domingo, 13 de outubro de 2024

MARLENE, PEQUENA... TE ALUI, CRIATURA!!

Capa do LP Xou da Xuxa 1

Desde criança eu sempre fui fã do universo televisivo. Não digo que assisti tudo que queria pelo fato de que boa parte de minha infância não tínhamos ao nosso dispor os serviços de uma companhia elétrica em Santa Teresa do Paruá. 


Àquela época tínhamos - Graças ao Bom Deus, o serviço de energia, digamos, "por assinatura", fornecido pelo amigo João José. Ele era dono de um gerador de energia e quem quisesse poderia pagar um valor mensal e tinha energia em casa todos os dias da semana das 18 às 22h. Quando havia algo fora desse horário - tipo partidas importantes de jogos de futebol , um filme como Rambo e Superman, por exemplo - as pessoas se cotizavam e pagam o extra referente ao tempo necessário para assistirem a programação desejada.


Como nunca fui da noite sempre queria ver o que passava durante o dia, o que nem sempre podia, pois o gerador do João José não funcionava das 18h às 22h. Fora o João José as únicas pessoas da cidade que tinham geradores em casa próprios eram o Seu Jonas da usina e o Seu Amâncio. E era na casa deste onde eu assistia uns pedaços do Chaves e do Xou da Xuxa, para ver as brincadeiras, os desenhos, ela, as paquitas e os figurinos, minha paixão desde criança.

Xuxa e as Paquitas durante o programa.

Cada pessoa tem uma interpretação do que ver... mas, no caso da Rainha dos Baixinhos o que a maioria via na terrinha era muito mágico. Via-se um mundo distante do seu. Um mundo de fantasias, luzes, brinquedos, cores, brincadeiras, presentes, desenhos animados, músicas, emoções... um mundo de pessoas felizes.

Aquele universo da TV era tudo muito lindo e perfeito! Não existia espaço tristezas. Não que fosse um sonho, era de fato "O" sonho. Mas, tudo era muito distante e por isso ficaria sempre no campo da fantasia, de um universo paralelo. Pessoalmente falando, esta distância começa a diminuir e ver que tudo aquilo era deveras de verdade e possível alcançar quando soube que a diretora daquilo tudo era Nordestina e preta. E eu cresci com o orgulho de ser nordestino bem aflorado por causa de Gonzaga. Era como se eu sentisse que sim, era possível. Bom, mas no telativo ao "Xou" tinha a questão que ali só tinham mulheres brancas, altas, loiras, cabelos compridos e olhos azuis. Era um mundo de boneca... mas, daí descubro que a diretora, Marlene Mattos, mais que nordestina era maranhense, era baixinha, preta e - como diziam na época- era sapatão. Eu já me entendia como uma criança gay e visualizava nela - e um pouco na irmã Ângela Mattos, que foi cantora na época - a possibilidade de vencer na vida e ser uma grande profissional de visibilidade e respeito. 

Marlene Mattos 

Eu não queria propriamente ser a Marlene, também não queria ser Paquita - eu queria era tá perto daquele movimento, da produção, ver tudo de perto, produzir figurinos, cenários encantadores. E o comando dela, o (já famoso) pulso firme dela me inspirou - pois, me fazia ver que eu poderia ser grande um dia. 


Com o tempo fui tendo uma visão sobre o meio em que ela estava que era machista e de homens grandes na estatura e no status. Ela precisava impor sua presença e seu profissionalismo. Ainda mais por ser mulher, nordestina e gay, três categorias subestimadas e desacreditadas. Tenho plena convicção, apesar de nunca ter ouvido ninguém falar, que as portas se abriram por ter sido secretária e assistente/produtora do grande Maurício Sherman. Marlene regou a semente escolhida e plantada por Sherman - ele descobriu a Xuxa quando ela posou nua - e ajudou a crescer, florir, frutificar, dar brotos e ramos.


É preciso reconhecer que Mattos foi forte, valente, empreeededora, visionária... foi uma guerreira gigante dentro da arena de gladiadores cheia slde leões, apesar dos seus 1,50m. Minha conterrânea era das poucas mulheres no meio daquele contexto todo. E, não querendo ser homofóbico, pessoas daquela geração tinha uma visão muito estereotipada do que era ser veado e sapatão - ela tinha um jeito durão que ajudava nesta estereotipação, né? Aliás, segue tendo, mas quem sou eu para julgar. 


O fato é que ainda há quem afirme que ela que fez Xuxa e as Paquitas serem o que foram e o que são. Ela mesma acreditava nisso e a cada degrau que estes "produtos" cresciam e os nomes das "marcas" ganhavam mais projeções, mais sua autoconfiança, autoestima inflavam.


Gente... Marlene Mattos é uma referência de profissional brasileira. Há quem diga que ela tirou leite de pedra e transformou uma modelo desconhecida numa das principais apresentadoras da história da televisão brasileira - desconsideram totalmente a espontaneidade e carisma da então jovem e sexy modelo -. Estes acham que sua forma de gerir era a correta. Dava resultados. Todos achavam que faziam pessoas felizes, em especial suas dirigidas, comandadas e amigas eram puramente felizes e gratas pela "vida fácil" e glamourosa que ela lhes proporcionava. 

Imagem divulgação de Xuxa, o Documentário 

Corta para o fim da parceria Xuxa e Marlene, a separação da dupla, do casal como as más línguas falavam. Aqui é o fim dessa longa página dois da história. Sim... quando se está de fora tudo é lindo, quando se ler a história tudo é perfeito somente a página dois. E a página três começa justamente em 2002 com a bomba que foi separação do dupla e o fim da parceria de sucesso.


 O que aconteceu de verdade? Boatos, boatos e boatos... e nada de concreto, que fizesse sentido era dito, o que só ocorreu de fato em lançamento com o lançamento do Documentário "Xuxa, o Documentário".


Lançamento em 2023 pelo GloboPlay o doc revelou as causas do desgaste da relação de quase 3 décadas das dupla de mulheres sinônimo de sucesso nacional. O que se pensava ser uma forma de "gerir" era de fato uma relação abusiva, onde a diretora impunha suas decisões de forma autoritária e dava seus feedbacks através de maneira altamente indelicada. Tudo na frente de todos, inclusive de uma plateia de quase 300 pessoas. Por mais caruda e peituda que Xuxa fosse de responder, retrucar ou debochar da forma que as coisas eram colocadas pela diretora.

Marlene Mattos e Xuxa dirigidas por Pedro Bial para documentário

Não se precisa parar para analisar a forma de tratar sua principal cliente, basta assistir ao documentário, ou suas falas durante conversa com a apresentadora no primeiro encontro das duas quase 20 anos após o rompimento. Quem vê acha desnecessária e exageradamente grotesca sua forma de gestão, mas, no fundo "se busca" uma justificativa - pelo menos eu - para que ela agisse assim com seus "produtos" de trabalho - acho que ela nao via pessoas ali -. Afinal... um programa feito, dirigido, apresentado e animado por mulheres, em um universo masculino e machista, precisava dar certo. E, sendo dessa forma que os homens daquela época faziam acontecer, talvez fosse a única fórmula certa... nosso olhar romantizador, nosso coração apaixonado e nostálgico ainda quer uma justificativa para deixar passar. E ainda tem a banda podre que tentar culpar Xuxa, por não se impor como deveria. Esquecem que não se discutia o tema assédio moral - como tantos outros - e se tinha a visão de que era comum, apesar de não ser normal ou certo - o assédio moral só passou a ser tipificado em 2017 através da lei da reforma trabalhista na CLT.

Divulgação Documentário das Paquitas 

Bom, quase um ano após o lançamento do documentário da Xuxa foi lançado outro doc. Agora foi a vez do 'Pra Sempre Paquitas’, também do Globoplay, e para o qual Marlene recusou o convite de dar seu depoimento e suas versões dos fatos. Paquitas, para quem não sabe, era o grupo de ajudantes palco que ajudava Xuxa durante as gravações dos programas e durante os "xous" pelo mundo a fora. Quase todas as crianças do Brasil queriam fazer parte deste grupo de meninas que quando estouraram, lançando o primeiro LP, viraram popstar e sonho (ou seria delírio? ) de criança. A cada vaga anunciada milhares de meninas do Brasil todo se inscrevam. 


A função virou profissão de fato. Mas, o que as meninas queriam, não era somente uma forma de ganhar dinheiro. Elas queriam de fato era ficar ao lado da ídola de todos, a Rainha dos Baixinhos. E víamos crianças felizes, estudiosos, que davam conta de tantos afazeres com tranquilidade e genialidade. Víamos que se realizavam, cresciam e eram vistas no mercado, lembradas e chamadas para outros projetos para os quais teriam que se dedicar e, por fim, precisavam alçar novos voo. Era sensacional!!! 

Montagem com imagens de três gerações de Paquitas

Vendo o 'Pra Sempre Paquitas’ podemos dizer o famoso #SóQueNão ... entendemos que eram crianças com idade entre 09 e 17 anos entravam na escola às 7h saindo por volta das 12h, trabalham gravando de terça a domingo, gravando das 13h às 03h da manhã. Tinham que se manter magras - se engordassem, independente dos hormônios adolescentes, eram ameaçadas de demissão dos sonhos ora sendo realizados. Sabemos que houveram viagens em que eram trancadas nos quartos dos hotéis. Houveram broncas nas quais que foram chamadas de "putinhas". Houve aquela que se não pintasse o cabelo de loiro, não se apresentaria com a demais no Faustão... ameaças de suspensão, demissões... e a gente ver que quase todas as saídas não foram por "convites a novos projetos" ou "busca de outros sonhos" como era dito nas despedidas daquelas que podiam se despedir.


Não sei se eu me inspirei nela propriamente, o fato era que nas primeiras oportunidades que eu tive de gerir pessoas eu vejo que errei um bocado. Quando pude me olhhar de fora passei entender que o mundo é maior que as minhas tensões e responsabilidades. Estas podem cumpridas de forma mais leves e com menos pesos e caras negativas. Chega-se ao mesmo resultado, de forma mais feliz. Para isso a terapia em dia ajuda muito, conhecer suas questões e, se caso necessário, as medicações são aliados indispensáveis. Não que eu tenha me tornado um anjo ou santo, mas, sou um profissional muito mais próximo dos colegas e juntos alcançamos mais e grandes resultados. 


No caso da Marlene ela soberba e cegueira desmedidas e descontroladas cresciam proporcionalmente como cresciam o sucesso do trabalho de todos que faziam a marca Xuxa e tudo que era desse universo.


Com os documentários vemos o quando é trabalhoso fazer e manter o sucesso de uma grande artista em projeção nacional e internacional. A cada episódio das séries, que poderia louvar o trabalho de uma grande comandante daquela tropa feminina - aliás elas reconhecem seus empenhos e seus feitos - constatamos que ela passou a se mostrar uma pessoa que sempre se acha certa e acredita que só a sua verdade é verdadeira. E esse é o principal ponto que a põe como "vilã" dos dois documentários. Pois, é notório que o que todos queriam era uma fala no sentido de assumir que naquela época uma postura dura e forte era necessária para que todas chegasse onde chegaram, mas que - até pelo peso da responsabilidade e da cobrança- pode ter errado a mão e a medida e que se fosse hoje em dia nada aquilo não se repetiria. E que pedisse desculpas pelas desmedidas e exageros. 

Xuxa e Marlene Mattos 

Com esta postura grande diretora pode ser chamada de intransigente, dogmática, teimosa ou arrogante. Dependendo do contexto, também pode ser descrita como egocêntrica ou autoritária. Esses termos indicam uma tendência a não aceitar ou considerar as opiniões dos outros e a impor suas próprias crenças ou perspectivas. Vemos isso nitidamente quando, no seu encontro com Xuxa para o primeiro seriado, ela fala que não arrepender e que faria tudo outra vez, quando admite que controlava muitos aspectos da vida de Xuxa, inclusive sua alimentação, sua imagem e sua agenda e quando diz que chega uma hora em que você descarta as pessoas e quando a pessoa não te serve mais, você joga fora. 


É delicado uma pessoa chegar aos 74 anos achando que todas as suas ações são passado foram de fato corretas. Ninguém é isento de erros... Gente... quem nunca fez algo no passado que hoje não é mais plausível de se repetir? É isso... assumir erros e se desculpar mostra humildade e amadurecimento do ser humano. Que postura da Marlene é essa??? Não sei as razões pelas quais fora dispensada, contudo não é de espantar que ficou pouco tempo nos últimos projetos para os quais fora contratada. Atualmente, o mercado valoriza profissionais com perfis mais contemporâneos e adaptáveis, deixando de lado aqueles com abordagens excessivamente tradicionais e inflexíveis.



sábado, 12 de outubro de 2024

SENDO CRIANÇA NO BRASIL EM 1989

Minha casa em Presidente Médici - 1989 

O ano era 1989 e pequeno Rivanio, Vanim, Vanico, Vanoco ou Van já se dava conta do que acontecia no Brasil, onde o Presidente ainda era o Sarney e o governador do Estado ainda era Cafeteira. E tanto no cenário nacional quando estadual a situação não era tão fácil,  não. O Rivinha já via os malabarismo econômicos do Juruca e de Terezinha para manterem duas casas ao mesmo tempo. Além disso, naquele ano houve a primeira eleição direta do país, quando o Collor foi eleito e foi o desastre que foi... O que era reconfortante era a diversidade cultural brasileira que sempre foi encantadora. 

No campo musical - que iam do rock nacional ao samba, passando pela música popular brasileira (MPB) - o país tava em ebulição. Naquele tempo era de ascensão de ritmos populares como o sertanejo e o axé. Algumas das músicas que fizeram sucesso naquele ano incluem:

1. "Faz Parte do Meu Show" - Cazuza

2. "Primavera" - Tim Maia

3. "Avião decolou" - Roupa Nova

4. "Que País É Este" - Legião Urbana

5. "Whisky a Go Go" - Roupa Nova

6. "Evidências" - Chitãozinho & Xororó

7. "Bete Balanço" - Barão Vermelho

8. "Eu Me Amarrei" - Joana

9. "Doce Vampiro" - Rita Lee

10. "Oceano" - Djavan

Beth Faria em divulgação da novela Tieta.

Na TV eu era apaixonado pela Xuxa e pelo desenhos como He-Man, She-ra, A Caverna do Dragão, Os Smurfs, Os Flintstones e Os ThunderCats. Mas, eu já era noveleiro pois era a época que as telenovelas brasileiras estavam em plena ascensão, e a TV Globo ja era líder em grandes produções. Algumas das novelas de maior sucesso naquele ano foram:

"Tieta" (TV Globo) era baseada na obra de Jorge Amado, Tieta foi um grande fenômeno de audiência. Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.

"O Salvador da Pátria" (TV Globo) de Lauro César Muniz e protagonizada por Lima Duarte como Sassá Mutema. Era uma Brasil na tela.

"Que Rei Sou Eu?" (TV Globo) escrita por Cassiano Gabus Mendes, misturava comédia e crítica política para fazer sátira à política brasileira. Era maravilhosa.

"Top Model" (TV Globo) de Walther Negrão e Antônio Calmon, o enredo era sobre a vida de uma modelo vivida por Malu Mader. A trilha sonora e os personagens descolados fizeram um sucesso incrível.

Fora isso o mundo a história mudou por conta de grandes acontecimentos pra lá de relevantes que eu lembro através de duas imagens que me fizeram apaixonar por história:

Pedro Bial em cobertura da queda do muro de Berlim.

- Queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989)foi o marco do fim da Guerra Fria e do colapso dos regimes comunistas na Europa Oriental. Lembro da matéria do Pedro Bial pra TV Globo.

- Massacre da Praça da Paz Celestial (4 de junho de 1989) na China onde milhares de estudantes e manifestantes pró-democracia se reuniram em Praça Pública exigindo reformas políticas e liberdades civis. A imagem desse evento é um estudante enfrentando corajosamente um tanque de guerra.

O Ano de 1989 foi um ano grandioso, borbulhante.... e eu recordo de tudo isso e apesar de muitas coisas não boas que aconteceram eu tenho saudades... mas, queria voltar no tempo não. Valeu viver e aprender. Hoje tenho o que contar.



segunda-feira, 24 de junho de 2024

Vivendo com TDAH: Minha jornada e descobertas

 


Sempre me senti uma pessoa estranha, diferente e alheia ao mundo ao meu redor. E não estou falando das minhas questões homoafetivas. Essa era mais uma questão. Contudo, há outros tópicos para resolver na vida. Viver é complexo. Me refiro a questões que eu não sabia identificar e dar um nome. Casos comportamentais, de aprendizagem, atenção. Coisas do campo interno, questões cerebrais, psicológicos. Sentia algo nesta seara desconhecida e tão profunda que me despertava curiosidade a cada tema que me levasse a alguma identificação e alguma suspeita.


A cada passar de ano, eu me percebia diferente e distante das formas, por exemplo, que as pessoas ao meu redor aprendiam, estudavam, percebiam o mundo. Seu tempos de aprendizagem eram mais breves que os meus, em especial para as questões de leitura e números... eu lembro que só deixei de ser "rude" - como se falava no interior - após minha chegada ao então segundo ano do nosso primário (hoje terceiro ano do ensino fundamental) quando eu aprendi a ler palavras. Mas, de fato ainda era uma leitura comprometida, pois não entendia as pontuações. Esse, digamos, delay entre o que era ensinado pelos professores e a minha compreensão me fizeram receber "bullings" de burro, lento ou lerdo. E para piorar eu comecei à acreditar que poderia ser verdade. Isso dói! E piora muito com o avançar dos anos.

Pois bem... mesmo assim eu sempre busquei me fazer criativo no campo das artes. Sempre fui de observar, testar e fazer. Tinha satisfação pela descoberta desta minha capacidade e facilidade e, mais que isso, de provar às pessoas que eu não era tão burro, lento e lerdo quando parecia. Eu era... diferente nesse ponto também!!! Eu era diferente deles. Eu sabia fazer algo que eles não conseguia. Contudo, todas às vezes que estas aptidões passaram a ser direcionadas a uma questão de obrigação e a ser alvo de algum tipo de cobrança eu deixei de ter interesse em fazê-las. É como um sentimento de compensação ou bloqueio interno. Estudar eu era obrigado para aprender e chegar ao menos às médias estabelecida e sentia a cobrança para ser igual a meus irmãos mais velhos de assimilação rápida, de concentração, coragem e determinação invejáveis. Para tudo isso eu me sentia obrigado a dar meus pulos e não deixar a peteca cair. Contudo, em meus dons e talentos, ninguém manda... é como se meu eu interior que determinasse se quer e quando quer fazer. Isso me bloqueia total. 


 Você deve até se perguntar o que, além dos bullings, de fato me fazia pensar que eu era diferente e distante das pessoas ao meu redor. Tá bem então! Senta que agora eu lhe digo as minhas percepções quanto a mim mesmo em relação a todos, apesar das diferenças que sei existirem entre as pessoas. Vejamos:

DESCONCENTRAÇÃO - Sempre tive dificuldades de direcionar atenção a uma coisa em específico. O estudar me era sacrificante, dava muito trabalho. Primeiro eu não ficava ligado no tema por muito tempo, pois ou o que estava lendo me levava a uma viagem mental que me distraía do tema foco ou eu batia o olho em algo ou alguém que me tirava a atenção - sem falar que isso sempre comprometia meu entendimento do que estava lendo -.Daí instintivamente passei a estudar lendo em voz alta para me ouvir, grifar os parágrafos que estava lendo, destacar as palavras-chaves e fazer resumo em cadernos ou papéis de borrão. Todas às vezes que eu ia estudar no quarto minha mãe mandava eu ficar de porta aberta, pois eu poderia acabar "viajando" ou dormindo.


 IRRITADABILIDADE - a paciência nunca fora uma grande virtude na minha vida. Para começar eu sempre acordo de mal humor e pode piorar se o que vier na sequência do dia for ligado a repetições de alguma atividade, a mudanças de planos repentinas, a perguntas óbvias demais, insinuações, pessoas subestimando minhas capacidades ou se por alguma razão passar por alguma privação de sono. Em situações como estas eu não tinha muito tempo de raciocínio, as respostas atravessadas e certeiras sempre saiam antes das possíveis paradas para conferir até dez e pensar.


MUDANÇAS BRUSCAS DE HUMOR - Todos os dias eu até consigo chegar a um alto nível alegria, contudo, não é raro o dia que do nada eu fique enfezado. Pode ser por algo que vejo, que ouço, que eu mesmo faça de errado... ou simplesmente um pedido para saída da rota que eu mesmo já tinha estabelecido na minha cabeça para concluir algo. Toda vez que sou "obrigado" a sair da minha rota é como se alguém tivesse apontando pra mim dizendo eu estava errado, iria errar ou que eu fosse burro. É como se eu fosse podado de provar que eu sou capaz, que sou menos e o que quero, o que penso e o que faço não seja importante. Um caminho direto para uma frustração.

AGRESSIVIDADE COM FRUSTRAÇÕES - esse sintoma está diretamente ligado ao anterior. Nunca soube lhe dar com as frustrações que apareceram em minha vida e, apesar de terem sido muitas vezes que senti o amargo sabor da frustração, nunca aprendi a dar menos importância a elas. Talvez a única forma de me dar com elas tenha sido o fato de começar à acreditar que as minhas dores, falas, percepções, opiniões e decisões não fossem importantes. E por isso... passei a falar por falar e depois, nem de falar... apenas ouvir, atender e, sempre, "tentar" concordar. Autoestima e autoconfiança em queda.


DESREGULAÇÃO EMOCIONAL - Quando digo no parágrafo anterior "tentar" é pelo fato de sempre ter, até hoje, não ter conseguido controlar minhas indignações e minha língua. Quando dou por mim meus atos e ações já foram. Principalmente através de palavras. Não sou de briga corporal.


IMPULSIVIDADE - a desregulação emocional citada acima pode ser, por vezes, confundida e taxada como sendo parte da minha Impulsividade. Esta vem associada aos momentos de empolgação. Normalmemte surge nos instantes que estou extremamente feliz com algo,.que é quando sou acometido por uma vontade de querer agradar, de fazer o certo, de fazer o outro sorrir, de fazer as pessoas felizes, de ajudar - mesmo que esteja no meio do mês e eu só tenha, digamos, 20 reais pra os últimos 15 dias restantes-. Mas, não nego que já surgiu também pela vontade de dar um troco em alguém por algo não bacana que tenham feito pra mim. Em ambas as situações foram muitas as vezes que me arrependi... na maioria das vezes, na verdade. Mas, em minha defesa repito - para mim mesmo - que fiz a minha parte ou o que era preciso para não me sentir uma pessoa ruim ou uma pessoa ultrajada é, muitas vezes, para não permitir que tentem me diminuir por ser quem e como sou.

 

FALAR MUITO OU NÃO FALAR NADA - tenho meus momentos de uma hora quer falar demais e em outras de não querer falar nada e nem com ninguém. Isso têm muito de influência das minhas alterações de humor. Quando estou feliz quero falar com todos, canto e danço no carro, sorrio muito e alto, chego no trabalho cumprimento pessoa por pessoa, dou bom dia a desconhecidos... e quando o humor vai embora, perco todo e qualquer ânimo ou assunto. Meu olhar fica longe, minha cabeça e meus pensamentos vagam em assuntos diversos. Vai do "e se?" até aos infindáveis porquês.


ESQUECIMENTO - outro sintoma que sempre acompanhou-me a vida toda é o esquecimento de agenda, compromissos a fazer, atividades que esteja fazendo, o que estou falando, o que pretendia falar... sem falar os nomes das pessoas. Quando crianças inúmeras vezes saia para fazer compras para minha mãe e voltava sem nada e, quando muito, com os produtos errados. Tantas outras vezes eu sentia algo, marcava consulta e não ia porque já não lembrava o que eu tava sentindo. Aprendi, para driblar situações chatas, por exemplo a ir colocando todas as coisas que vou precisar rm um só lugar e na minha frente pra não esquecer nada. Também anoto o que tenho que fazer, além de enviar e-mail ou WhatsApp para mim mesmo.


PROCRASTINAÇÃO - carreguei também a vida inteira o pesado e vergonhoso título de preguiçoso. Só não digo que injustamente por saber que anos atrás as possibilidades de sequer desconfiar que o problema era muito mais sério não era uma opção. O fato é que sempre fui de empurrar com a barriga as demandas menos urgentes e não era puramente por não querer executá-las. Era falta de ânimo e organização mental. Até conseguir ânimo para fazê-las eu ficava me martirizando por este desânimo, pela falta de coragem, sobre como começar, por onde começar, quando começar. .. Eu só despertava para fazer de fato na pressão da última hora, eu só estudava em véspera de prova, eu sempre sofri para acordar e fazer atividades físicas, aliás... para acordar nem tanto o problema era para decidir sair de casa para fazer qualquer atividade física. Engana-se quem pensa que deixava de fazer para seguir a fazendo outra coisa relativa a diversão ou passatempos. Não... eu paralisava diante tudo ou qualquer coisa que tinha a fazer, me julgava e sofria por isso. E para sofrer menos eu procurava uma desculpa que justificasse minha apatia.


FALA PROLIXA - por incrível que possa parecer sempre fui tímido e fechado. Até que trabalhei a mente para as necessidades que surgem na minha vida adulta e profissional. Assim, apesar da timidez, eu falo. Contudo, sou pego por um nervosismo que não me deixa ser direto e nem raciocinar direito. Tento explicar e deixar as coisas mais detalhadas e por isso passo a falar demais, não me torno direto. O mesmo ocorre quando preciso falar algo não muito agradável, ou quando preciso dizer "não" as pessoas... além do nervosismo, sou tomado por um receio de chatear, frustrar e magoar a pessoa com quem preciso despachar.


DESATENÇÃO - Conversar com outras pessoas, em especial desconhecidos que de fato terei que trocar ideias ou pessoas especiais, digamos, em determinadas circunstâncias é uma grande demanda. Eu começo prestando toda a atenção devida, mas depois de determinado tempo não sei mais nem o que seria "atenção". Não consigo compreender, a depender do assunto ou do grau de complexidade da fala, a mensagem que todos entendem normalmente. Até pelo fato de que meus pensamentos não param de rodar, de me distrair com a roupa das pessoas, dos cenários, se for evento acompanho como a produção trabalha, se estivermos na rua penso que estamos atrapalhando a passagem de outros, se há onde sentar, quem vai passando do lado... e tudo isso ao mesmo tempo. Por vezes não me recordo nem do que estávamos falando. Quando isso não acontece é pelo fato de eu ter ficado sem assunto a tratar. 


ORAÇÃO INTERROMPIDA - Todos os dias eu me pego mudando de pensamento no meio da oração. Lembro do que deixei de fazer, das contas a pagar, do que alguém me disse durante o dia... e quando me vejo preciso recomeçar a oração por não recordar onde parei ou, as vezes, me atrapalho com a ordem das frases do Pai Nosso. 


PENSAMENTO ACELERADO - absolutamente não consigo ter controle dos meus pensamentos. Eles são acelarados e incessante. Sofro como Penso rápido e temas diferentes a cada instantes. Quando preciso escrever o que estou a pensar, como é o caso destes texto, preciso reler com atenção para por palavras que esqueço ou pulei, pois velocidade dos dedos não acompanha a agilidade da mente. Meus pensamentos não respeitam nada que eu esteja fazendo. Seja um texto, uma leitura, uma atividade física, vendo um vídeo... nem mesmo uma meditação para o qual preciso esvaziar a mente eu consigo zerar a mente tempo algum. Só quando durmo.

INQUIETAÇÃO - Apesar das questões que por vezes me paralisam de executar alguma atividade eu sou por natureza uma pessoa inquieta, que não consegue ficar quieto por muito tempo. Estando em casa estou sempre andando por cada compartimento, e cada vez que vou a cozinha abro as geladeiras procurando algo que não sei o quê. Quando sentado em algum lugar, as pernas não ficam paradas, sempre estão em balanço. Houve momento que esta Inquietação me fazia ter movimentos faciais - tiques na boca. Certa vez minha avó materna pensou que eu estava tendo um AVC dada a quantidade de manias faciais que eu tinha de tanta Inquietação.


MUDANÇA REPENTINAS DE FOCOS - sou empolgado quando tenho em foco algo que crio e quero muito fazer. Daí nasce a necessidade, a vontade de fazer logo tudo de uma vez e, de quebra, desperta a ansiedade se ver tudo pronto. Quando acontece de ter uma interrupção ou uma mudança nos planos ou roteiro do trabalho em desenvolvimento é quase certeza que vou travar e ser impedido de finalizar aquele trabalho. Na empresa onde trabalho eu consigo terminar, mas com um sentimento muito grande de pressão e obrigação. Mas, quando é trabalho pessoal eu simplesmente deixo de fazê-lo. Tenho encomendas de trabalhos de arte paradas há 2 anos, pois não consegui finalizar. Antes eu de forma espontânea fotografava paisagens da cidade e postava nas redes sociais todos os dias... com o tempo as pessoas passaram e me fazer cobranças para realização de exposições. Travei! Hoje não vejo mais graça na cidade e não tenho mais estímulos de postar. Quando o faço é esporadicamente. 


IMPACIÊNCIA PARA REPETIÇÕES - não é que fique irritado, mas definitivamente tenho paciência alguma para trabalhos repetitivos. Sou de trabalhos artesanais e artísticos. Literalmente pinto e bordo. Contudo, me ver fazendo alguma atividade que requer muito trabalho de repetição por ter um passo a passo miúdo me dar uma sensação de cansaço. Sinto como se fosse nadar, nadar e morrer na praia. Sempre fui assim. Hoje eu não bordo minhas roupas por isso, mas quando criança eu já achava tediante algumas atividades de artes escolares dada a exigência de picotar e colar papéis, por exemplo. Detestava fazer centenas de metros de bandeirolas pra decorar o arraiais da escola.

DESORGANIZAÇÃO - nunca tive a virtude de manter materiais e roupas nos seu devidos lugares. A minha pressa de finalizar uma demanda para iniciar outra me fazem não querer perder tempo guardando o material usado anteriormente. Até pelo fato de que eu achar que possa precisar novamente. Assim os objetos são se acumulando.fora de seus lugares.


DISTRAÇÃO - não bastasse a dificuldade de concentração, o fato de me distrair com qualquer coisa me é um fator de grande incômodo pessoal. Não se trata de não achar um assunto, uma conversa, uma palestra, um filme, uma atividade ou uma música interessante. O fato é que uma fileira de formiga me chama atenção e me desperta curiosidade de saber de onde vêm e para onde vão. Uma música antiga ao longe pode me despertar memórias afetivas e fazer viajar no tempo. O andar de alguém me faz pensar na pessoa daquela pessoa. As caras e bocas das outras pessoas me faz ver se estão atentas ao tema (logo eu que não tô). As feições e os movimentos dos braços, o tom da fala do interlocutor me fazem refletir se está sendo verdadeiro ou fazendo média... para mim o entrelinhas ou os acontecimentos periféricos chamam meu olhar e meus pensamentos.

INDECISÃO - nunca soube o que pedi para comer, lanchar ou vestir. Passo mais tempo decidindo o que comer e o que vestir do que comendo ou me vestindo. Isso me causa aflição ao ponto de preferir que escolham por mim, ou prefira escolher igual de outra pessoa para facilitar minhas escolhas. Esta aflição se assemelha a que sinto quando estou decidindo a melhor forma e tempo de fazer um serviço que preciso fazer e acabo procrastinando. Por fora estou pleno, por dentro a mais pura agonia. Me incomoda muito.a indecisão, seja minha ou dos outros.


CONFERIR E RECONFERIR - se ler é uma atividade tão exaustiva quase tanto quanto uma atividade braçal imagine uma atividade de conferência que requer muita atenção e concentração. Nunca consigo conferir o que quer que seja de primeira. E passei a usar a tática de separar em lotes dependendo da quantidade de material a ser conferida. Separo de dez em dez, cinco em cinco, dois em dois... caso contrário fico no ciclo de confere e reconfere.


IRRITADABILIDADE - não, não é difícil eu ficar irritado. Não é uma graaaande demanda para quem queira acabar com meu dia. Um olhar atravessado, uma resposta em tom desarmonioso, barulhos estressantes, choro de criança, pessoas que não param de falar, brincadeiras fora de hora, tentativa de zombaria com minha pessoa ou diminuição do meu valor por ser uma pessoa negra, gay, profissional, nordestina ou por divergência política. Nesses casos o melhor que faço é sair de perto, pois a permanência compromete qualquer tentativa de harmonia emocional. E uma fez que eu saia do prumo eu demoro horas, por vezes dias, para voltar a ser uma pessoa que tenta se manter sereno. Situações assim comprometem até meu sono e meus sonhos noturnos.


INTROMISSÃO EM CONVERSAS - muitos acham que sou sociável. Isso ocorre pelo fato da característica que tenho de me intrometer em conversas alheias por Impulsividade, quer seja de pessoas conhecidas ou desconhecidas. Dou opinião, conselhos, encaminhamento médico, dicas de remédios, comento novelas, reclamo ou elogio o local...


ANSIEDADE E DEPRESSÃO - todos esses sintomas não tiveram respostas, pelo menos durante muitos anos. Eram aparentemente sem quê, nem pra quê e me colocavam em um lugar de perdido, sem rumo, sem saber o que fazer para eu me entender e procurar minhas melhoras. Bom, associado a estes sentimentos que me deixavam atormentado fui vivendo coisas fortes, abusos e violências que plantaram na cabeça, no coração e na alma do pequeno Rivas sementes de outros males terríveis como a ansiedade, que se tornou uma das companhias que mais estiveram presentes na minha vida dia após dia. No início os medos das broncas por algo feito no entusiasmo da curiosidade ou de me divertir e que não estavam previstos os B.Os gerados como consequências. Estava comigo a cada viagem anunciada por menor que fosse, a cada anúncio de prova, a cada resultado das correções das provas, a cada trabalho à apresentar, a cada entrevista de emprego... e nos dias de hoje está comigo a cada viagem para o local carnaval, a cada dia de desfile que eu preciso subir nas alegorias, a cada dia importante no trabalho, a cada grande evento que eu precise me fazer presente. Outro gatilho que starta a minha ansiedade é quando boleto eu percebo que possa acontecer deixar de pagar alguma conta minha ou quando vou falhar com alguma palavra que eu tenha dado. Daí eu recorrer sempre as minhas planilhas de pagamentos e não prometer quase nada a ninguém. Associadas à ansiedade estão as frustrações das expectativas geradas, as sensações de que todos os problemas que tenho não têm soluções e daí, a queda na depressão é quase inevitável, pois não ha um aviso prévio ou um convite, que é a pior coisa que pode acontecer com qualquer ser humano. Ela nos tira toda e qualquer empolgação e a mínima vontade a fazer qualquer coisa, pois se tem a sensação que por maior que seja o esforço nunca sairemos daquele buraco escuro. É viver em vida. É preciso que se tenha um pouco de discernimento para se ver doente e procurar socorro. A depressão, se não for tratada, pode acabar com a vida da pessoa em todos os sentidos. 


Todo esse mix de conflitos, sentimentos, angústias eram sintomas de algo que eu sabia ter, mas não sabia o quê. Eu carecia de uma explicação para me entender e me conhecer. Sempre observei os outros para tentar me ver como um ser humano em algum lugar. Não seria possível que meu eu não teria uma causa e um porquê. 


Tudo isso começou ter um caminho de solução, ou de encontro comigo, quando eu me vi dentro dentro de um quadro depressivo e procurei ajuda de psicólogos e psiquiatras. Muitos foram os profissionais pelos quais passei, até que parei nas mãos dos dois atuais que me ajudaram a ir desatando os nós mais urgentes, um de cada vez. Eles têm me ajudado a organizar a mente, a me ver de fora, a me enxergar com mais atenção, carinho, acolhimento, respeito e calma. Dentro dessa busca eu lia bastante sobre os possíveis diagnósticos que eu suspeitasse e logo descartava, pois sempre havia algo que não me encaixava. Assim ia conversando com os profissionais que iam de fato excluindo as possibilidades. E seguiamos nas terapias e nos tratamentos dos problemas mais urgentes para cada momento. Até que sem correria, sem atropelar nada, com confiança e acolhimento que eu sentia em Dra. Anne Caroline e Dr. Eduardo Ibiapina fomos achando rumo do caminho que nos levava a descobrir e fechar meu diagnóstico de Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade – TDAH, que é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como os que apontei acima e que causam prejuizos sérios relacionados à interação social, aprendizagem, memória, linguagem e baixa autoestima.


Meu primeiro sentimento ao ser diagnosticado não foi se tristeza. A descoberta desse diagnóstico me deixou muito feliz até. Não feliz por ter TDAH. Não se trata disso. A questão é sobre encontrar a peça que estava faltando no quebra-cabeça. Fiquei feliz que achamos as causas, as razões e os porquês de tantas ações e reações minhas que eram taxadas como ignorância, mal educação, preguiça e por tantas outras palavras usadas pejorativamente. Fiquei feliz pelo fato de que agora sabemos para onde devemos levar meu tratamento. Agora tudo faz sentido, todas as peças se encaixaram. Eu me encontrei com minha outra face até então desconhecida.

Já sei que não há cura, apenas tratamento de controle e diminuição dos sintomas. Mas, sei que meu doutores vão me guiar da melhor forma certa e com a mesma responsabilidade como tem sido até aqui. Minha confiança neles aumentou mais ainda e isso é fundamental para que eu acredite no caminho que seguiremos. Os primeiros passos desse novo caminho já começamos a dar e já temos grandes e excelentes resultados. Já começo a ver um Rivanio que eu nunca tinha visto. Isso me deixa orgulhoso de mim mesmo. Estou tentando me reconfigurar. Já começo dizer a mim mesmo que toda aquela gente estava errada. Contudo, busco não julgá-las, pois elas só podem escolher as palavras dentro de seus repertórios construídos a partir de suas rasas experiências. No entanto eu quase entreguei os pontos acreditando no que me achavam de mim... eu quase acreditei e sofri muito por isso. Agora chega! Já levantei e engoli o choro! Tá hora de sacudir a poeira e dar a volta por cima.


Não quero correr e não vou correr. Seguirei caminhando sem parar. Devagar e sempre.



domingo, 16 de junho de 2024

ESSA "TAL" THAYNARA E O SEU SÃO JOÃO

Nova logomarca do São João da Thay 

Escrevi esse texto no ultimo dia 09 de junho, um dia após um já famoso evento de São João no Maranhão. Ia postar, Contudo decidi esperar para ter ainda mais uma evidência do que escrevi. Estão hoje fiz alguns ajustes. Vejamos:

Escrevo aqui sobre o Festival São João da Thay que aconteceu bos dias 7 e 8 de Junho de 2024. Bom, por questões profissionais não posso expor detalhes de questões de patrocínio. E também acho que questões sobre patrocínios acerca da lei de incentivo à cultura já fora muito debatido, explicado, explanados, exposto, dito e redito. Acredito que todos já entendem, ou deveriam entender, como funciona. E em tempos de Internet em que as informações estão ao alcance das mãos, bastando dar um Google, não pesquisar mais explicações para compreender determinados temas para poder disseminar interpretações erradas é uma questão de caráter, aliás de "falta de", para melhor dizer. Mas, enfim... eu quero dizer que tô - SOU - orgulhoso sim de trabalhar em uma empresa que ouviu ouviu minha voz, minha ladainha na defesa desse projeto e foi atrás de informações e mais opiniões, visões, versões, embasamento, justificativa e a importância de projetos como tal para fortalecimento de uma cultura tão diversa como a nossa e, por isso, entregou muito destes dias lindos.

 Advogada, influencer e empresária Thaynara OG

Sei que devemos focar no que ocorre de bom. E não faltam pontos positividos e entregas para comemorar. Eu podeita enumerar. Contudo, vou dar um Control C e Control V no texto da Artista Drag Enme Paixão. Então segue texto ipsis litteris como escreveu para não perder nada do que representou aqueles dias do FESTIVAL. Ela foi cirúrgica ao dizer que:

"Pontos importantes a serem falados sobre o São João da Thay enquanto projeto cultural: 

1 - Evento com maior ativações de marcas nacionais que já tivemos aqui.

2 - Estrutura do evento acessível para pessoas com deficiência, desde espaços a rampas e tudo mais. 

3 - Artistas, veículos e influenciadores pesquisando e imergindo na cultura local. 

4 - Estrutura de festival nacional, maior que todos que já tivemos.

5 - Governo do MA entendendo que é melhor investir em projetos do que tentar realizar tudo. 

6 - A responsabilidade social do evento esse ano expandiu muito mais!

7 - O evento também funciona como feira de negócios, muitos profissionais e representantes de marcas de olho em quem investir, quem contratar, quem se conectar 

8 - Thaynara usando marketing de influência para fazer algo que seja para além dela. Ela é a dona da festa mas faz questão que não seja tudo sobre ela. 

9 - O multiculturalismo presente chama atenção para algo muito importante: o Maranhão precisa ser lembrado! É esquecido pelo Norte pois não faz parte dele, é esquecido pelo Nordeste que só se fala Recife e Salvador. Nosso Estado tem tudo das duas regiões e um pouco mais. 

10 - O projeto gera credibilidade no mercado e interesse em investir em outros projetos e festivais locais.

11 - O São João da Thay é hoje o maior festival que existe em São Luís. E cabe aqui uma oportunidade: thaynara se conectar e trazer curadores e produtores de outros festivais para possam assistir e criar um circuito dos artistas que ali se apresentam. 

Talvez nem ela se veja assim mas, a empresa Thaynara OG é produtora de um dos maiores festivais do Nordeste.

Algo que achei super interessante: esse ano a produção foi dividida em setores: influenciadores, artistas e manifestações culturais. É importante colocar quem entende de cada assunto para cuidar e receber cada um. Acredito que ainda teve um setor de investidores também, vi muitos empresários e publicitários presentes."

E olha que ela nem citou o histórico encontro do Bumba-meu-boi e Boi Bumbá tão importantes à cultura nacional. Sendo que foi do nosso Bumba-meu-boi que se originou o Boi-bumbá.

Encontro do Bumba-meu-boi com o Boi-bumbá 

Apesar de todos estes pontos explanados por uma das artistas drags maranahenses que participaram do programa Caravana Das Drags - divulgando a cultura daqui através de sua arte no programa - é possível ver quem quer cancelar, invalidar, diminuir, desmerecer todas as iniciativas da maranhense que promove o evento e a cultura local e que cresce a cada ano - desculpem os do contra, mas 2025 tá "benhaí" - . Óbvio que têm pontos a melhorar. Que evento não os têm? Que evento em sua 6ª edição não precisa se rever se até o Rock in Rio, o maior festival do país que tem 40 anos precisa se revisitar ano após ano?

Bom, o fato é que vejo muito falas em postagens de redes sociais, e ouço pessoalmente, de que o evento desvaloriza ou exclui a cultura local. E eu digo: OI!?... SÉRIO ISSO AMIGOS!? Paremos pra refletir e vejamos que este é um dos projetos que mais leva nossa cultura para o Brasil TO-DO, em especial trazendo pessoas de visibilidade nacional do momento para interagir com a comunidade através de visitas a locais relevantes e de muitas manifestações culturais. 

Outra coisa... se fizermos uma pesquisa sobre quantos shows exclusivamente de cantores maranhenses os moradores de São Luís saem de casa pra assistir por ano, quais dados teremos de resposta? Mesmo se incluir os cantores de bares e restaurantes dos quais nem ouvimos, não saberemos nem os nomes dos mesmos. Alguém se arrisca dizer que tô mentindo? Tenho mais perguntas: Quantas visitas a ensaios de bois vamos a cada temporada junina? Quantos desfiles de Escolas de Samba, Blocos Tradicionais, Tribos de Índios - alguém conhece o nome de alguma brincadeira dessa? -, e Blocos Organizados de São Luís já fomos ver na passarela do samba? Você que tá lendo já foi à passarela do Samba? Lembra o tema de algum enredo dale ao menos uma Escolas de Samba maranhense? Quem sabia que a Turma de Mangueira (do bairro do João Paulo) é mais antiga que a Estação Primeira de Mangueira, do errejota? Quantas vezes prestigiamos os musicais maranhenses que volta e meia estão no Artur Azevedo? Quantas exposições de artistas e pintores Maranheses vamos por ano? Temos quadros/esculturas de pintores/escultores Maranheses em casa? Eu tenho alguns. Sabemos o nome de algum? Em exercício cite mentalmente - nao precisa se expor - os nomes de três somente? Sabemos quem é Patativa, Antonio Almeida, Aldo Leite, Zelinda Lima, Carlos Lima, Dilercy Adler, Catulo da Paixão Cearense e Lilah Lisboa por exemplo? Alguém sabe qual foi a principal luta do estilista (olha a dica..) Chico Coimbra? Você sabe quem foi Chico Coimbra? Poderia passar o dia fazendo perguntas aqui que sei que poucas pessoas teriam respostas positivas. Mas é isso aí... só mais uma... Quantas vezes ajudamos lotar os locais quando só atrações locais são as estrelas? Basta vermos os vídeos dos shows de São João e Carnaval passados. Quase nada... ou estou mentindo? 

Cantores Fabiana Alves e Tutuca Viana em suas apresentações no SJT 2024.

O fato é que o Maranhese não prestigia o Maranhese! Temos poucos Maranheses em destaques nacionais. Quase a totalidade deles tiveram que sair daqui para isso, vide os principais nomes como Alcione, Zeca Baleiro e Rita Benneditto. A própria Thaynara é uma rara exceção e ainda assim precisou estabelecer base em SP e no RJ para cumprir seus compromissos estabelecidos após conseguir furar a bolha.

Para ilustrar mais um pouco ressalto que trabalho em um projeto de Chorinho que meu irmão produz. Apesar da divulgação nunca tivemos um grandioso público de congestionar ruas ao redir das praças as quais levamos os saraus. Temos um público LINDO e FIEL - Graças a Deus -, mas pequeno -. 

Outro fato é que quem quer ter grande público no Maranhão, precisa trazer grandes atrações de fora. Não por falta de falta de talento, qualidade ou competência de nossos artitas, muito pelo contrário. Aqui o artistas, pinta, borda, canta, dança e bate palmas por falta de recursos e por nos tornamos mais completos. Só que não é só recursoa que nós falta. Nos falta acolhimento, reconhecimento e - por vezes- respeito de nossa gente. Para ter público as produções dos eventos daqui têm que trazer nomes nacionais como principais shows e colocar no meio alguma coisa local com a pouca verba que resta... Aliás, cá pra nós, os valores de cachê locais e nacionais tem uma disparidade também pela falta de alcance público para artista local. E esse alcance não se têm por falta de incentivo local, e não falo de ajuda governamental, pois quando há tem o discurso contra, que tem coisa mais importante e tal... tenho preguiça de entrar nesse tema, pois também é muito falado e essa gente não quer entender. Gostam é de fazer muito blá, blá blá para nebular o tema principalmente os componentes daquele rebanho.

O então Cacuriá de Dona Teté, Tambor de Crioulas, Roberto  Ricci, Boi de Nina Rodrigues e Dança Portuguesa que se apresentaram no SJT 2024.

Alguns dos arraiais que funcionarão nessa temporada na cidade já estão funcionando e advinha qual está tendo o maior público? Obviamente que é sustamente o que tem atrações nacionais como Leonardo, Mari Fernandes, Leonardo, Xand Avião e Calcinha Preta, por exemplo... e não nos prendemos ao fato de estes shows nacionais serem de graça, pois os demais arraiais também são gratuitos. Isso de não valorizar a prata da casa é coisa nossa... de nossa gente. Me inclui nesse contexto - usando os verbos na primeira pessoa do plural - pelo fato de que em nosso Estado a maioria age assim e a maioria vence. 

Enfim... poucos se destacaram estando ainda no MA, coisa da Internet, um mundo onde tudo muito recente. E quando aparece uma pessoa com o intuito de levar o nome, a cultura e outros artistas Maranheses para um lugar de maior visibilidade vemos estas posturas e comentários que diminuem um trabalho feito com muito amor, cuidado, seriedade, responsabilidade e muita qualidade prestigiando o máximo possível de mãos de obra local.

PERAÍ, MEU POVO!!!! Algo veio a minha cabeça agora... Isso seria esta uma característica cultural nossa? Agora fiquei com medo! Tomara que não, que isso é feio. Torço para que nossa gente, que não gosta do que é nosso, passe a ver com outros olhos e comecem a prestigiar mais nossos artistas. Quem sabe um dia podemos ter grandes eventos só com artistas e manifestações culturais locais para um público local (pode até ser os gratuitos - nem vou esperar os pagantes) como tanto pregam os "incentivadores e doutores" em cultura maranhenses que enchem a blogosfera de críticas e desmerecimento quem faz o contrário deles. E que fique claro, não estou aqui falando mal de minha gente, do meu DNA, isso seria falar mal de mim mesmo. Estou sim, tentando despertar uma autorreflexão no meu povo para pararmos, tratarmos e/ou curarmos, nosso complexo de vira-latas maranhense. Precisamos para com isso. Já ta feio... Vamos respeitar os maranhenses que levam o nome do Maranhão com enredos, histórias, músicas e. cultura de valores positivos para todo o Brasil. E nesse caso...

Viva essa tal Thaynara OG!

Viva o São João da Thay!

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Mariquinha morreu ontem e Lera Chorou

Dona Teté do Cacuriá. Foto: Facebook

O período das festas juninas sempre foi o que eu mais gostei na vida. Quando morava no interior, Santa Teresa do Paruá, era o período que meus pais deixavam a gente sair a noite pra curtir os arraiais, as comidas que eram vendidas e, claro, as brincadeiras que se apresentavam durante as noites. Ainda Lá, eu que ainda me dizia frequentador da Assembleia de Deus, já me divertia em Danças Afro e nas apresentações do Boi Estrela do Amor (o Tote é Gersinho do Boizinho Barrica que me deram aula de bordados e dança de Bumba-meu-boi) além das apresentações de dança que inventávamos na escola.

Quando eu vim embora para São Luís as noite de arraial foram umas das coisas que eu sabia que mais sentiria falta, até pelo fato de que, morando em casa só de estudantes - éramos 5 irmãos adolescentes sozinhos em uma casa - não se teríamos dinheiro que sobrasse para muitos passeios. Para driblar isso logo que entrava de férias eu partiria para casa de meus pais. Lá eu me sentiria livre e poderia me divertir com mais segurança e tranquilidade juntos dos meus amigos de infância. Mais tarde, como já tinha terminado o ensino médio e quando conheci Enoque eu passei a ficar mais tempo em São Luís me preparando para o vestibular e com isso tive mais tempo para conhecer as manifestações culturais maranhense mais de perto, com mais curiosidade e me apaixonei ainda mais.

Casal de dançarinos do Cacuriá de Dona Teté. 
Foto: Facebook 

Como eu já tinha "práticas" de danças e apresentações culturais eu me interessava muito em assistir algumas brincadeiras que eu só conhecia de nome e de grupos que eu já conhecia a fama. Eu amei assistir a uma apresentação do Boizinho Barrica, dos grupos de Tambor de Crioulas, Boi de Axixá, Boi de Morros, Boi de Leonardo, Boi da Fé em Deus, os batalhões dos bois da Maioba e do Maracanã. Fiquei encantado e atraído pelo sensual, divertido e provocativo Cacuriá. Aliás, o cacuriá, para quem não sabe, foi criado em 1975 em Guimarães (interior do Maranhão) por Seu Louro e Dona Florinda que inspirados no chamado Carimbó das Caixeiras, que era realizada ao final da festa do Divino Espírito Santo - após a derrubada do mastro - como forma de divertir as caixeiras do festejo sagrado com uma brincadeira profana muito divertida e alegre.

Quis o destino que o primeiro grupo de cacuriá que assistisse fosse justamente o Cacuriá de Dona Teté. Ela, que era aprendiz de Seu Lauro na arte de brincar o cacuriá, criou esse grupo em 1986 ainda lá no Casarão Laborarte - grupo que desde 1972 trabalha de forma independente maneiras de transformação social através da arte e da cultura. 

Bom, o fato é que com o apoio dos componentes do Laborarte mas, principalmente, por seu jeito divertido associado às músicas irreverentes de duplos sentidos e aos passos sinuosos da dança Dona Teté fez o seu grupo se tornar no Brasil referência máxima do cacuriá, manifestação cultural exclusivamente maranhense. As roupas de renda branca fazendo base para as fitas de cetim multicoloridas se tornaram marca registrada assim como a voz estridente e inconfundível de Dona Teté.

Apresentação do (Ex) Cacuriá de Dona Teté agora com o nome de Cacuriá Balaio de Rosas.

E quando digo "com o apoio dos componentes do Laborarte" é pelo fato de os participantes desse laboratório de arte fazerem parte do corpo de dança e de percussão do grupo de cacuriá. O fato é que Teté deu alma ao Cacuriá e deu aula aos componentes do Laborarte. Teté deu vida ao Cacuriá e, depois de certa idade, deu a vida para o Cacuriá. As caixas de Teté ditaram o ritmo para cada volta que os quadris dos dançarinos passaram a dar e o ritmo da história da dança na história cultural do nosso Estado. Sua importância rendeu-lhe o título honorável de dama da cultura popular maranhense.


Até morrer a primeira vez, dia 10 de dezembro de 2011, vítima de uma AVC aos 87 anos, costumava dizer que desde que deixou de ser empregada doméstica viveu para cantar e tocar cacuriá e tinha orgulho de ensinar as pessoas - de todas as idades - a dançar, a cantar e a tocar o cacuriá. Por toda essa história - que aqui tá o resumo do resumo - desejava ser lembrada como aquela que ensinou ao povo a dança do cacuriá. E isso vinha acontecendo através do grupo que deixou montado e que, após sua passagem para o planos espiritual, foi capitaneado pela cantora, compositora e sua discípula Rosa Reis que vinha até hoje levando com louvor o legado de Teté.


Ocorre que hoje, dia 14 de junho de 2014, um dia após o dia de Santo Antônio,o cenário cultural brasileiro foi pego de surpresa e isso provocou uma onda de críticas. O famoso e tradicional Cacuriá de Dona Teté passou a se Chamar Balaio de Rosas, para - pasmem - dar protagonismo para as personagens envolvidas que se dedicam ao cacuriá. Como assim? Quem disse que para dar protagonismo a uma(s) pessoa (s) é preciso deletar outra? Se ao nome do Cacuriá de Dona Teté fossem adicionado o nome de quem assimiu a responsabilidade de levar seu legado a reação de todos seria diferente. Seria de total apoio. O que estará acontecendo por trás dessa decisão?


Em um país que não tem memória e nao respeita que faz história tirar o nome de Dona Teté do grupo que criou e da brincadeira que ajudou a fortalecer e firmar como parte da cultura maranhense e do folclore brasileiro é fadá-la ao apagamento da história, é condená-la ao esquecimento. É matar e enterrar a história de Dona Teté. 


Mas, é como já cantava Teté:


"Mariquinha morreu ontem

Ontem mesmo se enterrou

Na cova de Mariquinha

Nasceu um pé de fulô


Ai minha beleza

Vamos dar um baile

No salão da Baroneza

Ai meu Deus, ai!

(...)

Vou me embora vou me embora

Aqui eu não vou ficar

Que estes meus companheiros

Tem intenção de me matar"


É com muito pesar que fica comunicamos:

Aqui jaz o cacuriá de Dona Teté. 

Aqui jaz Dona Teté.

domingo, 9 de junho de 2024

SOBRE RECIPROCIDADE

Carnaval 2024

Eu adoraria publicar um texto. Entretanto aprendi que não fazbem  expor intimidades de um relacionamento. O texto diria: 

O que há de mais bonito na relação de um casal é a cumplicidade, a admiração mútua, apoio um ao outro e a confiança recíproca. Principalmente quando se trata do trabalho e da felicidade um do outro. Isso é lindo e inspirador.Tenho tido a sorte de ter isso na minha vida nestes últimos 26 anos.


Quando eu conheci Enoque ele já era um artista visual múltiplo, conhecido e reconhecido. Atuante no estilismo, figurinista, artes cenográficas, decoração interna e externa, carnaval... enfim, tudo que ele toca fica arte. Sou seu fã número 1. Nunca deixei de apoiar, quando possível, de ajudar e, sempre incentivar. Das coisas mais lindas da vida é vê-lo feliz por entregar um trabalho pelo qual acreditou, se dedicou, pesquisou e entrega com plenitude do dever cumprido. E, para mim, o melhor é vê-lo ser reconhecido por isso.

Para se ter ideia, não temos muito tempo para diversão puramente. Nós   trabalhamos e se tudo for bem, é nossa diversão, nossa satisfação pessoal. Quando ele quer ir a algum lugar, já marca sabendo que eu vou topar. Independente de pensar em querer ir ou não. Outro exemplo é o carnaval, para o qual nos programamos todos os anos, eu sempre gostei, antes mesmo de conhecê-lo, mas, pelo menos ainda não era o meu sonho... eu gostava apenas. Virou uma realidade na minha vida e até certo ponto uma diversão, pois  não é que eu tenha medo, eu tenho verdadeiro PAVOOOOOR, de altura. Mas, para participar de seu trabalho, para mostrar meu apoio a ele e ver seu trabalho brilhar, ser visto e reconhecido eu enfrento semanas de ansiedade, eu confronto meus quase ataques de pânico pela satisfação de vê-lo realizado. Sei da real importância desse momento para ele. Mais que uma vitrine para sua obra  é a culminância de um abo de trabalho, de meses de preocupação, preparação, pesquisa, planejamento, testes e execução. É o seu momento! Eu babo, eu vibro, e durante o desfile na Sapucaí - ninguém sabe disso - eu saiu falando para quem me dar trela e sorri ora mim, que lá encima vem meu companheiro, meu marido, esposo ou seja lá o que vier à minha boca. Inclusive aos famosos. Babo mesmo!!!

Foto tirada das alturas quando fui içado da alegoria pelo Carvalho na entrada da Sapucaí. 


E no mesmo sentido, embora mais contido dado seu perfil, é Enoque. É lindo de ver o quanto ele me apoia quando ver minha dedicação ais meus trabalhos. Posso dizer que o eu primeiro emprego fixo na vida foi na Vivo (desde a antiga NBT). Lá se vão 25 anos. Eu vi praticamente esta empresa nascer no Maranhão, participei e participo de todos os momentos importantes dessa empresa pela qual eu tenho tanto orgulho. Ele sabe que esse orgulho vem, principalmente, pela gratidão de  ter a oportunidade de trabalhar em uma empresa que me trata, acolhe, respeita e estimula eu ser um profissional melhor, mas, muuuuuuito mais, me incentiva eu ser uma pessoa melhor e mais verdadeira. Me aceita e me incentiva eu ser eu, independente de quem eu seja e com quem eu seja casado. Sou negro, de origem pobre, casado com homem, temos filha, formamos uma famílias diferente da tradicional família brasileira e lá na empresa TODOS nós tratam sem diferença alguma. Aliás, sinto até um tratamento especial. E Enoque sabe disso e valoriza muito isso.

Todo o apoio que dou a ele, que eu espero receber de volta - nem venham dizer que devemos fazer o bem sem esperar nada em troca. No fundo todos esperam por menos gratidão -. Eu espero reciprocidade. Chega ser lindo, emocionante e, até constrangedor, ver o apoio e o orgulho que vejo em meu companheiro de vida qua do ele ver eu feliz com  alguma realização. Em especial quando é algo relacionado ao meu trabalho, a alguma colheita às sementes que venho plantando. Ninguém acredita que uma pessoa e um profissional do know-how de Enoque, que tem palavras certas para os momentos certos, que é sério e fechado se emociona - como um bom canceriano -  ao ponto de ficar sem palavras para demonstrar sua satisfação e alegria em ver os degraus que eu subo na minha vida profissional. Isso é tão lindo... tão bom!

Meu desejo é que todos sintam o que eu sinto no coração, pois tudo isso é prova  de admiração! De respeito! De cumplicidade! De reciprocidade! De confiança! DE AMOR! Que ninguém receba e/ou - jamais! -  aceite menos que isso! Uma relação sem esses sentimentos, práticas e ações de ambos os lados não é uma relação. O espetáculo de uma boa vida a dois é lindo quando os dois se aplaudem, pois não é monólogo onde apenas as um é aplaudido. Mesmo os monólogos têm toda uma equipe por trás. Ninguém vive sozinho ou faz nada sozinho, principalmente quando se trata de relacionamento amoroso.

domingo, 19 de maio de 2024

TEM COISA QUE SÓ PERDOANDO...

 A psicóloga que me acompanha nos últimos meses, sabendo que escrevendo eu consigo coordenar meus pensamentos, pediu para eu escrever um texto sobre o PERDÃO.  Sim, sou um tanto quanto difícil de rancoroso. Bom... não é que eu não tenha capacidade de perdoar, a questão é que o meu tempo para isso é demorado e, enquanto não ocorre, eu fico afetado psicologicamente, o que por vezes tem consequências no meu organismo e até na minha vida social. Então, dada a tarefa, passei a semana pensado sobre o tema e alguns aspectos de minha vida.

Eu, Rivanio, aos 8 anos de idade.

Cresci com o exemplo de minha mãe que sempre foi de perdoar. Ela sempre falou da passagem bíblica (Mateus 18,21-35) em que o Apóstolo Pedro perguntou a Jesus quantas vezes devo perdoar uma pessoa que me ofend, se até sete vezes. Jesus então  responde a Pedro: “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete!”. Minha mãe pratica isso e sempre nos ensinou isso. Porém, viver é difícil e acaba quase sendo um "minhas dores, minhas regras".


Para começar, como já disse em outros textos, desde muito cedo me percebi diferente de todos os meus irmãos e amigos da vizinhança. Comecei a me entender como uma criança veada, como me chamavam na época durante os bullyings que eram direcionados a mim. Por conta do que ouvia isso sempre esteve na minha cabeça de uma forma intimidadora que dizia que o meu jeito de ser era razão de vergonha para todos da minha família e que por isso todos iriam me distanciar de suas vidas. Então eu, para sofrer menos, comecei a ficar atento a todas as ações dos meus pais e irmãos. Eu teria que ter uma reação que me fizesse sofrer menos no futuro, caso eu fosse expulso de casa. As formas com as quais eu era agredido através de apelidos e piadinhas me faziam crer que o meu verdadeiro eu era a razão para desgostos da minha família e tantas tristezas que eu viveria no futuro.

Aos 10 anos

             Paralelo a isso, ainda quando criança, por um longo período eu vivia dividido entre o amor eu sentia por minha mãe e o rancor de me sentir deixado de lado ou com menos importância que minha irmã mais nova (mais nova por ser a última irmã do sexo feminino, tá?... pois, ela é mais velha que eu...). Durante muito tempo eu fui o caçula da família e, como todos dizem que o caçula é sempre o mais mimado, eu sentia falta do meu mimo. Era como se estivessem me anulando, tirando meu lugar por direito e dando a outra pessoa. Eu queria me sentir amado, mimado, querido... Todas as férias, por exemplo, minha mãe prometia de me trazer para conhecer São Luís, onde meus irmãos mais velhos já moravam. Quando chegava o período das férias minha irmã adoecia e minha viagem era cancelada para que ela pudesse vir à capital tratar da saúde. Na minha cabeça eu era preterido por minha mãe e minha irmã era a usurpadora do amor que minha mãe teria por mim. Sofri por isso por muito tempo achando que tudo era por vergonha de que as pessoas descobrissem que eu não era "normal". Com o passar dos tempos e alguns outros acontecimentos em nossas vidas, fui crescendo, amadurecendo, fui refletindo e percebendo de fato que não se tratava disso. Era questões de saúde frágil que ela tinha e, por isso, uma questão de prioridade e urgência. Não se tratava de deixar de gostar de uma em detrimento de outro. Mas, ninguém nunca se sentou e conversou sobre isso para que pudesse ter entendido mais cedo e sofrido menos. Não se tinha este tempo. Assim com o passar dos anos eu fui sozinho - e internamente - perdoando as duas e nossas relações foram se aproximando.

Eu e minha irmã Rogenia

                Dito isso, vejo que apesar de que a minha homossexualidade não tenha sido propriamente dita a causa para eu me sentir preterido por minha mãe, eu sei que todos percebiam-me diferente e que tinham medo de como eu seria, qual seria minha postura, como eu levaria minha vida, como eu enfrentaria o mundo. Até então eu era o único gay da família. Era tudo estranho para mim e hoje eu percebo que para meus pais também. Aliás, acho que meu pai foi um dos últimos perceber-me gay, apesar de ter sido um menino afeminado e, por vezes, confundido por menina. Muitas vezes fui impedido de ir a eventos que gostaria de ter ido, de brincar com as brincadeiras que todas as demais crianças brincavam, onde brincavam, com quem brincavam... Com meu amadurecimento, minhas terapias e minhas análises da vida fui percebendo que, para tantas mães e pais que vejo destratando e maltratando seus filhos, eu fui até um sortudo. Pois, sempre fui levado para um caminho que me fizesse continuar estudando, buscar um trabalho para ser visto e respeitado. Percebo que direcionaram a este caminho apesar de entender que o fato de ser gay não era - nem de longe - o que eles queriam para minha vida e para nenhum dos meu irmãos. Nem imaginam eles que, nem eu queria. Optar, escolher nunca foi opção... mas, fazer o quê? É o que temos para hoje, ou melhor, para esta vida. Depois fui descobrindo que um tio de minha mãe – irmão da minha avó materna - era homossexual, ficou cego por causa da diabetes, e morou com minha avó muito tempo, até seu falecimento. 

Eu e minha mãe 

Mais à frente, em um tempo bem recente, fui me perguntando por que minha mãe me tratava diferente de pais intolerantes. Com cuidado e tentando me manter por perto, acho que até pensando que eu nunca sairia de casa. Analisando minha condição afetiva e sexual e minha postura diante da vida me questionava de onde vinha minha determinação para eu ser eu, apesar dos pesares. A resposta estava na história de vida de dona Terezinha, minha mãe. Sua história me mostrou que ela foi determinada e à frente de seu tempo desde sempre. O amor direcionou sua vida, e a de todos nós.  Com apenas 16 anos ela, uma menina branca, aceitou casar-se com meu pai, que era totalmente fora do que seu pais tinham como referência positiva para casar com sua filha mais velha. Raimundinho era um rapaz que trabalhava em uma farmácia na cidade e, pior de tudo, era preto! Ela enfrentou todo o preconceito de seu pai e por isso ele ficou sem falar com ela quase um ano. Depois, meus avós e meu pai se tornaram grandes e queridos amigos, papai foi tomado como padrinho de uma de minhas tias mais novas. Mais à frente os pais sendo católicos – o pai frequentador de festas em terreiros de “terecô”, como ela diz – ela optou por ser evangélica e a exigir respeito por isso quando ele a repreendeu por isso. 


          Eu comecei a ver muito de minha mãe em mim, coisas que vão muito além de nossos corpos acinturados e do quadril largo. Comecei a ter mais orgulho dela e de mim. Tínhamos muito mais em comum... nossa determinação fez eu me enxergar nesse espelho. Tudo isso, fez eu fortalecer ainda mais meu perdão a seu jeito de me criar, como se precisasse. Ela, apesar do pouco estudo e baixo acesso às informações fez seu melhor deixando seu instinto materno, seu senso de justiça e seu amor lhe guiar.


             Cresci em uma casa onde tudo era levado muito sério, mas que sempre tinha tempo para levar a vida com brincadeiras. Papai tinha umas tiradas engraçadas - pelo menos naquela época- com seus amigos mais próximos. Hoje seriam brincadeiras taxadas como  de racismo recreativo e homofóbicas. As relativas ao racismo, sim, hoje são consideradas racistas. Contudo, ele sendo homem preto, brincando com seus amigos pretos, nos soava - e eram - como um grande deboche aos racistas. Do tipo... "sou preto e daí?! Isso não é nenhum peso". E vejam que racismo já lhe tinham criado situações em família. Isso me fez crescer com esse sentimento de desdém aos racistas. Do tipo não me ofender por ser chamado de preto, moreninho, neguinho... até a cidade era formada por pessoas pardas como nós. Nunca tomei isso como ofensa, por mais que essa fosse a intenção. Eu sempre tive muito orgulho da minha cor e origem.  E cada vez tenho mais.

Com meus irmãos mais novos, Otair e Isandro.

         Quanto as brincadeiras homofóbicas eu desde muito cedo entendia como sendo brincadeiras que levavam a uma diminuição da pessoa gay por ser gay. Eram brincadeiras mais pesadas e que me feriam muito. Não me chateavam com papai por isso. Até pelo fato de que ele não dirigia as brincadeiras a minha pessoa. Mas, me machucavam pelo fato de que brincadeiras semelhantes me eram usadas na rua ou na escola para me atingir e me ofender gratuita e brutalmente. Aliás, outras brincadeiras que me feriam com a força de um soco no estômago eram as brincadeiras, xingamentos ou deboches gordofóbicos... sofri muito e muitas vezes com isso. Hoje posso dizer que eu perdoei todos aqueles meninos e meninas das tantas vezes que me feriram e me deixaram cicatrizes gigantes na minha alma e no meu psíquico. E esse perdão vem também pelo fato de que até aquele tempo, eles não tinham as informações dos significados de bullying, racismo, homofobia e gordofobia e todas as bagagens negativas que estas atitudes trazem agregadas. Perdoo-os apesar de saber que o sofrimento de alguém nunca deva ser recreação para ninguém. Agora os tempos são outros e as informações brotam em todo e qualquer lugar. As informações estao ao alcance das mãos de qualquer um. Hoje é mais difícil dissuadirmos nossos corações e nossas mentes de perdoarmos verdadeiramente, em especial quando somos vítimas de algo assim.. nao à toa estou escrevendo este texto em caráter reflexivo.

                Se por um lado eu não tinha rancor do meu pai pelas brincadeiras racistas e homofóbicas de seu repertório. Eu lhe tive muita mágoa entre os meus 15 e 30 anos por conta de ter descoberto, aos 15, que ele tinha um filho mais novo que eu fora do casamento. Ele sim tinha me tirado o posto de SEU caçula (que eu tinha tanto orgulho) e dado a honraria a outro menino. E, para piorar, o pequeno seria a nossa cara... isso me distanciou de meu pai, apesar do amor que nunca acabou. Mesmo sabendo que a criança morava em um povoado vizinho a nossa cidade, nunca fui o conhecer, e quando mudei para São Luís – ainda com 15 anos -, ficou ainda mais cômodo para mim  e meu ciúme rancoroso. Quando papai faleceu eu já tinha 25 ano e apesar de nos falarmos e dizermos um ao outro que nos amávamos eu sempre ainda tinha lá no fundo do coração um rancor não curado. Meus irmãos e minha mãe já o tinham perdoado e foram atrás o meu irmão mais novo. Eu não quis aproximação. Sempre argumentava que se ele não tinha culpa de nada, muito menos tinha eu. Assim seguir até meus 30 anos, quando a vida o fez vir a São Luís resolcer algo e eu, já um pouquinho mais maduro, nos permitir uma aproximação. Isso foi interessante, pois um pouco mais a frente - uns 2 anos depois - descobri um outro irmão, não mais novo, pois este na verdade nasceu entre eu e o caçula de fato. Aí já era tarde... eu já tinha perdoado quase todo mundo e o acolhi com muito amor. Hoje todos vivemos em harmonia.


              Se por um lado não perdoar os outros nos faz mal, apesar de podermos evitar as pessoas, imagine quando o não perdoar é voltado a você próprio, com nosso eu? É muito mais difícil, principalmente quando o mundo externo nos faz acreditar que muitas coisas nós mesmos somos culpados, em especial quando somos abusados sexualmente. Sim, passei por isso e acreditei na minha culpa por muitos anos. Não apenas me julguei, como me condenei internamente por isso. Este dias vazou um vídeo de um pastor falando justamente sobre isso. Para mim foi mais um abuso que eu sofri. Foi como se eu estivesse sendo acusado pelos estupros aos quais sofri. Com o tempo, com as leituras, pesquisas sobre trabalhos de especialistas no assunto e as terapias que faço há anos sei que não tenho culpa. Eu fui colocado nesse local por uma pessoa mais velhas de fato, que se aproveitara. da minha inocência, infantilidade, carência, afetividade e da confiança que a família lhes tinham para cometerem seus atos libidinosos e criminosos. Apesar da violência sexual física ainda houve sobre mim a plantação de culpa na minha (in)consciência pelos abusos que sofri. Tudo isso me causaram muitos transtornos comportamentais, psicológicos e psiquiátricos bem sérios tratados em terapias e com acompanhamento médicos e medicamentosos. Apesar dos meus sorrisos e gargalhadas. Vide este texto...


         Hoje apesar de ter me perdoado por ter me culpado por muito tempo carrego ainda marcas profundas desse filme terrível que vivi sozinho durante a maior parte dos meus quase 45 anos de vida. Tenho consciência plena, plena e plena que não tenho culpa de ser gay – até por isso nunca foi fator de culpa - e menos culpa ainda de ter sido abusado. Já houve quem insinuasse diretamente a mim que o fato de ter me "desenvolvido a homossexualidade" tenha tido relação com o fato de eu ter sido abusado por homens, o que teria me deixado confuso. E não foi isso... eu me percebi com minhas paixões platônicas por amigos dos meus irmãos bem antes do primeiro abuso. Eu achava homens mais bonitos e interessantes que mulheres - e ganhei cascudos por isso - aos 6 anos de idade. Os abusos que recordo começaram aos 8 anos... Não me "tornei gay" por ter sido abusado. Tenho consciência absoluta que só fui abusado por perceberem que em mim uma criança gay e afeminada. Ser assim é involuntário, em especial na infância isso não é opção. Aliás, na fase adulta a única opção que temos é se aceitar e se assumir.


              Este dias pensado sobre o tal perdão, vi um vídeo no Instagram de um padre dizendo que o perdoar não é sobre o outro, o culpado... é sobre nós mesmo. É um benefício que damos à nós mesmos. É sobre a nossa própria libertação do peso de tá "amarrado" a quem nos ofendeu, machucou ou feriu. O ato de não perdoar é, segundo demonstração do padre, como se nós andássemos - para cima e para baixo - sempre de braços dados àqueles que nos causaram os males até então imperdoáveis. Didaticamente vemos no vídeo que o fantasma dos nossos algozes fica conosco para onde vamos. Enquanto não perdoamos eles seguem nos causando tantos outros males e tirando nossa paz. 


            Analisando e organizando meus pensamentos enquanto faço este texto concordo sim que o perdoar nos tira os pesos das costas e as amarras dos pés. Nos dar mais liberdade e mais paz de espíritos. Isso é fato! Mas, me pergunto: quando entendemos que os males causados são grandes e graves o suficiente ter nos causados feridas à vida toda? Que tais males causaram danos que nos expuseram a outros riscos sérios... é possível perdoar? Como perdoar? 


         Pondo na balança eu perdoei todos os que eu julgava e condenava como se não me quesessem bem. Até o sentimento ruim estava em mim. Estes eu acabei entendendo seus contextos e suas intenções. Acho que tudo passa pela intenção. Tenho segurança de que eles não me quiseram causar mal algum. Não foi intencional e muito menos pessoal. Por outro lado, vejo que é preciso ter mais segurança, mais maturidade e mais força para vermos o momento que podemos dar o indulto do perdão aqueles que só pensaram em si, nas suas satisfações pessoais, que não pensam nas consequências graves de suas violências disfarçadas de carinho e de suas palavras ditas de forma a induzir culpas e ameaças veladas. De fato não sei... não sei se é possível perdoar, e tampouco sei se posso e nem se quero dar este perdão. Já me tiraram tanta coisa... dar esse perdão seria para mim como se eu mesmo estivesse traindo os meus eus crianças de 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 anos. Ainda sinto como se meu eu adulto estivesse sendo conivente e passando pano com tudo que esses meus eus passaram e trouxeram como bagagem pesada até agora.

Aos 44 anos

            Vou trabalhando a minha mente e o meu coração para perdoar, ou pelo menos superar, os pequenos atos que, porventura, forem acontecendo em meu caminho. Sigo esperando não demorar muito seguindo a vida levando comigo os fantasmas dos meus abusadores. Não obstante espero mais ainda que nenhuma criança ou adolescente tenham sido ou não venham ser  vítimas destes - e de nenhum outro - abusadores. 


                 Por enquanto, por todo esse tempo culpando quem não me quis fazer mal e, principalmente, por me culpar por situações que trago marcas sérias, profundas e ainda doídas eu já tenho a minha compreensão, meu acolhimento e meu perdão. 


                Nos perdoar já é um grande passo... vejamos quais serão os próximos passos. Enquanto isso, vamos de mais terapia. Que veja a próxima segunda-feira.