Sempre me senti uma pessoa estranha, diferente e alheia ao mundo ao meu redor. E não estou falando das minhas questões homoafetivas. Essa era mais uma questão. Contudo, há outros tópicos para resolver na vida. Viver é complexo. Me refiro a questões que eu não sabia identificar e dar um nome. Casos comportamentais, de aprendizagem, atenção. Coisas do campo interno, questões cerebrais, psicológicos. Sentia algo nesta seara desconhecida e tão profunda que me despertava curiosidade a cada tema que me levasse a alguma identificação e alguma suspeita.
A cada passar de ano, eu me percebia diferente e distante das formas, por exemplo, que as pessoas ao meu redor aprendiam, estudavam, percebiam o mundo. Seu tempos de aprendizagem eram mais breves que os meus, em especial para as questões de leitura e números... eu lembro que só deixei de ser "rude" - como se falava no interior - após minha chegada ao então segundo ano do nosso primário (hoje terceiro ano do ensino fundamental) quando eu aprendi a ler palavras. Mas, de fato ainda era uma leitura comprometida, pois não entendia as pontuações. Esse, digamos, delay entre o que era ensinado pelos professores e a minha compreensão me fizeram receber "bullings" de burro, lento ou lerdo. E para piorar eu comecei à acreditar que poderia ser verdade. Isso dói! E piora muito com o avançar dos anos.
Pois bem... mesmo assim eu sempre busquei me fazer criativo no campo das artes. Sempre fui de observar, testar e fazer. Tinha satisfação pela descoberta desta minha capacidade e facilidade e, mais que isso, de provar às pessoas que eu não era tão burro, lento e lerdo quando parecia. Eu era... diferente nesse ponto também!!! Eu era diferente deles. Eu sabia fazer algo que eles não conseguia. Contudo, todas às vezes que estas aptidões passaram a ser direcionadas a uma questão de obrigação e a ser alvo de algum tipo de cobrança eu deixei de ter interesse em fazê-las. É como um sentimento de compensação ou bloqueio interno. Estudar eu era obrigado para aprender e chegar ao menos às médias estabelecida e sentia a cobrança para ser igual a meus irmãos mais velhos de assimilação rápida, de concentração, coragem e determinação invejáveis. Para tudo isso eu me sentia obrigado a dar meus pulos e não deixar a peteca cair. Contudo, em meus dons e talentos, ninguém manda... é como se meu eu interior que determinasse se quer e quando quer fazer. Isso me bloqueia total.
Você deve até se perguntar o que, além dos bullings, de fato me fazia pensar que eu era diferente e distante das pessoas ao meu redor. Tá bem então! Senta que agora eu lhe digo as minhas percepções quanto a mim mesmo em relação a todos, apesar das diferenças que sei existirem entre as pessoas. Vejamos:
DESCONCENTRAÇÃO - Sempre tive dificuldades de direcionar atenção a uma coisa em específico. O estudar me era sacrificante, dava muito trabalho. Primeiro eu não ficava ligado no tema por muito tempo, pois ou o que estava lendo me levava a uma viagem mental que me distraía do tema foco ou eu batia o olho em algo ou alguém que me tirava a atenção - sem falar que isso sempre comprometia meu entendimento do que estava lendo -.Daí instintivamente passei a estudar lendo em voz alta para me ouvir, grifar os parágrafos que estava lendo, destacar as palavras-chaves e fazer resumo em cadernos ou papéis de borrão. Todas às vezes que eu ia estudar no quarto minha mãe mandava eu ficar de porta aberta, pois eu poderia acabar "viajando" ou dormindo.
IRRITADABILIDADE - a paciência nunca fora uma grande virtude na minha vida. Para começar eu sempre acordo de mal humor e pode piorar se o que vier na sequência do dia for ligado a repetições de alguma atividade, a mudanças de planos repentinas, a perguntas óbvias demais, insinuações, pessoas subestimando minhas capacidades ou se por alguma razão passar por alguma privação de sono. Em situações como estas eu não tinha muito tempo de raciocínio, as respostas atravessadas e certeiras sempre saiam antes das possíveis paradas para conferir até dez e pensar.
MUDANÇAS BRUSCAS DE HUMOR - Todos os dias eu até consigo chegar a um alto nível alegria, contudo, não é raro o dia que do nada eu fique enfezado. Pode ser por algo que vejo, que ouço, que eu mesmo faça de errado... ou simplesmente um pedido para saída da rota que eu mesmo já tinha estabelecido na minha cabeça para concluir algo. Toda vez que sou "obrigado" a sair da minha rota é como se alguém tivesse apontando pra mim dizendo eu estava errado, iria errar ou que eu fosse burro. É como se eu fosse podado de provar que eu sou capaz, que sou menos e o que quero, o que penso e o que faço não seja importante. Um caminho direto para uma frustração.
AGRESSIVIDADE COM FRUSTRAÇÕES - esse sintoma está diretamente ligado ao anterior. Nunca soube lhe dar com as frustrações que apareceram em minha vida e, apesar de terem sido muitas vezes que senti o amargo sabor da frustração, nunca aprendi a dar menos importância a elas. Talvez a única forma de me dar com elas tenha sido o fato de começar à acreditar que as minhas dores, falas, percepções, opiniões e decisões não fossem importantes. E por isso... passei a falar por falar e depois, nem de falar... apenas ouvir, atender e, sempre, "tentar" concordar. Autoestima e autoconfiança em queda.
DESREGULAÇÃO EMOCIONAL - Quando digo no parágrafo anterior "tentar" é pelo fato de sempre ter, até hoje, não ter conseguido controlar minhas indignações e minha língua. Quando dou por mim meus atos e ações já foram. Principalmente através de palavras. Não sou de briga corporal.
IMPULSIVIDADE - a desregulação emocional citada acima pode ser, por vezes, confundida e taxada como sendo parte da minha Impulsividade. Esta vem associada aos momentos de empolgação. Normalmemte surge nos instantes que estou extremamente feliz com algo,.que é quando sou acometido por uma vontade de querer agradar, de fazer o certo, de fazer o outro sorrir, de fazer as pessoas felizes, de ajudar - mesmo que esteja no meio do mês e eu só tenha, digamos, 20 reais pra os últimos 15 dias restantes-. Mas, não nego que já surgiu também pela vontade de dar um troco em alguém por algo não bacana que tenham feito pra mim. Em ambas as situações foram muitas as vezes que me arrependi... na maioria das vezes, na verdade. Mas, em minha defesa repito - para mim mesmo - que fiz a minha parte ou o que era preciso para não me sentir uma pessoa ruim ou uma pessoa ultrajada é, muitas vezes, para não permitir que tentem me diminuir por ser quem e como sou.
FALAR MUITO OU NÃO FALAR NADA - tenho meus momentos de uma hora quer falar demais e em outras de não querer falar nada e nem com ninguém. Isso têm muito de influência das minhas alterações de humor. Quando estou feliz quero falar com todos, canto e danço no carro, sorrio muito e alto, chego no trabalho cumprimento pessoa por pessoa, dou bom dia a desconhecidos... e quando o humor vai embora, perco todo e qualquer ânimo ou assunto. Meu olhar fica longe, minha cabeça e meus pensamentos vagam em assuntos diversos. Vai do "e se?" até aos infindáveis porquês.
ESQUECIMENTO - outro sintoma que sempre acompanhou-me a vida toda é o esquecimento de agenda, compromissos a fazer, atividades que esteja fazendo, o que estou falando, o que pretendia falar... sem falar os nomes das pessoas. Quando crianças inúmeras vezes saia para fazer compras para minha mãe e voltava sem nada e, quando muito, com os produtos errados. Tantas outras vezes eu sentia algo, marcava consulta e não ia porque já não lembrava o que eu tava sentindo. Aprendi, para driblar situações chatas, por exemplo a ir colocando todas as coisas que vou precisar rm um só lugar e na minha frente pra não esquecer nada. Também anoto o que tenho que fazer, além de enviar e-mail ou WhatsApp para mim mesmo.
PROCRASTINAÇÃO - carreguei também a vida inteira o pesado e vergonhoso título de preguiçoso. Só não digo que injustamente por saber que anos atrás as possibilidades de sequer desconfiar que o problema era muito mais sério não era uma opção. O fato é que sempre fui de empurrar com a barriga as demandas menos urgentes e não era puramente por não querer executá-las. Era falta de ânimo e organização mental. Até conseguir ânimo para fazê-las eu ficava me martirizando por este desânimo, pela falta de coragem, sobre como começar, por onde começar, quando começar. .. Eu só despertava para fazer de fato na pressão da última hora, eu só estudava em véspera de prova, eu sempre sofri para acordar e fazer atividades físicas, aliás... para acordar nem tanto o problema era para decidir sair de casa para fazer qualquer atividade física. Engana-se quem pensa que deixava de fazer para seguir a fazendo outra coisa relativa a diversão ou passatempos. Não... eu paralisava diante tudo ou qualquer coisa que tinha a fazer, me julgava e sofria por isso. E para sofrer menos eu procurava uma desculpa que justificasse minha apatia.
FALA PROLIXA - por incrível que possa parecer sempre fui tímido e fechado. Até que trabalhei a mente para as necessidades que surgem na minha vida adulta e profissional. Assim, apesar da timidez, eu falo. Contudo, sou pego por um nervosismo que não me deixa ser direto e nem raciocinar direito. Tento explicar e deixar as coisas mais detalhadas e por isso passo a falar demais, não me torno direto. O mesmo ocorre quando preciso falar algo não muito agradável, ou quando preciso dizer "não" as pessoas... além do nervosismo, sou tomado por um receio de chatear, frustrar e magoar a pessoa com quem preciso despachar.
DESATENÇÃO - Conversar com outras pessoas, em especial desconhecidos que de fato terei que trocar ideias ou pessoas especiais, digamos, em determinadas circunstâncias é uma grande demanda. Eu começo prestando toda a atenção devida, mas depois de determinado tempo não sei mais nem o que seria "atenção". Não consigo compreender, a depender do assunto ou do grau de complexidade da fala, a mensagem que todos entendem normalmente. Até pelo fato de que meus pensamentos não param de rodar, de me distrair com a roupa das pessoas, dos cenários, se for evento acompanho como a produção trabalha, se estivermos na rua penso que estamos atrapalhando a passagem de outros, se há onde sentar, quem vai passando do lado... e tudo isso ao mesmo tempo. Por vezes não me recordo nem do que estávamos falando. Quando isso não acontece é pelo fato de eu ter ficado sem assunto a tratar.
ORAÇÃO INTERROMPIDA - Todos os dias eu me pego mudando de pensamento no meio da oração. Lembro do que deixei de fazer, das contas a pagar, do que alguém me disse durante o dia... e quando me vejo preciso recomeçar a oração por não recordar onde parei ou, as vezes, me atrapalho com a ordem das frases do Pai Nosso.
PENSAMENTO ACELERADO - absolutamente não consigo ter controle dos meus pensamentos. Eles são acelarados e incessante. Sofro como Penso rápido e temas diferentes a cada instantes. Quando preciso escrever o que estou a pensar, como é o caso destes texto, preciso reler com atenção para por palavras que esqueço ou pulei, pois velocidade dos dedos não acompanha a agilidade da mente. Meus pensamentos não respeitam nada que eu esteja fazendo. Seja um texto, uma leitura, uma atividade física, vendo um vídeo... nem mesmo uma meditação para o qual preciso esvaziar a mente eu consigo zerar a mente tempo algum. Só quando durmo.
INQUIETAÇÃO - Apesar das questões que por vezes me paralisam de executar alguma atividade eu sou por natureza uma pessoa inquieta, que não consegue ficar quieto por muito tempo. Estando em casa estou sempre andando por cada compartimento, e cada vez que vou a cozinha abro as geladeiras procurando algo que não sei o quê. Quando sentado em algum lugar, as pernas não ficam paradas, sempre estão em balanço. Houve momento que esta Inquietação me fazia ter movimentos faciais - tiques na boca. Certa vez minha avó materna pensou que eu estava tendo um AVC dada a quantidade de manias faciais que eu tinha de tanta Inquietação.
MUDANÇA REPENTINAS DE FOCOS - sou empolgado quando tenho em foco algo que crio e quero muito fazer. Daí nasce a necessidade, a vontade de fazer logo tudo de uma vez e, de quebra, desperta a ansiedade se ver tudo pronto. Quando acontece de ter uma interrupção ou uma mudança nos planos ou roteiro do trabalho em desenvolvimento é quase certeza que vou travar e ser impedido de finalizar aquele trabalho. Na empresa onde trabalho eu consigo terminar, mas com um sentimento muito grande de pressão e obrigação. Mas, quando é trabalho pessoal eu simplesmente deixo de fazê-lo. Tenho encomendas de trabalhos de arte paradas há 2 anos, pois não consegui finalizar. Antes eu de forma espontânea fotografava paisagens da cidade e postava nas redes sociais todos os dias... com o tempo as pessoas passaram e me fazer cobranças para realização de exposições. Travei! Hoje não vejo mais graça na cidade e não tenho mais estímulos de postar. Quando o faço é esporadicamente.
IMPACIÊNCIA PARA REPETIÇÕES - não é que fique irritado, mas definitivamente tenho paciência alguma para trabalhos repetitivos. Sou de trabalhos artesanais e artísticos. Literalmente pinto e bordo. Contudo, me ver fazendo alguma atividade que requer muito trabalho de repetição por ter um passo a passo miúdo me dar uma sensação de cansaço. Sinto como se fosse nadar, nadar e morrer na praia. Sempre fui assim. Hoje eu não bordo minhas roupas por isso, mas quando criança eu já achava tediante algumas atividades de artes escolares dada a exigência de picotar e colar papéis, por exemplo. Detestava fazer centenas de metros de bandeirolas pra decorar o arraiais da escola.
DESORGANIZAÇÃO - nunca tive a virtude de manter materiais e roupas nos seu devidos lugares. A minha pressa de finalizar uma demanda para iniciar outra me fazem não querer perder tempo guardando o material usado anteriormente. Até pelo fato de que eu achar que possa precisar novamente. Assim os objetos são se acumulando.fora de seus lugares.
DISTRAÇÃO - não bastasse a dificuldade de concentração, o fato de me distrair com qualquer coisa me é um fator de grande incômodo pessoal. Não se trata de não achar um assunto, uma conversa, uma palestra, um filme, uma atividade ou uma música interessante. O fato é que uma fileira de formiga me chama atenção e me desperta curiosidade de saber de onde vêm e para onde vão. Uma música antiga ao longe pode me despertar memórias afetivas e fazer viajar no tempo. O andar de alguém me faz pensar na pessoa daquela pessoa. As caras e bocas das outras pessoas me faz ver se estão atentas ao tema (logo eu que não tô). As feições e os movimentos dos braços, o tom da fala do interlocutor me fazem refletir se está sendo verdadeiro ou fazendo média... para mim o entrelinhas ou os acontecimentos periféricos chamam meu olhar e meus pensamentos.
INDECISÃO - nunca soube o que pedi para comer, lanchar ou vestir. Passo mais tempo decidindo o que comer e o que vestir do que comendo ou me vestindo. Isso me causa aflição ao ponto de preferir que escolham por mim, ou prefira escolher igual de outra pessoa para facilitar minhas escolhas. Esta aflição se assemelha a que sinto quando estou decidindo a melhor forma e tempo de fazer um serviço que preciso fazer e acabo procrastinando. Por fora estou pleno, por dentro a mais pura agonia. Me incomoda muito.a indecisão, seja minha ou dos outros.
CONFERIR E RECONFERIR - se ler é uma atividade tão exaustiva quase tanto quanto uma atividade braçal imagine uma atividade de conferência que requer muita atenção e concentração. Nunca consigo conferir o que quer que seja de primeira. E passei a usar a tática de separar em lotes dependendo da quantidade de material a ser conferida. Separo de dez em dez, cinco em cinco, dois em dois... caso contrário fico no ciclo de confere e reconfere.
IRRITADABILIDADE - não, não é difícil eu ficar irritado. Não é uma graaaande demanda para quem queira acabar com meu dia. Um olhar atravessado, uma resposta em tom desarmonioso, barulhos estressantes, choro de criança, pessoas que não param de falar, brincadeiras fora de hora, tentativa de zombaria com minha pessoa ou diminuição do meu valor por ser uma pessoa negra, gay, profissional, nordestina ou por divergência política. Nesses casos o melhor que faço é sair de perto, pois a permanência compromete qualquer tentativa de harmonia emocional. E uma fez que eu saia do prumo eu demoro horas, por vezes dias, para voltar a ser uma pessoa que tenta se manter sereno. Situações assim comprometem até meu sono e meus sonhos noturnos.
INTROMISSÃO EM CONVERSAS - muitos acham que sou sociável. Isso ocorre pelo fato da característica que tenho de me intrometer em conversas alheias por Impulsividade, quer seja de pessoas conhecidas ou desconhecidas. Dou opinião, conselhos, encaminhamento médico, dicas de remédios, comento novelas, reclamo ou elogio o local...
ANSIEDADE E DEPRESSÃO - todos esses sintomas não tiveram respostas, pelo menos durante muitos anos. Eram aparentemente sem quê, nem pra quê e me colocavam em um lugar de perdido, sem rumo, sem saber o que fazer para eu me entender e procurar minhas melhoras. Bom, associado a estes sentimentos que me deixavam atormentado fui vivendo coisas fortes, abusos e violências que plantaram na cabeça, no coração e na alma do pequeno Rivas sementes de outros males terríveis como a ansiedade, que se tornou uma das companhias que mais estiveram presentes na minha vida dia após dia. No início os medos das broncas por algo feito no entusiasmo da curiosidade ou de me divertir e que não estavam previstos os B.Os gerados como consequências. Estava comigo a cada viagem anunciada por menor que fosse, a cada anúncio de prova, a cada resultado das correções das provas, a cada trabalho à apresentar, a cada entrevista de emprego... e nos dias de hoje está comigo a cada viagem para o local carnaval, a cada dia de desfile que eu preciso subir nas alegorias, a cada dia importante no trabalho, a cada grande evento que eu precise me fazer presente. Outro gatilho que starta a minha ansiedade é quando boleto eu percebo que possa acontecer deixar de pagar alguma conta minha ou quando vou falhar com alguma palavra que eu tenha dado. Daí eu recorrer sempre as minhas planilhas de pagamentos e não prometer quase nada a ninguém. Associadas à ansiedade estão as frustrações das expectativas geradas, as sensações de que todos os problemas que tenho não têm soluções e daí, a queda na depressão é quase inevitável, pois não ha um aviso prévio ou um convite, que é a pior coisa que pode acontecer com qualquer ser humano. Ela nos tira toda e qualquer empolgação e a mínima vontade a fazer qualquer coisa, pois se tem a sensação que por maior que seja o esforço nunca sairemos daquele buraco escuro. É viver em vida. É preciso que se tenha um pouco de discernimento para se ver doente e procurar socorro. A depressão, se não for tratada, pode acabar com a vida da pessoa em todos os sentidos.
Todo esse mix de conflitos, sentimentos, angústias eram sintomas de algo que eu sabia ter, mas não sabia o quê. Eu carecia de uma explicação para me entender e me conhecer. Sempre observei os outros para tentar me ver como um ser humano em algum lugar. Não seria possível que meu eu não teria uma causa e um porquê.
Tudo isso começou ter um caminho de solução, ou de encontro comigo, quando eu me vi dentro dentro de um quadro depressivo e procurei ajuda de psicólogos e psiquiatras. Muitos foram os profissionais pelos quais passei, até que parei nas mãos dos dois atuais que me ajudaram a ir desatando os nós mais urgentes, um de cada vez. Eles têm me ajudado a organizar a mente, a me ver de fora, a me enxergar com mais atenção, carinho, acolhimento, respeito e calma. Dentro dessa busca eu lia bastante sobre os possíveis diagnósticos que eu suspeitasse e logo descartava, pois sempre havia algo que não me encaixava. Assim ia conversando com os profissionais que iam de fato excluindo as possibilidades. E seguiamos nas terapias e nos tratamentos dos problemas mais urgentes para cada momento. Até que sem correria, sem atropelar nada, com confiança e acolhimento que eu sentia em Dra. Anne Caroline e Dr. Eduardo Ibiapina fomos achando rumo do caminho que nos levava a descobrir e fechar meu diagnóstico de Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade – TDAH, que é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como os que apontei acima e que causam prejuizos sérios relacionados à interação social, aprendizagem, memória, linguagem e baixa autoestima.
Meu primeiro sentimento ao ser diagnosticado não foi se tristeza. A descoberta desse diagnóstico me deixou muito feliz até. Não feliz por ter TDAH. Não se trata disso. A questão é sobre encontrar a peça que estava faltando no quebra-cabeça. Fiquei feliz que achamos as causas, as razões e os porquês de tantas ações e reações minhas que eram taxadas como ignorância, mal educação, preguiça e por tantas outras palavras usadas pejorativamente. Fiquei feliz pelo fato de que agora sabemos para onde devemos levar meu tratamento. Agora tudo faz sentido, todas as peças se encaixaram. Eu me encontrei com minha outra face até então desconhecida.
Já sei que não há cura, apenas tratamento de controle e diminuição dos sintomas. Mas, sei que meu doutores vão me guiar da melhor forma certa e com a mesma responsabilidade como tem sido até aqui. Minha confiança neles aumentou mais ainda e isso é fundamental para que eu acredite no caminho que seguiremos. Os primeiros passos desse novo caminho já começamos a dar e já temos grandes e excelentes resultados. Já começo a ver um Rivanio que eu nunca tinha visto. Isso me deixa orgulhoso de mim mesmo. Estou tentando me reconfigurar. Já começo dizer a mim mesmo que toda aquela gente estava errada. Contudo, busco não julgá-las, pois elas só podem escolher as palavras dentro de seus repertórios construídos a partir de suas rasas experiências. No entanto eu quase entreguei os pontos acreditando no que me achavam de mim... eu quase acreditei e sofri muito por isso. Agora chega! Já levantei e engoli o choro! Tá hora de sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Não quero correr e não vou correr. Seguirei caminhando sem parar. Devagar e sempre.