sábado, 25 de abril de 2009

“Ciclo de Debates ‘Fotografia e Memória’”


Amigos...no mês de março minha irmã, Rogenir, me informou de uma ciclo de debates do fotografia, pois sabe ela que sou apaixonado por este assunto. Fui e o resultado do que achei vocês podem ver no texto abaixo, que enviei por e-mail à coordenação do evento, mas que não obtive resposta de nada.
Adorei o evento, pois me fez perceber como o turismo e o seu profissional é considerado. Contudo, quero vocês saibam como foi o evento.
Leiam o texto, vocês entenderam e, por favor deixem os seus comentários:


À Secretaria de Estado da Cultura
À Superintendência de Cultura do Estado
Aos Senhores Organizadores do “Ciclo de Debates ‘Fotografia e Memória’”.


Caros senhores,

Para iniciar, gostaria de parabenizar a Secretaria de Cultura e, em especial, aos senhores, organizadores do “Ciclo de Debates ‘Fotografia e Memória’”. O assunto é muito pertinente à nossa realidade. Uma vez que possuímos um patrimônio histórico cultural reconhecido por entidades e órgãos internacionais, precisamos comprovar que nada fora inventado. As pinturas, as gravuras e os escritos são testemunhos de tudo. E as fotografias são as provas mais reais de tudo que está nos desenhos, nas gravuras e nos livros de outrora, embora haja quem diga o contrário.
Meu TCC (trabalho de conclusão de curso) foi sobre a fotografia e a sua importância à preservação do patrimônio cultural imaterial especificamente. Este trabalho recebeu o título “Um passeio em São Luís do Maranhão: Fotografia e Preservação”. Escolhi este tema por duas paixões, a fotografia e a cidade de São Luís. E este trabalho foi desenvolvido na modalidade ensaio fotográfico, uma opção pioneira que a faculdade onde estudei disponibilizou a seus formandos.
Bom, por tudo isso, fiquei interessado no ciclo de debates. Dois assuntos em especial me chamaram a atenção e despertaram interesses. A conferência de abertura, “Fotografia na Preservação da Memória sócio Cultural”, do conferencista Prof. Alexandre Correa (DESOC-UFMA), e a mesa redonda “História da Fotografia e Fotografia na História: Representação e Memória Fotográfica do Patrimônio Cultural”, com o Prof. Alexandre Correa (DESOC-UFMA), Sra. Kátia Bogéa (IPHAN-RR/MA), o escritor Ananias Martins (UEMA-SECMA), Prof. Frederico Burnett (FAU/UEMA), o jornalista José Reinaldo Martins (UFMA).
A conferência de abertura, foi muito boa, o Professor disse muitas coisas importantes, que nos ajudam demais a compreender as imagens fotográficas. Dentre tantas coisas ele disse que tudo depende da subjetividade. Da subjetividade do fotografado, subjetividade do fotógrafo, subjetividade do local, subjetividade do momento, enfim. Esse ponto de vista faz despertar no observador um senso crítico que o faz sair da ação de apenas olhar, ver. Ele passa interagir e ver que tudo tem uma razão de ser, tudo tem um sentido, mostram situações políticas, pontos de vista e aspectos culturais. Foi excepcional! Contudo, como ele mesmo disse, “o sociólogo tem a função de exagerar”. Mas, ele exagerou tanto que, a meu ver e de outros ouvintes, quase “quebrou a igrejinha” da fotografia.
O evento está tratando da importância da fotografia. Nesse sentido, o papel dele seria de colocar os pontos positivos à frente dos negativos. Foi o que não ocorreu. Em determinado momento ele colocou a fotografia em segundo plano. Ele disse algo como “A preservação da memória deve ser feita através de gravuras, de textos dos livros e até das fotografias”. Essa expressão “e até” coloca a importância do elemento principal da discussão atrás dos demais colocados em sua fala. Talvez essa não tenha sido a sua intenção, mas foi o que sua frase deixou passar.
Já na mesa redonda fiquei um pouco mais entristecido por algumas situações. A primeira foi à ausência de duas peças fundamentais, Sra. Kátia Bogéa (IPHAN-RR/MA), o escritor Ananias Martins (UEMA-SECMA). As suas ausências, em especial da superintendente do IPHAN, deixaram as explanações unilaterais, digamos assim. Ela deveria valorizar a importância dos debates que visam, também, fomentar os seus discursos de preservação do patrimônio. E ali era o momento para mostrar onde especificamente a fotografia é realmente importante e indispensável na preservação do patrimônio cultural local. Busquei sua ajuda, através de uma entrevista, para mostrar isso no meu TCC, mas não obtive retorno de agendamento de uma data, embora tenha tido a confirmação de recebimento do ofício encaminhado pela minha IES. Este tipo de disponibilidade é importante para ajudar formar profissionais mais responsáveis e conscientizar, ou pelo menos sensibilizar, os formadores de opiniões que a tudo criticam ou são contrários de alguma maneira ao que se faz em prol da manutenção do nosso patrimônio cultural, material ou imaterial.
Na explanação do jornalista José Reinaldo Martins sobre o fotógrafo Gaudêncio Cunha foi dito que ele “mascarou”, “forjou” uma São Luís inexistente, quando priorizava anglos abertos e imagens com os trilhos dos bondes dando efeito de que a cidade possuía ruas largas e era uma cidade moderna. O jornalista disse que isso se deu pelo fato de o álbum ter sido um trabalho de encomenda e que as fotos podem “mentir” para forjar uma situação. Isso é verdade, aliás, como tudo, as fotografias podem ser usadas dizer o que pretendemos. O jornalista disse ainda que o Gaudêncio “se traiu” em algumas fotos, quando mostra a rua do Giz, uma rua tão estreita que não havia espaço para poste de fiação elétrica, as grades para esta função ficavam presas nas paredes dos casarões.
Gaudêncio queria mostrar uma cidade moderna e antenada com a abolição da escravatura, segundo Jose Reinaldo, quando fotografou o corpo de bombeiro (o fato de possuir um Corpo de Bombeiros, já mostrava a modernidades. E ele ser composto por negros e brancos era muito mais). E mais uma vez teria “se traído” também quando fez algumas fotos com algumas pessoas nas ruas, onde mostram os brancos na parte superior dos casarões e os negros em baixo, descalços, resquícios de uma sociedade escravocrata.
Será que Gaudêncio cunha realmente se traiu mesmo, como diz José Reinaldo Martins? Será que o fotógrafo não o fez propositalmente? Será que ele não discordava do trabalho pelo qual fora contratado e queria, de maneira discreta, mostrar um pouco da realidade maranhense? Eu não pesquisei a vida de Gaudêncio Cunha como o jornalista fez. Entretanto, ele não mostrou fatos que comprovasse estas fotos foram realmente ‘traições’ e não resultado de uma ação intencional do profissional.
Foi mostrado nesta mesa redonda que as fotografias de Gaudêncio Cunhas, as mais antigas, conhecidas e utilizadas fotografias da São Luís antiga, são uma enganação. Estamos tentando preservar o acervo histórico da cidade baseados em mentiras. Será mesmo que estamos errados? E se não nos fundamentarmos estas fotografias em vamos nos basear? Nos livros, como disse o Prof. Alexandre Correa? Por mais detalhista que tenham sido os autores não conseguiriam mostrar com minúcias o real a ponto de substituir uma fotografia. Acredito sim que os dois possam se completar e não creio que estejamos cultuando o santo errado.
Outro fator que me deixou entristecido foi o fato de os profissionais ali tratarem o turismo como um vilão. Como se o turismo só visasse o lucro acima de tudo, nem que pra isso o patrimônio fosse destruído ou como se o estado de arruinamento do patrimônio fosse culpa do turismo. Sou turismólogo e posso garantir que os cursos de turismo, em todas as faculdades de São Luís, se preocupam muito em formar profissionais responsáveis, comprometidos com a sustentabilidade, com a preservação dos nossos patrimônios naturais, culturais materiais e imateriais.
Por ter a atividade turística um caráter interdisciplinar, estudamos na academia quase todos os aspectos deste caráter. Temos disciplinas como filosofia, antropologia, sociologia, história, geografia, patrimônio cultural, meio ambiente, projetos, administração, economia, matemática e uma série de outras. Trabalhamos também com a visão de “Educação Patrimonial”, assim como o IPHAN. E isso não querendo “ensinar o povo a gostar” do que é seu, como ironizou o Prof. Alexandre Correa. Não, não é isso. O que se pretende com a Educação patrimonial é ajudar estas pessoas a entender todos só têm a ganhar com a preservação do patrimônio. Pretende-se mostrar que tudo isso é do povo, que sendo dele ele deve proteger. Um bem protegido e preservado faz surgir novas oportunidades de melhorar a qualidade de vida. Ora, uma vez não se gastando com recuperação de bens em estados de arruinamento, o investimento por ser em outros setores, como a saúde e a educação. Mais saúde e educação fazem surgir mais oportunidades de trabalho, por exemplo.
E uma melhor qualidade de vida faz crescer a auto-estima da população residente, que se sentindo valorizada e integrada no meio vai sim ter orgulho de receber e mostrar a seus visitantes a cidade em que vive. E daí o que pode ocorrer já é conhecido de todos, um visitante bem recebido indica para outro que também pode vir e gerar divisas na localidade visitada. Nós do turismo não somos só divulgadores ou vendedores de destinos, mas, acima de tudo, somos colaboradores na preservação de nosso acervo patrimonial.
Não fiz minhas observações no momento por dois motivos, primeiro o tempo estava corrido devido a atrasos ocorridos durante o dia e da a pressa do mediador e apresentador do evento em encerrar as perguntas para que se passassem logo às respostas. Depois eu gosto de pensar no que as pessoas dizem, gosto de meditar nas mensagens passadas. Agradeço pela atenção e mais uma vez parabenizo-os pelo evento. E espero que em breve tenhamos outros deste e que os próximos sejam cada vez melhores que os anteriores. Inclusive em números de ouvintes. Aliás, os alunos de turismo mereceriam ter conhecimento e participar de eventos como este.

Atenciosamente,

Rivanio Almeida Santos
Turismólogo
Contato: rivaniosantos@hotmail.com

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