segunda-feira, 3 de maio de 2021

ANA LULA: não lhe faltavam temperos e ingredientes... o gás acabou. 

 

Os turismólogos Rivas e Enoque Silva ladeando e beijando a culinarista Ana Lula.

Primeiro eu conheci a fama da dona do Antigamente - principal bar e restaurante do bairro da Praia Grande, entre as décadas dos anos 1980 e 1990, no centro de São Luís -. O que chegava até mim, não era das melhores famas. Ela era taxada como uma mulher muito dura, que queria mandar no Reviver e que brigava até com a polícia. Quando passei a frequentar seu empreendimento comecei a entender que ela era, na verdade, um alvo de pensamentos e práticas machistas. Afinal, ver mulher comandando um negócio. e de sucesso, não todo mundo que aceita.

Ana era uma mulher, mãe de 03 filhos - que eu saiba -, avó, que, conhecedora de seu grande talento na culinária, empreendeu e tornou-se dona do mais famoso bar e restaurante do centro histórico da cidade. Seu espaço era conhecido por todos os turistas que vinham à Capital maranhense. 

O Antigamente dava mais vida ao Praia Grande, conhecido popularmente como Projeto Reviver. Era ponto de encontro de turistas, amigos, casais... todos aqueciam o estômago com pratos deliciosos, gelava a garganta com bebidas geladas e aquecia o coração com músicas ao vivo. Grandes nomes do cenário musical de São Luís passaram por lá. Quase todos os quarentões - ou mais - que passaram por São Luís nas décadas acima tem alguma história ligada ao Antigamente.

Se ela brigava com a polícia? Sim, é não era para brigar?! Com todos seus documentos e impostos em dia, ela brigava  para que fizesse o papel de dar segurança aos estabelecimentos e frequentadores da área. Ela brigava com clientes para impedir comércio de drogas e casos de assédio sexual infantil nas dependência do restaurante - isso eu mesmo vi -. Para ela isso era intolerável.

Tempos mais tarde entrei no universo do turismo local e fui conhecendo-a mais de perto, até me tornar - como Enoque - amigo dela, embora nossas ocupações não nos permitissem nos vermos com tanta frequência. Entretanto, essa aproximação me fez perceber que Ana não brigava exatamente, ela exigia e cobrava o que era correto, o que lhe era de direito como cidadã, empreendedora em dias com suas obrigações e exigia o que era de obrigação dos poderes públicos para proporcionar segurança a todos na região. Ela que primava em oferecer o melhor aos clientes,  mesmo que para isso precisasse alterar a voz e sua pressão arterial. 

Enoque Silva e Ana Lula

Falando em pressão arterial, certa vez o Trade de São Luís estava em Belém para uma rodada de negócios com o Trade de lá - eu acompanhei muito, por minha conta, a Secretaria de Turismo de São Luís nesses trabalhos de divulgação, mas nesse eu não estava -. Pois bem, trabalharam os dias necessários na cidade e na hora do embarque, todos já entrando no avião, ela teve uma crise de pressão alta e não poderia embarcar. Foi então que o turismólogo Enoque Silva e a jornalista Léa Zaqueu, que participavam da comitiva, se dispuseram à acompanhá-la o tempo que fosse necessário. Medicada, e assistida por médicos do aeroporto, foi liberada para viajar. Ao adentrar no avião entrou falando alto, comemorando e fazendo piada com a situação: "Gente, eu não morri! Eu não morri!!". Todos riam num mix de comemoração e alívio. 

Quando cansou dessa luta, da qual concluiu que apenas dava murro em ponta de faca, Ana decidiu fechar o Antigamente - foi então uma grande perda à região da Praia Grande - e decidiu instalar na sua residência, no bairro do Vinhais, um atelier gastronômico, o Casa de Juja. Com sua garra, não tinha medo de recomeçar e s ua nova marca não tardou a ganhar fama e se consolidou como um dos principais points para se ter uma experiência de sabores inesquecíveis em terras do Maranhão. Sua mais famosa criação, o Arroz do Mar, é um dos pratos mais irresistíveis já feitos nessa cidade e copiado em muitos lugares. 

Arroz do Mar, mais famoso prato criado por Ana Lula


Chega ontem e soubemos que faleceu mais essa querida amiga, mais que isso, faleceu um grande ícone da cultura gastronômica e do turismo maranhense, vítima do covid. Faleceu ANA LULA, do Antigamente e do Casa de Juja. Nosso 02 de maio de 2021 se fez noite sem estrela ou luar e sem música alguma em pleno início de  tarde de domingo. Esse vírus, que insiste em não querer sumir e que, em nosso país, parece ter aliados importantes, a levou embora sem chance de um "até logo". Ana partiu e deixou-nos com o corações tristes, apertados e nossos dias futuros sem o olfato e o paladar da alquimia que tinha domínio como poucos. Nesse tacho que era sua vida, não faltavam temperos e ingredientes... o gás acabou.

Beijos, querida! Você já faz muita falta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que pena... Muita gente querida indo embora mesmo. Bem, agora estou te seguindo aqui. Sempre quero ler algo diferente, dou uma pesquisada na minha lista de blogs. Não tenho blog do blogger porque mudei de plataforma, mas continuo lendo blogs daqui.