quinta-feira, 14 de maio de 2009

DA RAMPA CAMPOS MELO AO CAIS DA PRAIA GRANDE

Fotos:
1. Primeira rampa, séc. XIX. (Fonte: Ananias Alves Martins, 2000).
2. Entrada da primeira rampa. (Foto: Thaís Pelúcio, 2005).
3. Praça localizada onde antes foi a segunda rampa, a Campos Melo. (Foto: Thaís Pelúcio, 2005).
4. Vista do Cais da Praia Grande, em 2005. (Foto: Thaís Pelúcio, 2005).
5. Barco Chegando de Cajapió. (Foto: Thaís Pelúcio, 2005).


Vocês que me conhecem sabem da minha paixão por esta cidade e por sua história... tudo sobre sua história que vai caindo na minhas mãos eu vou lendo. Informação nunca é demais. E neste dias de descanso forçado, estou revendo alguns trabalhos, alguns textos e quero comentar um pouco com vocês sobre o Cais da Praia.
Bom, estudar São Luís através dos tempos é uma viagem na evolução urbana e social de uma cidade que é marco na colonização portuguesa no norte da América do Sul e ponto inicial para a entrada na Amazônia.
Próximo ao local de fundação da cidade, pelos franceses (doa a quem doer!!!), consolidou-se o principal porto da ilha, que aos poucos, se tornara o “habitat” de mercadores. Justo onde está o sítio que gradativamente foi sendo aterrado com dinheiro do comércio, para se firmar como motor econômico da cidade de fins do século XVIII, XIX e parte do século XX, na reentrância do Rio Bacanga, a que denominaram Praia Grande (localizada entre o atual Viva Cidadão e a Rua Portugal, antiga Rua do Trapiche).
Até a década de 60, do século XX, o bairro da Praia Grande era reconhecido como o maior centro polarizador do comércio maranhense, o que foi base à formação econômica maranhense. Aliás, o Pólo Comercial da Praia Grande teve tamanha importância à economia estadual, com ligações a diversos aspectos da história do Maranhão, que abrigou o único porto de entrada e saída de mercadorias do Estado, dada a sua privilegiada localização. E nas suas ruas estavam localizadas as principais e mais importantes firmas do comércio local de então, tais como Cunha Santos e Cia, Martins Irmãos e Cia e Lages e Cia, além da firma da grande comerciante de farinha, a mais famosa do Maranhão, a negra, ex-escrava, Catarina Mina. Ficavam ainda ali, a alfândega, o Banco do Brasil e o Boston Bank.
Tudo que era comercializado na ilha vinha, ou ia, através do transporte aquático e devido ao crescimento do comércio local a frequência de embarcações no principal porto da cidade aumentou, gerando uma necessidade de se construir uma infraestrutura para melhor atender a nova demanda. Esta infraestrutura incluía aterros e construções de rampas, entre elas a Rampa Campos Melo, que, ainda hoje, tem sua importância, principalmente, no embarque e desembarque de pessoas do interior do Estado ou de turistas que vêm conhecer a cidade e suas histórias e que desejam também conhecer a cidade de Alcântara.
Havia no século XVII um considerável tráfego entre as cidades de São Luís, Alcântara e Belém, que comercializavam entre si. E, mesmo o comércio com Portugal sendo muito pequeno, já se podia contar que anualmente havia uma média de seis (06) navios trafegando entre São Luís e Lisboa, isso até 1675.
Neste mesmo período partiam grandes números de pessoas para explorar, e até povoar, a região na costa maranhense e as terras que ficavam “descendo” os rios.
Com a ampliação do comércio e a consequente elevação do movimento no porto, alguns problemas foram surgindo e aumentaram os desmoronamentos nas beiras dos rios, formando bancos de areias nas proximidades dos portos, impedindo a aproximação dos navios.
No início do século XIX, foram previstos três projetos de cais, sendo: um na Ponta do São Francisco (Ponta D’areia), outro no Sítio do Tamancão (Ponta do Bonfim) e, o único que realmente fora construído, o Cais da Sagração (em homenagem a sagração de D. Pedro II a imperador), que vai do Baluarte do Palácio até a Ponta dos Remédios.
Com a chegada dos navios a vapor, em 1850, a travessia ficou muito mais fácil atravessar o boqueirão, na Baía de São de Marcos, onde muitas embarcações naufragaram que se dirigiam às bocas dos rios.
Mas, voltando um pouco no tempo, ainda em 1812, já existia uma rampa para embarque e desembarque de passageiros, localizada em frente à Praça da Águia Posada (atual Pç. Marcílio Dias), entre o viaduto do palácio e a sede da Capitania dos Portos do Maranhão. E neste mesmo ano uma segunda rampa fora construída ao final da Rua do Trapiche (R. Portugal) e recebeu o nome de Rampa Campos Melo, por causa do então presidente da província Antônio Manuel de Campos Melo, que autorizou a construção.
Esta segunda rampa favoreceu o transporte de cargas e passageiros e tornou-se uma dos espaços sociais de grande movimentação da época, segundo historiadores.
Até a década de 70, do século XIX, a Rampa Campos Melo foi de importância vital ao transporte da população da baixada maranhense que até então não dispunha de transportes rodoviários. Estes passariam a oferecer maior segurança e conforto, além de independer de horários de marés. E, com o crescimento da cidade em termos físicos, o desenvolvimento dos transportes terrestres e a descentralização do portão de entrada e saída de pessoas e mercadorias na ilha, o setor comercial se espalhou e o Bairro da Praia Grande fora sendo deixado de lado. Surge então o Projeto Reviver para revitalização do bairro da Praia Grande.
Na época que fora feito o aterro do Bacanga, a segunda rampa (no final da Rua Portugal) foi aterrada e no local hoje há uma praça. Ao lado da primeira rampa, fora construído um abrigo, que ficou conhecido como Rampa Campos Melo.
Em 1999, o pequeno porto sofreu uma “grande” reforma, na qual teve todo o abrigo reconstruído e foi reinaugurado com o nome de “Cais da Praia Grande”, com instalações mais modernas. E, mesmo hoje, estando em um estado que não é o mais desejado e o mais apropriado, ainda beneficia (aliás, beneficia não... atende) os visitantes e residentes que queiram ir até Alcântara e outros interiores (da baixada ou mesmo das reentrâncias maranhenses), as pessoas que ainda têm nos barcos seus únicos meios de transportes entre estas cidades e à capital do Estado.
Vejam que interessante este tipo de estudo... Pode-se verificar que em um estudo histórico do Cais da Praia Grande não se pode deixar de lado o Bairro da Praia Grande, pois ele acompanha a evolução do comércio do bairro. Vejamos: a primeira e a segunda rampas foram construídas devido ao crescimento do comércio maranhense que se concentrava nas imediações do porto, que foi o mais importante quando a economia local estava em alta; quando o transporte terrestre se desenvolveu e o centro comercial saiu da Praia Grande a utilização portuária teve uma baixa extremamente considerável; e, atualmente, na onda do comércio turístico, embora não como antes, a movimentação e a utilização do cais voltou a crescer, principalmente por pessoas (residentes e visitantes) com destino à Alcântara.
Quem conhece o local pode confirmar o que digo: Mesmo com a última reforma ainda falta muito para que o atendimento aos usuários seja o ideal. Não só aos turistas, mas, principalmente, às pessoas (residentes) que embarcam e desembarcam do interior do Estado, que além de serem atendidas por pessoas despreparadas, por exemplo, têm que transitar entre cargas e animais.

REFERÊNCIAS:
LIMA, Carlos de. Caminhos de São Luís: (Ruas, Logradouros e Prédios Históricos). São Paulo: Siciliano. 2002.

MARTINS, Ananias Alves. São Luís: Fundamentos do Patrimônio Cultural – Séc. XVII, XVIII e XIX. São Luís: Sanluiz, 2000.

REIS, José Ribamar Sousa dos. Praia Grande. Cenários: Históricos, Turísticos e Sentimentais. São Luís: Litograf, 2002.


Um comentário:

MARILIA disse...

Prezado Senhor,

Parabéns por sua postagem. Gostei imensamente de seu relato. Encontrei-o ao pesquisar a respeito do local onde desembarcam passageiros quando a maré baixa não permite acesso ao Cais da Praia Grande.
Aproveito a oportunidade para comunicá-lo que terei imensa satisfação em publicar seu trabalho em meu humilde blog.
Sucesso!
Abraço da Marilia.