/9371143/

Passou um filme na minha cabeça. Sei exatamente como são suas vidas. Jovens que vivem no interior, alguns em interiores ainda mais distantes da sede do município, que ajudam pais nas roças, que jogam sem chuteiras por falta de condições para comprá-las, que jogam em campos simples - sem estrutura de estádio -, não são profissionais, não treinam efetivamente, sem acompanhamento médico adequado a atletas. Esse meninos venceram no Estado e foram a SP jogar, contra uma equipe da estrutura do Palmeiras, no campo daquele time. Lindo ver que eles receberam dos anfitriões a elegância do bem receber, que usando o mais puro espírito Fair Play, receberam em doações as chuteiras de cada jogador do verde e branco como presente de reconhecimento do grande esforça de cada um ali e como incentivo para seguirem seus sonhos. Foi arrepiante. O Palmeiras agora ganhou um espaço especial no meu coração. Não estou romantizando as dificuldades das vidas desses garotos e nem da minha cidade. Estou valorizando a escrita de um capítulo importante do esporte de Santa Teresa através do esforço coletivo de uma uma comunidade.


Não digo que tenham jogado em mesmas condições e nem com oportunidades iguais, dadas as realidades tão distintas de cada time, embora entenda que muitos dos garotos do Palmeiras tenham passado por situações semelhantes às dos nossos meninos. Contudo, eu posso afirmar que foi uma oportunidade de Ouro. Apesar dos 8x0 voltaram de lá campeões. Não voltaram com a medalha no peito, mas voltaram com sensação de vitória no coração. Voltaram com mais visão de mundo através do esporte, que poucos ali conheciam de perto - talvez o Junior da Conceição que saiu dali para ser Campeão Internacional de Ginástica e hoje é o Secretário de Esporte da cidade -. Voltaram com a cabeça e os sonhos nas nuvens, mas, com os pés no chão e a certeza que se conseguiram chegar até ali, eles podem muito mais, que não é fácil e nem impossível.

Aumentou ainda mais o orgulho que tenho de nossa terra. Deu um orgulho danado desses meninos, filhos de amigos meus, netos de amigos dos meus irmãos, talvez filhos, sobrinhos ou netos daquelas meninas que bateram um bolão nos anos 1980 e 1990. Independente do resultado, esses garotos fizeram toda nossa cidade feliz, como nunca foi. Emoção de partida final de copa do mundo, do nosso pequeno mundo chamado Santa Tereza do Paruá. E pra todos nós também eles são campeões.

Parabéns a todos!

Rivanio Almeida Santos
Filho da Irmã Terezinha e do Raimundo Juruca






domingo, 14 de março de 2021

GREENLEAF

 


Acabada a maratona da exposição BONECAS EM DESTAQUE, de Enoque Silva (@enoqueosilva), para a qual eu fiz pesquisa e escrevi os textos para 50 homenageados, voltei ao blog. Bom, quem acompanha minhas redes sociais sabe que nesse momento difícil que vivemos tenho aproveitado também para ver séries e comento-as por aqui.  Sempre priorizando falar sobre o que vejo, o que sinto, o que aprendo. E a bola da vez é uma série disponível no Netflix pra lá de interessante, GREENLEAF. Trata-se de uma série originalmente da TV americana criada para o OWN, canal da apresentadora Oprah Winfrey, que, aliás, faz parte do  elenco.

Na série, que tem 60 episódios divididos em 05 temporadas, Greenleaf é também o sobrenome de uma família que administra (na verdade é dona) de uma megaigreja em Memphis - segunda cidade mais populosa do Estado de Tennessee, EUA - . A família, que aos olhos de todos é predestinada por Deus com o dom da Palavra, é muito bem quista e respeitada por todos. Contudo, suas histórias escondem um passado na vida de cada um dos membros da família que revelam ao longo da trama ganância, adultério e muitos outros pecados muito bem escondidos pela cortina religiosa, digamos.

Os chefes da Igreja, James e Mae Greenleaf - Bispo e Primeira Dama, respectivamente - tiveram 4 filhos. A vida de todos são afetadas por graves crimes cometidos pelo irmão de Mae, advogado da família. A série começa com Grace, filha de Mae, voltando para casa, para o velório de uma das irmãs, depois de duas décadas e, aconselhada pela tia - personagem de Oprah Winfrey -, resolve ficar para combater o pedófilo causador do mal que resultou no suicídio da irmã, seu próprio tio. 


Para não estragar o gosto pelo ineditismo não vou detalhar tanto, mas pra aguçar a vontade de assistir vou resumir parte da situação dos Greenleaf:
- A filha que se matou sofria por conta dos abusos sexuais causados pelo tio, advogado da igreja;
- Grace, a mais Velha, era vista como possuidora do dom da pregação, tinha ido embora porque alertou aos pais sobre os abusos sofridos pela irmã, mas eles não lhe deram crédito.
- Seu irmão, Jacob, queria ser pastor, era casado e amante da secretária dos pais;
- A irmã, Charity, mais nova, linda e excelente cantora. Sente-se preterida pela família. Sofre por isso ao ponto de  despertar uma grande raiva pela irmã mais velha, além de desenvolver um vício em remédios.
- O marido de Charity enfrenta a barra de se descobrir gay e não se aceitar, fazendo até "tratamentos" para deixar de sê-lo - óbvio que não deu certo -. A situação foi a causa do divórcio e ele acabou se relacionando e assumindo compromisso com o novo advogado da familia. Aliás, a igreja demitiu regente do coro musical porque era casado com um outro homem e os dois iam juntos à igreja.
- A Primeira Dama, Mae Greenleaf, quando jovem, soube que o marido teve um caso amoroso com a irmã dela e, ressentida, o traiu com o melhor amigo dele, de quem engravidou.
- O Bispo... além do caso com a cunhada, fez muitas coisas influenciado pelo cunhado criminoso, como sonegação de imposto e desvio de dinheiro da igreja... Qualquer semelhança é mera coincidência.

Ali todos vivem vida de Luxo. O fato é que todo o Luxo em que a família vive é fruto da ganância, que ganhou mais espaço em suas vidas que a missão de evangelizar e a fé em transformar vidas através da oração. É inegável que eles tenham fé e creem em Deus. Mas, fica muito nítido que estão com esse sentimento enfraquecido. E como percebemos isso? Quando abrem mão da coerência, da ética e da união. Fazem uso de crimes, da mentira, do egoísmo e do preconceito. E selam tudo isso palavraziando passagens bíblicas para justificar tantos pecados. Tudo vai indo "bem"... até as contas de tudo começarem a chegar - mais cedo ou mais tarde a conta seeeempre chega - . Todos os podres, as mentiras mais escondidas, os crimes, as trapaças... TUDO! A conta chegou e foi alta, sem condições de crédito para parcelamento. Aliás, crédito??? Eles perderam quase tudo. Só deram a volta por cima quando, já embaixo, caíram em si, tiraram todos os farelos de sujeira que ainda estavam debaixo do tapete. Só quando, desapegados dos sentimentos ruins e negativos e apelaram de fato à verdade, ao certo, ao arrependimento e ao amor ao próximo, que tudo foi restaurado.

A história é cheia de situações que nos fazem refletir bastante - isso quem tem o hábito de fazer autoavaliação, do contrário vai direto analisar a vida alheia rsrsrs (quem nunca, né?) - sobre nossas posturas, opiniões, falas e atitudes. O enredo é lindo. A mensagem é necessária. O elenco é formidável - quase a totalidade do elenco é de profissionais pretos -. Cenários e locações lindos, com o glamour dos milionários americanos. O tempo em que tudo se passa é absolutamente atual - os Greenleaf usam Apple, carros automáticos pra cima e pra baixo - o que ajuda deixar uma linguagem contemporânea e trás o público de todas as idades.

Enfim... GREENLEAF foi uma série que me pegou de jeito. Foram várias maratonas de fim de semana, almoço, aproveitamento da insônia e engarrafamentos. Pela primeira vez tenho vontade de assistir pela segunda vez uma produto do gênero - isso pode até ser coisa da idade, mas garanto que 90% é por conta do conjunto da obra. Se você ainda não viu... não sabe o que tá perdendo. Sendo evangélico ou não, assim como eu, você vai aprender bastante. No fim vai entender a frase que os membros da congregação sempre se despedem, "Deus é bom...", e o outro completa, "o tempo todo!"



domingo, 17 de janeiro de 2021

 A FALTA DE OXIGÊNIO NO AMAZONAS SUFOCA O BRASIL




(Por Rivanio Almeida Santos)

(Desculpe os possíveis erros de digitação, a pressa não me permite corrigir. Preciso por pra fora o que me ya atravessado na garganta)

Vi no perfil de um querido amigo uma postagem que dizia algo como "somente quem votou no atual presidente - desculpem não consigo escrever esse nome - pode cobrar algo do representante da nação".

Esse amigo é daqueles eu gosto muito e tenho grande estima por sua pessoa e pela história da sua família - apesar de saber que ele votou no inominável (eu respeito o direito de todo mundo errar na vida, mas sempre espero que saibam reconhecer quando suas escolhas deram M). 1, precisei discordar dele com minha mais completa e plena convicção com referência a esta afirmação. 

EU  NÃO VOTEI (e jamais votarei)  nesse senhor, em ninguém da sua prole ou em algum elo de sua corrente de apoiaDORES. Mas, pago os mesmos impostos de quem votou. NÃO FUI ISENTADO DE NENHUM IMPOSTO!!! ENTÃO TENHO CERTEZA QUE POSSO E DEVO COBRAR RESPEITO, RESPONSABILIDADE E TUDO QUE ESTES IMPOSTOS DEVEM AMPARAR POR LEI 
todo o povo brasileiro. E, nesse momento, o que eu espero é RESPONSABILIZAÇÃO por tudo que foi deixado de fazer pelo Povo Amazonense que, além de ser brasileiro como todo restante do país, é guardião da Amazônia, tem uma cultura linda e leva essa riqueza para o mundo todo, representando muito bem, e com louvor, a cultura popular.

O Maranhão, apesar de ser geograficamente do Nordeste, tem aspectos amazônicos por fazer parte da região Pré Amazônica. Eu sou nascido e criado da Amazônia Maranhense. Trabalho diariamente, mesmo que on-line, com pessoas do Pará, Amazonas e Roraima. Acompanho tudo que essa minha gente tem passado. É preocupante e triste demais... Amigos que estão perdendo parentes e estão sendo reinfectados, isso mesmo, RE-IN-FEC-TA-DOS e com sintomas N vezes pior que a primeira. Dói em mim ver esse povo, que é brasileiro e antes disso é ser vivo, sofrendo tanto. 

T
Todos viram que em São Luís chegaram várias pessoas do Amazonas que foram trazidas para serem socorridas em nossos hospitais. E eu fico extremamente feliz por meu Estado está podendo estender a mãos aos nossos irmãos amazônicos. O meu Estado não está no melhor dos cenários, as pessoas continuam desobedecendo as recomendações sanitárias, os números de ocupação de leitos continuam subindo. Contudo, se  estamos "menos pior" e temos como ajudar, não vejo problema. Fico satisfeito! 

Há muito venho tentado não falar sobre questões políticas, em especial sobre o cenário nacional por uma série de questões. Estou sufocado de tanta coisa ruim e, apesar da minha satisfação em poder ajudar não me sinto confortável - até pela minha origem e em solidariedade aos irmãos amazonenses e amigos de trabalho - não posso mais engolir como se não tivesse vendo a calamidade que a gente brasileira vem sofrendo com o descaso e o show de negacionismo por parte de quem tem o dever de zelar e garantir pela segurança, educação e saúde da nossa população.  

Chegou-se em um nível que a população do Brasil precisa organizar campanhas de doação, artistas doarem e fretarem aviões para levar oxigênio a Manaus. Chegou-se em um nível de situação que quem se cala não está só em cima do muro e quem defende não é apenas apoiador.  São cúmplices! TÁ ERRADOS! TÁ ERRADO! TÁ TUDO ERRADO!! Eu me recuso a compactuar com tudo isso. É inacreditável e, principalmente, inadmissível que no pulmão do mundo falte oxigênio ao seu povo de origem ribeirinha. Estamos em uma canoa furada que insiste em remar contra a maré...

#SOSamazônia
#SOSBrasil

Fotos: Internet 






quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

COMO PASSAR O CARNAVAL SEM TER CARNAVAL PRA PASSAR EM LUGAR NENHUM? EXPOSIÇÃO VIRTUAL BONECAS EM DESTAQUE!

 


(Por Rivanio Almeida Santos)

Quando vim para São Luís, 1995, tive mais oportunidades de assistir os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro pela TV. Embora desde sempre eu ficava encantado com tudo que via e ouvia na Revista Manchete e nas vinhetas da Globo: sambas, fantasias, alegorias, baianas, comissões de frente, baterias, rainhas de baterias e os destaques, que pela telinha mais pareciam bonecas sobre bolos confeitados.

Passados alguns anos, final de 1997, conheci Enoque, que se tornou meu companheiro desde então. Com o passar dos dias fui descobrindo que ele era artista visual, funcionário público e carnavalesco. Na época estava à frente do carnaval da Escola de Samba Unidos de Fátima, aqui de São Luís, e, depois de ter passado por várias agremiações do Rio de Janeiro, estava indo pela primeira vez desfilar como destaque principal na Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 98. 

O tempo passando, a convivência foi aumentando, fui descobrindo que mais que gostar de desfilar, ele era apaixonado - e ainda o é - pelo posto que ocupa. Em 1999 pude acompanhá-lo  na realização desse que passou a ser meu sonho inacreditável e inesperado. Eu estava na Marquês de Sapucaí acompanhando Enoque e Biné Gomes, um amigo nosso também maranhense que igualmente estava Destaque de Carnaval na Grande Rio. Eu me beliscava por não acreditar no que vivia. Na concentração tudo acontecia em câmara lenta - slow-mo, para ser mais atual -. As pessoas chegando, alas se formando, baianas se aprontando, tanta gente famosa que eu só conhecia pela TV e os destaques se montando sobre aquelas obras de artes gigantes que eram as alegorias. Então ali na minha frente os "bonecos e as bonecas" que eu via sobre os "bolos"  se transformavam em grandes personagens de luxo, brilhos, penas e plumas sobre gigantescos e belos carros alegóricos. E eu fui arrebatado de vez a esta arte que é ser Destaque de Carnaval, virei apoio de destaque. Aliás, virei Apoio Oficial do Destaque Enoque Silva.

E lá se vão 22 anos de desfiles nos quais acompanhei as chegadas dos desenhos - antes pelo Sedex, depois email e agora até WhatsApp -, produção das fantasias, quer dizer... construção arquitetônica de cada fantasia - até pelo fato que elas precisam de um planejamento arrojado pois são levadas  desmontadas de São Luís até o RJ -. Acompanhei  fase de criação de fantasias para vários Blocos Tradicionais de São Luís - quem não conhece precisa conhecer esses grupos que só existem no Maranhão -, as produções das fantasias para o Rio entre elas:  Riquezas da Cultura Nordestina, O Baile de Máscara, O Imperador de Roma Pagã, O Sol da Terra da Encataria, Anjo Barroco, Progresso para o Alto, Tradição Folclórica da Ilha, Feirante Nordestino, Superação de Mandela e Terra Dourada.  Esses são alguns temas que ele vestiu e desfilou na agremiação de Duque de Caxias.
 
Em 2016, fomos nos comunicados ele seria homenageado pela Escola de Samba Turma da Mangueira, aqui de São Luís com o enredo "Enoque Silva: O Cisne Dourado do lago Joãopaulino", que o fez, após mais de 20 anos, repetir o gosto de desfilar na capital maranhense. Nosso amigo Itamilson Lima, presidente e carnavalesco da escola fez um dos desfiles mais lindos da nossa Mangueira, que esse ano completa 92 anos e vai comemorar em uma live dia 16 as 22h no canal da escola no YouTube (se liguem). 


Chegamos em 2021, esse ano que seria o meu 23° carnaval o acompanhando na Marquês de Sapucaí não terá desfile, ao menos no período oficial. Daí comecei a me perguntar "qual será sensação de passar o Carnaval sem ter Carnaval pra passar em lugar nenhum?"... não por mim somente, mas, principalmente, por Enoque que já vive há 40 anos nesse mundo e é quando o vejo mais feliz e realizado. Ele com a sagacidade que lhe é peculiar, me surpreendeu com uma ideia. Enoque sempre usou a arte como instrumento de trabalho, laser, relaxamento, meditação e terapia, se dedicou ainda mais a um trabalho que vem desenvolvendo há mais de 5 anos, produzir em bonecas, miniaturas de destaques de Carnaval - super detalhadas, riquíssimas, delicadas, com penas, plumas, brilhos e partes - com temas diversos para fazer homenagens. Chegou ao número de 50 bonecas, todas para sua coleção particular, nunca mostrada a um público maior. Poucas pessoas - 2 ou 3 - viram e quem viu, não viu mais que 2.

Bom, com a  pandemia do Corona Vírus e com o cancelamento dos desfiles em fevereiro veio a ideia de fazer uma exposição virtual  para, ao mesmo tempo manter vivo o espírito carnavalesco nos apaixonados pela festa, prestar homenagens a grandes personalidades do carnaval, pessoas queridas e ilustres que nesse universo contribuiram na formação e na consolidação desse item da identidade cultural maranhense e brasileira. 

Na Exposição Virtual BONECAS EM DESTAQUE serão expostas 50 bonecas, com 50 temas diferentes e que renderão 50 homenagens a nomes como  D. Zelinda Lima, Chico Coimbra, Joãozinho Trinta e Milton Cunha através de temas como Floresta dos Guarás, Teatro Artur Azevedo, Imperatriz do Divino e Deusa Indiana.

É óbvio que eu sei e já vi tudo que será exposto e quem serão os homenageados. Assim também como é evidente que não vou contar nada além disso e de que a exposição começa nesse 15 de novembro, postando uma homenagem por dia no seu perfil do Instagram.

Se não teremos os tradicionais cinco dias de folia, nem os três de desfiles - dois oficiais e um das campeãs - vamos fazer esse carnaval ser ainda maior para valer à pena a falta que sentiremos dos fogos de abertura, das batidas das baterias com suas caixas,  repique, surdo e ganzá. Esse ano o samba terá a percussão das batidas dos nossos corações e os desfiles, podem até não ter grandes destaques, afinal terão destaques miniaturizados, mas, teremos arte, história, beleza, delijcadeza, brilho, muito luxo e grandes nomes desfilaram em uma avenida virtual.


(Aproveita pra seguir o perfil dele  @enoqueosilva para não perder nada).


sábado, 9 de janeiro de 2021

A CATEGORIA É... NÃO SE PODE PERDER A POSE

 



          Imagem divulgação - Personagem Angel

(Por Rivanio Almeida Santos)

A história começa em 1987 e já de cara vemos um roubo a um museu. Eram mãe e filhos da Casa Abundance buscando figurinos para ganhar um baile gay de apresentações temáticas. A cena termina com todos sendo presos após o desfile. Não sem antes receberem o troféu de campeões para a casa que representam. As casas são locais chefiadas por mães, mulheres trans, que acolhiam jovens em situação de rua para lhes darem segurança, acolhimento, apoio, orientação e uma vida artísticas na defesa de suas casas nos famosos bailes.

         Elektra desfilando no Baile.

Assim começa o enredo de Pose, uma das grandes séries do aplicativo de streaming, Netflix, onde temos a satisfação de ver vários acontecimentos nas vidas de
Blanca, Electra, Angel, Lulu, Candy, Pray Tell, Damon, Esteban  e Ricky que nos fazem entender o universo que envolve a vida da comunidade LGBTQIA+ Afro-americana e Latino-americana.

Na primeira temporada - que rendeu
indicações a prêmios variados, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática e o Globo de Ouro de Melhor Ator em Série Dramática - vemos que, não apenas a não aceitação, como também a expulsão e a violência física, tão comuns (desde sempre e ainda hoje) fazem muitos gays irem parar nas ruas e se sujeitarem a práticas de atividades como a venda de drogas e a prostituição por sobrevivência. Vê-se o surgimento e a proliferação do HIV, as contaminações, o preconceito, as vítimas fatais e o início dos tratamentos. Vemos, entendemos e relembramos muitos e tantos talentos perdidos por causa da falta de informações, acesso a tratamentos e consequências dos preconceitos, mas, também por falta de suportes emocionais. Impossível não se emocionar, com o amor dos filhos pelas mães biológicas, apesar dos abandonos - a maioria refém do machismo dos maridos - . Impossível não se emocionar com a obstinação e resiliência de Blanca Evangelista, apesar de tudo que passa na vida. Impossível não se emocionar, principalmente quem viveu os anos 80, com tudo que "revive", agora com os olhos de espectadores mais maduros e atentos para entendermos melhor aquela época e os contextos de então. 

          Blanca Evangelista quando acolhe Damon das ruas.

Interessante ver como os gays, que viviam em guetos por necessidade de identificação, mas, com clima de desunião por causa de disputas de egos e senso de autodefesa - próprio de quem cansa de apanhar da vida e vive armado a qualquer armadilha que vier -, conseguiu se juntar para criar uma cultura incrível, a cultura dos bailes - na definição de Blanca, uma das protagonistas, que eram "reuniões com pessoas que não são bem vindas em outros lugares. Uma celebração à vida". E nos bailes, assim como nas ruas, esta celebração envolvia, beleza, arte, música e dança. A dança era o vogue - assim como o break - um estilo de dança, só que do universo o LGBTQIA+, - "O nome do estilo (que também pode ser chamado de "voguing") foi inspirado na revista de moda "Vogue", já que dançarinos brincavam de imitar as poses das modelos mostradas na publicação e faziam movimentos corporais marcados por linhas e poses, como em uma sessão de fotos. O movimento, que desde o início surgiu como um ato de empoderamento de minorias, se tornou uma revolução...", segundo Luana Dornelas e Evandro Pimentel do site redbull.com -. E que deu muito o que falar pelo mundo.

E quando digo que deu o que falar,  já estou me refiro a segunda temporada desse roteiro que mistura ficção com acontecimentos reais e importantes. Este segundo momento já se passa no início dos anos 1990, ano em que Madonna lança a música "Vogue" e vira "mãe" de todos os LGBTQIA+ por dar maior visibilidade à comunidade, o que ajudou bastante na reafirmação da cultura e identidade da classe e ajudou vencer alguns obstáculos como o respeito e reconhecimento aos talentos na arte, de desfilar, de dublagem musical e de dançar, por exemplo.

Apesar das barreiras que começaram a ser vencidas, ali, finais do século XX - não que não exista mais - , ainda se vê muito preconceito da sociedade que dificultava a vida das pessoas LGBTQIA+, tipo: alugar algum espaço para morar ou abrir um negócio próprio, trabalhar como modelo e, como sempre, no meio familiar. Juntando a isso continuamos a ver intrigas entre os próprios componentes da comunidade, que têm - dentre vários - seus p
reconceitos com novas tendências dentro do próprio meio artístico, a exemplo das apresentações de dublagem de músicas que acabam de surgir como manifestação artística. Nesse mesmo período aumentam as quantidades de mortes em decorrência do HIV/AIDS, pela violência física e também por assassinatos. Contudo, como um família que discute, e até briga, vemos as personagens aprendendo a se unir para proteção uma das outras - mesmo no que não é correto, que são consequências das pressões e castigos recebidos - mas, também em busca e proteção dos direitos da comunidade a qual estão inseridas.

Na segunda temporada voltamos a questões recorrentes - que na realidade ainda hoje são -. Então eu provoco você que tá lendo esse texto: o que você acha que ocorre quando a família nega  e expulsam de casa seus filhos LGBTQIA+ renegando suas existência e os obrigado a qualquer sorte? Eu te respondo... Eles precisam acionar e usar seus instintos de sobrevivência. Quando um LGBTQIA+ se abafa (ou se esconde, camufla tentando ser o que não é) para agradar a família, ele pode tá tentando mostrar que a ama, mas está se matando. E se a família aceita que seu filho viva infeliz é porque não o ama. Quando ele, mesmo triste, se recusa a não viver o que está sendo imposto e sai pelo mundo - na maioria das vezes são obrigados a isso - , está praticando o amor próprio e instintivamente está lutando pra seguir o seu destino de apenas ser o que que é, como a natureza divinamente lhe fez. Vale lembrar que a maioria usa o Divino como desculpa para matar os seus (emocional e fisicamente) e torná-los aquilo que não são por puro machismo, egoísmo, por pura maldade, vergonha ou por inveja por enxergar neles a coragem de serem o que são. O que será que falam e pedem nas orações
em silêncio quando põem seus joelhos no chão? Conseguem dormir sabendo da infelicidade de alguém que os ama? Isso sim é uma aberração humana. Amar pela metade. Amar apenas o que lhe convém. Amar apenas o que julga perfeito. Isso não é amor. Esquecem o "amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado" e o "atire a primeira pedra aqueles que não têm pecados". Deixa lá... tô fugindo ao tema.

Voltando... Nessa temporada um ponto alto de emoção está no episódio 4 - "nunca conheci um amor assim"-, no velório de Candy, uma transsexual que ainda precisava se prostituir, para se manter e aos filhos que tinha acolhido, é assassinada por um cliente. Na cena do velório vemos cada um dos presentes conversar com o espírito da morta - é como se a consciência de cada um pesasse e buscasse se justificar com a finada e buscasse o seu perdão - .  A realidade da maioria de nós LGBTQIA+ passa ali, na tela, a cada conversa. Contudo, os perdões pedidos e os desejos de convivência chegam tarde demais.



Outros pontos altos são o convite para os dançarinos (Damon e Ricky) fazerem teste para turnê de Vogue da Madonna e as conquistas seguintes, como o início da carreira de modelo de Angel em uma grande agência. Contudo, como nada vem fácil,  acompanhamos altos e baixos, grandes e doloridos tombos, mas, como um dos personagens - esqueci quem - diz em uma cena: "artistas de verdade usam a dor para ter força". 

São divertidas as falas do Pray Tell nas apresentações dos bailes. É legal ver que a perversa Elektra tem esse jeito como uma casca de proteção, mas, vemos sinais de que ela também tem um coração. É gratificante ver representada a gratidão que temos por quem nos apoia, acolhe e não julga, mesmo que não aprove ou concorde. Impossível não ficar feliz com a descoberta do amor verdadeiro de Angel e Estaban e ver o apoio e o crescimento profissional dos dois juntos. 

Assistir essa série, justamente sobre a fase dos anos 90 me emociona, muito. Ali consigo ver tudo que algumas gerações anteriores a minha tiveram que passar para que eu fosse me chegando, com muito medo (fato!), mas, com força para ser eu mesmo. Enfretando tudo e todos que enfrentei e enfrento, em comunidade ou sozinho, para que meus sobrinhos, de sangue ou não, não passem ou, se passarem, sejam mais fortes e resilientes que eu.



A gente cansou de  "viver em guetos e servir de chacota pro mundo", diz Angel, por isso as mães das casas seguiram - acreditem, na vida real elas existem e ainda seguem - fazendo aquilo que sempre esperamos das mães, dos pais, das tias, dos tios... do sangue: não julgamento, respeito, reconhecimento, aconchego, segurança  e perspectivas. Enfim, Amor e Acolhimento!

Que venha a terceira temporada.






















 



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

BRIDGERTON: O Diamante da Temporada


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Semana passada minha filha Jessica - conhecedora do meu gosto por documentários, novelas, filmes e séries de épocas - indicou-me a nova sensação do momento, BRIDGERTON, uma produção inspirada na série de livros que leva o mesmo nome, da escritora Julia Quinn, e que se passa na alta sociedade londrina do século XIX. 

Comecei assistir na mesma semana e de cara fui pego de paixão pelos figurinos, pelos cenários, fotografia, enredo e por identificar uma musica de balada tocadas por alguma orquestra - diga-se de passagem, uma senhora orquestra - depois descobri se tratar de música de Ariana Grande e Taylor Swift. Simplesmente genial! Faz uma conversa do visual do passado com o a memória afetiva atual sem fugir ao tema e ao contexto proposto e atraindo um público diverso.


Outro ponto que chama atenção e vai  dando uma sensação boa é a representatividade de gente preta. E não falo de pretos escravizados - aliás, não há escravos na série e sim empregados - como acontecem normalmente nas produções de época, que, embora saibamos sejam quase sempre "baseados em fatos reais", nesse aspecto esquecem a liberdade poética usada em todo o restante das narrativas. Não que eu defenda que se esconda esse aspecto da história, muito pelo contrário! Mas, também vale tentar ver como seria, como poderia ter sido, mesmo em uma ficção. Na série da Netflix vemos senhores, senhoras, senhoritas, duques e até uma rainha preta. Tudo contextualizado no fato do rei da Inglaterra de então ter se apaixonado e casado com essa mulher. Isso tirou, como diz uma das personagens o preto da posição de "sujeitos exóticos a pessoas da corte". Uma situação muito mais próximas do sonhado do que do real. Descansa o coração um pouco em não ver preto sofrendo e sendo açoitado. 

Pelo menos nessa primeira temporada da série a história se passa na chamada "temporada dos debuts" quando as jovens debutantes - não necessariamente que estejam completando seus 15 anos, mas por questão de "preparo" - são apresentadas a sociedade para conseguirem "bons" casamentos. Os vários bailes estão mais para rodadas de negociação entre as famílias das moças que desejam casar suas filhas, evitando a temida solteirice, mas, que sejam "bon$" partidos e da garantia de bons dotes  às famílias dos jovens rapazes, senhores solteirões ou viúvos. 

Nesse ambiente machista, patriarcal e sexista as garotas ainda passam pela avaliação da rainha, que aponta a que seria a "Diamante da temporada" e sofrem com os comentários de uma escritora de tabloide anônima (Lady Whistledown) com suas crônicas e comentários sobre todas elas e personalidades londrinas envolvidos na trama. 

Nesses primeiros episódios  vemos a  história da jovem Daphne Bridgerton - ela é o "Diamante da Temporada" - e acaba envolvida em um acordo com um dos mais cobiçados partidos de então, Simon Basset, o Duque de Hastings, que não quer casar, e muito menos ter filhos, para não seguir a sua própria linhagem (fez promessa ao pai em seu leito de morte por ele lhe ter sido o pior possível, dispensando ao filho reclamações, humilhações e renegações). A mocinha e o duque fingiram comprometimento para fugirem dos comentários maldosos da "haiter" de então e das mães abutres, que caiam em cima dos bonitões tentando fisgar "os melhores" (leia-se mais ricos) nas suas concepções para genros. Vemos nesse casal em específico um cara experiente e uma jovem ainda desabrochando que não sabe quase nada da vida - em especial ao que se refere às questões conjugais -. Contudo, ambos têm personalidade fortes demais para de início assumirem que a proximidade despertou o amor entre os dois. 

Nessa temporada de casamentos, além de noivados negociados, vemos jovens sofrendo por amor, duelos por desonra, fracassos por falta de sorte nos jogos... ingredientes de conteúdo bem batidos em filmes melosos e chatos. No entanto, que são sempre essenciais no que se trata de romances e que todo mundo reclama e, no fundo, gosta de ver. Porém, tem mais... somos brindados por outros instigantes temas, que quem conhece os livros de Julia Quinn já esperaria. A série toca em tabus que talvez tenham sido os grandes trunfos da escritora para se tornar o grande sucesso que foram suas  publicações. Tabus como a  descoberta do prazer dos toques íntimos femininos, sexo, bissexualidade, gravidez antes do casamento e amores proibidos, além de trazer uma cena -  que tem no livro - e provocou um pouco de polêmica tendo sido interpretada por muitos como sendo um estupro da duquesa ao duque quando descobriu que não era sobre ele não "poder" e sim de não "querer" ter filhos. Situação que gera conflito entre os dois - como já disse, ela têm personalidades fortes para aceitarem as razões e as imperfeições de cada um -. Até entenderem que para qualquer  casamento dar certo é preciso de fato amor... é decidir amar todos os dias. E isso anda longe de só amar a perfeição que projetamos e esperamos do outro. Ela inexiste. Ninguém é perfeito. 

As cenas são lindas, até mesmos as cenas mais ousadas que podem gerar rubor aos mais puritanos (cá pra nós... os filmes brasileiros dos anos 80 eram muito mais pesados). É uma série linda! Temas relevantes por, em vários casos, serem tabus até hoje. Vale muito a pena assistir, por tudo!  

sábado, 2 de janeiro de 2021

FOCA NESSA JOIA: Silvetty Montilla 30 anos brilhando

 


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)

Há dois anos Enoque, meu companheiro, e eu fomos convidados a ir encontrar nossos queridos amigos - irmãos - Dhu Costa e Milton Cunha, que seria homenageado, dentre vários eventos, com o título de Cidadão Piauiense, em Teresina. Outro evento era um super show produzido e dirigido pela Divina Safira Benguell, que nos recebeu com muita atenção, respeito e carinho, tanto que virou nossa amiga.

Na ocasião fomos apresentados a outras grandes artistas, nomes relevantes e conhecidos do público LGBT.   Naquele ano conhecemos  pessoalmente, já que as conhecíamos através dos seus trabalhos, Michelly Summer, Miss Bia, Rosana Star - todas incríveis - e uma outra figura ímpar, que também já acompanhávamos seus trabalhos e admirávamos pela capacidade de improviso e humor inconfundível no YouTube e como repórter especial do TV Fama (Rede TV) em especial nas coberturas do Carnaval. Pois bem, fomos a apresentados a esfuziante e brilhante Silvetty Montilla.

Dessa viagem - em maio de 2018 - até aqui vimos crescer, de forma recíproca, uma amizade super leve, respeitosa e carinhosa -  com ela vieram várias outras amizades queridas -. Nesse meio tempo já nos encontramos no Rio de Janeiro, aqui em São Luís e duas ou três vezes em São Paulo. Na capital paulista após um show na boate Blue Space, onde trabalha a mais de 25 anos, adquirimos seu livro, sua biografia lançado em comemoração ao seu tempo de trabalho na noite: "Silvetty Montilla - 30 Anos: É o que tem pra hoje: A trajetória do maior transformista do Brasil" do escritor  Ricardo Gamba (roteirista, dramaturgo, produtor de elenco, autor e diretor teatral. Dentre seus trabalhos está a produção artística do musical "Cartola: O Mundo É Um Moinho"). 


Mas, permita que eu volte a quando nos conhecemos lá em Teresina... bom, de cara, no ensaio do show no Teatro 04 de Setembro algo nos chamou à atenção. Existe a Silvetty e o Silvio, nitidamente! Entretanto, eles nunca se separam totalmente. Embora tenham personalidades distintas eles sempre estão fazendo companhia um para o outros. Ela preenche o espaço, piadista, sagaz, não deixa passar nada, tem voz mais alta, fala também com os braços e, como não poderia deixar de ser, com as joias! Ele é contido, observador, calado, a voz muda sem esforço, fala baixo e, muitas vezes com as mãos nos bolsos. Víamos isso como se fosse ligado um botão de liga/desliga. Contudo, quando o botão da Silvetty é ligado, percebemos no fundo do olho a presença do Silvio, em especial quando está interagindo com alguém da público, da plateia. Um olhar de cumplicidade, de "com licença, fica tranquilo é só uma brincadeira e obrigado pela participação". Ao passo que o botão de Sílvio liga ele não a deixa ir totalmente tem sempre aceitando e atendendo sempre ser chamado e tratado como queira, no masculino ou no feminino. São duas personagens diferentes, mas que têm a educação e o respeito ao próximo como ponto comum, além do corpo. Um dá apoio ao outro quando necessário. Muito instigante e curioso. Essas foram as minhas percepções.

Voltando ao livro, com a vida corrida que tenho tido só agora consegui ler seu livro - vinha até em tão acompanhando sua vida pelas redes sociais e pelas conversas de WhatsApp que Enoque e ela mantêm quase diariamente -  Agora tenho aproveitado para por alguns títulos em dia com mais atenção e curtindo o prazer de viajar nas histórias durante esse período pandêmico. E qual não foi a minha surpresa?... minhas impressões se confirmaram através dos depoimentos das pessoas mais próximas. Pudemos conhecer mais da vida do Silvio, do surgimento, do sucesso e da representatividade que é a Silvetty.

Sua história é interessante. Aliás, é muito mais que interessante, INSPIRADORA, eu diria! Vemos passar diante dos nossos olhos e projetada na mente - quando leio faço sempre esse exercício - a história de um menino calado, silencioso, companheiro da mãe, querido pelos irmãos e amigos, quieto, mas que não leva a desaforo pra casa, principalmente para defender os seus.

Antes de continuar vale ressaltar que a linguagem da escrita é de fácil entendimento e compreensão (e quem gosta de figuras no livro têm um algum de fotos rsrsrs). Continuando... durante a leitura vemos como Silvio se faz Silvetty, descobrimos quando se fez Montilla. Sua relação com a família, amores, amigos, que, inclusive, falam de outras características facilmente perceptível, sua generosidade e sua humildade.

Não vemos apenas a sua história - o que já é bastante envolvente e diz muito - temos oportunidade de conhecermos (através de sua participação) um pouco da essência da história da Parada Gay de São Paulo e tudo que ela envolve,  a importância para a militância e os números que justificam a importância à economia Paulistana - embora não seja esse o objetivo do livro e não fale especificamente sobre o tema - ainda explica varios temas e nomes ligados ao universo LGBTQIA+.

É interessante saber que apesar de ter sido candidata a cargos políticos duas vezes, a convite de amigos, sem ser eleita -  embora fosse ser a representante que precisávamos naqueles momentos e não tínhamos. Silvetty percebeu posteriormente que a sua condição de Gay, transformista, negro e de periferia, enfim... a sua existência, seu trabalho e seu alcance já é um ato de ativismo e uma bandeira política astiada que inspira dignidade, representatividade e resistência.

A pessoa que conhecemos não faz objeção da forma a ser tratado ou tratada, se de Silvio ou de Silvetty, conhecemos através da publicação mais do ser humano que habita aquele corpo esbelto e comprimido. Conhecemos pela leitura mais do ator - de cinema e peças teatrais capaz de viver outros personagens - humorista, da destaque de carnaval (uma grande paixão sua), da miss, da transformista, do cantor, cantora, instrumentista de banda marcial, do artista múltiplo que permeia em várias linguagens das artes com a naturalidade de quem tem talento e jogo de cintura para encarar o trabalho que aparecer.

É uma delícia ler sobre o brilho de Silvetty Montilla, mas é mais gostoso ir além e conhecer o Silvio. Ver a força interna de quem não quer e não precisa bater em ponta de faca para ser quem é, como é e quando quer (me identifiquei nesse aspecto também). Sua relação de união baseada na compreensão e respeito com seus familiares foram bases importantes para que consiga levar - ou trazer - ao seu público diversão durante tanto tempo, se reinventando especialmente nos tempos mais duros e difíceis como o atual. O bacana de finalizar a leitura desse livro é  que, como quem tomar uma dose de montilla (apesar se eu não beber nada alcoólico), posso dizer, sem parecer conversa de bêbado, que agora eu tenho "condiçõexxxx" de dizer que conheço Silvetty  Montilla desde pequena. E isso é o que tenho pra hoje.



sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

1° DE JANEIRO DE 2021 - UM MARCO PARA OS PASSISTAS DE SAMBA


Por Rivanio Almeida Santos (Rivas)


Apesar de ter crescido ligado a uma igreja evangélica, tenho orgulho de dizer que aprendi com meu pai - antes dele entrar pra igreja - o amor por musica brasileira de verdade e de qualidade, entre tais as musicas Carnavalescas. Sou hoje uma pessoa que ama o Carnaval, em especial Escola de Samba.

Vou além... acho que mais que isso, eu amo o batuque dos tambores, o som do repique, do surdo, dos tamborins, EU AMO O SAMBA. Eu amo os passos, os breques e o gingado dos PASSISTAS DE SAMBA NO PÉ.

Sempre fui apaixonado por suar dançando um bom samba, de braços abertos, mãos nas cadeiras, um cacuete aqui e outro ali nos meus passos miudinhos e tímidos. E cada vez mais, pois fui ficando mais contido - a medida que fui conhecendo o que é ser sambista de fato, com samba no pé de fato -. Apesar da democracia que é o universo do samba tenho passando de um brincante a um admirador, expectador, respeitador e "aplaudidor" da arte dos artistas do samba no pé que são os passistas do samba. Eles não apenas dão show, eles são sim "O SHOW". MERECEDORES de todos os NOSSOS APLAUSOS, RESPEITO, RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO. Os aplausos até têm, mas respeito, reconhecimento e valorização... esses precisam melhorar para personagens de vidal REPRESENTATIVIDADE DA ALMA DO SAMBA. Isso é fato!

Outro fato é que hoje é um dia especial para o samba brasileiro. Um grande marco para os os passistas de samba do Brasil. Com os OBJETIVOS de:

- Preservar, difundir e fortalecer a arte da dança do Passista do samba (em suas Representações tradicionais e/ou modernas);
- Defender os direitos dos passistas enquanto artistas que representam um valor simbólico cultural do Brasil, e lutar pelo respeito e valorização desta Arte;
- Ser elo de unidade em todo o Brasil e no exterior, dos Passistas. 




HOJE, 1 de janeiro de 2021, Nilce Fran, Aldione Senna, Bruno Tete e Dhu Costa lançaram a ASSOCIAÇÃO DOS PASSISTAS DO BRASIL “CIRO DO AGOGÔ*”, entidade sem fins lucrativos (Pessoa Juridica) para organizar as demandas desta classe artística de sambistas. 




Neste vídeo lindo, com texto maravilhoso - criado e dirigido pelo grande e eterno Carnavalesco e Comentarista de Carnaval Milton Cunha - vejo uma representatividade enorme do que é ser e de quem são os passistas de samba. Há nele pessoas de várias gerações. Os que fizeram história, os que estão fazendo a história presente e representantes da arte passista futura (Parabens, irmão!!!) Arrepiante! Outrossim o vídeo comemora a Fundação da Associação, que já conta com 42 passistas de todos os tipos, pela democracia da dança do Samba no Pé.

Gostou? Ficou interessado ou tem alguma dúvida? Entre em contato através do e-mail da associação (vide abaixo). De uma coisa eu tenho certeza... DE SAMBA NO PÉ, ELEGANCIA E ALTO-ASTRAL ELES ENTENDEM! 




E-mail de contato: associacaopassistasbrasileiros@gmail.com

*Ciro do Agogô (1945-2016) foi o passista de duas bandeiras. Ele representava e defendia as bandeiras da Vila Isabel e da Estação Primeira de Mangueira. Foi criador, em 1997, da Primeira Associação dos Passistas do Rio de Janeiro.