domingo, 13 de outubro de 2024

MARLENE, PEQUENA... TE ALUI, CRIATURA!!

Capa do LP Xou da Xuxa 1

Desde criança eu sempre fui fã do universo televisivo. Não digo que assisti tudo que queria pelo fato de que boa parte de minha infância não tínhamos ao nosso dispor os serviços de uma companhia elétrica em Santa Teresa do Paruá. 


Àquela época tínhamos - Graças ao Bom Deus, o serviço de energia, digamos, "por assinatura", fornecido pelo amigo João José. Ele era dono de um gerador de energia e quem quisesse poderia pagar um valor mensal e tinha energia em casa todos os dias da semana das 18 às 22h. Quando havia algo fora desse horário - tipo partidas importantes de jogos de futebol , um filme como Rambo e Superman, por exemplo - as pessoas se cotizavam e pagam o extra referente ao tempo necessário para assistirem a programação desejada.


Como nunca fui da noite sempre queria ver o que passava durante o dia, o que nem sempre podia, pois o gerador do João José não funcionava das 18h às 22h. Fora o João José as únicas pessoas da cidade que tinham geradores em casa próprios eram o Seu Jonas da usina e o Seu Amâncio. E era na casa deste onde eu assistia uns pedaços do Chaves e do Xou da Xuxa, para ver as brincadeiras, os desenhos, ela, as paquitas e os figurinos, minha paixão desde criança.

Xuxa e as Paquitas durante o programa.

Cada pessoa tem uma interpretação do que ver... mas, no caso da Rainha dos Baixinhos o que a maioria via na terrinha era muito mágico. Via-se um mundo distante do seu. Um mundo de fantasias, luzes, brinquedos, cores, brincadeiras, presentes, desenhos animados, músicas, emoções... um mundo de pessoas felizes.

Aquele universo da TV era tudo muito lindo e perfeito! Não existia espaço tristezas. Não que fosse um sonho, era de fato "O" sonho. Mas, tudo era muito distante e por isso ficaria sempre no campo da fantasia, de um universo paralelo. Pessoalmente falando, esta distância começa a diminuir e ver que tudo aquilo era deveras de verdade e possível alcançar quando soube que a diretora daquilo tudo era Nordestina e preta. E eu cresci com o orgulho de ser nordestino bem aflorado por causa de Gonzaga. Era como se eu sentisse que sim, era possível. Bom, mas no telativo ao "Xou" tinha a questão que ali só tinham mulheres brancas, altas, loiras, cabelos compridos e olhos azuis. Era um mundo de boneca... mas, daí descubro que a diretora, Marlene Mattos, mais que nordestina era maranhense, era baixinha, preta e - como diziam na época- era sapatão. Eu já me entendia como uma criança gay e visualizava nela - e um pouco na irmã Ângela Mattos, que foi cantora na época - a possibilidade de vencer na vida e ser uma grande profissional de visibilidade e respeito. 

Marlene Mattos 

Eu não queria propriamente ser a Marlene, também não queria ser Paquita - eu queria era tá perto daquele movimento, da produção, ver tudo de perto, produzir figurinos, cenários encantadores. E o comando dela, o (já famoso) pulso firme dela me inspirou - pois, me fazia ver que eu poderia ser grande um dia. 


Com o tempo fui tendo uma visão sobre o meio em que ela estava que era machista e de homens grandes na estatura e no status. Ela precisava impor sua presença e seu profissionalismo. Ainda mais por ser mulher, nordestina e gay, três categorias subestimadas e desacreditadas. Tenho plena convicção, apesar de nunca ter ouvido ninguém falar, que as portas se abriram por ter sido secretária e assistente/produtora do grande Maurício Sherman. Marlene regou a semente escolhida e plantada por Sherman - ele descobriu a Xuxa quando ela posou nua - e ajudou a crescer, florir, frutificar, dar brotos e ramos.


É preciso reconhecer que Mattos foi forte, valente, empreeededora, visionária... foi uma guerreira gigante dentro da arena de gladiadores cheia slde leões, apesar dos seus 1,50m. Minha conterrânea era das poucas mulheres no meio daquele contexto todo. E, não querendo ser homofóbico, pessoas daquela geração tinha uma visão muito estereotipada do que era ser veado e sapatão - ela tinha um jeito durão que ajudava nesta estereotipação, né? Aliás, segue tendo, mas quem sou eu para julgar. 


O fato é que ainda há quem afirme que ela que fez Xuxa e as Paquitas serem o que foram e o que são. Ela mesma acreditava nisso e a cada degrau que estes "produtos" cresciam e os nomes das "marcas" ganhavam mais projeções, mais sua autoconfiança, autoestima inflavam.


Gente... Marlene Mattos é uma referência de profissional brasileira. Há quem diga que ela tirou leite de pedra e transformou uma modelo desconhecida numa das principais apresentadoras da história da televisão brasileira - desconsideram totalmente a espontaneidade e carisma da então jovem e sexy modelo -. Estes acham que sua forma de gerir era a correta. Dava resultados. Todos achavam que faziam pessoas felizes, em especial suas dirigidas, comandadas e amigas eram puramente felizes e gratas pela "vida fácil" e glamourosa que ela lhes proporcionava. 

Imagem divulgação de Xuxa, o Documentário 

Corta para o fim da parceria Xuxa e Marlene, a separação da dupla, do casal como as más línguas falavam. Aqui é o fim dessa longa página dois da história. Sim... quando se está de fora tudo é lindo, quando se ler a história tudo é perfeito somente a página dois. E a página três começa justamente em 2002 com a bomba que foi separação do dupla e o fim da parceria de sucesso.


 O que aconteceu de verdade? Boatos, boatos e boatos... e nada de concreto, que fizesse sentido era dito, o que só ocorreu de fato em lançamento com o lançamento do Documentário "Xuxa, o Documentário".


Lançamento em 2023 pelo GloboPlay o doc revelou as causas do desgaste da relação de quase 3 décadas das dupla de mulheres sinônimo de sucesso nacional. O que se pensava ser uma forma de "gerir" era de fato uma relação abusiva, onde a diretora impunha suas decisões de forma autoritária e dava seus feedbacks através de maneira altamente indelicada. Tudo na frente de todos, inclusive de uma plateia de quase 300 pessoas. Por mais caruda e peituda que Xuxa fosse de responder, retrucar ou debochar da forma que as coisas eram colocadas pela diretora.

Marlene Mattos e Xuxa dirigidas por Pedro Bial para documentário

Não se precisa parar para analisar a forma de tratar sua principal cliente, basta assistir ao documentário, ou suas falas durante conversa com a apresentadora no primeiro encontro das duas quase 20 anos após o rompimento. Quem vê acha desnecessária e exageradamente grotesca sua forma de gestão, mas, no fundo "se busca" uma justificativa - pelo menos eu - para que ela agisse assim com seus "produtos" de trabalho - acho que ela nao via pessoas ali -. Afinal... um programa feito, dirigido, apresentado e animado por mulheres, em um universo masculino e machista, precisava dar certo. E, sendo dessa forma que os homens daquela época faziam acontecer, talvez fosse a única fórmula certa... nosso olhar romantizador, nosso coração apaixonado e nostálgico ainda quer uma justificativa para deixar passar. E ainda tem a banda podre que tentar culpar Xuxa, por não se impor como deveria. Esquecem que não se discutia o tema assédio moral - como tantos outros - e se tinha a visão de que era comum, apesar de não ser normal ou certo - o assédio moral só passou a ser tipificado em 2017 através da lei da reforma trabalhista na CLT.

Divulgação Documentário das Paquitas 

Bom, quase um ano após o lançamento do documentário da Xuxa foi lançado outro doc. Agora foi a vez do 'Pra Sempre Paquitas’, também do Globoplay, e para o qual Marlene recusou o convite de dar seu depoimento e suas versões dos fatos. Paquitas, para quem não sabe, era o grupo de ajudantes palco que ajudava Xuxa durante as gravações dos programas e durante os "xous" pelo mundo a fora. Quase todas as crianças do Brasil queriam fazer parte deste grupo de meninas que quando estouraram, lançando o primeiro LP, viraram popstar e sonho (ou seria delírio? ) de criança. A cada vaga anunciada milhares de meninas do Brasil todo se inscrevam. 


A função virou profissão de fato. Mas, o que as meninas queriam, não era somente uma forma de ganhar dinheiro. Elas queriam de fato era ficar ao lado da ídola de todos, a Rainha dos Baixinhos. E víamos crianças felizes, estudiosos, que davam conta de tantos afazeres com tranquilidade e genialidade. Víamos que se realizavam, cresciam e eram vistas no mercado, lembradas e chamadas para outros projetos para os quais teriam que se dedicar e, por fim, precisavam alçar novos voo. Era sensacional!!! 

Montagem com imagens de três gerações de Paquitas

Vendo o 'Pra Sempre Paquitas’ podemos dizer o famoso #SóQueNão ... entendemos que eram crianças com idade entre 09 e 17 anos entravam na escola às 7h saindo por volta das 12h, trabalham gravando de terça a domingo, gravando das 13h às 03h da manhã. Tinham que se manter magras - se engordassem, independente dos hormônios adolescentes, eram ameaçadas de demissão dos sonhos ora sendo realizados. Sabemos que houveram viagens em que eram trancadas nos quartos dos hotéis. Houveram broncas nas quais que foram chamadas de "putinhas". Houve aquela que se não pintasse o cabelo de loiro, não se apresentaria com a demais no Faustão... ameaças de suspensão, demissões... e a gente ver que quase todas as saídas não foram por "convites a novos projetos" ou "busca de outros sonhos" como era dito nas despedidas daquelas que podiam se despedir.


Não sei se eu me inspirei nela propriamente, o fato era que nas primeiras oportunidades que eu tive de gerir pessoas eu vejo que errei um bocado. Quando pude me olhhar de fora passei entender que o mundo é maior que as minhas tensões e responsabilidades. Estas podem cumpridas de forma mais leves e com menos pesos e caras negativas. Chega-se ao mesmo resultado, de forma mais feliz. Para isso a terapia em dia ajuda muito, conhecer suas questões e, se caso necessário, as medicações são aliados indispensáveis. Não que eu tenha me tornado um anjo ou santo, mas, sou um profissional muito mais próximo dos colegas e juntos alcançamos mais e grandes resultados. 


No caso da Marlene ela soberba e cegueira desmedidas e descontroladas cresciam proporcionalmente como cresciam o sucesso do trabalho de todos que faziam a marca Xuxa e tudo que era desse universo.


Com os documentários vemos o quando é trabalhoso fazer e manter o sucesso de uma grande artista em projeção nacional e internacional. A cada episódio das séries, que poderia louvar o trabalho de uma grande comandante daquela tropa feminina - aliás elas reconhecem seus empenhos e seus feitos - constatamos que ela passou a se mostrar uma pessoa que sempre se acha certa e acredita que só a sua verdade é verdadeira. E esse é o principal ponto que a põe como "vilã" dos dois documentários. Pois, é notório que o que todos queriam era uma fala no sentido de assumir que naquela época uma postura dura e forte era necessária para que todas chegasse onde chegaram, mas que - até pelo peso da responsabilidade e da cobrança- pode ter errado a mão e a medida e que se fosse hoje em dia nada aquilo não se repetiria. E que pedisse desculpas pelas desmedidas e exageros. 

Xuxa e Marlene Mattos 

Com esta postura grande diretora pode ser chamada de intransigente, dogmática, teimosa ou arrogante. Dependendo do contexto, também pode ser descrita como egocêntrica ou autoritária. Esses termos indicam uma tendência a não aceitar ou considerar as opiniões dos outros e a impor suas próprias crenças ou perspectivas. Vemos isso nitidamente quando, no seu encontro com Xuxa para o primeiro seriado, ela fala que não arrepender e que faria tudo outra vez, quando admite que controlava muitos aspectos da vida de Xuxa, inclusive sua alimentação, sua imagem e sua agenda e quando diz que chega uma hora em que você descarta as pessoas e quando a pessoa não te serve mais, você joga fora. 


É delicado uma pessoa chegar aos 74 anos achando que todas as suas ações são passado foram de fato corretas. Ninguém é isento de erros... Gente... quem nunca fez algo no passado que hoje não é mais plausível de se repetir? É isso... assumir erros e se desculpar mostra humildade e amadurecimento do ser humano. Que postura da Marlene é essa??? Não sei as razões pelas quais fora dispensada, contudo não é de espantar que ficou pouco tempo nos últimos projetos para os quais fora contratada. Atualmente, o mercado valoriza profissionais com perfis mais contemporâneos e adaptáveis, deixando de lado aqueles com abordagens excessivamente tradicionais e inflexíveis.



sábado, 12 de outubro de 2024

SENDO CRIANÇA NO BRASIL EM 1989

Minha casa em Presidente Médici - 1989 

O ano era 1989 e pequeno Rivanio, Vanim, Vanico, Vanoco ou Van já se dava conta do que acontecia no Brasil, onde o Presidente ainda era o Sarney e o governador do Estado ainda era Cafeteira. E tanto no cenário nacional quando estadual a situação não era tão fácil,  não. O Rivinha já via os malabarismo econômicos do Juruca e de Terezinha para manterem duas casas ao mesmo tempo. Além disso, naquele ano houve a primeira eleição direta do país, quando o Collor foi eleito e foi o desastre que foi... O que era reconfortante era a diversidade cultural brasileira que sempre foi encantadora. 

No campo musical - que iam do rock nacional ao samba, passando pela música popular brasileira (MPB) - o país tava em ebulição. Naquele tempo era de ascensão de ritmos populares como o sertanejo e o axé. Algumas das músicas que fizeram sucesso naquele ano incluem:

1. "Faz Parte do Meu Show" - Cazuza

2. "Primavera" - Tim Maia

3. "Avião decolou" - Roupa Nova

4. "Que País É Este" - Legião Urbana

5. "Whisky a Go Go" - Roupa Nova

6. "Evidências" - Chitãozinho & Xororó

7. "Bete Balanço" - Barão Vermelho

8. "Eu Me Amarrei" - Joana

9. "Doce Vampiro" - Rita Lee

10. "Oceano" - Djavan

Beth Faria em divulgação da novela Tieta.

Na TV eu era apaixonado pela Xuxa e pelo desenhos como He-Man, She-ra, A Caverna do Dragão, Os Smurfs, Os Flintstones e Os ThunderCats. Mas, eu já era noveleiro pois era a época que as telenovelas brasileiras estavam em plena ascensão, e a TV Globo ja era líder em grandes produções. Algumas das novelas de maior sucesso naquele ano foram:

"Tieta" (TV Globo) era baseada na obra de Jorge Amado, Tieta foi um grande fenômeno de audiência. Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.

"O Salvador da Pátria" (TV Globo) de Lauro César Muniz e protagonizada por Lima Duarte como Sassá Mutema. Era uma Brasil na tela.

"Que Rei Sou Eu?" (TV Globo) escrita por Cassiano Gabus Mendes, misturava comédia e crítica política para fazer sátira à política brasileira. Era maravilhosa.

"Top Model" (TV Globo) de Walther Negrão e Antônio Calmon, o enredo era sobre a vida de uma modelo vivida por Malu Mader. A trilha sonora e os personagens descolados fizeram um sucesso incrível.

Fora isso o mundo a história mudou por conta de grandes acontecimentos pra lá de relevantes que eu lembro através de duas imagens que me fizeram apaixonar por história:

Pedro Bial em cobertura da queda do muro de Berlim.

- Queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989)foi o marco do fim da Guerra Fria e do colapso dos regimes comunistas na Europa Oriental. Lembro da matéria do Pedro Bial pra TV Globo.

- Massacre da Praça da Paz Celestial (4 de junho de 1989) na China onde milhares de estudantes e manifestantes pró-democracia se reuniram em Praça Pública exigindo reformas políticas e liberdades civis. A imagem desse evento é um estudante enfrentando corajosamente um tanque de guerra.

O Ano de 1989 foi um ano grandioso, borbulhante.... e eu recordo de tudo isso e apesar de muitas coisas não boas que aconteceram eu tenho saudades... mas, queria voltar no tempo não. Valeu viver e aprender. Hoje tenho o que contar.